Vamos a Alvalade!
Pedro Azevedo
O problema de termos consciência política é que às vezes ficamos tão reféns das nossas convicções que facilmente podemos confundir quem conjunturalmente nos dirige com a instituição. Nesses momentos é fundamental pensarmos na origem das coisas, regressando ao passado para nos lembrarmos da razão de sermos do Sporting. No meu caso particular, o Sporting não é só um grande amor presente, foi o meu primeiro amor. O que me deu, a companhia que me fez, em Portugal ou no estrangeiro - num tempo sem internet, "gadgets" ou "devices" em que a informação não fluía como hoje - , as tardes e noites que com ele comunguei nunca lhe poderei pagar em vida. Porventura, talvez fosse bom que todos - sócios, adeptos, Direcção - reflectíssemos que o clube nada nos deve, nós é que lhe devemos muito e em todas as circunstâncias. (Mesmo quando nos desilude, ensina-nos a importância da resiliência.)
Nenhum homem é uma ilha. O privilégio que nos é concedido de pertencermos a uma gesta tão gloriosa quanto a de Peyroteo, Carlos Lopes, Joaquim Agostinho, Yazalde, Moniz Pereira ou Aurélio Pereira, Salazar Carreira ou Reis Pinto, Ribeiro Ferreira ou João Rocha é algo tão único e especial que dificilmente se poderá traduzir em palavras. Se calhar, seria bom aprendermos com as crianças, despirmo-nos de filtros, preconceitos e verdades absolutas, e nem que seja por 90 minutos tomarmos a essência do que é o Sporting. Eu recordo como a minha paixão começou por se alimentar da onda média da rádio e se transformou num tsunami aquando da primeira vez que pisei o solo sagrado do antigo José Alvalade. Temos de trazer de volta essa vivência, essas emoções, razão pela qual me incomoda tanto aquele autismo de o hino não ser respeitado naquilo que tem de quase litúrgico, introspectivo, de esmagamento do homem perante algo tão maior e grandioso. Escutemos então aquilo que nos diz o coração. E comunguemos do Sporting e do sportinguismo. Já hoje, pela tarde, em Alvalade.