Um futebol feito à medida
Pedro Azevedo
Um campo de futebol tem cerca de 100 metros de comprimento, o equivalente a 10 000 cm. Metade - não há foras de jogo antes do meio campo - são 5 000 cm, pelo que 2 cm são 0,04% do comprimento do campo sujeito à regra do fora de jogo. No acesso à Universidade, há quem fique de fora por 0,01 valores numa escala de 20, ou seja, 0,05%. Na F1, numa volta à pista efectuada em cerca de 90 segundos, há quem perca a pole-position por cerca de 1 milésimo de segundo (0,0011%). Estes exemplos servem para explicar que o detalhe está sempre presente nas nossas vidas, muitas vezes dele dependendo o sucesso ou o fracasso de uma determinada empreitada. Assim, não é o rigor dos 2 cm que me incomoda, o que me preocupa é a falta de escrutínio sobre quem efectua essas medições e os meios actualmente existentes para o efeito, que estão longe de oferecer garantias de acuidade (ao contrário do sistema electrónico/"transponder" usado no automobilismo ou das médias ponderadas que dão a nota final para o acesso à faculdade). E é sobre isso que deveria recair a reflexão neste momento, procurando perceber-se de que forma poderemos eliminar a suspeição sobre o VAR e assim dar ao espectador garantias de idoneidade do produto futebol. Porque já não há paciência para tanto ruído negativo e quem efectivamente gosta do jogo merece um futebol feito à medida de quem quer desfrutar dele pelos melhores motivos. É que a já estafada ideia de que o ruído é essencial ao futebol, acerrimamente defendido por quem vê interesse na continuação da suspeição e arbitrariedade do status-quo vigente, só ajudou a formar um adepto sem cultura desportiva, fanático pelo clube e sem verdadeiro gosto pelo jogo ou interesse em o discutir, conhecer ou aprofundar nas suas dimensões técnica, táctica, física ou mental. .