Tudo ao molho e fé no Euro21 (ou 20)
Olimpíadas da Matemática
Pedro Azevedo
Entrámos em campo no terceiro lugar do grupo. Entretanto, paralelamente, disputava-se o Alemanha-Hungria, de cujo resultado, em caso de derrota nossa, dependeria a qualificação lusa. À meia-hora estávamos em primeiro, ao intervalo em segundo. Quarenta e sete minutos de jogo e éramos quarto, logo eliminados, mas à hora de jogo voltávamos a ser o segundo. Para trás ficavam 13 angustiantes minutos em que já nos víamos a observar o Euro dos outros. Por 1 minuto (entre os 66 e os 67 minutos) descemos a terceiro, para depois regressarmos a segundo. Até que a partir dos 84 minutos nos fixámos no terceiro, assim regressando à casa de partida e carimbando o passaporte para Sevilha, cidade que o nosso Ferro Rodrigues pretende ver invadida de portugueses, quiçá nas suas variantes alpha, delta e quejandos. Ufa, estou exausto(!), foram tantas as contas que fiz durante o jogo que estou desconfiado que este grande certame internacional afinal é a Olimpíada da Matemática, torneio em que os portugueses são sempre à partida os grandes favoritos.
A verdade é que depois do Euro 2016 a nossa Selecção desenvolveu uma imunidade de grupo às críticas. O seu líder, Fernando Santos, vai gozando com o que a malta diz até ao momento das grandes decisões, instante a partir do qual põe a teimosia de lado e lança os melhores para dentro do campo. A coisa produz efeito imediato, podendo dizer-se que é remédio Santo(s), desatando a Selecção a jogar futebol e a ultrapassar os incautos adversários como se não houvesse amanhã. Os próximos que nos sairão na rifa serão uns belgas, os primeiros no ranking dos profissionais chocolateiros. E da FIFA, dizem-me. Têm o gigante Courtois e o duende Hazard, o colosso Lukaku e o genial De Bruyne. Mas não têm o Cristiano Ronaldo, o Velho, que alguns dizem estar acabado. Acabado de igualar o recorde mundial de mais golos marcados ao serviço de uma selecção. Acabado de ultrapassar o recorde de mais golos marcados em fases finais de europeus. Acabado de bater o recorde de mais golos marcados no somatório das fases finais de europeus e mundiais. Acabado de terminar a fase de grupos deste Europeu como o melhor marcador destacado (5 golos) da competição. Enfim, acabadíssimo. E depois há um veloz Pepe a viver a jovialidade dos seus 38 anos, um Patrício que realizou a melhor defesa deste Euro, um Renato que é um touro e um ousado Palhinha que até se estreou neste Euro num túnel onde arrancou a crista ao galaroz do Pogba. E ainda resiste o Moutinho, mestre na arte de esconder a bola e de a passar a um só toque, um dos melhores do mundo na modalidade do futebol sem balizas, variante que foi rei no Portugal dos anos 70. Sem me esquecer do Bruno do Sporting e do Manchester que ainda não apareceu na Selecção, dos milhões do Felix que sebastianicamente um dia ainda se capitalizarão dentro do campo, ou do André Silva da Bundesliga, entre outros.
Dizem-me que o problema é a Bélgica jogar num 3-4-3. É que a amostra contra a Alemanha não foi nada auspiciosa e teme-se que a coisa se repita. Se calhar, o melhor será o Fernando Santos inspirar-se no Rúben Amorim e aproveitar o cochecimento que os jogadores do Sporting têm desse sistema. Por exemplo, recuar o Palhinha para a linha dos centrais, entregar ao Nuno Mendes a ala esquerda e estrear o Pote com o Jota como enganches do Ronaldo. A verdade é que a defesa dos belgas não me parece por aí além, pelo que saber explorar o espaço entrelinhas compreendido entre médios e centrais poderá ser a chave para a vitória lusa.
Enfim, no Domingo logo saberemos. Para já fica o registo de um empate com sabor a vitória contra o campeão do mundo, tónico certamente motivador. Esperança também no nosso Ronaldo, tão fresquinho que desafia os controladores aéreos e continua a invadir o espaço onde é suposto só circularem os aviões, e no progressivo desenvolvimento da equipa em competição tão típico de Fernando Santos. Definitivamente, há que contar connosco. Num torneio de nómadas, disputado em 11 cidades europeias, o nosso treinador até já anunciou a intenção de deixar as malas em Budapeste. Soou-me a presságio e a um regresso ao passado (2016). Querem ver que...?
Tenor "Tudo ao molho...": Renato Sanches