Tudo ao molho e fé no Euro21 (ou 20)
A Filosofia do Ketchup
Pedro Azevedo
"Os golos são como o Ketchup" - Cristiano Ronaldo
O grande filósofo Cristiano Ronaldo disse um dia que "Os golos são como o Ketchup e quando aparecem vêm todos de uma vez". Lembrei-me disso ontem quando o Renato Sanches sacudiu a garrafa do Ketchup (lâmpada?) e o génio Ronaldo concedeu os 3 desejos, deixando altruisticamente para o Raphael Guerreiro a tarefa de concretizar o primeiro. Foi, no entanto, necessário esperar 84 minutos para que Portugal fizesse baloiçar as redes magiares, tempo exemplarmente gasto pelos lusos com o intuito de contrariar o postulado do Princípio da Impenetrabilidade da Matéria - "Dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo". Para tal, Fernando Santos elaborou uma experiência científica com Danilo e William como cobaias, provando que, em matéria de princípios, até os Princípios da Física não resistem ao futebol português.
Portugal apresentou-se com Rui Patrício como guardião das nossas esperanças e calafrios (ai, ai...). Como o respeitinho é muito bonito, o Jogador do Ano da Premier League (Rúben Dias) foi deslocado para o lado esquerdo da zona central da defesa portuguesa a fim de que o veterano Pepe pudesse jogar de cadeirinha pela direita. Nas laterais o Nelson Sem Medo e o Raphael Guerreiro, dois apelidos à altura da batalha que tínhamos pela frente perante 60 000 húngaros. À frente destes aparecia um pivô duplo, com o Bruno Fernandes a ter mais liberdade para criar. Depois, no ataque tínhamos o Bernardo, o Jota e o inevitável Ronaldo.
Só para contrariar os Velhos do Restelo que dizem que Ronaldo é prejudicial à Selecção porque toda a equipa joga para ele e isso retira imprevisibilidade, o irreverente do Jota começou logo o jogo a ignorar o nosso capitão, desmarcado na esquerda, e a chutar à baliza. O Gulácsi é que não esteve pelos ajustes e contrariou as suas intenções. O Jota não via ninguém, queria marcar um golo de qualquer maneira e, pouco depois, antecipou-se ao Bruno Fernandes e voltou a acertar no guarda-redes magiar. Depois, o Ronaldo isolou o Bernardo na direita, mas este lamentou não ter dois pés esquerdos e o lance perdeu-se mais uma vez. Antes do intervalo o Ronaldo ainda podia ter marcado, não fora ter ficado surpreendido por o Jota finalmente não se ter atirado que nem um glutão à bola.
No segundo tempo o Bruno desatou a rematar à baliza. O Gulácsi provou ser o melhor dos húngaros e negou-lhe um golo certo. Entretanto, O Engenheiro mandou o Rafa lá para dentro para ver se intimidava os húngaros com a barba (ou se dava água pela barba aos magiares, vá lá saber-se...). Mas foi a partir do momento em que o Renato Sanches entrou que Portugal conseguiu abanar o jogo. É certo que o nosso primeiro golo foi às três tabelas, mas depois o Bulo foi por ali acima até servir o Rafa para este cavar um penálti que decidiu o jogo. Quem o transformou foi o Ronaldo, mandando o Platini para canto como melhor marcador de fases finais de europeus. Animado com mais um recorde, o Cristiano engendrou e iniciou uma tabelinha com o Rafa, finalizando com uma finta ao excelente guarda-redes húngaro e provando que ainda não perdeu de todo a habilidade de extremo. E lá ficou o Ali Daei à distância de um "hat-trick"... Assim, com 3 golos em 8 minutos, o jogo chegava ao fim. O jogo jogado, porque o jogo falado teve o "Motorista Santos" como protagonista. Com os hilariantes e habituais tiques de pescoço, provável consequência de algumas caîbras originadas pelas tensas travagens que muitas vezes impõe nas partidas, mas com a naturalidade de quem soube reconhecer que o apodo sugerido pelo técnico italiano dos magiares até se revelou apropriado, tal a forma como Fernando Santos soube com maestria contornar o longo autocarro que a Hungria colocou à sua frente.
Tenor "Tudo ao molho...": Cristiano Ronaldo