Tudo ao molho e fé em Deus - Ronaldo é como a Fénix!
Pedro Azevedo
Fénix, ok? Fénix, não Félix...
Quando o país soube que Cristiano Ronaldo se tinha juntado à equipa de João Félix, outrora designada por "Equipa de todos nós", logo se levantaram dúvidas se estaria à altura de tão grande responsabilidade. Para complicar ainda mais a coisa, o engenheiro deu uma de Paulo Bento e montou um meio-campo em losango que basicamente consistia em ter quase todos os jogadores fora da sua posição natural, pelo que todas as fichas estavam apostadas no imponente físico de Félix, a emparelhar na frente com Ronaldo, assim a jeito de uma alegoria da caserna (cartilhada) transformada numa hipérbole.
Jogando Ruben Neves mais recuado, William foi desviado para a meia esquerda, Bruno Fernandes para a meia direita e Bernardo para o vértice mais ofensivo, táctica que ainda teve o senão de deixar Félix inoperante, sem espaço para recuar e receber a bola de frente para a baliza, o que teria sido possível se Portugal tem optado, por exemplo, por um 4-4-2 clássico. Mas, se a selecção não fosse a Turma do Félix, com Ronaldo no eixo do ataque, Guedes poderia ter entrado de início para a esquerda, Bernardo teria actuado pela direita, Bruno Fernandes seria o "10" e Neves e William jogariam mais atrás, num 4-3-3 provavelmente ideal para as características dos atletas que temos.
Assim, a coisa foi sofrível e só salva pelo irrequietismo de Bernardo e o génio daquele senhor (Cristiano) que veio visitar a Turma do Félix e a fez renascer como a fénix. Mas aí Bruno Fernandes ainda não se juntara a Félix... no banco de suplentes.
Na primeira parte, Ronaldo inaugurou o marcador com um "tomahawk", pôs um helvético a rodar a 45 rotações por minuto (ou não fosse a suiça Thorens uma referência mundial em gira-discos) e assistiu Félix para uma oportunidade perdida. Na etapa complementar, começou por tocar para Bernardo no lance da penalidade a favor que se transformou numa penalidade contra, ironia mais própria de um VAR aberto a altas horas da madrugada e que devolveu ao marcador uma expressão mais consentânea com a famosa neutralidade helvética. De seguida, servido por Bernardo, rematou raso e sem possibilidade de defesa. Por fim, a cereja em cima do bolo: bola recuperada no eixo central por Bruno, passe deste para Guedes, solicitação para Ronaldo na meia esquerda e grande jogada individual do madeirense, com uma chicuelina que tirou dois adversários da frente e abriu um buraco digno de um queijo suiço. Emmental, meu caro Watson(!), Ronaldo é o melhor jogador do mundo. Infelizmente, parece que é só o segundo melhor jogador português...
P.S. Para além de Ronaldo e de Bernardo, gostei de Ruben Dias. William e Bruno Fernandes, apesar de jogarem fora da sua posição natural, estiveram bem a espaços. Guedes entrou muito bem, dando outra dinâmica ao ataque.
Tenor "Tudo ao molho...": Cristiano Ronaldo (hat-trick, 88 golos na Selecção)