Tudo ao molho e fé em Deus - Ovos K
Pedro Azevedo
Mahatma Gandhi, que até gostava muito de futebol, dizia sobre a vida que a alegria está na luta, no sofrimento envolvido, na tentativa e não na vitória propriamente dita. Os jogadores do Sporting pareceram partilhar este pensamento e hoje, na Madeira, esforçaram-se até à exaustão para o pôr em prática. Em particular, o Diaby até se esmerou. Para o maliano, cada falhanço na cara de Daniel Guimarães equivaleu à nona sinfonia de Beethoven. É certo que a época pascal que vivemos é propícia ao perdão, mas, caramba, também não era preciso exagerar...
O jogo até começou de forma auspiciosa, com um cartão amarelo a Acuña, o que deve ser considerado como uma importante melhoria face ao acontecido na Vila das Aves. Na ausência de Wendel - Raphinha (lesão) e Renan (castigo federativo, cartão vermelho no jogo anterior) também estavam impedidos - , Idrissa Doumbia foi a jogo. O problema é que o marfinense foi ocupar em simultâneo o mesmo lugar no espaço que Gudelj, desafiando assim o Princípio da Impenetrabilidade da matéria, algo que não pareceu incomodar demasiado Marcel Keizer mas deve ter perturbado o repouso de um tal Isaac Newton.
Sem quem transportasse o jogo pelo meio, os leões optaram por não fazer recuar Bruno Fernandes. Em vez disso, o maiato deslocou-se para a esquerda, procurando combinar com o falso ala desse lado (alternadamente Diaby ou Jovane) que entretanto se havia aproximado de Luís Phellype no eixo do ataque, ou pedindo a profundidade de Acuña para que este colocasse a bola na área. Perante a dúvida, a defesa nacionalista foi soçobrando e as oportunidades sucederam-se. Nesse transe, Diaby, por três vezes, podia ter marcado e o mesma aconteceu com Jovane, um jovem que parece apostado em aprender o pouco entendível francês do Mali. Em todas as vezes, Daniel Guimarães esteve no caminho da bola. O Felipe das Consoantes também tentou e tirou um coelho da cartola digno de fazer inveja a um qualquer vogal de um conselho de administração. Infelizmente, a bola saiu ao lado. Pese todo o pendor atacante, a falta de eficácia impediu o Sporting de chegar ao intervalo em vantagem no marcador.
Para a etapa complementar, Keizer pareceu ter ordenado a Doumbia que se adiantasse no terreno e tentasse transportar jogo. Embora fora da sua posição natural, Idrissa procurou jogar mais para a frente e numa dessas ocasiões serviu soberbamente Diaby, mas o maliano com a baliza toda à mercê conseguiu encontrar um corpo na direcção da bola. Logo de seguida, com a baliza escancarada, o suspeito do costume não chegou à bola por um triz. Aos 55 minutos, o Gudelj viu um cartão amarelo, motivo que o impede de jogar a próxima partida contra o Guimarães. O drama, a tragédia, o horror terá pensado a SportTV, que logo o nomeou para "Homem do Jogo"...
O Sporting continuava a distribuir Ovos Kinder, ou Keizer, ou lá como se chamam esses presentes de Páscoa, aos nacionalistas, até que Acuña levantou para a área e Luíz Phellype não perdoou. Em vantagem, Jefferson rendeu Jovane (e Miguel Luís substituiu Gudelj), continuando Acuña como lateral. O brasileiro serviu Diaby para golo mas o destino foi o do costume. Houve tempo ainda para vêr o ex-Brugge mostrar os seus dotes de recepção quando isolado para a baliza meteu canela a mais na bola, naquilo que deverá passar a fazer escola na Academia como "domínio à Diaby". Posto isto, a mim é que tiveram que dominar. Os nervos, claro. Ah, e claro, o Xico entrou a 1 minuto do fim, em nova "oportunidade" concedida pelo Keizer. Já dizia a Luísa Sobral: "Ó Xico, ó Xico, onde te foste meter?".
Tenor "Tudo ao molho...": Luíz Phellype (marcou o único golo do jogo e lutou bastante). Destaques para Mathieu, que muitas vezes fez de "8" em penetrações pelo meio-campo do Nacional, Acuña, que dominou totalmente o lado esquerdo da defesa, e Gudelj, hoje muito mais intenso defensivamente do que aquilo que tem sido normal nele, embora continue a não dar ao jogo atacante aquilo que é necessário num clube de topo.
P.S. falando agora muito a sério, foi um prazer ouvir Gudelj expressar-se num quase perfeito português e sem aquele sotaquezinho castelhano que poderia advir do facto de ter acompanhado o pai quando este foi profissional de futebol em Espanha. Aliás, tanto quanto sei, o sérvio fala seis linguas. Muitas vezes critico-o pelas suas acções no campo, mas aqui fica o meu apreço por alguém que mostra respeitar o clube e o país, se comporta de forma profissional e é inteligente.