Tudo ao molho e fé em Deus - Madeiradas
Pedro Azevedo
À hora que Vos escrevo ainda não é conhecido o resultado do exame toxicológico de Charles, mas a coisa deve ser grave, adianto já, tal a quantidade de spray que inalou após cada defesa que efectuou (rima e tudo!!). O jogo em Portugal é "uma coisa em forma de assim" (Alexandre O`Neill), em que uma quantidade inusitada de jogadores se fazem de mortos enquanto esperam pela entrada do médico (legista?), apenas para que o tempo passe e o ritmo do adversário seja quebrado. Depois, ainda são premiados pelos árbitros, que nunca compensam devidamente os minutos perdidos, pelo que se pode dizer que o crime compensa. O jogador como anti-jogador, eis o paradigma do futebol português e do seu campeonato principal, aquele com menos tempo útil de jogo da elite europeia.
O primeiro tempo foi algo confuso: Gudelj viu um cartão amarelo por praticar surf nas costas (de) madeirenses, Borja outro por exercitar mergulho em zona proibida e Diaby preferiu o Bailinho da Madeira, dando sempre umas voltinhas. Numa delas, completamente isolado, a bola ficou no Funchal e ele foi até Porto Santo... Pelo meio, Bruno Fernandes e Bas Dost obrigaram Charles a defesas apertadas e paragens prolongadas. O Marítimo também podia ter marcado, mas Getterson rematou por cima.
Na etapa complementar o Sporting foi mais incisivo: primeiro foi Diaby a conduzir uma biga de maritimistas até à linha de fundo e a semear o pânico; depois Bruno Fernandes, de livre, a enviar a bola a rasar a barra; de seguida Raphinha (entrara ao intervalo por troca com Borja), de cabeça, a passe de Bruno, e Charles a brilhar de novo; finalmente, Bruno Fernandes, isolado, a conseguir chegar antes à bola, mas Charles a emendar com uma "mancha" perfeita. De destacar ainda um brilhante lance individual de Idrissa Doumbia (substituiu Gudelj no recomeço), a mostrar que merece a titularidade, e a entrada em jogo de Luís Phellype (troca por Wendel) que, na minha opinião, formatou muito o jogo leonino (Geraldes teria sido mais útil), pelo que nos últimos 10/15 minutos deixámos de criar oportunidades claras. O Marítimo teve apenas uma oportunidade nesta parte, quando Getterson (outra vez) rematou ao lado, após boa defesa de Renan diante de Edgar Costa.
O Sporting desperdiçou assim a possibilidade de se aproximar ainda mais do Braga (está a 3 pontos) e ficou mais longe de Porto (11 pontos) e Benfica (10). O resultado acaba por ser injusto, mas a finalização esteve desastrosa. Os golos estão muito dependentes da inspiração de Bruno Fernandes e da assertividade de Dost que parece ter ficado algures em 2018. Há muitas jogadas e golos que se perdem por deficiências técnicas, do tipo haver um canhoto sem pé direito, ou mesmo um canhoto sem pé esquerdo...o que faz com que recepções e remates se assemelhem àquilo que no ténis se chama uma madeirada. Bruno Fernandes, Acuña e Mathieu (ausente há muito tempo) são os jogadores de categoria extra. Vê-se na forma como dominam a bola, como pensam o jogo, ou na dinâmica que empregam.
O Keizer está a fazer um curso intensivo de futebol português. Treinador tuga que se preze tem de ser expulso e hoje tocou-lhe a ele. O ar incrédulo com que a transmissão televisiva o captou mostra que ainda não percebeu onde se veio meter. Vamos ver se terá tempo de se adaptar completamente, pelo menos aos árbitros lusos. Talvez ajudasse a sua carreira olhar para alguns dos miúdos que tem à sua volta. Doumbia, Geraldes ou Thierry já podiam ter sido muito úteis esta época, o que teria melhorado a dinâmica global da equipa.
Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes (mesmo que abaixo do habitual)
P.S. À atenção de todos aqueles que se basearam numa amostra com uma única observação - aonde anda o Rui Oliveira e Costa quando finalmente precisamos dele? - para sentenciarem que a equipa estava melhor sem Nani: três jogos depois da sua saída, se calhar não está...
P.S.2 Talvez não fosse má ideia o Keizer tentar fazer entender-se em flamengo ou neerlandês (com o Dost a traduzir). Aquele "brutânico" que ele pratica no balneário e nas conferências de imprensa soa menos a qualquer tipo de idioma do que o inglês falado pela minha filha de 7 anos.