Tudo ao molho e fé em Deus - Dolores contra Murphy
Pedro Azevedo
Sob o signo do rosa, o Sporting voltou a ganhar. Desta vez com a égide de Dª Dolores, a feliz porta-estandarte deste excepcional talismã contra a Lei de Murphy que já tinha igualmente dado sorte nos jogos com Linz e Rosenborg. Bem sei, é comum dizer-se que a sorte dá muito trabalho. E eu concordo, a sorte deu muito trabalho... a Mathieu. Observem a primeira parte: enquanto o Sporting tirou partido de duas transições ofensivas para marcar dois golos, o gaulês aproveitou os múltiplos ataques do Vitória para cortar cerce as aspirações dos minhotos. Foram tantas, tantas vezes que lhes perdi a conta, mérito do óptimo posicionamento do experiente central francês, o homem sem idade que bem pode ser um viajante do tempo de glória do futebol do Sporting para os nossos dias.
A noite foi de tal sortilégio que até o avançado centro marcou. E com uma bela chicuelina! Agora só faltam 29. Aviso já o estimado Leitor que da mesma forma que ninguém se importa que Tarantino seja excêntrico desde que realize filmes como Pulp Fiction, também não vou eu ser eu a preocupar-me com aventuras de raggaeton se o Jesé marcar tanto como o Dost. Quem também facturou foi o diletante Acuña, algo fora do alcance do bem comportado Borja. É que o argentino teve o desplante de entrar na área adversária para o fazer e isso para o colombiano ainda é um desafio tão complexo como dobrar o Cabo das Tormentas.
O segundo tempo foi todo do Vitória. Mas podia não ter sido assim. Bastaria Artur Soares Dias ter visto um penalty do tamanho do Castelo de Guimarães, só que o árbitro do Porto deve ser fã daquela frase da Clarice Lispector - "se eu errar que seja por muito" - e deixou seguir, não aceitando a sugestão do VAR (e de mais 11 milhões de potenciais VARs que esta noite não consumiram cogumelos alucinógenios). Tantas vezes o cântaro foi à fonte que os pupilos de Ivo Vieira lá marcaram. Valeu então ao Sporting a conjugação de um sortilégio com a ocorrência de um factor paranormal. É que se o primeiro justifica o facto de Davidson se ter esmerado durante todo o jogo na enigmática arte de falhar por pouco, só o segundo explica que Coates tenha marcado um golo na baliza certa, facto antecedido por um apesar de tudo mais prosaico frango de Miguel Silva, um guarda-redes que costuma brilhar contra as nossas cores (recordam-se de 2015/16?).
Para a noite acabar em beleza, nada como dar a alegria aos presentes de ver um jovem da nossa Formação a ser lançado pela primeira vez. Graças a Silas, a honra coube a Rodrigo Fernandes. E consta que Matheus Nunes, um brasileiro bom de bola, será o próximo. Está-se mesmo a ver que um homem que comete esta ignomínia de dar oportunidades aos jovens da nossa Academia não tem nível para o futebol português. Mais concretamente, o quarto nível. O que já tem é o quarto triunfo...
Tenor "Tudo ao molho...": Jeremy Mathieu (O Viajante no Tempo). Menções honrosas para Vietto (duas assistências) e Acuña. Destaques ainda pela positiva para o golo de Jesé e para o sinal que Silas deu do compromisso que é exigido com o grupo (exclusão de Wendel).