Tudo ao molho e fé em Deus
Móvel à Mata Real, Retális
Pedro Azevedo
Faz parte do imaginário popular de quem alguma vez tenha pisado o interior de um táxi a mítica expressão "Móvel à Rua da Buraca", muitas vezes entrecortada por "Retális", com que uma menina via rádio sinalizava o chofer de praça. Não sei se era difícil estacionar na referida rua, se lá existiam serviços camarários relevantes ou se a maioria dos seus moradores infelizmente não possuía carro, mas não me lembro de uma artéria de Lisboa com tantos pedidos de táxi como essa, talvez com a honrosa excepção da mais central Rua das Pretas. Lembrei-me disso ontem ao ver Rúben Amorim requisitar um móvel à Mata Real, que é como quem diz, um ataque móvel à Capital do Móvel. Habitualmente muito criticado por esta opção que entretanto havia caído em desuso, o Rúben tomou a decisão correcta face às circunstâncias, contrapondo mobilidade a um mobiliário que como se sabe não tem mobilidade nenhuma (ou tem, mas necessita de um empurrãozinho à maneira de Palma de Maiorca). Ainda mais, havendo, entre o mobiliário, alguns baús velhos e pesados como o Gaitán, o Luiz Carlos ou o Marafona. Nem de propósito, estes dois últimos deram uma de Coates e combinaram para um primeiro golo à ponta de lança. De seguida veio o Nuno Santos, que não é imaginativo na arte do drible mas é um criativo na arte do golo. E, já depois de não deixar cair em Braga e de ensinar uma letra ao Boavista, brindou-nos com um chapéu de aba larga: a bola subiu, subiu e subi...tamente desceu, como se tivesse furado pelo caminho. O Trincão não quis ficar atrás e teve um pormenor à Bergkamp no terceiro da noite. Faltava o Chermiti molhar a sopa. O açoriano havia marcado pela última vez após assistência de Arthur (Porto), um jogador com um tipo de futebol mais prático e que o favorece. Ontem houve uma reedição: finta e cruzamento do ex-estorilista, e Chermiti a mostrar faro de golo e a encostar os pitões à bola. Nada mais havendo a acrescentar, o móvel regressou à Rua Professor Fernando da Fonseca. Retális.
Tenor "Tudo ao molho...": Nuno Santos