Tudo ao molho e fé em Deus
Identidade e oportunidade
Pedro Azevedo
João Pedro Sousa não é um treinador qualquer. Não é fácil todos os anos sofrer uma revolução no plantel e ainda assim conseguir fazer do Famalicão um clube competitivo. Não se trata só da qualidade individual dos jogadores que compõem o plantel, como Sanca ou Jaime, há também rotinas de jogo muito apreciáveis e que ontem estiveram na origem de algumas dores de cabeça que o Sporting sofreu. Ainda assim, tivemos as nossas oportunidades, que a vontade de jogar para a frente dos minhotos foi sempre um incentivo para as nossas transições rápidas, principalmente quando se está habilitado de jogadores com inteligência no aproveitamento dos espaços entre-linhas como Pote (ontem apagado), Edwards ou Morita. Mas se João Pedro Sousa merece uma palavra de admiração, a Rúben devemos o facto de ter elevado a bitola do nosso futebol. Nem a estapafúrdia ideia do ataque móvel num clube grande belisca o facto de o Sporting ter uma boa ideia de jogo e com Amorim ter subido de patamar. Por isso agradeço o seu trabalho em prol do clube, desejando que continue. Quem já cá não está é o Paulo Freitas, que no hóquei muito nos ajudou no passado. Acontece que o Paulo foi indecentemente insultado por adeptos nossos no Sábado, gente sem gratidão e/ou cultura desportiva. Um clube que não é capaz de valorizar quem o serviu com distinção tem um problema de cultura corporativa: não tem memória, nem prestigia a sua história. Porque uma tribo do Sporting arregimenta-se por uma identidade comum que se alimenta de vitórias e de títulos, mas também por causas de acordo com os valores comportamentais que nos distinguem. E quando esses valores estão em crise na sociedade, mais ainda se justifica haver uma forte cultura de clube que eduque no sentido certo e assim filtre comportamentos que fiquem aquém dos mínimos olímpicos.
O jogo em si serviu para provar duas grandes convicções de Rúben até aqui muito contestadas: o ponta de lança principal deve ser associativo (Chermiti, no segundo golo) e o de recurso deve ser um defesa e ter "killer instinct" (Coates, de volta aos golos). Também deu para ver que sem Ugarte ou Morita (se não estiver Pote) o meio campo do Sporting não é a mesma coisa. Como diz um amigo meu alentejano, 30 minutos é tanlongo para o argentino do Sporting... (O pior é que com o Buscapoulos ficamos a saber que não há ligação à corrente.) Mas os destaques vão inteirinhos para Edwards, Morita e Adán, sem esquecer o primeiro golo de carreira de Esgaio ao serviço da equipa principal do leão, uma década após a sua estreia: o inglês foi omnipresente nos golos e nas oportunidades, o nipónico um átomo a mais que se (nos) animou... e marcou, o espanhol garantiu a vitória com uma enorme estirada.
No dia em que oficialmente ficámos definitivamente fora da luta pelo título, o acesso à Champions também se complicou mais um bocadinho (a mesma distância, menos uma jornada). Resta-nos a oportunidade de tentar ganhar o futuro no presente, procurando hoje soluções para problemas com que nos depararemos amanhã. E isso urge, na medida em que todos já nos apercebemos que as saídas não se ficarão por Ugarte, e sem um lote razoável de jogadores influentes as nossas hipóteses serão só académicas.
Tenor "Tudo ao molho...": Edwards