Tudo ao molho e fé em Deus
Bob, o Construtor
Pedro Azevedo
O Liechtenstein é um país minúsculo, tão mínimo que, se e a sua população inteira comprasse uma gamebox no José Alvalade ainda sobrariam 11.000 lugares de lotação do estádio para venda ao público em geral. Se o número de habitantes do Liechtenstein é pequeno para Alvalade, Ronaldo ainda é suficientemente grande para caber no Onze de Portugal. Como ontem ficou amplamente demonstrado, marcando dois golos e falhando outros tantos onde ainda assim o seu domínio nas alturas ou recepção imaculada da bola se destacaram dos demais. Nada mau, aos 38 anos de idade, para este Lawrence das Arábias português que aproveitou a oportunidade para bater o recorde mundial de internacionalizações por selecções (197) e reforçar o já por si detido máximo de golos (agora 120, 830 em toda a carreira). Portugal estreava Roberto Martinez, e este inaugurava a linha de 3 defesas. Com Inácio a ter a sua primeira internacionalização a jogar (e bem, com muita personalidade!) nessa linha pela esquerda, os laterais Cancelo e Guerreiro foram mais extremos no primeiro tempo e mais interiores no segundo. João Palhinha foi o polvo que tudo compensou no meio, Félix e Bernardo partiam das alas, com o jogador do Chelsea a frequentemente procurar espaços entre-linhas mais interiores e assim transformando o nosso bem conhecido (dos Sportinguistas) 3-4-3 num 3-5-2. Bruno Fernandes procurava a ligação com os jogadores do ataque. Apesar de ter marcado cedo, num remate às 3 tabelas de Cancelo cuja última carambola envolveu Ronaldo, Portugal deparou-se com um Liechtenstein somente interessado em perder por poucos. Por isso continuou fechado lá atrás, procurando não deixar espaços para que Portugal ligasse por dentro, obrigando-nos a circular em "U". Mas isso aconteceu na primeira parte, porque após o reatamento viu-se o dedo do treinador, com Guerreiro e, principalmente, Cancelo a jogarem por dentro e Félix e Bernardo a dissuadirem pelas alas. Não tardaria assim que Portugal voltasse a marcar, com Ronaldo a dar nova vida à metáfora do ketchup (agora dos golos de livre directo). Foram 15 minutos de futebol avassalador, com 3 golos (1 de Bernardo e 2 de Cristiano), muitas oportunidades desperdiçadas e Cancelo (mas também Palhinha) frequentemente envolvido na construção.
No final foram só quatro. Mas poderia ter sido uma dúzia, o que até viabilizaria um bom trocadilho - "va douze" - aplicado ao regresso dos jogadores do Liechtenstein à sua capital. Quanto a Roberto Martinez, Bob, para os ingleses, e Construtor de uma nova filosofia de jogo, para os portugueses, os primeiros sinais foram encorajadores, aproximando-o das opções do homem comum não-contaminado e assim escalonando de início o Inácio e o Palhinha, dois jogadores que pouca ou nenhuma atenção mereceram do pretérito (e mais galardoado de sempre) treinador nacional. Com Portugal entre a nobreza europeia, a um Principado seguir-se-á um Grão-Ducado (Luxemburgo), provavelmente já com Nuno Mendes no Onze.
Podium - Ouro: Cancelo; Prata: Palhinha; Bronze: Ronaldo.
P.S. Tenho algumas dúvidas sobre a eficácia da aposta de Danilo (mais tarde, também Palhinha) como central pela direita, afastando-o do centro do jogo, mais parecendo um peixe fora de água. Se por um lado a ideia parece ser não colidir o defesa com o espaço de intervenção do médio mais defensivo, dando a oportunidade de com bola e adversários fracos termos um duplo-pivô no meio, por outro seria mais natural que Danilo ocupasse um lugar central na defesa. Mas, provavelmente, com a entrada de Pepe, tal questão não se colocará no futuro, jogando Martinez com Rúben e Inácio como complemento ao central portista.
(O amarelo e o vermelho espanhóis presentes na indumentária de Bob)