Tudo ao molho e fé em Deus
Maldição insular
Pedro Azevedo
Já se sabia que os termos nazareno e catolicismo andavam de mãos dadas, mas ontem tivemos a sua confirmação ao vivo e a cores num jogo de futebol quando o Esgaio incorporou de tal modo o espírito de Santa Clara que acabou a notabilizar-se por uma exibição de uma pobreza franciscana. Paradoxalmente, houve logo quem visse nisso um pecado, imagine-se, mas o Esgaio é um santo homem. Pelo menos, nos Açores. E em Assis, claro. Continuando na senda da dádiva, alguém deveria dizer ao Matheus Nunes que tem de rematar à baliza. São já incontáveis as jogadas que se perdem ingloriamente por optar por um último passe em detrimento do chuto. É uma pena, até porque toda a construção que antecede esse(s) momento(s) tem sido brilhante, mas o excesso de altruísmo do Menino do Rio à entrada da área está a prejudicar o seu desempenho e o da equipa. A ausência no banco de Ruben Amorim foi também uma benesse concedida aos açorianos. O seu adjunto, Carlos Fernandes, ouviu mais pelo auricular do que aquilo que viu com os seus próprios olhos no relvado. O que não viu, e nós também não, foi aquele tocar a reunir que nos caracteriza nos momentos difíceis, deixando que a equipa frequentemente partisse o jogo e deixasse avenidas para circulação pouco comuns em ilhas de pequena dimensão. Com Pote e Paulinho perdulários e a classe de Sarabia a ser sistematicamente mal-aproveitada através de passes em profundidade a solicitar uma velocidade que não tem, o Sporting acabou por deixar 3 pontos nos Açores neste início do ano. A fazer lembrar a eliminação (Taça dê Portugal) aos pés do Marítimo em igual momento do ano transacto, o que configura uma maldição insular de ano novo. Ele há coisas... Como dizem os espanhóis: "yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay". Terá sido por efeito da Madalena Aroso?