Tudo ao molho e fé em Deus
Um homem prevenido
Pedro Azevedo
O Nuno Santos é um homem prevenido, como tal vale por dois. Por isso, mesmo com apenas 9 jogadores de campo e um guarda-redes, o Sporting jogou sempre num 3-4-3 e não no 3-4-2 que toda a crítica apontou. Mérito total do ex-jogador da Formação do Benfica, que foi um dois-em-um, defendendo como um Matheus e passando a bola a si próprio como se de um Sarabia se tratasse. Foi assim aliás que nasceu o nosso primeiro golo: o Nuno Reis recuperou a bola na saída para o ataque dos gilistas e lançou o Pablo Santos que logo desferiu um remate que carambolou para dentro da baliza. Na verdade, as expulsões fizeram toda a diferença no jogo: é que enquanto o Ruben Amorim trocou um por dois, o pobre do Ricardo Soares soube de antemão ser impossível substituir uma (Fuji) moto e ficou apeado. Foi galo!
Quem parece andar às voltas com a sua essência é o Pote. Então não é que o homem decidiu começar a rematar à baliza? Como consequência, os seus golos deixaram de existir. Quando simplesmente passava à baliza o desfecho era inevitável, o golo, mas agora, ao parecer forçar a barra, a bola deixou de entrar. Do mal o menos, se antes marcava como quem assistia, em souplesse, ontem assistiu (Inácio) como quem marca, em força.
Com o jogo partido entrou o Bragança. Aquilo foi uma delícia, uma coisa a fazer lembrar o Brasil de 82, do Zico e do Sócrates, um festival de toque e retoque que desmaquilhou o resto da compostura barcelista. Como corolário, mais um golo, com classe, obviamente. Bem também o Esteves, o puto faz-se jogador e não tem medo de nada nem de ninguém.
Do árbitro Tiago Martins será melhor nem falar. Desde confundir o Neto com o avô - sim, o Ugarte joga com tanta personalidade que mais parece um veterano de 20 anos - até não ver um penalty do tamanho do Cidade de Barcelos, passando por ignorar um golpe de MMA perpetrado pelo Fujimoto ou por impedir sucessivos contra-golpes leoninos alegando faltinhas daquelas a que os árbitros por toda a Europa não dão ouvidos (sim, a encenação vem geralmente acompanhada de gritinhos agudos e manhosos), o Tiago Martins fez de tudo um pouco. Em suma, uma arbitragem própria de um jogo de solteiros e casados, do Inatel, com paragens ideais para se tomar uma cervejinha ou fumar um cigarrinho.
E assim chegou a décima (vitória consecutiva), com o Ruben já a alertar para a urgência da décima primeira. É assim também que se faz este novo Sporting, olhando para a frente e não para o retrovisor. Sem madeixas. Eu gosto.
Tenor "Tudo ao molho...": Nuno Santos