Tudo ao molho e fé em Deus
Esplendor na relva
Pedro Azevedo
Do Olimpo do mundo da bola onde só os grandes vivem, Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano deverão ter escutado embevecidos a musica que os jovens Leões de Portugal executaram no relvado do José Alvalade. Do outro lado estava só o semi-finalista da edição de 19/20 da Champions (que nessa caminhada eliminou a Juventus e o Manchester City), o Lyon, os Leões de França, mas o Sporting foi sempre francamente superior e na savana de Alvalade ficou até aquém de expressar no resultado final o avanço no seu processo de jogo.
As coisas nem começaram especialmente bem: Paulinho fez-me evocar saudosamente o Mário Jardel (no ar era um médico legista, cada sua cabeçada cumprida com a formalidade de uma certidão de óbito) - actualmente de férias no nosso país - quando não conseguiu que um seu cabeceamento (excelente centro de Esgaio) se enquadrasse com a baliza, e na resposta o Lyon marcou em jogada que Feddal não acompanhou devidamente. Mas os nossos leões não desistiram e logo voltaram a ficar por cima. Tudo começou na arte e magia contida nos pés de Jovane Cabral, a tal suposta arma secreta que é na verdade o segredo menos bem escondido do futebol nacional. O homem é um craque, e quando com confiança pinta a manta. Na ocasião fez-se notar pela primeira vez no encontro através de um soberbo passe de trivela a isolar Pote na meia direita. Este, altruísta, quis dar a Paulinho, mas o passe saiu sem chama. O que se sucedeu foi um momento digno dos apanhados, com um defesa francês a chocar contra o seu próprio guarda-redes e a bola a ficar ao alcance de Paulinho para uma finalização fácil. O mesmo ponta de lança poderia ter voltado a marcar depois de uma assistência açucarada do pasteleiro Matheus Nunes, mas Anthony Lopes e o poste congeminaram para negar o golo ao avançado natural de Barcelos. Foi galo!
Não tardaria a vantagem leonina no desafio: o nosso jovem Beckenbauer (Gonçalo Inácio) meteu o GPS e encontrou o Pote de Ouro ainda antes do arco-iris que se formou à entrada do meio campo gaulês. Isolado, o Pote só teve de correr na direcção do guarda-redes, finalizando com um daqueles passes à baliza que tanto convocam a arte de Deco (Art Deco) ao seu jogo. Com o reatamento veio o massacre. O Sporting investia com tudo e só a deficiente pontaria leonina ou a inspiração de Lopes iam evitando a goleada. Fulgurante, Jovane teve uma brilhante arrancada na esquerda finalizada com um não menos cintilante passe para o segundo poste que foi ingloriamente desperdiçado. E depois veio o golo da tranquilidade, uma jogada tantas vezes repetida na época passada que continua a resultar: Nuno Mendes, sobre a esquerda, variou o centro de jogo para a direita, Pote reendereçou a bola para o centro e Paulinho desviou para as redes desertas. Aturdidos, os gauleses só queriam que o jogo acabasse e o quarto golo apenas não chegou por uma questão de uns poucos centímetros a mais no tamanho da bota de Tiago Tomás.
Com as substituições e a saida do gigante Adamastor (Palhinha) do terreno de jogo, a partida perdeu algum ritmo e o Lyon conseguiu finalmente jogar no nosso meio campo. Tempo então para o reencontro do nosso velho conhecido Slimani com o golo em Alvalade. Comme il faut(!), ainda que na baliza errada. Foi o último suspiro de um jogo que merecia ter tido público. Os nossos leões e o Slimani certamente não teriam enjeitado os justos aplausos provenientes das bancadas. Agora segue-se a Supertaça. É já a 31, em Aveiro (depois de um confronto de leões, teremos uma disputa entre Sportings). Aí leões!!! (Lá em cima, no Olimpo, os Violinos sorriem.)
Rugido de Leão: Pote. Jovane e Paulinho seriam excelentes opções. Este trio promete...
P.S. Uma curiosidade: 10 dos 17 jogadores utilizados ontem à noite são canhotos. Com tanta predominância da esquerda é caso para se dizer que o marxismo-leoninismo do futebol do Sporting segue a todo o vapor. Agora é só esperar que não seja ninguém apagado da fotografia oficial (o que não será fácil dada a conjuntura económico-financeira).