Tudo ao molho e fé em Deus
O genial Amorim
Pedro Azevedo
O Rúben Amorim é um génio. Como ser superiormente inteligente que é, sabia que o jogo era mais importante para Jesus do que para o Benfica. Se Jesus ganhasse, teria outra margem para fazer os contestatários "acarditarem", entusiasmar-se e arrasar na próxima época da mesma forma que arrasou nesta. Se perdesse, essa margem ser-lhe-ia provavelmente retirada e Vieira poderia ser tentado a pensar que um treinador que inspirasse apenas jogar o essencial fosse mais útil que um que inspirasse jogar o triplo, assim a modos como consequência da reflexão de William Blake quando se interrogava "como saberes o que é suficiente, se não souberes o que é demais?". Por conseguinte, a derrota do Benfica neste jogo poderia ser perigosa para o Sporting no longo-prazo, enquanto a vitória do rival não teria consequências no curto-prazo porque o título já estava no estômago do leão. Vai daí, o Amorim subtraiu o Palhinha do jogo. Em sequência, durante a primeira parte, o Cebolinha usou e abusou do calcanhar, o Seferovic assemelhou-se a um ponta de lança e o Pizzi até fez lembrar o Bruno Fernandes. Tudo simples, tudo fácil, como se estivessem a jogar contra bidons. Rapidamente, o Benfica marcou 1, 2, 3 golos. Em contrapartida, o Sporting ficou a fazer guarda de honra à nota artística do Jesus. Apenas um jogador ousou destoar do tom geral, o Pote. É que o homem não sabe brincar em serviço e, em cima do intervalo, reduziu a desvantagem leonina no marcador.
Ao intervalo o Amorim pareceu ter-se assustado: é que uma coisa é dar moral ao Jesus, outra é oferecer a hipótese ao Benfica de devolver os célebres 7-1 de 86. Querendo conter o prejuízo, decidiu então fazer entrar o Palhinha. O Matheus Nunes é que não se apercebeu que o "chip" tinha mudado. Então, ala que se faz tarde, ofereceu logo um brinde. Com o tempo a presença do Palhinha fez-se notar. Onde antes havia auto-estradas, os benfiquistas começaram a encontrar becos sem saída, sinais de sentido proibido e tabuletas de aviso de piso escorregadio. Tanto que, durante 30 minutos, só deu Sporting. Dois golos, uma bola no poste, os leões fizeram acreditar que iam dar a volta ao jogo. O Pote continuava desenfreado e agora havia também o Jovane para moer o juízo ao Lucas Veríssimo, um vexame para quem chegou agora à Canarinha. A televisão mostrava-nos o Helton Leite a falar sozinho, o Benfica abanava por todos os lados. Com os descontos, faltavam ainda uns 15 minutos, mas o Sporting acabou aí. Amenizada a derrota para níveis não-apocalípticos, o Rúben pareceu conformado. É certo que o Coates ainda foi lá à frente fingir que tinha custado 16 milhões por 70% do passe mais os ordenados do Sporar, mas foram serviços mínimos porque o resultado era, afinal, o ideal.
Além de assegurar Jesus no Benfica para 2021/22, o Rúben Amorim preencheu um outro objectivo. Subliminarmente, o nosso treinador enviou a seguinte mensagem que pôde ser lida da Lua: "NÃO VENDAM O PALHINHA". E assim o título do próximo ano pareceu mais perto. Tanto que, se os benfiquistas este ano apanharam com o Cabo Delgado(*), para o ano levarão com o Cabo das Tormentas. Um génio, o Amorim!
Tenor "Tudo ao molho...": Pedro Gonçalves ("Pote")
(*) O meu aplauso para a referência a Cabo Delgado nas camisolas, região de Moçambique alvo de ataques armados do grupo jihadista Estado Islâmico que já provocaram mais de 2.500 mortos e 700.000 deslocados. Para ser justo, inclúo neste aplauso o meu colega bloguista José Pimentel Teixeira, que há muito tempo vem estando na linha da frente do alerta na blogosfera sobre esta tragédia que o mundo não pode mais ignorar.
P.S. O problema do Benfica de Jesus não foi a Covid, mas sim, quanto muito, o co-video (vulgo VAR), coadjuvante do árbitro e da verdade desportiva, que veio eliminar alguns dos erros mais flagrantes que aconteciam em campo. De resto, o Benfica foi sempre uma equipa sem intensidade no meio campo, e essa foi a principal pecha que se traduziu no resultado final no campeonato.