Tudo ao molho e fé em Deus
O Phi do Amorim
Pedro Azevedo
Caro Leitor, quando esta semana um amigo me telefonou para saber se eu tinha conhecimento de um "fee" relacionado com o Rúben Amorim confesso que a coisa me soou a falta de assunto. Ainda assim, como agora está na moda a clarificação, procurei com disciplina esclarecer a situação, concluindo tudo não ter passado de uma daquelas situações de "lost in translation", embora sem a Scarlett Johansson para abrilhantar. É que aquilo a que o meu amigo se referia era afinal ao homófono Phi de Rúben Amorim. Na verdade, eu já andava a cismar com o assunto, mas hoje descobri que as iniciais RA escondem a Razão Áurea que o arquitecto Rúben Amorim trouxe para Alvalade. Vou passar a explicar: Razão Áurea, ou Divina Proporção, é uma constante real algébrica que se pode observar na natureza. Crê-se até que foi primeiro utilizada por Phídeas, um escultor da antiguidade grega de cuja obra apenas resta a 1ª reedificação (pós devastação pelos persas) do famoso Partenon, situado na Acrópole de Atenas, em homenagem de quem a constante (1,618) ganhou o nome de "Phi". A sua aplicação é recorrente na pintura, arquitectura, música e até nos mercados financeiros. Também é visível no corpo humano, onde por exemplo a distância do ombro à ponta dos dedos da mão é 1,618 vezes superior à medida entre o cotovelo e a ponta dos dedos da mão, bem como a altura de um indíviduo é 1,618 vezes superior à distância entre o seu umbigo e a planta dos seus pés. (Este último não é válido para treinadores d'arrasar, cujo umbigo presume-se estar ao nível, ou mesmo acima, da sua cabeça.)
Por esta altura legitimamente perguntarão os Leitores: mas aonde é que está a ligação com o Sporting? Eu passo a explicar: no início desta época os especialistas davam-nos hipóteses O de discutir o campeonato, o nosso jogo nº 1 foi adiado devido a um surto de Covid que dizimou o plantel e, apesar de tudo isto, já dentro da segunda volta estamos na posição 1. Adicionalmente, por puro desespero, há quem sonhe em penalizar-nos com 2 pontos que acrescerão a outros 3 pontos correspondentes a derrota no jogo com o Benfica (ganhámos no campo, mas isso no futebol português nunca é uma verdade absoluta) por alegada utilização irregular do jogador Palhinha, sendo que esses dois pontos podem ainda ir até 5, segundo os regulamentos. Entretanto, à entrada desta jornada, o Porto estava a 8 pontos de distância e à saída o Benfica está a 13. Em Janeiro reforçámo-nos com o "21" (Paulinho) e vamos jogo a jogo até à última jornada (34). Finalmente, o Sporting leva 55 golos marcados em todas as competições nacionais. Ora, seguindo a ordem dos números, o que é que temos? O, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34 e 55, uma sequência de Fibonacci!!! [Fibonacci criou uma sequência em que cada número é equivalente à soma dos dois números anteriores e simultaneamente 1,618 vezes (o Phi) superior ao número anterior (à medida que vai tendendo para "n").]
Se Leonardo Da Vinci usou estas proporções em O Homem Vitruviano, Rúben Amorim é o homem que tornou "virtus" Viana e o arquitecto da Divina Proporção que reconstruiu um futebol leonino onde até as medidas ideais do relvado (110x68m) obedecem ao Phi. Com ele, as vitórias são uma constante. O sofrimento por vezes também, embora com o tempo tenhamos vindo a perceber que o objectivo é testar o bom funcionamento do desfibrilador e no fim ganhamos sempre. Outras vezes, como hoje, é um descanso e ficamos a pensar por que raio sofremos tanto de ansiedade após os empates dos nossos rivais. É que o jogo a jogo que o Rúben recomenda é só válido para os nossos jogos, e a este Paços já havíamos despachado por dois-a-zero na Capital do Móvel e por três-a-zero para a Taça. Lá está, a constante. Como constante é o uso de adágios populares que ilustram a nossa campanha esta época, desde o "não há duas sem três" até ao "candeia que vai à frente alumia duas vezes", este último capaz de arrasar quem pensou abrir caminho com(o) os lampiões e agora tem de ver pirilampos a triplicar no Seixal. (Jesus bem foi pregando que desta vez é que era, mas os cónegos não pareceram estar de acordo.)
Jogo a jogo, passo a Paços, lá vamos ganhando e distanciando-nos dos nossos rivais. Além de isso nos alegrar, também ajuda a clarificar situações. Uma coisa a que aliás o Benfica se tem mostrado muito sensível, querendo por exemplo clarificar o caso Palhinha. Sempre disponível para quaisquer esclarecimentos, o Palhinha ontem deu o pontapé de saída para essa clarificação. E de uma forma que eu diria que só por pura ingratidão o nosso rival não reconhecerá, tal o importante contributo do nosso médio para a manutenção do seu quarto lugar. E assim terminou um jogo tranquilo que não me provocou picos de tensão. A única contrariedade foi mesmo aquele zumbido persistente nos meus ouvidos que ainda perdurava esta manhã, tantas foram as vezes que o árbitro meteu o apito à boca durante o jogo. Um tipo de dano colateral nada negligenciável quando se tem um Narciso a arbitrar um jogo de futebol...
Tenor "Tudo ao molho...": João Palhinha