Tudo ao molho e fé em Deus
Liberais, keynesianos e monopolistas
Pedro Azevedo
Até ontem supunha-se que o Sporting de Ruben Amorim não se daria bem com o liberalismo. Desde a amarga experiência com a escola austríaca até ao "laissez faire, laissez passer" adoptado pelo nosso Adán Smith (ontem providencial) em Famalicão, os contactos com a versão mais pura do capitalismo não haviam sido nada encorajadores. Como consequência, o afastamento da Europa tornou irrelevante a questão do livre funcionamento dos mercados e chegaram até a ouvir-se justos pedidos de intervencionismo por parte de uma estrutura com uma sensibilidade mais próxima do keynesianismo. Esta introdução é importante para procurar explicar a dualidade dos acontecimentos de ontem, na sequência dos quais uns (os liberais) dirão que um jogador (Feddal) movido pelo interesse próprio foi levado por uma mão invisível (?) a promover o bem-estar do clube e dos seus associados e adeptos, outros (os keynesianos) colocarão a tónica nos méritos do intervencionismo vis-a-vis o livre funcionamento do mercado.
Sendo um clube um microcosmos, não será de todo de estranhar que também nele este eterno debate se coloque. Afinal, a disputa entre os partidários de Hayek e os de Keynes é de sempre, com os primeiros a serem preponderantes até à 2ª Guerra Mundial e depois da crise de 70 e os segundos a preencherem o intervalo entre esses acontecimentos e a ganharem novo fôlego após a crise do subprime (2008) que abalou o sistema financeiro e as economias mundiais. A diferença é que no Sporting uma década passa à velocidade de uma semana, podendo até a necessidade urgente de adaptação a uma realidade muito volátil exigir que um hoje convicto keynesiano amanhã venha a ser um Frederico Hayek. Habituados que estavam os dois a jogar alternadamente ao monopólio, funcionando bem nesse sistema e mandando às malvas as preocupações doutrinárias, é possível que esta matéria comece a não passar ao lado dos presidentes de Porto e Benfica. Mas isso será só após o Dia de Reis, que a época agora é de boa-vontade. Feliz Natal a todos os amantes do desporto e aos Sportinguistas em especial (estamos em primeiro!). O Natal é verde!
Tenor "Tudo ao molho...": Pedro Porro. Bruno Tabata voltou a mexer no jogo quando entrou e Pedro Gonçalves parece afectado desde o jogo de Famalicão. João Mário está muito abaixo em termos ofensivos daquilo que mostrou antes da sua transferência para Milão.
P.S. Os últimos dois jogos do Sporting a contar para o campeonato vieram acompanhados de uma intrigante musiquinha. Quiçá pela época natalícia, foi perfeitamente audível ontem durante a transmissão (tal como em Famalicão) a presença do coro de santo Amaro. A diferença é que desta vez o coro não assentou arrais em Oeiras (Cidade do Futebol), mas sim na Alameda dos Oceanos (SportTV)...