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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

08
Abr19

Tudo ao molho e fé em Deus - Um Domingo qualquer


Pedro Azevedo

Depois de uma semana negra para a arbitragem portuguesa, o Domingo começou com uma exibição do "VAR tudo" na Feira, uma daquelas situações em que metáfora e realidade se confundem. Em boa verdade (ou será VARdade?), todo o futebol português é uma feira. Senão vejamos: temos os elásticos, que puxam para cima, a barraca dos tirinhos (entre concorrentes), o carrossel das transferências, os carrinhos de choque do pobre do Ristovski, os espelhos que aumentam a dimensão dos craques (na Comunicação Social), as "canções pimba" do senhor Piscarreta, tudo isto enquadrado pelas roullotes das febras e dos couratos, petiscos diversos e cerveja a rodos, que o que é preciso é vender a bola aos pacóvios como uma festa...  

 

Se no Sábado, no Dragão, muitas dúvidas ficaram sobre o lance que permitiu ao Porto adiantar-se no marcador, ontem, em Santa Maria da Feira, houve três lances polémicos decididos sempre contra a equipa da casa. O primeiro, resultou na anulação daquilo que seria o 2-0 para o Feirense. O segundo, permitiu ao Benfica empatar a partida. Finalmente, o terceiro evitou que o Feirense voltasse a empatar o jogo. Enfim, um Domingo como outro qualquer, mas com o adepto anónimo, o "Al Patinho", como figurante, e um "actor" canastrão - penso, logo "un pasito mas" caio Pizzi - como protagonista de um filme Série B. 

 

Após o episódio Catão/Boaventura e a narrativa que vi montar à volta da expulsão de Ristovski, a minha vontade de continuar a ser um idiota útil a alimentar a feira do futebol português esmoreceu. Confúcio dizia que se um problema tivesse solução, então dever-nos-iamos concentrar nessa solução, mas se não tivesse solução, então deveríamos deixar de nos preocupar. Nesse sentido, se o peso dos actuais protagonistas esmaga a nossa leveza de espírito e já não há relativização de situações que nos garanta a tranquilidade, então o melhor é afastarmo-nos.

 

Nesse estado de espírito, ontem não fui a Alvalade. Ainda assim, não resisti a acompanhar na televisão. E se tranquilidade era o que procurava, o jogo deu-me uma noite muito descansada. Tudo começou quando o Felipe das Consoantes deu desenvolvimento a um rápido contra-ataque e abriu na esquerda para o Wendel, este lançou na frente no Acuña, que com um pequeno toque deu no Phellype, que chegou à bola após uma impressionante cavalgada e mostrou um PH ácido de mais para Leo Jardim, o homónimo do nosso antigo grande treinador que defende a baliza vilacondense. Inaugurado o marcador, o Sporting viria ainda a dilatar a vantagem na primeira parte, quando um Messias em crise de fé abalroou o Phellype, o qual acabara de cabecear uma bola endereçada por Bruno Fernandes. Chamado a converter a penalidade, Bruno marcou-a de forma irrepreensível, o que lhe permitiu igualar o record europeu de golos de um médio neste século, registo obtido por Frank Lampard na temporada de 2009/10, ao serviço de um Chelsea treinado pelo italiano Carlo Ancelotti.

 

A segunda parte teve menos motivos de interesse. O Rio Ave rendeu-se cedo e ao Sporting interessava fazer alguma gestão de esforço e poupança de jogadores, razão pela qual Acuña (pequeno toque) e Mathieu sairam mais cedo, acompanhando assim Borja, o qual havia sido substituido (por Jovane) ao intervalo devido a lesão num joelho. Com estas prioridades na cabeça, Keizer acabou por voltar a não dar oportunidade a Geraldes ou Pedro Marques, colocando Gaspar e André Pinto. Antes, Wendel apontara o golo da noite, respondendo a uma solicitação de Bruno Fernandes com um remate colocado de fora da área. Com os jogadores não substituidos a descansarem no campo, o Sporting foi controlando tranquilamente o jogo, perante uns vilacondenses que só criaram suspense por Tarantino, perdão Tarantini, num lance em que Renan conseguiu puxar a fita atrás e evitar males maiores.   

 

E assim terminou uma noite tão, tão tranquila que os nossos nem cartões viram. Um jogo que mais parecia um amigável, onde até a falta de intensidade de Gudelj ficou disfarçada pelo baixo ritmo dos restantes.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Wendel. Destaque ainda para Bruno Fernandes (alternativa para o melhor em campo) , Luíz Phellype, Mathieu e Acuña.  

wendel rio ave.jpg

P.S. Os meus sentimentos à familia e amigos do nosso ex-jogador Luis Páez. O paraguaio faleceu ontem, aos 29 anos, num acidente de viação. Um dia triste também para toda a nação sportinguista, a mostrar-nos que há coisas para serem levadas bem mais a sério que o futebol. 

 

20
Fev19

Os Cavaleiros da Ordem de Alvalade


Pedro Azevedo

O futebol debate-se com os constrangimentos inerentes a ser simultaneamente um espectáculo e um negócio. Nesse sentido, o treinador deixou de ser somente um táctico para ser também um estratega, um gestor de activos do clube. Bem sei que essa área está consignada a um departamento específico, mas o treinador está a montante de todo o processo e é das suas convocatórias que depende o aparecimento de um ou outro talento. Para defesa do grupo, raramente o treinador destaca individualmente um jogador. Tal não significa que não haja uma ordem de mérito no balneário, simplesmente não é só a técnica ou a habilidade individual que é valorizada. Uma equipa é como um exército e nela coabitam a infantaria, a cavalaria e a artilharia. Por vezes, reforçada pela força aérea, procurando no ar as soluções que não se encontram por via terrestre. Não desprezando o papel dos sapadores de infantaria, sempre disponíveis para minar e dinamitar os avanços do adversário, ou dos artilheiros, que através de apontadores e municiadores tentam posicionar o poder de fogo da equipa de forma a destruir e/ou neutralizar o moral do oponente, é a mobilidade, velocidade, destreza e flanqueamento da cavalaria que salta mais à vista do comum adepto. Nesse sentido, vou aqui apontar aqueles que para mim são os "cavaleiros" deste Sporting versão 2018/19:

 

Bruno Fernandes - Todas as estações do ano são Outono, quando ele bate os livres em folha seca. É a alegria do povo e este põe todas as fichas na sua roleta, uma peça de arte anteriormente popularizada por Zinedine Zidane.

 

Wendel - Por vezes vai por ali fora sem destino certo, como se apenas se pretendesse evadir de um imobilismo fatal. A equipa nem sempre consegue acompanhar esses momentos de jazz de improviso, dada a sua variação harmónica bem distante da música dentro de um tom a que está habituada. É mais eficiente quando o conjuga com o samba, e o som imaginário das palmas e dos batuques dão-lhe o compasso certo para variar o seu andamento em função da equipa. 

 

Raphinha - Nascido em Porto Alegre, no sul do Brasil, o seu futebol sofre a influência gaúcha também comum aos argentinos. O ar geralmente reservado, os olhos tristes e o bailado que suscita com a bola fazem lembrar um dançarino de tango. Este género aparece ainda intermitentemente combinado com movimentos de capoeira, visível na ginga com que por vezes se desfaz dos adversários. 

 

Mathieu - Transmite aquela sensação de que poderia estar a dar umas passas nuns Gauloises e a despachar o expediente ao mesmo tempo, tal o ar "négligé" que sempre exibe. Mas isso apenas esconde a confiança ilimitada que tem nas suas capacidades técnicas e atléticas, as quais lhe permitem sair a jogar como um médio e recuperar a profundidade como um jovem de 20 anos. 

 

Acuña - É raro o jogador que consegue associar doses semelhantes de intensidade e capacidade técnica. O argentino é um infante que pelos seus feitos virou cavaleiro. Nesse sentido, não herdou o "savoir faire" típico da nobreza e continua a jogar de faca nos dentes, o que gera sentimentos contraditórios nas bancadas. Incensado nas curvas, repudiado nos camarotes, todos coincidem nisto: a sua entrega ao jogo e capacidade de cruzamento são imaculadas.

 

Doumbia - Se para Gudelj um m2 é um latifúndio, o marfinense é o homem dos grandes espaços, da savana africana. Poderoso, possui na finta o seu grande argumento para rapidamente sair da zona de pressão. Dá verticalidade ao jogo do Sporting. Na minha opinião, uma das duas contratações do Mercado de inverno que de facto pode fazer a diferença.

 

Matheus Nunes - Igualmente jovem e ainda mais desconhecido, é o mais recente produto da ilustre(?) casa de Mateus nas suas diferentes variantes (Mathieu, Matheus Pereira, Mattheus Oliveira). Podendo jogar em qualquer posição do meio-campo, é como pivot que tem vindo a ser testado. Tem uma velocidade com a bola nos pés incomum, parecendo deslizar no campo como se tivesse skis e não botas nos pés, acção que o faz libertar-se com facilidade da zona de pressão adversária. Para além disso, tem uma excelente técnica de passe à distância e sabe aparecer em zonas de finalização. Um excelente projecto em desenvolvimento.

 

Assim termino este breve resumo sobre aqueles que considero serem os mais dotados jogadores do nosso plantel. Oxalá tenham gostado ou, de alguma forma, Vos possa ter sido útil.

cavaleiros.jpg

18
Fev19

Tudo ao molho e fé em Deus - O abre-latas


Pedro Azevedo

Sporting há só um, o de Portugal e mais nenhum, e hoje Salvador nem precisou de ir ao nosso museu para o constatar, bastou-lhe olhar para o relvado. Se o presidente bracarense assistiu da Tribuna, Abel observou tudo do banco. E deve ter-lhe custado muito, pois só assim se compreende que lhe tenham passado pelos olhos 25 anos em apenas 90 minutos, um pequeno remoque que não lhe ficou bem. A um treinador jovem e com qualidade recomenda-se outro poder de encaixe. A este propósito, imagine-se o que após uma derrota tão concludente como esta se diria na imprensa inglesa, caso Abel treinasse na "velha Albion". Logo eclodiriam os trocadilhos com "able" ou "a bell", do tipo he was not Abel to cope with the situation, ou did anyone ring Abel? A rever...

 

Com jogadores frescos, Keizer introduziu uma nuance táctica que consistiu na aproximação de Borja aos 2 centrais - desta vez trocados, com Ilori na direita - , formando-se uma linha de 3 defesas (sistema táctico de 3-5-2), aquando da posse de bola, ou de 5 defesas (um 5-3-2 com Ristovski e Acuña nas laterais), quando o adversário atacava. Adicionalmente, Diaby e Bruno Fernandes foram-se alternando numa posição mais central por detrás de Dost - quando Diaby procurava a ala, Bruno subia e quando Diaby rondava as costas de Dost, Bruno descia para junto dos outros médios - , algo que também ajudou a baralhar os bracarenses. Só a meio da segunda parte se produziu nos espectadores a sensação de que Abel percebeu o que se estava a passar, nomeadamente quando colocou um segundo homem a penetrar na banda esquerda do seu ataque e com isso criou a dúvida em Ristovski, visto Diaby parecer ter instruções para se manter no meio (o que obrigou Gudelj a desposicionar-se umas duas ou três vezes), uma situação entretanto colmatada pelo treinador holandês ao reposicionar o maliano e, mais tarde, ao fazer entrar Raphinha para a ala direita. Em resumo, pode dizer-se que Keizer deu um banho táctico a Abel, o que teve uma influência importante no desenrolar da partida.

 

O Sporting entrou bem no jogo, com Wendel muito activo desde o apito inicial, a arrastar a equipa para a frente com o seu futebol misto de samba e jazz de improvisação, e o maestro Bruno, de batuta na mão, a jogar e a fazer jogar à sua volta. Assim, não demoraria a primeira grande oportunidade (ao quarto-de-hora), quando Bruno encontrou Ristovski desmarcado nas costas da defesa bracarense e o macedónio serviu de imediato o isolado Dost que perderia o duelo individual com Tiago Sá. Depois de um passe de ruptura, logo de seguida Bruno rematou de fora da área com perigo. Tiago Sá voltou a defender, revelando atenção. Até que após uma das inúmeras faltas cometidas por Raul Silva, Jorge Sousa mandou marcar um livre directo a meia dúzia de metros da entrada da grande área do Braga e descaído para a direita. Acuña ajeitou a bola, mas Bruno ligou de novo o GPS e desta vez Tiago Sá nada podia fazer, com a bola a cair subitamente (folha seca) mal avistou a linha de golo. Até ao intervalo, destaque para uma remate fraco de Diaby que saiu ao lado, quando havia superioridade numérica sportinguista na área bracarense e diversas soluções de passe.

 

O segundo tempo praticamente iniciou-se com um novo golo leonino: Diaby pegou na bola sobre a meia direita e a uns bons 50 metros da baliza bracarense e daí traçou o azimute para a baliza de Tiago Sá, que o levou a galgar metros sobre metros e a ultrapassar 3 adversários numa diagonal até ser derrubado, já dentro da grande área, por Claudemir. Jorge Sousa mandou marcar penálti e, na sua conversão, Dost marcou como de costume (Tiago Sá para um lado, a bola para o outro). À hora de jogo, Bruno quase marcou um golo do outro mundo, com um remate fortíssimo de fora da área que errou o alvo por pouco (o guarda-redes estava batido), após um bom movimento de Wendel que criou o espaço para o nosso capitão aplicar o gesto técnico. Mas não tardaria muito o terceiro dos leões, após um momento de habilidade de Bruno Fernandes que lhe permitiu junto à linha de fundo arrranjar espaço para um centro rasteiro que Dost desviou para a baliza. O jogo praticamente terminaria aí e Keizer teve oportunidade então de poupar sucessivamente Dost, Diaby e Wendel, fazendo entrar Phellype, Raphinha e Doumbia, este último com tempo ainda para mostrar 2 pormenores de elevado requinte técnico e facilidade em progredir com a bola. 

 

O árbitro Jorge Sousa teve uma actuação correcta no capítulo técnico, mas disciplinarmente com critério desigual. Ilustrando isso, a dado momento os jogadores do Sporting chegaram a ter 5 cartões amarelos, enquanto os do Braga só tinham aquele mostrado aquando da grande penalidade. Nesse sentido, foi até particularmente risível a segunda admoestação a um bracarense, claramente provocada por um coro de assobios proveniente da bancada. De registar também a negligência com que deixou passar uma clara agressão de Raul Silva a Marcos Acuña, lance em que o VAR também não actuou.

 

No Sporting, destaques principais para Bruno Fernandes e Wendel. Diaby e Dost também estiveram muito bem, tal como de resto toda a equipa. Nesse sentido, devo dizer que Borja (posição no campo diferente), talvez beneficiando da cobertura dada por Acuña, hoje agradou-me sobremaneira.   

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes: Abel chamou-o de "abre-latas" (ele que até é mais um canivete suiço), mas o maiato foi pura poesia em campo. E, como dizia Bukowski, esta estremece a alma, abre os olhos e...cala a boca. Não é assim, Abel?

sportingbraga1.jpg

(Imagem: Record)

04
Fev19

Tudo ao molho e fé em Deus - O acordeão


Pedro Azevedo

Há um equívoco no futebol do Sporting. Keizer tem uma (boa) filosofia de jogo, mas não tem jogadores para essa filosofia. (É como ter "queda" para as acrobacias e não ter rede onde cair.) Os centrais são lentos, e protegem-se não subindo no relvado. Com isso, quando a equipa estica e o adversário entra em transição, fica uma buraco no meio. O mesmo, quando tenta pressionar alto. Em suma, a música que tocamos é de acordeão: quando o fole alarga, tudo fica mais grave. 

 

Claro que não ajuda à festa jogar sem Acuña - lesionado ou poupado (para o Zenit) - ou Ristovski, da mesma forma que a ausência de movimentos interiores dos alas não é benéfica nem ajuda a ligar o jogo. Para não falar do modesto metro quadrado que para Gudelj é um latifúndio, ou da súbita apatia de Dost. Deste modo, torna-se difícil ganhar um jogo quando apenas Wendel, Bruno Fernandes e Renan estão minimamente à altura das circunstâncias. Nesse sentido, torna-se incompreensível que não se tenha aproveitado a reabertura de mercado para imediatamente ir buscar pelo menos 1 central veloz, em vez da prioridade dada a um avançado. É que Ilori - enfim, foi essa a opção e, do ponto-de-vista desportivo, não a vou criticar - chegou apenas em cima do Clássico. Também não se entende como Thierry Correia não voltou a ser chamado (após uma aposta inicial), quando Bruno Gaspar se tem sucessivamente mostrado curto para as exigências a este nível, e um lateral muito rápido (Lumor) - qualidade que poderia compensar a lentidão dos centrais -, e que poderia utilizar a sua aceleração para dobrar o eixo defensivo, foi emprestado. Com tudo isto, não sei se aproveitámos o Mercado de Inverno para arranjarmos soluções ou se, simplesmente, comprámos mais problemas, na medida em que acabam sempre por jogar os mesmos (mas os custos são de todos...). 

 

Hoje, o Benfica foi muito superior. E em nossa casa, o que tornou tudo um pouco mais humilhante. Na primeira parte então andámos completamente à deriva, sendo o resultado ao intervalo lisonjeiro face àquilo que foi a nossa actuação, algo que deveremos agradecer a Renan e a Bruno Fernandes, este último autor de um golo de belo efeito. O curioso é que os encarnados só tinham dois médios no centro, mas conseguiram sempre ter superioridade numérica nessa zona nevrálgica do terreno, aproveitando as transições para explorar o espaço que os leões iam dando, eles que durante esse período do tempo deixaram que a equipa se partisse em dois, com Gudelj e os centrais a terem de se haver com os movimentos frontais de João Felix e Seferovic, frequentemente apoiados pelas subidas de Grimaldo (Pizzi fechava), que beneficiou de uma ala direita do Sporting em fim de tarde desastroso. A equipa leonina não melhorou muito a sua organização no segundo tempo e o Benfica continuou a ser mais perigoso, razão pela qual obteve mais dois golos. No fim, vitória confortável do Benfica, num jogo aberto, com 6 golos, 2 golos anulados por acção do VAR (um fora-de-jogo e uma falta), duas bolas ao poste (uma para cada lado) e dois penáltis (um sinalizado pelo VAR). Uma vitória também da verdade desportiva e da implementação do vídeo-árbitro, que evitou um embaraço maior para as nossas cores (noutras circunstâncias teríamos perdido por 2-5).

 

Mas o mais rude golpe no coração de um leão, a nossa maior derrota, foi ver um menino vestido de vermelho fazer gato sapato da nossa defesa. Porque esse menino é um produto da Formação do Seixal e resulta de uma política desportiva definida pelo Benfica. O presidente do clube da Luz pode ter os defeitos todos que lhe reconhecemos, mas neste particular manteve-se firme numa aposta que outrora já foi uma bandeira verde-e-branca. E parece estar a ganhá-la. Já do nosso lado, Miguel Luís e Jovane foram subitamente sujeitos a um ostracismo que deixa várias interrogações. Acrescente-se o caso  de Francisco Geraldes, cuja proximidade do relvado se circunscreve a umas corridas de aquecimento, e o mistério adensa-se. Não digo que Miguel e Xico fossem titulares indiscutíveis, mas a verdade é que permitiriam dar mais descanso a Wendel e Bruno Fernandes, os quais ainda assim conseguem ser os melhores jogadores da equipa. Até admito que Geraldes possa não ser opção e não peço as 20 oportunidades que já foram concedidas a Bruno Gaspar, gostaria é que pelo menos fizesse 1(!) jogo completo. Depois, até poderíamos concluir que não está à altura... 

 

As dúvidas que nos inquietam não obtêm qualquer resposta da Estrutura do clube. Bem sei que "a alma é o segredo do negócio", mas... Como tantas vezes no passado, os sócios só são importantes nos momentos eleitorais. Passado esse período, o desrespeito é quase total. Agora, como num passado bem recente. Bem sei que tivemos limitações várias na construção deste plantel, que esta Direcção entrou em funções com o campeonato já em funcionamento e sem poder ir ao mercado, mas a verdade é que depois do sonho de umas noites de Outono estamos a cair numa realidade que não compreendemos na sua totalidade, onde a ruptura com o passado não é evidente.

O nosso presidente até pode ser um Egas Moniz da medicina, um Rambo das Forças Armadas portuguesas, um Bill Gates da gestão, mas e o futebol? Durante a campanha eleitoral, Varandas apresentou os seus conhecimentos do fenómeno futebolistico como uma mais-valia. Reconheço na sua equipa pessoas com capacidade, pelo menos nas áreas financeira e do marketing, mas uma boa gestão do futebol profissional é fundamental e ajuda a melhorar o desempenho de outras áreas. No entanto, as evidências parecem provar que, mais ainda do que um gestor para o futebol, aparentemente precisamos é de um técnico de investigação operacional, especializado em gestão de stocks (mais de 80 jogadores com contrato profissional na nossa folha de pagamentos) e em simulação de filas de espera (aparentemente, a Gertrudes na Academia está sempre com o sinal encarnado e não há passagens à equipa principal). E assim se vai esticando o acordeão...

 

P.S. Quarta-feira temos de dar a volta. Um leão nunca se rende. Força Sporting!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes (menções honrosas para Wendel e Renan).

sportingbenfica.jpg

31
Jan19

Tudo ao molho e fé em Deus - O metereologista


Pedro Azevedo

Ainda me lembrava do Costa Malheiro, do tempo em que apresentou o boletim metereológico na RTP. Sabia do seu conhecimento e fluência, qualidades que de resto também eram comuns ao colega Anthímio de Azevedo. Ambos marcaram uma época televisiva em que ainda não havia meninas da SIC e as únicas curvas visíveis no ecrã eram as linhas de umas parábolas marcadas a giz num quadro verde. Estranhei por isso quando soube que iria apitar o nosso jogo em Setúbal, mas associei-o logo a ciclones e centros de baixa pressão, os quais geralmente indiciam que vem aí mau tempo. Precavido, tentei saber mais sobre o assunto. Consultado o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, percebi que os centros de baixa pressão se concentram à superfície, o que traduzido para futebolês e para a realidade que se iria viver no Bonfim significaria junto à relva. Temi o pior.

 

Ao ver a constituição da equipa do Sporting percebi que apenas Acuña tinha sido poupado. Não para o derby, mas sim para...o Zenit. Fez sentido!

Nani estava no banco, numa espécie de plano de emergência, para não lhe acontecer o mesmo que a Liedson aqui há uns anos, não fosse o árbitro ser levezinho na mostragem de um amarelo. Check!

Ainda não estavam decorridos 10 minutos de jogo e Malheiro marcou uma falta a Petrovic. Estabeleceu-se um diálogo entre os dois, onde o sérvio, com o nariz fracturado, terá verbalizado um "não me cheira" e o homem do apito gestualmente apresentado um cartão amarelo. É no que dá usar uma máscara. O árbitro entrava em cena com cerca de 10 minutos de atraso e em sincronia perfeita com Varandas (esperara pelo último homem a entrar), naquilo que seria um duro teste às convicções do presidente sobre "histerias" e "cobardias".

Começou então a aparecer Bas Dost, na sua nova versão fofinha. Por duas ocasiões, em vez de martelar a bola impiedosamente como é habitual, tocou-a suavemente para a baliza. Resultado: dois golos perdidos. A meio da primeira parte, Cadiz apareceu só com Petrovic ao lado. O leão, já condicionado pela admoestação, não foi a banhos e também não se meteu em caldeiradas e daí resultou o golo do Setúbal. Até ao final da primeira parte criámos novas oportunidades, com Raphinha e Dost a voltarem a não acertar na baliza. Quem não desperdiçou a oportunidade de ir ao bolso...e de lá tirar uns amarelos (4) foi o Malheiro, que distribuiu 1 para o Vitória e 3 para o Sporting.

 

No segundo tempo, o Sporting entrou mandão e disposto a dar a volta ao resultado. Em resposta, o Ruben Micael entrou brigão e disposto a dar a volta ao Doumbia. O Bruno Fernandes não se conformou, protestou e levou mais um amarelo para a colecção (7º da época), progressão aritmética de razão conhecida e que aponta para que o 10º (e concomitante paragem) coincida com a antecâmara de um qualquer jogo de importância extrema. Quem é que se atreve a dizer que a matemática não é uma ciência exacta? Salomonicamente, o árbitro pôde então dar um amarelo ao Micael. É incrível como este tipo de árbitros entendem de sucessões...

A seguir, o Mendy espetou uma cotovelada no Ristovski. O lateral ficou estendido no relvado e o jogo prosseguiu sem que Malheiro tivesse descortinado qualquer razão para falta ou sanção disciplinar. Com a cabeça quente e a testa inchada, facto visível desde a Lua, Ristovski terá dito qualquer coisa ao árbitro, estabelecendo-se a dúvida se o leão já seria fluente em português ou se o árbitro entenderia macedónio. O que não se entende é que tenha expulsado o nosso jogador. É caso para dizer que foi "galo"!  

 

A perder e com menos 1 jogador em campo, o Sporting lançou-se num "Kamikeizer" de apenas 3 defesas. Primeiro, Petrovic, Coates e Jefferson, mais tarde Bruno Gaspar, Coates e Jefferson. Oscilando entre o 3-3-3 e o 3-2-4, para terminar num "tudo ao molho e fé em Deus" em que Nani e Bruno Fernandes chegaram a ser os homens mais recuados. Nesse transe, a faltarem 10 minutos para o final, o agora latinizado Dost substituiu a sua faceta de bombardeiro por um toque subtil a desviar um primeiro remate de Bruno Fernandes, tendo a bola terminado no fundo das redes sadinas. Ainda havia algum tempo e os leões partiram à procura da vitória. Numa bola por alto, o guarda-redes vitoriano saiu em falso e Dost foi desviado com a anca por um adversário quando se preparava para se elevar e cabecear a bola, mas Malheiro apitou uma falta (ou fora de jogo?) imperceptível contra nós. Noutra ocasião, o Luíz Phellype tentou uma acrobacia aérea que o Malheiro caracterizou como de potencial anticiclónico e parou a jogada quando a bola sobrava para o Diaby. Pelo meio, ainda mostrou mais 3 amarelos e apitou um sem número de faltas e faltinhas pelo que o jogo lá caminhou para o inexorável fim, não sem que antes Nani tivesse involuntáriamente assistido Hildeberto para o que poderia ter sido o Bom Fim da equipa vitoriana. Renan salvou. (É impressionante como uma partida em que os jogadores se respeitaram termina com um total de 10 amarelos e 1 vermelho, com o Sporting, naturalmente, a tomar a fatia de leão, com 6 amarelos e 1 vermelho. É que quem não tenha visto o jogo pode até ficar com a ideia de que se tratava da Guerra de Tróia.) 

 

Em conclusão, o jogo acabou com um empate frustrante e com a constatação de que todos os objectivos que anteriormente neste blogue eu tinha enunciado falharam. Relembrando, estes eram:

  1. Ganhar o jogo;
  2. Poupar alguns dos jogadores mais utilizados;
  3. Dar rodagem a novos jogadores e a outros que incompreensivelmente se eclipsaram;
  4. Aproveitar para manter o "momentum" vitorioso antes da recepção ao Benfica.

 

Não só não ganhámos como, reduzidos a 10, cansámos os habituais titulares até à exaustão física e emocional. Geraldes (nem no banco estava), Miguel Luís e Jovane continuam a aprender flamengo e só Idrissa Doumbia, já com temporadas realizadas na Flandres, teve minutos. É caso para perguntar, aonde é que eu já vi isto? Querem lá ver que o Keizer ainda se vai associar à companhia de Jesus? Deus nos livre...  

 

Tenor "Tudo ao molho...": Wendel (menções honrosas para Coates e Nani, este último muito influente na recta final, pese embora aquele deslize final que poderia ter sido fatal).

 

P.S.  Infelizmente, afinal não foi o saudoso Costa Malheiro que eu vi ontem no Bonfim. O metereologista de serviço chamava-se Hélder Malheiro e há que reconhecer que previu bem o tempo que se iria fazer sentir. E de uma maneira retro, a fazer lembrar outros tempos, como quando, num quadro verde, marcou a giz o Petrovic e usou o apagador em Ristovski.

Não deixa porém de ser estranho que, estando Keizer a descrer das suas próprias ideias, venha agora a fazer escola através do senhor Malheiro, o qual ontem, por exemplo, soube repescar a famosa regra dos 5 segundos (para apitar uma falta contra nós) do holandês, característica que no estádio causou algumas irritação.

ristovski2.jpg

17
Jan19

Tudo ao molho e fé em Deus - À bomba!


Pedro Azevedo

Com o nosso melhor "onze" em campo, o Sporting voltou ao Keizerbol e desperdiçou inúmeras oportunidades. Deu até para o "remake" da adaptação leonina de "A Vida de Bryan", agora com Bas Dost como protagonista de mais um falhanço digno dos apanhados. Sem William...Tell, restou trocar a perícia pelo assalto à bomba, missão de que Wendel e Bruno Fernandes se encarregaram finalmente com sucesso.

Como bem sabemos, no futebol português, o resultado influencia em 99,99% a análise que se faz de um jogo. Na verdade, deveria ser a análise a explicar o resultado, mas não, por cá o resultado é que explica a análise. Vai daí, o Sporting fez, provavelmente, a exibição mais conseguida da era Keizer, mas ouvindo os comentadores ao intervalo não se ficava nada com essa ideia. No entretanto, Raphinha, Wendel e Bas Dost tinham tido a oportunidade de activar o marcador (com um tal Brígido sempre a estorvar) e o holandês chegou mesmo a fazê-lo, mas, à falta de VARíssimo, o Veríssimo decidiu que não. Do outro lado, de realçar apenas uma bola parada terminada com uma defesa de Salin a um remate (fora-de-jogo?) de ângulo difícil de Valência.

 

O segundo tempo começou praticamente com o tal falhanço absurdo de Bas Dost - só essa oportunidade mereceria uma crónica sobre a angústia de um avançado na hora de acertar mal na bola perante uma baliza escancarada - , logo seguido de um cabeceamento de Nani que passou ligeiramente por cima do travessão. Trocando a bola com eficácia, o Sporting ia destruindo as marcações dos fogaceiros, mas faltava sempre qualquer coisa na hora da concretização. Por ironia, acabaria por ser um solo de Wendel a resolver o problema: o brasileiro pegou na bola na meia esquerda, flectiu para dentro, com uma maldade tirou um defensor contrário da frente e decidiu-se por um remate em arco, misto de jeito e força, que só parou no fundo das redes e de uma forma que nem Santa Maria pôde ocorrer aos da Feira. Logo de seguida, uma bola que ressaltou para a entrada da área, após canto tenso de Acuña, foi parar ao pé direito de Bruno Fernandes. O maiato rematou de pronto, tão forte e colocado que nem deu tempo de reacção ao guarda-redes adversário. 

 

Até ao fim, de registar a estreia de Luíz Phellype, o qual se tiver a predisposição para os golos que tem para as consoantes será um caso sério. Para já, mostrou pontaria a mais, num tiro que acabou no poste da baliza feirense. Por último, uma menção especial para a actuação do guarda-redes Salin, o único leão que não entrou em descompressão após o segundo golo do Sporting, o que lhe permitiu evitar por três vezes o golo do Feirense, naquilo que podia ter sido uma inadmissível nódoa na exibição leonina e que envolveu pelo menos mais uma momentânea perda de razão do nosso defesa Coates. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Wendel 

wendel.jpg(Fonte de imagem: Record)

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