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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

19
Jan24

Tudo ao molho e fé em Deus

O Fantasma da Oprah


Pedro Azevedo

Caro Leitor, a noite passada tive uma branca (e verde), um momento digno dos contos do imprevisto, uma visão paranormal e hitchcockiana imprimida no meu cérebro ao jeito de um quadro de Dali (havia também pelo menos um rinoceronte que levava tudo à frente) que me transportou para uma janela nas minhas sinapses que eu julgava estar calafetada e subitamente se abriu. Pelo que não sei se sonhei, se estava acordado, ou até se sonhei acordado, mas juro que vi o Bryan Ruiz em Vizela. Sim, só podia ser ele, pois na minha memória recordo ainda aquele remate de baliza aberta em que a bola não entrou, reminiscência de um outro mais antigo atribuído a ele que ainda hoje me causa pesadelos. Agora, se era o Ruiz em carne e osso não sei, a mim pareceu-me mais o fantasma do Bryan. Mas também há que dizer que há fragmentos da primeira parte para mim confusos, tanto que por causa do Esgaio estivemos a Soro e só mesmo nas urgências se começou a resolver o problema. De forma que quando voltei a olhar para o ecrã já não vi mais o Ruiz, era o Gyokeres que eu conheço que estava a marcar um grande golo e a festejar de máscara. Um golo em forma de swing, que abriu novas perspectivas, tal como uma boa tacada de abertura de um buraco por parte de um golfista. [A alusão ao golfe aqui não é dispicienda, porque o que Gyokeres rodou o seu corpo nesse lance teria sido de fazer inveja ao Tiger Woods que conhecemos antes das múltiplas operações às hérnias discais e à ciática, handicap que dizem as más linguas ter sido provocado por múltiplos embates com mulheres de grau de dificuldade (sinuosidade) superior ao par do campo.]

 

Estava eu ainda a recompor-me daqueles achaques do primeiro tempo que alimentariam um bom programa da Oprah (Winfrey) quando o Gyokeres assustou o guarda-redes do Vizela. Diz-se do medo que este é paralisante, e o pobre do Buntic provou-o ao ficar quedo perante a iminência da aproximação do colosso sueco. O resultado foi que a bola entrou directa, impelida por um renascido Trincão. O mesmo que pouco depois serviu Paulinho na perfeição para o terceiro. (Pausa para checar a pulsação, para ver se era mesmo verdade aquilo que os meus olhos diziam e a razão não queria acreditar.) Após este último golo veio uma quebra de adrenalina. O Amorim também descomprimiu e tirou o Hjulmand do relvado antes que este fosse expulso. Não que este receio encontrasse lógica na acção do jogador, mas devido à habilidosa dualidade de criterios do árbitro. Um árbitro que no entanto se mostrou particularmente judicioso no que respeita a Gyokeres, sempre preocupado em testar os seus sinais vitais após cada novo embate com Anderson, um defesa abençoado pelos deuses do apito ao ponto de ter permanecido em campo os 90 minutos. Até que o Essende lá fez umas das suas diagonais, o Quaresma (mais um grande jogo!!!) desta vez não estava por perto para fazer de SOS e o Coates ficou a pedir uma falta de pernas e a ver a bola entrar na nossa baliza. Logo se reavivaram os fantasmas do passado, as perdidas do Ruiz e a derrota no União da Madeira, um bate-boca com o consócio ao lado sobre o vício do desperdício e os porquês da saída do dinamarquês e assim. Foi curto porém esse revivalismo, porque o nosso capitão foi à área contrária mostrar que o que não lhe falta é cabeça e voltou a alargar a nossa vantagem. E depois o Gyokeres mandou mais uma pedrada e igualou o seu melhor registo goleador no Coventry, quando ainda vamos a meio da temporada. 

 

Cinco golos marcados, 3 anulados (2 a Gyokeres e 1 a Paulinho) e inúmeros falhados depois (mais uns tantos penaltis a favor por assinalar) - além do supramencionado, aquele em que o Pote se isola, hesita em chutar e falha o passe para o Gyokeres é também digno daqueles apanhados de fim de ano - , o Sporting segue líder do campeonato. Com o Gyokeres individualmente em grande evidência mas também muito importante pelo efeito de contágio que anima a própria equipa. É que com o Gyokeres em campo os adversários concentram-se nele e abrem espaços para os demais. Além de que com a sua atitude e comprometimento aumentou o nível de exigência para todos os outros, colocando a fasquia muito alta e projectando assim o Sporting para outros vôos. Porque com o Gyokeres veio também o Gyokerismo, uma nova doutrina que seria importante para o futuro que fizesse escola em Alcochete. Isso, sim, seria holístico. [E mais produtivo do que os habituais desabafos desiludidos de sofá (da Oprah) à conta de fantasmas do passado.]

 

Tenor "Tudo ao molho...": Viktor Gyokeres

gyokeres vizela 2.jpg

21
Jan23

Tudo ao molho e fé em Deus

Um golo orfão de um ataque prometedor


Pedro Azevedo

Com o Paulinho, o ataque do Sporting é muito associativo, distributivo e cumulativo, qualidades que o fazem, pelo menos algebricamente, prometedor. Só que, como o futebol não é uma ciência exacta, durante a primeira volta do campeonato o Paulinho só fez golo um par de vezes, concluindo-se que se pode ser prometedor e ainda assim não se concretizarem as promessas. Em contraponto, o ataque do Vizela não é considerado prometedor. Pelo menos a atestar pelo comportamento do senhor Rui Costa. Contudo, faz golos ("E pur si muove", como diria o Galileu). Eu explico: depois de uma bola jogada por um vizelense lhe ter embatido na perna direita, não chegando assim ao seu destinatário natural (Gonçalo Inácio), o árbitro entendeu não interromper o jogo, não o recomeçando assim com uma bola ao ar. Motivo: não considerou o ataque dos minhotos prometedor. Resultado? Cinco segundos depois a bola entrou na baliza à guarda de Adán. (Não estamos a falar de futsal, onde 5 segundos podem ser uma eternidade.) Ora, recorrendo à lógica, sendo certo que um ataque promissor é uma condição necessária mas não suficiente na geração de um golo (é preciso ainda ser eficaz na hora do remate à baliza), um golo só pode acontecer se precedido de um ataque promissor. A não ser que seja um "charuto". Ou um auto-golo. E, mesmo assim, não um auto-golo qualquer, mas sim um daqueles dos apanhados da bola que a RTP costumava passar em jeito de balanço antes do concerto de ano-novo, um aperativo do Karajan (e da Filarmónica de Viena). Porém, não houve "charuto" ou auto-golo, nem músiquinha de encantar (quer dizer, se houve eu não a ouvi, porque o Vidigal arranhava tanto os meus já redundantes ouvidos com as suas redundâncias que agora preventivamente tiro sempre o som ao televisor), mas ainda assim para o senhor Rui Costa tratou-se de um golo orfão de um ataque prometedor. Conclusão: orfão também era o David Copperfield, do Dickens, mas esse não fazia magia... (E com o VAR é mais difícil, salvando-se o nosso segundo golo.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Pedro Porro

rui costa árbitro.jpg

17
Jan22

Tudo ao molho e fé em Deus

Chapéus há muitos (mas da cartola de Pote saiu a diferença)


Pedro Azevedo

A história do futebol português está repleta de treinadores icónicos. Uns pelo que ganharam, como Mourinho, Artur Jorge e Béla Guttmann, outros pelo seu desassombro, onde por exemplo perfilam Joaquim Meirim, António Medeiros e Quinito. E depois há ainda aqueles cujo carisma pessoal se viu reforçado por um detalhe de indumentária que virou imagem de marca. Desses, o mais célebre é o José Maria Pedroto, um técnico com obra feita no Vitória (de Setúbal), Boavista e Porto. Porém, se o Pedroto passou à história como o Zé do Boné, no distrito de Braga mora actualmente uma sua versão moderna, o Senhor da Boina. Falamos de Álvaro Pacheco, que me faz lembrar um simpático Pai Natal que trocou o domicílio na gélida Lapónia pelo parisiense Quartier Latin antes de pegar nas renas para tomar o gosto por entregar presentes (duas subidas de divisão) ao povo de Vizela. De Meirim, que tinha um espírito flamejante, se conta que um dia, num treino, motivando um dos seus guarda-redes lhe disse ser o melhor da Europa. Intrigado, o "keeper" interrogou-o então sobre a razão pela qual não jogava, mas Meirim logo sentenciou: "porque o Benje é o melhor do mundo". Eram os tempos da Póvoa de Varzim, onde Meirim deixou a marca de uma obra de arte, o seu maior sucesso. Já Medeiros, o Tó de Leça, tinha um jeito peculiar de lidar com as frustrações alheias. De tal forma que um dia, por entre apupos e pedidos de explicação dos adeptos, os mandou falar com o cavalo de Gary Cooper, actor famoso de "westerns" americanos justamente evocado, ou não fosse a realidade do futebol português da época(?) um faroeste. E houve (e felizmente ainda há, embora retirado) Quinito, que se tivesse dinheiro suficiente teria comprado Pedro Barbosa para o pôr a jogar no seu quintal, o homem que compareceu no Jamor de casaca branca e "papillon" (laço) porque de uma gala se tratava essa final da Taça de Portugal em que o Braga defrontou o Sporting de Big Mal (Malcolm Allison), o saudoso inglês que nunca prescindia do seu chapéu Fedora (e do charuto). Álvaro é bem mais comedido no estilo do que estes antigos treinadores, mas partilha com eles uma visão romântica do futebol. Vai daí, tira a(s) barba(s) de molho e põe a sua equipa a jogar à "grande", o que para um "pequeno" é um grande feito. Ontem, mesmo defrontando o campeão Sporting, o Vizela não fugiu à regra e durante os primeiros 10/15 minutos assumiu de peito feito o jogo, contribuindo assim para a qualidade do espectáculo a que se assistiu. E se Adán não tem realizado uma parada brilhante não sei como seria...

 

Em cima falámos de arte. Ora, foi pela arte que o Sporting começou a desbloquear a partida em Vizela. O protagonista (who else?) foi Pote, "Art Deco" em movimento. A mesma elegância do antigo craque do Porto, o toque fino na bola para a levantar ligeiramente antes de a colocar, como se de um passe à baliza se tratasse, de uma forma que guarda-redes vizelense nem com asas lhe chegaria. Lembram-se da final de Gelsenkirchen? Na hora de rematar à baliza, é deste nível Champions que falamos quando invocamos o (con)sagrado - sim, o futebol, com a tribo que arrasta em sua devoção, configura uma religião pagã - nome de Pote. Pouco depois, Nuno Santos fez de pivô atacante e Bragança colocou no ângulo superior com a ajuda de uma pequena deflecção minhota pelo meio. Com a vantagem de dois golos ao intervalo, o Sporting entrou para o segundo tempo a procurar manter a bola na sua posse. Assistiu-se então a uma perspectiva heliocêntrica de futebol onde Bragança é o sol, o Plano B de Amorim, um "tiki taka" luso que personifica Guardiola em contraponto com o habitual "heavy metal" que vai beber ao Gegenpressing de Klopp (quando Matheus Nunes está em campo). Todavia, com o aparente controlo das operações veio a descontração (a "posse estéril"), e com ela a desconcentração. Valeu então Matheus Reis, o lateral que Amorim transformou num centralão de primeira apanha. Ao ponto de ontem ter sido de longe o melhor central leonino. Com Inácio a voltar de uma infecção por Covid e Coates, a contas com limitações do seu joelho, fora da sua melhor condição física, foi Matheus quem pôs ordem na casa na altura de maior aflição. Evitando males maiores. 

 

Mais 3 pontos, aumento da vantagem sobre o terceiro classificado para seis pontos, a jornada não se pode dizer que não tenha sido produtiva. Mas já todos vimos que o Porto este ano está fortíssimo. Como tal, não há como facilitar até ao fim. E a verdade é que este Sporting quebrou um pouco nos últimos jogos, não está tão sólido como noutros momentos desta época. Dir-se-á que e normal, todas as equipas oscilam de forma durante uma época e o Porto também terá a sua quebra, mas é fundamental não perder pontos até ao tão aguardado confronto no Dragão. Que ocorrerá só em Fevereiro, eventualmente até já sem Diaz, esse diabrete à solta que tanto fez a diferença em Alvalade. No nosso caminho segue-se agora o Braga. Já que falámos aqui de chapéus, um "hat-trick" do Paulinho (trabalhou muito ontem) vinha mesmo a calhar no reencontro com a sua antiga equipa. Haveria melhor imagem de marca para ilustrar a sua contratação do que ver o João Paulo de cartola? Haja ilusão. E magia. (O futebol também é feito disso.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Matheus Reis

pedrogoncalves16.jpg

08
Ago21

Tudo ao molho e fé em Deus

Bem-aventurado o génio de Pedro no evangelho segundo Matheus


Pedro Azevedo

Foi muito agradável para o adepto voltar ao José Alvalade após lhe ter sido aplicada durante 17 meses uma medida de coação que envolveu prisão domiciliária com obrigatória utilização da box electrónica da SportTV. Carpe Diem, quem lá foi desfrutou como pôde, sem saber o que acontecerá amanhã. Também aí vamos jogo a jogo como o senhor (o Mister) nos ensinou, ainda que o novo-normal imposto pelas autoridades sanitárias implique que a assistência nos estádios não possa ultrapassar um terço da sua capacidade máxima (antes da pandemia era de três terços, mas isso são contas, literal e metaforicamente, de um outro rosário).  

 

E, já que falamos de terços e de rosários, na primeira parte seguimos o evangelho segundo Matheus. Através dele os nossos jogadores foram aconselhados a bem aventurarem-se no terreno, o que fez felizes os adeptos com fome e sede de bola que assim começaram a ser saciados. É certo que alguma inquietação nas bancadas emergiu do facto de o Jovane ter tentado novamente colocar um penálti no ângulo superior de uma baliza, obsessão trignométrica que se tornou secante para o adepto, e que o Harry Pote nesse período andou escondido e sem apresentar os seus habituais números de magia assentes numa Art Deco extraordinária. Todavia, folgadinho após um longo período de descanso que incluiu um mês de férias no centro da Europa, o Pedro estava só à espera do momento certo para abrir o livro de truques.

 

Após o intervalo, logo o Pedro e o Paulinho mostraram que não estavam ali para brincadeiras. Assim, após uma rápida combinação entre ambos, o Pedro passou a bola à baliza com aquela infalibilidade própria dos génios. O Charles seguiu a sua trajectória com a certeza de que nada haveria a fazer. Pouco depois, o Pedro fez lembrar um outro Pedro, o Barbosa (bem lembrado, José da Xã), e nas palavras atribuíveis ao Quinito pintou um Rembrandt. E por falar neste, a ronda da noite só terminou quando o Paulinho molhou o pincél, depois do Vinagre e do Nuno Santos terem combinado na perfeição para que a coisa não se ficasse pelas meias tintas. 

 

Sem bifanas nem roulottes lá saímos de Alvalade. E se o corpo foi deixado à mingua, a alma estava cheia. Tão cheia quanto a lotação máxima que o orgulho nos pode dar após vermos 11 briosos e solidários jogadores vestidos de verde-e-branco evoluirem no campo. Isto, sim, é o Sporting: esforço, dedicação, devoção e glória. Obrigado!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Pedro Gonçalves

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