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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

23
Set22

Autómatos


Pedro Azevedo

Muito se fala de formação de futebolistas e muito dinheiro é aí investido anualmente por clubes de todo o mundo numa época em que, curiosamente, o epicentro do jogo parece estar cada vez mais longe dos... jogadores. Amarrados desde muito cedo a tácticas e estratégias, bem como a espartilhos físicos, técnicos e comunicacionais, os jogadores perderam há muito o controlo do processo. Tal não deixa de ser estranho, desde logo porque no final do dia são eles que estão lá dentro, isolados, no relvado, e é a eles que cabe a tomada de decisão. Só que o jogador de hoje em dia, com raríssimas excepções, é quase um autómato. Por isso as análises aos jogos acabam invariavelmente por abraçar os treinadores e até os presidentes, e menos os outrora protagonistas do jogo. Estes são hoje a extensão do joystick da consola da playstation de qualquer treinador, formatados que estão até à exaustão. Longe vão por isso os tempos de um Garrincha, que fintava de uma forma que ninguém podia ensinar, de um Pelé, que usava as pernas dos adversários como tabelinha ou assistência para meter o esférico dentro da baliza, ou de um Yazalde, que de costas para a bola já cheirava o golo. Para não falar de um Maradona, cujo segundo golo à Inglaterra desafiaria quaisquer cânones do futebol actual e o poder do seu treinador. (Eu se fosse o Billardo tinha naquele momento despido a gravata, desabotoado o botão da camisa, retirado o fato, feito as malas e regressado imediatamente à Argentina.) 

 

Esses jogadores que faziam a diferença, que ganhavam jogos sozinhos, estão em extinção. E porquê? Porque falta actualmente a base do futebol de rua. A verdade é esta: a base hoje em dia é dada nas academias, e os novos jogadores aí formados estão desde muito cedo sobre a égide de treinadores com ambição de fazerem carreira no futebol profissional. Estes, com a vontade de controlar todo o processo, acabam por transformar os jogadores em robôs de decisão padronizada. Porque onde ontem havia ousadia, hoje em dia há medo. O medo levou à aversão ao risco, ao horror ao erro, como se o erro e a aprendizagem que daí se retira não fosse fundamental ao crescimento de qualquer indivíduo. Daí a cultura de posse de bola, um meio que na cabeça de alguns virou um fim. Por isso, os treinadores que potenciavam a criatividade do jogador, homens como César Nascimento, Ferreirinha ou Óscar Marques, foram substituídos por burocratas encartados com nível para expropriar e colectivizar o talento individual. É como se uma Cortina de Ferro tivesse invadido o futebol e a classe de treinadores fosse agora o poder totalitário. Poder que será quão maior quanto menor for a autonomia do jogador de futebol dentro do campo. Restam porém meia-dúzia de irredutíveis, para gáudio da urbe que ainda tem paciência para se deslocar às bancadas de um estádio de futebol.  

robô.jpg

29
Nov21

O treinador mais impactante do milénio (resultado)


Pedro Azevedo

Terminada a votação dos Leitores de Castigo Máximo para apuramento de "O treinador mais impactante do milénio", os resultados foram:

 

1º José Mourinho (155 pontos)

 

2º Rúben Amorim (126 pontos)

 

3º Jorge Jesus (58 pontos)

 

4º André Villas-Boas (52 pontos)

 

5º Jaime Pacheco (48 pontos)

 

6º Bruno Lage (40 pontos)

 

José Mourinho é assim o vencedor deste inquérito, com Rúben Amorim a conseguir um auspicioso segundo lugar, ele que está ainda na primavera da sua carreira como treinador. De realçar que ambos terminaram a votação destacadíssimos dos restantes.

josé mourinho.jpg

rúben amorim.jpg

26
Nov21

O treinador mais impactante do milénio


Pedro Azevedo

Hoje pergunto aos Leitores de Castigo Máximo o seguinte: quem foi, na Vossa opinião, o treinador mais impactante em Portugal neste milénio? A resposta deve levar em linha de conta as circunstâncias em que cada treinador pegou na sua respectiva equipa e as próprias idiossincrasias de cada clube, para lá da dimensão do êxito em si, obviamente. (Pedindo desde já para cada Leitor cadastrar o seu voto nos 6 treinadores por ordem decrescente, a pontuação será de 10 para o primeiro classificado, 6 para o segundo, 4 para o terceiro, 3 para o quarto, 2 para o quinto e 1 para o sexto - Segunda Feira será anunciado o vencedor.)

 

Os 6 treinadores sujeitos a votação são estes (por ordem cronológica dos seus êxitos):

 

1) Jaime Pacheco (único campeonato nacional da história do Boavista)

 

2) José Mourinho (campeão europeu e vencedor da Liga Europa pelo FC Porto)

 

3) Jorge Jesus (3 campeonatos pelo Benfica)

 

4) André Villas-Boas (vencedor da Liga Europa no FC Porto)

 

5) Bruno Lage (venceu um campeonato dado como perdido apenas cedendo 1 empate)

 

6) Rúben Amorim (herdou uma situação económico/financeira e desportiva trágica e em pouco mais de ano e meio de trabalho levou o Sporting ao tão ansiado título de campeão nacional e à qualificação para a fase a eliminar da Champions)

 

Aguardo a Vossa participação massiva!

27
Jul20

Comparativo de treinadores na era Varandas


Pedro Azevedo

Treinador Pontos/jogo
Marcel Keizer 2,14
José Peseiro 2,00
Ruben Amorim 1,91
Jorge Silas 1,86
   
   
   
Treinador % vitórias
Marcel Keizer 66,70
José Peseiro 64,30
Jorge Silas 60,70
Ruben Amorim 54,50
   
   
   
Treinador % derrotas
Ruben Amorim 18,20
Marcel Keizer 19,00
José Peseiro 28,60
Jorge Silas 35,70
   
   
   
Treinador Golos M
Marcel Keizer 2,50
José Peseiro 1,71
Jorge Silas 1,61
Ruben Amorim 1,27
   
   
   
Treinador Golos S
Ruben Amorim 0,73
José Peseiro 1,00
Jorge Silas 1,14
Marcel Keizer 1,31

 

Nota: Ruben Amorim apostou forte na Formação e não teve à disposição decisores como Nani (Peseiro e Keizer, este último só contou com o jogador até Janeiro de 2019), Raphinha (Peseiro e Keizer, este último só contou com o jogador até fim de Agosto de 2019), Bas Dost (Peseiro e Keizer, este último só contou com o jogador até fim de Agosto de 2019) ou Bruno Fernandes (Peseiro, Keizer e Silas, este último só contou com o jogador até fim de Janeiro de 2020), o que deverá também ter contribuído (em paralelo com um sistema táctico que privilegia a segurança defensiva) para a menor percentagem de golos marcados e mais elevada média de empates. Nos dados de José Peseiro foi considerada toda a época de 18/19, inclusivé os 4 jogos em que o Sporting foi liderado pela Comissão de Gestão. Por curiosidade, no total das suas 3 épocas no Sporting Jorge Jesus tem os seguintes números: Pontos por jogo=2,07 (pior que Keizer); % de Vitórias=63,92 (pior que Keizer e Peseiro); % de Derrotas=20,89 (pior que Ruben Amorim e Keizer); Golos Marcados= 2,00 (pior que Keizer); Golos Sofridos= 0,99 (pior que Ruben Amorim e sensivelmente igual a Peseiro). Ou seja, JJ não lideraria nenhum destes itens comparativos com os treinadores da era Varandas. Porém, se eliminarmos os 12 jogos para a Champions (os treinadores da era Varandas não a disputaram), o cenário já é diferente, com JJ a liderar em média de pontos (2,17, ligeiramente melhor que Keizer), % de vitórias (67,12, ligeiramente melhor que Keizer) e menor % de derrotas (17,12, ligeiramente melhor que Ruben Amorim e Keizer). Melhora também em golos marcados (2,08) e menos sofridos (0,96), todavia insuficiente para liderar esses itens. Não esquecer que JJ pôde contar com os jogadores que rescindiram pôs-Alcochete. Finalmente, considerando o maior número de derrotas da nossa história num ano desportivo e resultados globalmente desapontantes, fica a sensação que as sucessivas alterações no comando da equipa não produziram nada de significativamente diferente, com o Sporting em 2019/20 a realizar 48 jogos e a obter uma média de pontos de 1,69, valor inferior à média individual de qualquer um dos 4 treinadores utilizados desde o início de 18/19 (Peseiro: 18/19, Keizer: 18/19 e 19/20, .Silas: 19/20 e Amorim: 19/20). 

22
Jul19

Treinador bom vs treinador adequado


Pedro Azevedo

O Sporting é um clube que para ser sustentável tem de apostar na Formação. Ao contrário do nosso rival Benfica, a quem o negócio de compra/venda de jogadores parece assentar bem e ser muito glamoroso, a experiência do Sporting no mercado tem sido quase calamitosa. E digo quase, porque o clube não se tem dado mal recentemente num segmento um pouco mais elevado, tendo conseguido contratar jogadores como Coates, Mathieu, Wendel, Acuña, Dost ou, o nosso Rei Leão, Bruno Fernandes. É certo que também veio um tal de Alan Ruiz, mas quando comparamos com a saga dos Carlos Miguel, Kmet ou Gimenez de outro tempo, há que dizer que houve uma clara melhoria nesse aspecto. Infelizmente, é o conjunto de aquisições no chamado "middle market" que vai deixando as nossas finanças depauperadas, essencialmente pela quantidade de apostas mal sucedidas que temos protagonizado. Jogadores como Viviano, André Pinto, Petrovic, Misic, Bruno Gaspar ou Jefferson, a que se poderiam adicionar várias dezenas de outros só na última década, têm reduzido mercado e elevado ordenado, constituindo uma enorme dor de cabeça para quem gere as finanças do clube. 

 

Tomando a aposta na Formação como um factor crítico de sucesso, mais do que avaliar se o treinador a contratar é bom ou mau, importante é saber se é adequado à nossa política. E creio ser aqui que tem residido o busílis da questão. Por exemplo, Leonardo Jardim foi um treinador adequado para o Sporting, numa altura em que se reduziram os custos com pessoal na SAD de €42 milhões para €25 milhões. Este corte nos custos só se tornou possível pela aposta na Formação. Nesse sentido, William, um jogador que se encontrava desterrado na Bélgica (Cercle Brugge), foi chamado à primeira equipa, destronando um jogador bem querido de parte da massa associativa (Rinaudo). Um sinal de uma nova política que englobou também Adrien, Cedric, Wilson Eduardo, André Martins, Carlos Mané ou Eric Dier (para além de um já bem instalado Rui Patrício). Já Jorge Jesus, independentemente das suas competências, não terá sido o treinador adequado para o Sporting, na medida em que fez estagnar toda uma geração de jovens (hoje entre os 23 e os 25 anos), "obrigando" o clube a recorrer constantemente ao mercado, inclusivé na procura de uma quantidade de jogadores redundantes, visto apresentarem uma qualidade igual ou inferior ao que tínhamos na nossa Formação. É que quando se fala que urge baixar os custos com pessoal até aos 50 milhões de euros, é bom não esquecer que a diferença para o valor actual (€70 milhões) são essas "gorduras" de que falamos em cima, excedentários esses que ajudam a justificar o seguinte cenário: os 10 jogadores mais bem pagos custam 23 milhões de euros anuais; o restante plantel (total de mais de 80 jogadores) tem um custo equivalente ao dobro, com destaque para o bucket dos jogadores entre os 10 e os 30 mais bem pagos, que nos custam cerca de 20 milhões de euros (dados retirados da Auditoria que se tornou pública e referentes a 2018*). 

 

Keizer tem uma ideia positiva de futebol. Quando comete um erro de arranjo táctico da equipa, raramente o repete, notando-se que aprende (vidé jogos com Benfica). Os jogadores parece gostarem dele. Tudo isso são factores positivos. Simplesmente, tenho muitas dúvidas de que o holandês seja a pessoa indicada para rendibilizar a nossa Formação e assim estar de acordo com o modelo de sustentabilidade de que precisamos. Adicionalmente, também não me parece que lhe tenha sido entregue a gestão de todo o departamento de futebol (Formação incluída), pelo que não se afigura simples que as suas ideias de futebol venham a ter correspondência naquilo que se treina nos escalões jovens. É também esta falta de abordagem "top-down" que nos vem afastando, ano após ano, da glória. Só assim se compreende o desperdício de um talento como Daniel Bragança, um rapaz que merecia um modelo de jogo que privilegiasse a construção desde a posição "6", algo que vimos o ano passado com Gudelj não estar nos planos de Marcel Keizer. Não está, e dada a sua inflexibilidade na forma como pensa as dinâmicas (e o receio em lançar jovens) - mais do que a questão táctica, onde já se mostrou capaz de transformar o 4-3-3 num 3-5-2 - , não é de esperar que venha a estar. 

 

Por tudo isto, mais do que estar a dizer se alguém é bom ou mau, competente ou incompetente, é importante que se perceba se é adequado ao que pretendemos. E, já agora, dentro do que pretendemos, também será importante definirmos se queremos ter um modelo próprio de futebol treinado desde os escalões jovens, ou se queremos estar sempre a mudá-lo em função de cada novo treinador. A ascensão e sucesso na equipa principal dos mais jovens também passa muito por uma ideia de futebol que cumpre definir em cima. Ela seria como a Pedra Filosofal de todo o projecto, a alquimia que mais facilmente transformaria em ouro o produto do labor dos vários artesãos qualificados que ao longo dos anos temos tido em Alcochete.

 

(*) Os Custos com Pessoal em 2018 eram €5 milhões de euros superiores (€75 milhões), mas se descontarmos a diferença entre o ordenado de Jesus e os ordenados de Keizer e Peseiro (mais a indemnização deste último), então concluímos que o custo com o plantel ficou praticamente igual. 

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