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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

29
Nov21

Tudo ao molho e fé em Deus

À margem do Lampionato Nacional


Pedro Azevedo

O Sporting fez mais um jogo para o seu campeonato. Por seu campeonato entenda-se um conjunto de jogos que se amontoam num determinado calendário a duas voltas onde todos os adversários se apresentam com 11 jogadores em campo. Bem sei, uma competição assim poderá ser considerada um pouco exótica para a maioria dos cidadãos deste país que torce por outro clube, mas é o que temos. Já o Benfica concorre numa prova à parte, o Lampionato Nacional. Diga-se de passagem que a coisa é bastante desigual, em forte prejuízo dos encarnados. Senão vejamos: se os doutores da bola afirmam convictamente que jogar contra 10 é mais difícil do que jogar contra 11, imaginem o que será jogar contra 9... E, depois, um a um, para aumentar ainda mais o grau de dificuldade, vão-se retirando jogadores de campo da equipa adversária até que fiquem reduzidos a 6 unidades, o que, como se sabe, torna impossível ao Benfica marcar mais golos e mostrar a sua superioridade. Tal é bastante injusto para os actuais pupilos de Jorge Jesus, mas ao mesmo tempo evoca na nossa memória colectiva as origens do futebol: haverá maior pureza do que uma competição que nos remete para as peladinhas da escola, onde havia guarda-redes avançado e tudo? Pois é, o Benfica pode estar 10 anos à frente da concorrência, mas o Lampionato é o seu contributo para o revivalismo do período da Idade da Pedra do futebol. Esbatendo diferenças e promovendo o equilíbrio, nem que para isso tenha de carregar o terrível "handicap" de começar os jogos com homens a mais em campo. Em nome da verdade desportiva, "what else"?

 

Ainda que participando numa competição diferente, o Sporting recebeu ao final de tarde de ontem o Tondela. Estranhamente, a Liga de Clubes não pugnou pelo adiamento do jogo em virtude dos tondelenses se apresentarem completos pelo que a partida realizou-se mesmo, o que com certeza não deixará de merecer parangonas pouco elogiosas nos principais periódicos internacionais. Até parece que já estou a ver um dos títulos: "Doze indomáveis patifes", estrelando os 11 beirões mais o presidente da Liga, com o Proença a fazer o personagem do Lee Marvin, mas com brilhantina e Restaurador Olex quanto baste (o futebol português, os seus "Restauradores" e os Amigos de Olex). Uma vergonha!

 

Esta coisa de ter 11 em campo complica a vida a qualquer equipa. É que há sempre homens a mais em campo, uns dispostos a tocar na bola de forma inadvertida, outros a não saber sair de cena na altura certa. Por isso vimos um tondelense isolar o Sarabia para o nosso primeiro golo e um outro a pôr em jogo o mesmo espanhol aquando do nosso segundo golo, no momento do passe de ruptura do Matheus Nunes (quão mais jogadores, maior a probabilidade de o adversário não estar em fora de jogo). O resto do jogo até foi entretido, com o antigo cérebro (Ayestaran) por detrás do Quique Flores a mostrar que sabe montar uma equipa de futebol. Mas ontem o Neto parecia ter asas e até o Murillo foi apanhar em excesso de velocidade, pelo que a coisa não passou da ameaça. Para piorar a vida aos beirões, o Paulinho marcou um golo - já não bastava aos tondelenses terem de jogar com onze, ainda levaram com um ponta de lança leonino a cumprir com o seu papel. Enfim, um "nonsense" completo... 

 

Na próxima jornada iremos à Luz. À hora que Vos escrevo ainda não sei se o jogo contará para o Campeonato, Lampionato Nacional, ou até se se disputará. É que tanto poderá cair lã dos céus a dar um toque de Natal como a convocatória da omicron alterar os planos a muita gente. Em todo o caso, a Liga deverá dizer qualquer coisa o quanto antes. Ou não, e continuar em isolamento profilático. É que há precauções higiénicas que devem tomar-se para evitar o contágio no futebol. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Luis Neto

netotondela1.jpg

14
Mar21

Tudo ao molho e fé em Deus

“Inimigo” invisível


Pedro Azevedo

Uma pessoa olha para as primeiras imagens emitidas directamente do Regimento de Milícias de Tondela e começa logo a interrogar-se sobre a forma como se deve combater um "inimigo" que não se vê. É que aparentemente estavam só 11 jogadores do Sporting em cima do terreno do jogo, mas os tondelenses haviam vestido camuflado, preparado uma emboscada e agora camaleonicamente confundiam-se com a vegetação enquanto aguardavam o início das hostilidades. Não os víamos, mas sentíamos que eles estavam lá, ou anos e anos de sistema do futebol português não nos tivessem já suficientemente desenvolvido a intuição (e a visão noturna). O mote estava traçado, a estratégia deles passava por extrema mobilidade oculta, íamos ter uma luta de guerrilha. Instintivamente pensei que o tempo da camisola, calções, botas e caneleiras já era e o jogador do futuro equiparia com capacete binocular de infravermelhos e assim. Veio-me logo à cabeça o Platoon e imaginei o filho do Martin Sheen a fumar umas cenas e a pensar no White Rabbit que seria preciso tirar da cartola para ganhar o jogo. (Mais tarde na carreira o rapaz dedicar-se-ia mesmo a da cartola tirar coelhinhas... da Playboy.)

 

Rapidamente se percebeu que os Beir'altacongs queriam-nos meter a encher chouriços, atar e pôr no fumeiro. As nossas movimentações eram constantemente vigiadas, o que nos colocava num espartilho. E não tínhamos quem conseguisse saltar as trincheiras que os tondelenses haviam montado com snipers como linha de defesa ao longo do terreno. Entretanto, desperdiçámos ingloriamente 45 minutos a tentá-lo com as mesmíssimas soluções ("I'm sitting on the dock of the bay, watching the tide roll away, ooh I'm just sitting on the dock of the bay, wasting time..."). Do meio campo para a frente os únicos homens com poder de choque eram Palhinha e TT, mas estes não são propriamente criativos, pelo que pensei que as entradas ao intervalo de Jovane e de Matheus Nunes poderiam complementar essas outras duas unidades, juntando mais força física a velocidade, imprevisibilidade e capacidade de ultrapassar linhas. Mas não, voltámos exactamente com o mesmo onze. E a primeira alteração também não foi de ruptura com o andamento do jogo, visando mais posse de bola e passe à distância quando este jogo específico estava a pedir essencialmente capacidade de penetração e dinamite. Obviamente, não resultou. Por essa altura já eu andava a ouvir o Adagio e com tendência para passar ao original do Albinoni , aquele que o Morrison escolheu para o seu "An American Prayer". O jogo continuou exactamente no mesmo enervante rame-rame até que Tabata e Jovane finalmente o conseguiram agitar. Nomeadamente o cabo-verdiano, que se posicionou mais perto de TT e obrigou os beirões a dispersarem atenções. E de uma bola recuperada por Jovane à entrada da área viria a resultar o envolvimento que permitiria a Pote assistir TT para o golo da vitória. 

 

O Sporting cumpriu com o essencial dos 3 pontos. No entanto, independentemente da inquestionável valia dos nossos jogadores, hoje não foi nada claro que tivéssemos escolhido o onze mais adaptado às circunstâncias que fomos encontrar em Tondela (não é com "Bolshoi" que se ataca "Hanói"). Mas ganhámos, e isso nunca defrauda ninguém, logo em princípio não deverá ser alvo de processo por parte da Comissão de Inquisidores, perdão, de Instrutores da Liga. Em princípio. R-E-S-P-E-C-T!

 

Tenor "Tudo ao molho...": TT. Uma palavra de apreço para a forma como defendemos. Noutros tempos, um falhanço como o de Feddal geraria logo o pânico e seria um golo certo. Hoje em dia não. E porquê? Porque os restantes jogadores sabem exactamente como colectivamente se posicionar e que linhas de passe encurtar. E isso é muito trabalho de treinador e da sua equipa técnica, sem desprimor pela forma como os jogadores apreenderam rapidamente os conceitos, que isto de atrás não deixar ninguém entregue à sua sorte tem muito que se lhe diga. Assim, podemos não impressionar ofensivamente, mas esta equipa continua a ser muito difícil de bater. E isso é meio-caminho andado para o sucesso.  

P.S. Retalhos da vida do futebol português: o João Pereira no Sporting nem precisa de jogar para apanhar vermelhos. Quando estava do outro lado da Segunda Circular, o Hugo Viana é que nem precisava de lhe tocar para ver um vermelho. Ah, e o pisão no pé do Tiago Tomás? Lá por o homem ser TT não quer dizer que valha tudo, não é? 

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02
Nov20

Tudo ao molho e fé em Deus

Pote em brasa


Pedro Azevedo

Depois de um Jogo do Galo a meio da semana que só se começou a resolver quando finalmente conseguimos meter 3 em linha - Nuno Santos, Jovane e Sporar, no lance do primeiro golo -, o Sporting voltou ao José Alvalade para desta vez receber o Tondela. 

 

De Tondela vem bom fumeiro, e já se sabe que isso pede um Pote ao lume. Quem diz ao lume, diz em brasa, e assim foi, para gáudio de todos os Sportinguistas que puderam assistir pela televisão, que isto de encher chouriços ao vivo só seria possível se o entendessemos de forma figurativa, havendo então liberdade por exemplo para ir à Festa do Avante ou deixar o pimba em paz no Campo Pequeno. Uma "tourada" (e não uma corrida de touros), ou não se fiassem os nossos políticos em cidadãos com olhar bovino. 

 

Assim sendo, imediatamente antes e depois do intervalo para compromissos publicitários, a SportTV lá mostrou as imagens do Pote "on fire", iguaria que foi sendo acompanhada por uns tintos encorpados de uma bem equipada (adega da) região do Dão tão cara aos de Tondela. A festa estava bonita, tanto que até houve quem jurasse ter visto fumar um Porro. Quem não estava para folias era o Trigueira e com ele o Sporar durante muito tempo não fez farinha. De outro modo, com tanto chouriço beirão à sua volta, teria "enchido a mula". 

 

A noite já ia alta e os convivas foram saindo de cena. Fui então espreitar a sede da Liga, e não é que vi fumo verde e branco a sair da chaminé? "Habemus Ducem", que é como quem diz: temos líder. É verdade, trinta e sete jornados depois, ainda que à condição, o Sporting volta a comandar a classificação da Primeira Liga! Assim sendo, vou também eu "passar pelas brasas". Bons sonhos e uma noite descansada a todos os Sportinguistas!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Pedro Gonçalves "Pote" (2 golos e participação num outro). Marca de cabeça, pé esquerdo, pé direito, ao todo são já 5 golos em outros tantos jogos do campeonato (ausente em Paços de Ferreira). Pedro Porro (1 golo, 1 assistência, 1 participação em jogada de golo) seria uma alternativa óptima. Destaque ainda para a estreia a titular de João Mário, a qual seria coroada mesmo no fim com uma assistência para golo (a assistência para não-golo havia ocorrido logo nos primeiros momentos de jogo).

pote tondela.jpg

19
Jun20

Tudo ao molho e fé em Deus

Retrato de um Jovane


Pedro Azevedo

Em Alvalade há um pintor retratista de grande qualidade. Na semana passado já havia pintado uma tela representando Ricardo Ribeiro, ontem retratou Cláudio Ramos. Em qualquer dos casos bastaram poucos segundos de preparação, pelo que quando os modelos utilizados se mexeram já o quadro estava finalizado. Mas a vida de um artista não é fácil e Jovane teve de vencer o preconceito daqueles que achavam que ele só servia para pintar rodapés, tendo para tal contado com o valioso apoio do inspirador Mestre Bruno Fernandes. Agora, finalmente vencido o anátema da sua formação, ele é o mestre do renascimento leonino. 

 

Qual Ticiano, Jovane não se limita ao retrato, ele também é influente na ilustração de momentos mitológicos. Nesse sentido, "O Calcanhar" foi uma pincelada de génio que valeu um castigo máximo aos tondelenses que desacreditaram da sua arte e "O Roubo de Bola" tornou-se uma extravagante obra inacabada apenas por falta de definição final. Mas foi em dois instantes de representação da religiosidade pagã do futebol, nomeadamente em "Coroação com Espinhos" onde descreve um deus rodeado por um grupo de quatro homens que o açoita, que Jovane mostrou toda a qualidade do seu traço. 

 

Bem sei, Jovane não nasceu naquela Escola de Belas Artes do Seixal que costuma ser muito popular no Médio Oriente. Por isso será improvável que apareçam ofertas das mil e uma noites pelas suas telas. Em todo o caso o seu sucesso recente serve para relembrar os mais distraídos que ali na Pensínsula de Setúbal existe uma outra academia que certamente não por acaso ao longo dos anos vem fomando os melhores artistas do mundo, constatação que deveria sempre ser preservada de politiquices internas que nos deixam de bolsos vazios e só estimulam a promoção dos nossos concorrentes. Ontem, o mais novato do grupo, Nuno Mendes, de 17 anos, fez a sua primeira exposição colectiva, no que foi acompanhado inicialmente por mais 5 jovens que ainda receberam a visita de outros 2 na parte final da referida mostra. E passou com distinção. De forma que se quiserem transformar o ateliê  num caso de sucesso a 2-3 anos não tem nada que saber: dispensem (se possível, recebendo uma compensação) todos aqueles que os mais jovens destronaram e não cabem realisticamente no grupo de 18 (poupando assim nas tintas), mantenham cada um dos putos mais umas épocas (pelo menos até haver opções igualmente  interessantes provenientes das gerações abaixo) e todos os anos contratem só 2 (se sobrar algum, 3) grandes mestres para os enquadrar e melhorar. E guardem a experiência de Mathieu e a combatividade de Acuña para o casamento ser perfeito.

 

Ticiano do "Tudo ao molho...": Jovane Cabral (hat-trick para "Castigo Máximo"). Menções honrosas para Nuno Mendes, Eduardo Quaresma e Matheus Nunes. Camacho esteve um pouco abaixo do nível regular de toda a restante equipa.  

 

P.S. O Sistema? Continuamos com alguma dificuldade de penetração pelo meio, hoje resolvida pela pujança da Ala dos Namorados, a banda esquerda, com bonitas combinações entre os jovens Nuno Mendes, lateral/ala e Jovane, interior.

 

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03
Nov19

Tudo ao molho e fé em Deus - Ter ou não ter


Pedro Azevedo

Esta noite o Sporting teve dois terços de posse de bola. No primeiro terço clamaram-se os Mistérios Gozosos e rezaram-se 50 Avé Marias, no segundo invocaram-se os Mistérios Dolorosos e oraram-se outras 50 Avé Marias. Para completar o Rosário só faltou um terço, o correspondente aos Mistérios Gloriosos...

 

Para o Sporting, ter a bola é o contrário de não a ter, filosofia herdada dessa grande educadora das massas que dá pelo nome de  Lili Caneças. É um "statement"!  Não existe propriamente uma ideia sobre onde ter a bola e como levá-la até lá, apenas a sensação de bem-estar de a ter. Deste modo dificilmente poderíamos derrotar alguém. Assim, a ideia é valorizar itens que inacreditavelmente ainda não são bem aceites pela comunidade futebolística. Somos uns visionários! Como não podemos ganhar ao adversário, pelo menos goleamo-lo nas estatísticas. Por exemplo, hoje o Coates e o Ilori devem ter batido todos os recordes de passes executados num jogo de futebol. E com uma percentagem de acerto muito perto dos 100%. Uma grande vitória! Eu creio que entendo a ideia: enquanto os nossos centrais vão passando a bola um ao outro num metro quadrado de terreno pode ser que os adversários adormeçam e nós possamos desferir um golpe mortal. (Se calhar é por isso que o consumo de cafeína na nossa Liga costuma ser tão elevado.) Simultaneamente, em casa e nas bancadas, os adeptos também fecham os olhos, mas para pedir a Nª Senhora que aconteça qualquer coisa. E às vezes até acontece, nomeadamente quando o Bolasie remata e a bola entra às três tabelas na baliza, ou quando uns austríacos falham um conjunto de oportunidades num só jogo que dava para vencer a Liga Europa. Também pode ser que tanto foco na posse apenas signifique que queremos levar a bola para casa. Na escola, quando jogávamos ao berlinde, havia um menino que trazia sempre um abafador. O seu objectivo não era jogar e ganhar ao berlinde, preencher as 3 covinhas e tal. Não, ele apenas queria levar para casa todos os berlindes que pudesse...

 

Pouco mais há a dizer. Goleámos no jogo da posse de bola e no dos cantos, este último com um saboroso 7-1 a fazer lembrar tempos de glória. Também ganhámos em ataques. Uma maravilha! Já em remates enquadrados à baliza, empatámos. Se calhar, podíamos começar a análise por aí, não fora isso não interessar para nada. Mesmo que para além de Bruno Fernandes não haja ninguém que acerte naquela moldura com 7,32mx2,44m. Para dizer a verdade, geralmente não há sequer quem tente, pese embora desta vez Miguel Luís ter ousado por duas vezes (Vietto limitou-se a assistir o guarda-redes). Mas, se um dia nos voltarmos a preocupar com uma visão não pós-modernista de um jogo de futebol, então talvez desse jeito haver médios com velocidade, recepção, habilidade e qualidade de passe que permitissem sair com bola rapidamente da zona de pressão. Como o Matheus Nunes, por exemplo, aquele carioca que treina com a equipa principal apenas para poupar os relvados atribuídos às equipas jovens em Alcochete. Parece que estes têm buracos e buracos é coisa com que não pactuamos no futebol do Sporting. Nem com buracos nem com jovens. Por isso têm de ir procurar a sua sorte noutros lados. Como bem fez o Bruno Wilson, produto da nossa Academia. "Veni, vidi, vici" exibia ele tatuado abaixo da nuca. Como Júlio César após a Batalha de Zela (rima com Tondela), uma mensagem para os senadores (de Alvalade) sobre o poder da nossa Formação. Amén!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Não aplicável  

bruno wilson.jpg

 

12
Mai19

Tudo ao molho e fé em Deus - Adeus à Champions


Pedro Azevedo

O jogo começou com os acordes de "O mundo sabe que..." ainda a serem entoados, algo infelizmente tão comum como o Ristovski ser expulso na véspera de uma partida contra outro grande do futebol português.  

 

Logo de início, o Borja atrasou uma bola à balda. Mathieu ainda tentou estorvar o mais que pôde, mas já não conseguiu evitar que frente a frente ficassem os dois jogadores mais subvalorizados desta Liga: Tomané e Renan. Venceu o duelo o nosso guarda-redes, tocando a bola miraculosamente para canto. 

 

Aos 4 minutos, o Ristovski apareceu solto na direita do ataque e centrou para o Acuña rematar. A bola saiu meio prensada, mas o Luíz Phellype, na pequena área e de costas para a baliza, conseguiu dominá-la. Quando se ia virar, o Ricardo Costa puxou-o e Tiago Martins assinalou o castigo máximo. Chamado a converter, Bruno Fernandes marcou como de costume, o 32º golo da sua conta pessoal esta época.

 

Um jogador do Sporting foi apanhado em fora de jogo e, seguindo as recomendações, o auxiliar deixou seguir. O comentador da SportTV, um tal de João Aroso, ficou incomodado. Segundo ele, o adiantamento era tão evidente que deveria ter sido logo levantada a bandeirola. Tendi a concordar. [O pior veio depois: já na segunda parte, um jogador do Sporting foi apanhado milimétricamente em fora de jogo e o auxiliar prontamente sancionou. João Aroso voltou a aplaudir e eu fiquei de pé atrás. Foi só esperar mais um pouco para que a cena se repetisse, só que agora estando Wendel perfeitamente em jogo. Desta vez, Aroso não falou.]

 

O jogo ia caminhando para o intervalo. Borja acumulava faltas e ofensivamente mantinha-se fiél ao "inconseguimento" da Assunção Esteves. Eis então que Ristovski aparentemente dá um pisão a um tondelense. (Um indivíduo subscreve um canal pago para depois ter acesso a umas imagens que mais parece terem sido filmadas de Marte.) Ora, como toda a gente sabe, o pisão tem uma medida de intensidade variável, com uma força aplicada máxima em Alvalade e mínima no Dragão e na Luz. Vai daí, o Tiago Martins expulsou o (C)risto, o qual chegou assim à terceira estação da sua Via Crúcis. E só não foi penálti porque o Tomané antes tinha ajeitado a bola com o braço, pelo que o jogo estava interrompido. Com 10 em campo, o Keizer decidiu mandar o Borja continuar a fazer miséria, mas agora na lateral direita. Recuou o santo do Acuña para a lateral esquerda...

 

A etapa complementar começou com o Tondela mais afoito e, lançado por Tomané, Delgado falhou escandalosamente o cabeceamento. O mesmo jogador, logo de seguida, agarra Acuña e impede-o de progredir rapidamente para o ataque. Já com um amarelo, Tiago Martins perdoa-lhe a expulsão. Junto à linha, com um sorriso irónico e braços abertos, não é difícil imaginar o que vai no pensamento de Keizer: "this s**t is a joke (part II)". O Sporting está na sua melhor fase do jogo e Bruno Fernandes (lançado por Raphinha), primeiro, Luíz Phellype (assistência de Acuña), depois, e Mathieu (outra vez Raphinha) perdem o duelo contra Cláudio Ramos, o guardião tondelense. O jogo está partido, Borja não acerta uma, Gudelj está desgastado, mas o Tondela, nervoso, não consegue ligar o jogo, pese embora a entrada de Xavier tenha melhorado a equipa.

 

O Tondela deposita esperança num canto e acaba por ser feliz: num duelo aéreo de Brunos, o Monteiro bate o Fernandes e toca a bola para a entrada da pequena área onde aparece Tomané a desviar para a baliza. Keizer decide mexer, trocando Borja por Ilori, mas nada de substancial se altera. Manda então Bas Dost - amarelado no banco na sequência de uma simulação de um jogador do Tondela não sancionada disciplinarmente pelo árbitro - para o campo, por troca com Wendel. Com Bruno à direita, Raphinha à esquerda, Luíz Phellype e Dost no centro do ataque, o Sporting cria novamente perigo, mas eis que o treinador holandês volta a mexer, tirando o ponta de lança brasileiro e colocando Diaby. Foi o canto do cisne! Se o meio-campo já não tinha tracção, pior ficou. Em vez da troca de Gudelj por um fresco Doumbia, a entrada do maliano acentuou a clareira na nossa zona defensiva. Malgrado o esforço de Mathieu, obrigado aos 35 anos a fazer piscinas acima e abaixo de forma a ligar o jogo dos leões, o Tondela pôde então encontrar espaços para circular a bola e só por ansiedade não causou mais perigo. Ainda assim, num livre soberbamente executado por Xavier, Renan brilhou com uma das melhores defesas deste campeonato. Noutra ocasião, um desvio milagroso em Acuña evitou o pior.

 

E assim, ingloriamente, o Sporting despediu-se pelo seu próprio pé da edição da Champions de 2019/20. O bom senso recomendaria poupar alguns jogadores nucleares (Bruno, Acuña, Mathieu, Raphinha) na última partida do campeonato, guardando-os para a final da Taça e evitando aquelas contrariedades que se costumam abater sobre nós antes dos jogos decisivos. Enfim, pode ser que chegue finalmente a oportunidade de Francisco Geraldes.

 

Meus caros, é tudo por hoje. Vou imediatamente deitar-me, antes que o Piscarreta me entre pelo ecrã da televisão adentro e me provoque uma insónia daquelas...

 

P.S. Uma pergunta: o que é que os sapientíssimos "Scouters" do futebol português, que substituiram os antigos Olheiros, não vêem em Tomané?

 

Tenor "Tudo ao molho...": Acuña. Boas exibições também de Raphinha e Mathieu. Entrevistado no final do jogo, o francês disse que queria "seguir" por cá. Nós, adeptos, também queremos seguir com ele.

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08
Jan19

Tudo ao molho e fé em Deus - Fim do sonho


Pedro Azevedo

O jogo poderia resumir-se a isto: aos 6 minutos, Juan Delgado "falou grosso" quando cabeceou certeiro para golo; aos 79 minutos, Diaby, exactamente da mesma posição, a passe soberbo de Nani, falhou um golo cantado.

 

Não se pense, no entanto, que se tratou de uma questão de sorte ou de azar. Não, o Sporting perdeu esta partida por manifesto défice de qualidade de alguns jogadores: Gudelj tem a mesma utilidade que um funcionário do Instituto de Socorros a Náufragos destacado para uma praia após a época balnear. Também ele vem equipado com bóia de salvação, camisola "long-sleeve" e calção, mas os itens que não dispensa mesmo são a cadeirinha, os óculos escuros e o chapéu de sol da Olá (não vá o dia abrir ou chuva cair). É que a sua falta de apetência para se deslocar (a salvamentos) é lendária e só comparável ao amor que nutre pelo metro quadrado onde repousa o esqueleto; Diaby até é capaz de falar flamengo (jogou no Brugges) e assim melhor compreender Keizer, mas para jogador de futebol faltam-lhe algumas coisas. Um bom princípio seria a bola nos seus pés não se confundir com um cacto. Outro, consistiria em não fechar os olhos antes de um remate à baliza. Talvez assim conseguisse concretizar pelo menos uma - ao menos uma!!! - das dez oportunidades claras de golo que desperdiçou nos últimos três jogos; e o que dizer sobre Bruno Gaspar? Bom, a verdade é que durante o intervalo sonhei que a solução para ganharmos o jogo passaria por o fazer expulsar...

 

O jogo iniciou-se praticamente com o primeiro golo do Tondela: Bruno Gaspar abriu uma autoestrada, por onde Xavier circulou em grande velocidade até encontrar em Delgado o caminho da felicidade. 

A perder, o Sporting tentou voltar ao jogo e Raphinha iludiu e passou a bola por cima dum adversário até encontrar Bruno Fernandes solto à entrada da área para um remate que saiu ao lado. A partir daí, os leões ligaram o complicómetro perante uma equipa do Tondela que mais parecia de aranhas, tantas eram as pernas que se interpunham às ofensivas sportinguistas. Os tondelenses colocaram um homem perto de Gudelj e por aí foram tecendo a teia e estancando a ligação aos outros médios leoninos. Incapaz de tomar a iniciativa em posse e de ultrapassar a zona de pressão, o sérvio passava para trás e para o lado, situação agravada pelo facto de nenhum dos outros médios descer no terreno. Assim, e até ao fim da primeira parte, de registo o Sporting apenas teve dois lances de Raphinha: uma bicicleta de roda furada, seguida de um golpe meio de ombro meio de cabeça que Cláudio Ramos foi buscar lá onde a coruja dorme. Já o Tondela poderia ter dilatado o marcador quando Tomané entrou nos terrenos de um impávido Bruno Gaspar e cabeceou para defesa de Renan, após lance em que a actual falta de velocidade de Coates foi por demais evidente.

 

O segundo tempo trouxe um Sporting mais lutador e com Montero na frente do ataque em substituição de Gudelj, Diaby a jogar por detrás do ponta-de-lança e Bruno Fernandes e Wendel a fazerem a parelha de médios. Logo de início, Jaquité, qual eléctrico descarrilado, abalroou Nani e viu o segundo amarelo. A jogar contra 10, os leões intensificaram a pressão e Raphinha, em dois remates disferidos da esquerda do ataque, voltou a trazer à colação a razão de Cláudio Ramos ser internacional por Portugal. Mas o Tondela, mesmo diminuido, não desistiu de tentar causar dano ao último reduto dos leões e Tomané afinou a trivela num remate junto à linha de fundo que acabou na barra da baliza de Renan, com o guarda-redes leonino ainda a tocar na bola, evitando assim um golo à Van Basten. A partir daí, as oportunidades do Sporting passaram a ser do calibre daqueles momentos que passam no fim-do-ano, de apanhados do desporto ("Bloopers"). Por quatro vezes Diaby teve o golo nos pés e na cabeça e por quatro vezes o falhou. Não lembra o Diaby...

Diabo da Beira à solta foi o ex-vimaranense Tomané que, pelo meio, tentou de novo a trivela e matou o jogo com um lindo golo, a fazer pensar como se gastam milhões em "flops" quando temos aqui perto de casa um jogador bom e baratinho que já o ano passado se tinha evidenciado na Luz. Mathieu ainda confirmou o que Montero realizou, mas já não fomos a tempo de dar a volta, mesmo terminando, à falta de Dost (traumatismo craniano) e até de Luíz Phellype (ausente por opção técnica), com Coates e Mathieu a pontas-de-lança, após saída pouco entendível (lesão?/fadiga?) de Nani. Quem ainda foi a tempo, infelizmente, de perder o próximo jogo com o Porto, foi Acuña, amarelado nos últimos momentos da partida. E assim, de uma forma totalmente desconsoladora, até porque as ideias de jogo são boas e Keizer veio dar esperança a todos os sportinguistas (mas não faz milagres), não obstante outros importantes objectivos que futuramente se colocarão, o nosso sonho de umas noites de Outono - a que se seguiu o Inverno do nosso descontentamento, iniciado em Guimarães - chegou ao FIM.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Luis Nani (menções igualmente honrosas para Raphinha e Renan)

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