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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

16
Out19

La revancha del Tango


Pedro Azevedo

O Tango nasceu no epílogo do Século XIX em Rio de La Plata, popularizando-se nas grandes cidades limítrofes de Buenos Aires (Argentina) e de Montevideu (Uruguai), em especial na zona portuária da grande capital argentina. Por ter essa raiz e inspiração “porteña”, o Tango foi exportado para a Europa e introduzido em Paris por marinheiros franceses. O instrumento principal do Tango é o Bandoneon (instrumento de fole). Trazido para Buenos Aires por emigrantes alemães, o Bandoneon emerge entre o piano, o violão, o violino e o contrabaixo, marcando as mudanças de ritmo tão características do Tango. Esta música é ilustrada pela dança, onde o drama, a agressividade, o engano, a paixão e o truque evoluem de uma forma binária, num compasso dois-por-quatro.

 

A pouco mais de 11000 km de Buenos Aires situa-se a “city” de Londres, uma pequena área de 2.6 km2. Adjacente a esta área, enquanto Centro financeiro, temos a zona de Canary Wharf, constituindo-se ambas como o coração do sistema financeiro britânico. Esta última é também uma antiga zona portuária, fechada para esse fim em 1980 e transformada numa importante área de negócios.

 

A “música” tocada pelos operadores de mercado em Londres assume também uma forma binária: os mercados sobem ou descem. Os principais “market-makers” tentam convencer os investidores da bondade do racional do seu posicionamento e os mercados vão evoluindo “ao som” dos indicadores económicos. Os fatos destes executantes, “marinheiros de mar e guerra” são diferentes, de melhor corte, criados pelos prestigiados alfaiates de Saville Row…

 

Um dos principais activos transaccionados é o de obrigações. Neste mercado os investidores compram títulos de dívida de diversos emitentes: Estados Soberanos, organismos supranacionais, Bancos Centrais, municípios, empresas, bancos, etc. O mercado obrigacionista é também um mercado de crédito. Quando se compra uma obrigação está a ponderar-se qual o nível de risco do emitente face ao "risk free". Na Europa, tomando o estado alemão como sem risco, todos os outros países terão taxas de juro superiores. A esta diferença de juros dá-se o nome de prémio de risco ou "spread" de crédito. Os spreads de crédito evoluem numa dança semelhante à do Tango. Aqueles movem-se como um fole, alargando ou estreitando, num compasso mais ou menos acelerado consoante o ritmo (de crescimento) da(s) economia(s). É o "efeito Bandoneon"!

 

Um desses compassos mais acelerados aconteceu na Argentina no período entre 1998 e 2002, período temporal em que o prémio de risco do país subiu vertiginosamente. A depressão económica argentina começou no 3º trimestre de 1998 e durou até ao 2ºtrimestre de 2002, tendo sido causada pelas crises russa e brasileira, motivando um aumento significativo do desemprego e com ele, a queda do governo e motins generalizados. A dívida externa argentina entrou em “default” após exibir taxas de juro exponenciais e a indexação do peso ao dólar foi abandonada. A economia contraiu 28% neste período.

 

“Don`t cry for me, Argentina”, cantava Elaine Paige com música de Andrew Lloyd Webber, na peça Evita, a qual retratava a peronista Eva, curiosamente deposta pela Junta Militar chefiada pelo General Videla em 1976, a qual irónicamente viria a caír após a dolorosa derrota militar imposta pelos britânicos em 1982, nas Malvinas (Falkland). O concomitante regresso à democracia, trouxe uma nova alegria ao “país das Pampas”. No dia 22 de Junho de 1986, no Estádio Azteca da Cidade do México, um pequeno duende argentino, um deus do mundo da bola, Diego Armando Maradona, marcou primeiro de forma insolente e ignóbil um golo com a mão. Ficou conhecido como “a mão de Deus”, certamente uma blasfémia, mas entendível dada a recente humilhação do povo argentino. Mas, o segundo golo de El Pibe foi tango no seu estado puro: ginga, engano, truque, artifício, um-dois-três-quatro-cinco ingleses no solo (guarda-redes incluido) e goooooooooolo. Convido o leitor a ouvir o golo relatado pelo grande Victor Hugo Morales. A vitória do povo, “La Revancha del Tango”.

02
Mar19

Cântico Verde


Pedro Azevedo

No futebol, o Sporting entrou num "bear market" (ciclo recessivo) há mais de 30 anos. Por vezes, algumas sementes de recuperação criam a ilusão de que o clube entrou num novo ciclo, mas há sempre aquilo a que um dia um ex-presidente da Reserva Federal americana (Alan Greenspan) chamou de exuberância irracional a puxar-nos para baixo. 

 

Nos anos 80, o Miguel Esteves Cardoso escreveu um livro notável, em jeito de sátira, sobre os portugueses. Chamava-se "A Causa das Coisas" e expunha a alma lusa nas suas contradições e idiossincrasias. Não sei o que o MEC hoje diria sobre nós enquanto povo e sobre os sportinguistas em particular, mas tenho por certo que os meus consócios deste tempo se preocupam muito mais com as coisas do que com as causas, pelo que uma reedição do livro dedicada a nós dever-se-ia chamar de "As Coisas da causa", assim mesmo, com causa com "c" pequeno, tal o desprezo que actualmente mostramos pela nossa identidade ou cultura corporativa, que deveria ser a razão de aqui estarmos.

 

Um clube de futebol como o nosso - que é muito mais do que só futebol e deveria ser muito mais do que um clube - não é um circo e, como tal, nele não deveriam coabitar trapezistas, contorcionistas, ilusionistas, palhaços ou adestradores de leões (este último, vulgo plantar de "Comunicação"). Também não deveria ser um clube de danças de salão, embora por exemplo o tango tenha um compasso binário semelhante à tanga do futebol português, onde o Sporting está condenado a perder mais do que ganha. Aliás, na actual conjuntura da Champions, a dança é acompanhada ao som do bandoneon (pequeno acordeão argentino usado no tango), em que os clubes que asseguram a fase de grupos estão num lado do fole e quem não o consegue fica no lado diametralmente oposto, estando o instrumento esticado até ao limite e assim proporcionando enormes assimetrias "rítmicas". 

 

Por tudo isto, hoje ouvimos dizer que somos um "high yield", um elevado risco, mas também elevada perspectiva de retorno caso não haja "default" (incumprimento), para um investidor, coisa que era capaz de deixar o Visconde de Alvalade à beira de um ataque de nervos se voltasse ao mundo dos vivos. Do clube "tão grande como os maiores da Europa" para o "senhor Orlando e os colchões da academia", rotação de cento e oitenta graus de uma peculiar forma de enaltecimento de uma instituição (um nobre até pode ficar sem dinheiro, não perde nunca é a dignidade). E que Instituição!!!

 

Precisamos como nunca de voltar às origens, de procurar as nossas referências. Os mais novos e os rapazes da minha geração que me desculpem, mas este é um tempo de nos sentarmos e ouvirmos os menos jovens, aqueles que são tão pouco rendibilizados nos nossos dias. De recolhermos lições das suas histórias, inspirarmo-nos nas suas memórias, bebermos da sua experiência, vivenciarmos e celebrarmos o sportinguismo, entendermos de onde vinha aquela mística ganhadora. Um clube como o Sporting precisa deles como nunca, como precisa de todos, não pode funcionar em circuito fechado. Apostar no que é nosso e feito de (e por) nós, em vez de importar "novo riquismo". Quando temos dúvidas sobre um caminho, nada como recuar às origens de tudo. Tal permitir-nos-á, como diria José Régio, saber por onde não ir, saber para onde não ir. É que tantos anos de desilusão provocam erosão e nos nossos olhos já há ironias e cansaços. Mas atenção, ao contrário do enunciado pelo poeta, não cruzamos (nem cruzaremos) os braços, porque este cântico pode parecer negro mas é verde. De esperança!

 

P.S. Qualquer pessoa sabe que o dinheiro custa muito a ganhar, nomeadamente se for obtido de uma forma legítima, sem batota. Já perdê-lo, é fácil. Basta gastá-lo, ou investi-lo sem critério.

 

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