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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

23
Fev21

Jogar à bola sem bola


Pedro Azevedo

Vejo muitos treinadores adversários a esfregar as meninges de preocupados com a forma como o Sporting joga. Aparentemente, segundo eles nas suas alocoções públicas, não há relação directa entre o que a nossa equipa produz e os resultados, pelo que a explicação para a derrota é sempre o erro individual, a falta de eficácia ou o azar dos seus jogadores. Ora, eu penso que é extremamente fácil tipificar a forma como o Sporting joga. E de condicionar, também. Basta tamponar os médios ao centro e fechar nas alas. O Gil fez isso. Porém, na minha modesta opinião, o segredo não está na forma como o Sporting joga, mas sim na forma como o Sporting joga... sem bola. A forma como leva o adversário para certos terrenos que lhe são desfavoráveis e escolhe onde, quando e como pressionar. E as movimentações dos vários jogadores envolvidos no processo de recuperação de bola/preparação da transição ou ataque rápido. Por isso, o mérito desta equipa do Sporting vai muito para além daquilo que joga e está mais associado àquilo que os jogadores correm. Não correndo por correr, à toa, mas correndo bem, com um propósito. Encurtando espaços rapidamente quando sem bola e alargando o campo, procurando o espaço, sempre que a bola é conquistada, o que exige sucessivos sprints e óptima condição física. E quando finalmente em posse ou ataque organizado, sabendo interpretar melhor do que os outros o seguinte princípio que tem previamente interiorizado: não é o jogador que tem a bola que determina o passe, mas sim aqueles que se desmarcam constantemente e oferecem linhas por onde a bola pode chegar. Não são princípios intangíveis, o que é difícil é ter jogadores com a disponibilidade para o jogo como aqueles que Rúben Amorim soube escolher. O mérito deve ser dado a quem o tem, nomeadamente a quem tem sabido traduzir complexidade em simplicidade. É que pode até parecer fácil, mas há muito trabalho por detrás deste Sporting versão 2020/21. 

PS: Se eu tiver pela frente um lateral direito com a bola nos pés e dificuldade em usar o pé esquerdo, vou dar-lhe o lado de dentro ou o de fora? Obviamente, atraio-o para dentro, pressionando-o a usar o pé menos bom de forma a perder a bola com um passe menos certeiro. É só um exemplo da complexidade de riqueza de soluções quando não temos a bola. É que muitas vezes a forma mais rápida de criar oportunidades de golo é entregar a bola ao adversário. Lá está, onde uns podem ver o início de um problema, outros estarão preparados para que seja uma solução.  

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05
Jan21

O Sporting de Rúben Amorim


Pedro Azevedo

O futebol é um desporto que combina os aspectos técnicos, tácticos, físicos e mentais, sendo a maior ou menor capacidade de integrar harmoniosamente todos eles um factor crítico de sucesso (considerando apenas o que acontece dentro das quatro linhas e não relevando alegados jogos subterrâneos em que o futebol português frequentemente se vê envolvido). Assim sendo, pensei em deixar aqui a minha avaliação à actual equipa de futebol do Sporting, subordinando-a ao desempenho em cada um dos aspectos acima mencionados. Então, aqui vai:

 

- Técnica: a contratação de Pedro Gonçalves, regresso por empréstimo de João Mário e promoção de Matheus Nunes vieram dar a este equipa do Sporting um toque distintivo de classe. Pote é um jogador que partilha com Bruno Fernandes a capacidade de enquadrar o remate com a baliza. Ilustrativo disso é o facto de deter o melhor registo de eficácia de remate da Primeira Liga,registo esse traduzido no facto de 42,3% dos seus remates terminarem em golo. Raramente o vemos a chutar à toa na hora da finalização, pelo contrário os seus remates mais parecem um passe à baliza onde a colocação da bola é a prioridade. Além disso, é um jogador fino e inteligente, dotado de apurada visão de jogo, que bastas vezes recua da posição de interior para a de médio centro para ajudar na organização de jogo da sua equipa e provocar uma nuance táctica capaz de desequilibrar o opositor. O "Pantufas" é um jogador diferente. Muito hábil, parece bailar com a bola. Não é mais o jogador desequilibrador que vimos em 15/16, mas tem reservado o papel de controlo da qualidade da posse no miolo do terreno. Destaca-se pelo passe preciso nessa zona nevrálgica do terreno, raramente perdendo a bola e ajudando a equipa a sair em segurança desde trás. O "Menino do Rio" é um jogador de técnica finíssima. Por motivos que têm a ver com o rendimento da equipa, essa qualidade foi durante muito tempo desvalorizada por renomados experts do futebol. Talvez por jogar fora da sua posição natural aquando da ausência de Palhinha, Matheus viu-se obrigado a esconder o seu jogo. Mas há pormenores que não escapam a um olhar cuidado sobre o jogador. Desde logo, a forma como recebe de frente para a sua baliza e como roda com facilidade para qualquer um dos lados, independentemente de estar a ser pressionado, e fica a ver o jogo de frente. Depois, a passada larga com bola que lhe permite rapidamente galgar 20 ou 30 metros e criar desequilíbrio. Por fim, a exclusividade do seu "Turn", um tipo de finta que faz lembrar a especialidade desenvolvida por Johan Cruijff e que só está ao alcance de alguns eleitos. Sequeira pôde testemunhá-lo, ao vivo e a cores, no Sábado passado. Além dos supracitados, Bragança tem jogado menos mas tem um toque de bola distintivo e uma capacidade de passe de ruptura frontal que impressiona.

Atendendo às opções tácticas de Amorim, o Sporting tem neste momento 2 jogadores no seu onze titular com imensa categoria e um 12º jogador que não lhes fica atrás. Qualidade de nível mundial, porém não de forma abundante se pensarmos em categoria-extra que faz ganhar jogos individualmente. Nota (0 a 10): 6 

 

- Táctica: o 3-4-2-1 de Rúben Amorim tem potenciado as melhores qualidades dos nossos jogadores e escondido as suas maiores fraquezas. Nesse sentido, é um modelo vencedor, na medida em que a equipa tem sido claramente melhor do que o somatório dos seus valores individuais. Obviamente, há ainda muito a desenvolver. Na minha opinião, ofensivamente, a interligação do meio campo com os interiores está ainda longe de ser bem conseguida. Apesar da qualidade de passe curto de João Mário, há pouca progressão e o jogo empastela muito no meio campo. Nesse sentido, o jogo posicional do Sporting não é muito eficiente, acabando a equipa por tirar mais partido do ataque rápido ou da transição. Jogando João Mário mais longe de Palhinha do que no passado Matheus Nunes, o risco é de o internacional português acabar por roubar espaços que Pote tanto gosta de ocupar quando recua no terreno. Creio que esse aspecto carece de uma melhor articulação e tem estado na origem de um maior apagamento recente do ex-famalicense. Por outro lado, defensivamente, acontece muitas vezes vermos João Mário envolvido com os interiores e o ponta de lança na pressão alta sobre a saída de bola adversária. O risco é o de, passada essa zona de pressão, o adversário surgir em superioridade numérica no miolo do terreno, sendo Palhinha escasso para tanto fogo à sua volta. O B SAD soube explorá-lo, o Braga também com a nuance de Paulinho descer para ajudar a criar superioridade numérica nesse sector. Todavia, este sistema tem funcionado muito satisfatoriamente, permitindo um bom balanceamento ofensivo dos nossos laterais/alas e concomitantes desequilíbrios que permitem aos interiores jogar por dentro e aproveitar os espaços que aparecem por via da dissuasão provocada nas bandas do campo. Adicionalmente, os centrais recolhem conforto com este sistema, escondendo até o défice de velocidade que os caracteriza. A equipa jogo relativamente junta e raramente se desequilibra de uma forma flagrante, os jogadores vão para o campo com o guião certo e sabem exactamente o que fazer. Nota: 8

 

- Físico: os laterais/alas e o ponta de lança são os jogadores sujeitos a um maior desgaste, logo seguidos pelos interiores e médio defensivo. Os restantes quase que jogam de cadeirinha. Neste Sporting, os jogadores não correm por correr, sabem exactamente o que fazer, o que limita as perdas de rendimento do ponto de vista físico. Tiago Tomás (ou Sporar) será o jogador sujeito a maiores gastos de energia, com a equipa muitas vezes recorrendo aos seus apoios frontais à falta de melhor solução. Isso prende-se com a menor capacidade de saída de bola dos centrais e com o condicionamento adversário a Palhinha, o que, mais do que deveria, obriga a chutar a bola directamente para a frente. Os laterais também têm uma função desgastante, sempre acima e abaixo, sendo de destacar a forma física de Porro face a um Nuno Mendes que tem vindo a ser arreliado por algumas lesões. Do ponto de vista físico, a resposta global da equipa tem sido muito positiva, para o qual também contribui a rotação que Amorim sabiamente tem vindo a operar, limitando o desgaste. O não envolvimento nas competições europeus, sendo sempre negativo para um cube que tem como lema "tão grande como os maiores da Europa", tem sido um daqueles males que vêm por bem, permitindo à equipa treinar e não estar permanentemente a ter de jogar. Ainda assim, a sensação que o adepto recolhe é que a equipa vende saúde, tem disponibilidade física e uma "alma até almeida". Nota: 8

 

- Mental: quando vemos um jogador a mimetizar os voleibolistas e a lutar por cada lançamento lateral como se de um ponto se tratasse, então não há como não ficar agradado com o que se observa. Esse jogador, Porro, é claramente diferenciado do ponto de vista mental e parece ser feito daquela massa que consolida os campeões. Não é porém caso único: quando um suplente muito pouco utilizado como Pedro Marques é visto a ir ao fundo das redes adversárias após cada golo que marca, ficamos com a sensação que há muita competitividade e sede de ganhar nesta equipa. Nuno Santos é outro jogador particularmente raçudo, assim como Feddal, qualidade que lhe permite esconder algumas fragilidades. Coates e Neto também são vistos frequentemente a "dar o peito às balas", atirando-se para cima da bola e evitando golos certos, sinal de atitude. E quando à disponibilidade física se une a disponibilidade mental, então temos uma equipa. Nesse sentido, não é dispiciendo observar que 19 jogadores já contribuíram para os nossos golos, o que ilustra também a motivação dos que saem do banco para resolver. A sensação é que não há titulares absolutos, e isso constitui um factor de motivação para todo o plantel. A forma como Sporar entrou contra o Braga denota isso mesmo. Individualmente, há jogadores que podem ser mais fortes no aspecto mental. Por exemplo, a meu ver Matheus Nunes reune todas as condições físicas e técnicas para ser um jogador de topo. Melhorou também muito tacticamente com Rúben Amorim, pelo que o único limite que lhe encontro é o mental. Tem condições para exponenciar a meia-dúzia de intervenções que me fascinam em noventa minutos e traduzi-lo quantitativamente na produção de jogo. Raramente aproveita o remate forte e colocado que já lhe vimos nos sub-23 e ainda se mostra algo tímido em alguns momentos do jogo, parecendo não ter plena consciência das suas inúmeras capacidades. Todavia, não nos podemos esquecer de que há dois anos estava no Ericeirense, pelo que a sua progressão tem vindo a ser astronómica para um jogador que não teve escola e até há pouco tempo atrás conciliava o futebol com a actividade de pasteleiro.

Em traços gerais, gosto muito da atitude mental da equipa. Nota: 9

 

Nota final combinada: (6+8+8+9)/4= 7,75

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28
Dez20

Tudo ao molho e fé em Deus

Futebol “brutânico”


Pedro Azevedo

Caro Leitor, é com orgulho que observo que as autoridades desportivas do nosso país, sempre muito escrupulosas na atenção às melhores práticas, têm importado para Portugal o melhor da cultura anglo-saxónica no que ao futebol diz respeito. Essa influência é tão marcante que ontem até tivemos um Boxing Day tuga, um dia de futebol "brutânico", que culminou na visita do Sporting ao pantanal do Estádio Nacional, propriedade do Estado Português. E quem é que se domicilia nesse estádio de todos nós, vizinho da Cidade do Futebol que abriga o Video Assistant Referree (VAR) ? A equipa que não tem nome, uma espécie de Manhattan no directório dos clubes portugueses se trocarmos o Rio Hudson pela peculiar fragrância da Ribeira do Jamor.  

 

O espectáculo também não escapou à influência externa de outros desportos. Por exemplo, verificaram-se rotinas típicas do Ice Skating, embora a nota artística tenha predominado sobre a nota técnica devido às inúmeras quedas observadas durante a "patinagem". Também o rugby foi chamado à colação, com as duas equipas a procurarem recorrentemente colocar pontapés tácticos nas costas do último reduto do adversário. Por via disso, receosa, a nossa equipa baixou a linha defensiva. Porém, a restante equipa não acompanhou esse movimento, tendo Inclusivé João Mário se deixado atrair inúmeras vezes pela armadilha da pressão alta na saída de bola dos azuis. Colocando a bola rapidamente por cima da nossa primeira linha de pressão, "comendo-nos as peças" mais adiantadas como se de um Jogo de Damas se tratasse, os azuis atingiam com facilidade o miolo do campo, criando assim uma boa plataforma para municiarem os seus atacantes. Com Palhinha em inferioridade numérica no sector, os pupilos de Petit imediatamente optavam por lançar ataques rápidos em detrimento de tentar contornar o médio mais defensivo do Sporting, retirando a oportunidade a este de fazer prevalecer o seu físico. Mesmo com bola, a lentidão de processos de centrais e médios foi destruindo sucessivas linhas de passe, restando os lançamentos longos como arma. E foi em duas dessas situações que Tiago Tomás se viria a revelar providencial. Na primeira, ganhou a bola nas alturas e endereçou-a a Tabata para a ir recuperar mais à frente (era o único), rodopiar na área e marcar o primeiro da noite. Na segunda, recebeu um milimétrico passe em profundidade de João Mário, isolou-se e sofreu uma grande penalidade que o jogador emprestado pelo Inter se encarregaria de transformar no nosso segundo golo. Pelo meio, os azuis marcaram exactamente através da exploração do espaço nas costas da nossa defesa, beneficiando ainda da momentânea troca posicional dos nossos centrais (Coates estava na esquerda, Neto no meio e Inácio mais descaído sobre a direita), de escorregadelas diversas e da sorte no ressalto da bola que enganou traiçoeiramente Adán, uma espécie de "Triple Witching" típico dos mercados financeiros (volatilidade elevada causada por datas de expiração simultânea de futuros e de opções sobre índices e acções) aplicado ao último dia do ano do futebol do Sporting. E poderiam até ter-se adiantado no marcador, não fora Adán ter adivinhado o lado para onde o penálti foi direccionado. Até ao intervalo, por mais duas ocasiões o Sporting esteve à beira de sofrer golo após momentos desastrados de Neto, mas Adán defendeu ambas. Contra a corrente do jogo, Tiago Tomás poderia até ter dilatado o placard, mas um defesa azul intrometeu-se no caminho da bola após fífia do seu guarda-redes. 

 

A tónica do segundo tempo não se alterou, pese embora a fluência de jogo dos azuis não tivesse sido a mesma devido ao desgaste sofrido no primeiro período. Ainda assim, as melhores oportunidades continuaram a ser do emblema da Torre de Belém, destacando-se uma saída em falso de Adán a um cruzamento por via de uma descoordenação com Coates.

 

Com o passar do tempo, é notório que as equipas que nos defrontam vão conhecendo melhor a nossa forma de jogar, encontrando antídotos para parar a nossa fluência de jogo. Assim, as vitórias são cada vez mais sofridas. Precisamos de soluções novas, nomeadamente sob a forma de ligação entre os médios centro e os interiores. Nos últimos jogos foi particularmente visível que os adversários expuseram a nossa inferioridade numérica no miolo do campo, condicionando aí a nossa forma de jogar. Tem faltado quem salte linhas de pressão nesse sector do terreno e se aproxime dos interiores. O passe nem sempre é opção porque a distância entre linhas é razoável e faz com que muitas vezes se perca a bola. Ontem acabámos o jogo em dificuldade com mais 1 homem em campo. Com dois interiores que na verdade são dois alas, não tirámos partido da superioridade numérica e faltaram-nos soluções pelo centro do campo. Talvez o regresso de Jovane nos proporcione as movimentações, explosão e imprevisibilidade que vêm faltando, permitindo-nos evoluir o nosso jogo para fora do standard que os nossos adversários já conhecem. Porém, não tenhamos ilusões, um pouco por toda a Europa quem está na liderança enfrenta dificuldades. A maior densidade competitiva neste período retira alguma frescura. Por outro lado, a sagacidade dos treinadores vai colocando mais grãos na engrenagem. Adicionalmente, campos em mau estado como o do Jamor reduzem assimetrias. Ontem, o Liverpool perdeu dois pontos em casa contra o penúltimo classificado da Premier League, algo perfeitamente inesperado. Nesse sentido, ganhar, mesmo sem jogar bem, é determinante. E o Sporting ganhou de duas formas: três pontos e tempo para rectificar o que está menos bem. Agora é preciso fazer valer esse tempo. Para já, passaremos o ano no primeiro lugar. Não me parece mal. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Tiago Tomás

 

P.S. O problema da evolução da nossa espécie futebolística não se coloca só no Sporting. No Benfica a questão é mesmo epistemológica, com Jesus e Darwin presumivelmente em desacordo quanto à Teoria da Evolução, o que explica o desconforto com girafas (Luisão) que é atribuído ao primeiro...

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29
Out20

Tudo ao molho e fé em Deus

Um Sporting à Benjamin Button


Pedro Azevedo

O Sporting começou o jogo de uma forma lenta e muito previsível, foi-se revigorando à medida que os laterais passaram a ser alas puros e a saída via médios trocada pelo jogo em "U", e acabou rejuvenescido por um banho de golos sucessivos nos últimos 10 minutos que não expressa minimamente as dificuldades sentidas na maioria do tempo. Em suma, um Sporting à Benjamin Button que nasceu para o jogo com um Neto já avô e só deu a volta quando o avô deu lugar ao neto. 

 

Diga-se em abono da verdade que as dificuldades sentidas pelos leões se deveram à astúcia do treinador gilista. Sagaz, Rui Almeida bloqueou durante todo o tempo a saída de bola leonina pelo centro, dispondo para tal de um losango que enquadrava o par de médios do Sporting. Em permanente inferioridade numérica (2 contra 4) e sem centrais com qualidade técnica para conduzir a bola por entre as linhas da equipa de Barcelos e assim ajudar a diminuir a desproporção de homens no miolo, os leões viram-se bloqueados e sem soluções. Não se estranhou por isso que ao intervalo o resultado permanecesse inalterado. 

 

Para agravar a situação, uma desatenção imperdoável numa bola parada permitiu ao Gil Vicente adiantar-se no marcador logo após o reatamento. Ruben Amorim procurou mexer à hora de jogo, mas nenhuma das suas soluções resolveu o problema central e o Sporting continuou com apenas dois homens no meio-campo. Por essa altura (substituição de Neto), Nuno Mendes era o central pela esquerda, Pote recuara para fazer dupla com Palhinha e Nuno Santos já jogava mais como ala do que lateral. Porém, só aos 71 minutos, com a troca de Porro por Daniel Bragança, é que o Sporting conseguiu encontrar um antídoto para o espartilho em que o Gil Vicente o colocou. Não porque a equipa tivesse conseguido circular pelo meio - para tal recomendar-se-ia o 4-3-3, que além do mais nos teria exposto menos às transições adversárias que poderiam ter sido fatais assim houvessem tido uma melhor definição - , que continuava obviamente bloqueado, mas sim devido à adopção do 3-2-5. Ruben a imitar Herbert Chapman e a recriar o WM popularizado pelo Arsenal, com Tiago Tomás e Nuno Santos como extremos, Jovane e Pote como interiores e Sporar como avançado centro. Evidentemente, para além dos sistemas existem as dinâmicas, e de uma troca de posição entre Pote e Nuno Santos viria a surgir o golo do empate: o ex-famalicense cruzou, Nuno Santos antecipou-se a Jovane - estava com marcação - e apareceu ao primeiro poste a desviar a bola e Sporar cabeceou com êxito ao segundo pau. Estavam decorridos 82 minutos, um minuto que se viria a revelar de grande galo para os de Barcelos. Isto porque logo de seguida, o Sporting voltou a marcar: transição rápida, Sporar recuperou a bola e passou-a a Bragança, e o menino mete um passe frontal de grande classe a isolar Tiago Tomás que chutou no tempo certo e sem dar a possibilidade a Dennis de ser um pimentinha e estragar a noite aos Sportinguistas. Com dois golos num só minuto os gilistas desorientaram-se e, após uma perda de bola infantil dos de Barcelos, Pote encerraria a contagem com um passe à baliza de categoria. Foi um momento Art Deco, na medida em que misturou a exuberante beleza plástica da sua movimentação com o toque fino e suave que trouxe à memória a inteligência e a técnica rendilhada do ex-internacional português Deco. Ruben bem havia alertado que o jogo com o Gil seria a nossa Champions, e o golo de Pedro Gonçalves a fazer lembrar um moderno Deco foi o mais próximo que estivemos de ouvir a magistral composição de Handel. Música para os meus ouvidos, o único dos meus sentidos que por essa altura ainda parecia estar a funcionar após uma noite muito sofrida e em que as imagens que surgiam através do ecrã pareceram durante muito tempo inverosímeis.  

 

Tenor "Tudo ao molho...": Sporar

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04
Jun20

A álgebra do futebol


Pedro Azevedo

Quando oiço falar em Sistema Táctico vejo isso sempre explicado através de linhas estáticas no terreno. Bem sei, os treinadores sempre vêm avisando que o futebol é dinâmica, mas o adepto comum tem tendência a simplificar as coisas como elas se desenham no papel. 

 

Em boa verdade o futebol é um jogo matricial em que se torna necessário preencher várias zonas do relvado a que vou chamar de pontos. Nesse sentido, esses pontos não advêm só de linhas mas também de colunas (corredores), pois o futebol é largura e comprimento. (A profundidade a meu vêr é erradamente chamada à colação, a não ser que estejamos a falar de jogo de toupeiras.)

 

Imaginemos, por exemplo, uma equipa que jogue em 4-4-2 clássico, ou, mais concretamente, num 4-1-3-1-1, com um "6", um "8", um "meia ponta" e um "ponta de lança". Se pensarmos em termos de colunas, teremos uma formação disposta em 2-1-4-1-2, onde, da direita para a esquerda, existirão lateral e ala direito, central pela direita, posição 6, 8, meia ponta e ponta de lança, central pela esquerda, lateral e ala esquerdo. Ora, conjugando com as 5 linhas, teremos como resultado final uma matriz de 5 por 5, isto é, de 5 linhas e 5 colunas, onde há 25 pontos de intersecção que representam espaços a preencher. 

 

Continuando no mesmo exemplo, o espaço (1,1) seria o do lateral direito, (1,2) seria o do central do lado direito, (1,3) não estaria ocupado, (1,4) seria o do central pela esquerda e (1,5) seria o do lateral esquerdo. Avançando nas linhas, (2,3) seria o espaço da posição 6, ficando (2,1), (2,2), (2,4) e (2,5) por preencher. Na terceira linha teríamos (3,1) equivalente ao espaço do ala direito, (3,3) a posição 8 e (3,5) o ala esquerdo, não sendo ocupados (3,2) e (3,4). As quartas e quintas linhas seriam apenas ocupadas pelas posições (4.3) e (5,3).  Como se pode comprovar, as 10 posições à frente do guarda-redes estão preenchidas por esses pontos de intersecção. Ficam, no entanto, por ocupar 15 pontos estratégicos. Como resolver isso?

 

O futebol é um jogo de estratégia que tem as suas semelhanças com o xadrez. Não se trata só de ocupar o espaço da melhor maneira sabendo de antemão que a dimensão do "tabuleiro" de jogo é grande de mais para o número de "peças", mas também pensar para (e por) onde queremos desviar (dissuadir) as "peças" do adversário para melhor podermos ocupar espaços futuros de conquista. Porém, independentemente da estratégia definida por um treinador, o futebol não é só ocupação de espaço, ou dinâmica. É também tempo. Assim, tal como numa partida de "rápidas" de xadrez, executar rápido e bem torna-se decisivo. E essa é a razão pela qual recepção e passe são o mais importante num jogo de futebol. Quando conjugados com a qualidade de remate, então tornam-se letais. 

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08
Jan20

A peça que pode encaixar melhor no puzzle


Pedro Azevedo

Quando olho para Vietto vejo um jogador intermitente, de rotação média, com técnica apurada e boa visão de jogo mas sem pulmão para receber a bola muito atrás no campo. O argentino é muito mais um 9.5 que um 9, aquele tipo de jogador que ronda a área e precisa de uma referência de ponta de lança para sublimar o seu talento. O problema é que o Sporting não joga em 4-4-2 porque tem Bruno Fernandes e ele não pode ser o 2º avançado que certamente se ajustaria mais às suas características. Também, com ou sem Bruno Fernandes, nunca será verdadeiramente um 10, na medida em que lhe falta a intensidade de um médio, explosividade para chegar à área e potência de remate após deslocações longas. Assim, Silas vê-se obrigado a colocá-lo numa ala, de onde parte para descrever umas parábolas à volta da área. Nesse movimento serve muitas vezes de apoio frontal aos médios, o que retira protagonismo no jogo a Luiz Phellype, um jogador que não tem as características de finalizador de um Bas Dost mas cuja técnica razoável poderia ser útil à equipa no jogo interior. É curioso, pois quando espera por Luiz Phellype para fazer esse papel, e arranca então em diagonal, Vietto torna-se mais perigoso como o comprovam duas das três oportunidades que teve nos seus pés no pretérito Domingo. Simplesmente, a sua má definição à frente da baliza leva-o a perder muitos golos. 

 

Não podendo jogar no 4-4-2 que seria da sua predilecção, talvez Silas o pudesse encaixar num 3-5-2, em que Coates, Mathieu e Neto seriam os centrais, Camacho e Acuña fariam os corredores (o que compensaria a falta de qualidade-extra dos laterais de raiz do plantel), Battaglia, Wendel (Matheus Nunes) e Bruno o meio-campo e ele posicionar-se-ia por detrás do ponta de lança, assim a jeito de um Saviola. Dou o exemplo do "Conejo", ex-jogador do Benfica, porque não é fácil encontrar um antigo jogador do Sporting com características semelhantes a Vietto. Talvez João Pinto, apenas pelo ponto de partida, já que o "menino de ouro" era mais enérgico, driblador e não circunscrevia a sua acção a um T0 como o argentino.  

 

Deste modo, não está em causa a qualidade específica numa certa função de Vietto. O difícil é encaixá-lo num sistema de jogo no actual Sporting. A ala pode ser uma opção no campeonato português, mas duvido que pegue na Europa tendo em vista as tarefas defensivas que é imprescindível um ala cumprir a esse nível de competitividade. Mesmo sabendo-se que Acuña às vezes vale por dois (se o lateral for Borja a opção então é inimaginável), principalmente se o adversário privilegiar, como o Porto o fez, o ataque pelo flanco oposto (algo que duvido que o Benfica de Pizzi venha a fazer). A solução poderia ser o 3-5-2, a única forma possível de compatibilizar as melhores características dos mais importantes jogadores do Sporting (Mathieu, com a sua velocidade e leitura dos lances, no controlo da profundidade; Acuña, com a sua garra, no sobe-e-desce constante; Battaglia, se estiver apto, com 3 centrais nas costas, a potenciar a sua ambivalência entre "6" e "8"; Bruno, com a sua intensidade e explosividade, a criar jogo; Vietto, com o seu futebol de filigrana, a costurar em pequenos espaços frontais à área). Na minha opinião, claro, pois os sistemas devem adaptar-se no sentido de que os melhores possam ir a jogo e isso beneficie mais a equipa do que a prejudique. 

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13
Nov19

Perguntar não ofende


Pedro Azevedo

Porque é que há unanimidade em como o Sporting começou o jogo com a Belenenses SAD num 3-5-2, quando sem bola a equipa se dispunha em 5-3-2, e se diz que terminou o mesmo jogo em 4-4-2 clássico, quando com bola efectivamente a equipa se organizava em 4-2-4? Não há aqui uma incongruência? Será pelo facto de o 4-2-4 ser uma táctica em desuso desde os anos 70 e isso condicionar as análises? Se é por isso, então ainda há melhor: é que eu juro que vi no início da segunda parte contra o Lask a equipa em posse num 3-5-2, o famoso WM de Herbert Chapman, uma táctica à anos 50.   

12
Nov19

Optimizar o "Duetto"


Pedro Azevedo

Esta noite, no Canal 11, num programa que efectivamente fala sobre futebol (parabéns á nóvel estação), discutia-se qual a melhor posição para Vietto. Fiquei contente porque a globalidade dos comentadores defendeu o mesmo que eu venho aqui dizendo há muito tempo: a posição ideal de Vietto é como segundo avançado, por detrás do ponta de lança. Como tal, favorece-o o 4-4-2 (ou 4-2-4 consoante as dinâmicas) clássico. Nunca poderia ser o "10" de um 4-3-3 (ou o vértice mais ofensivo de um losango do 4-4-2), pois isso requereria pegar na bola em zonas mais recuadas e não lhe permitiria chegar à área com fulgor (é um jogador franzino e sem grande potência muscular), nem um ala no mesmo sistema ou, pior, no 4-4-2, na medida em que teria tendência para vir sempre para o centro e assim desequilibraria mais a sua equipa do que o adversário. O argentino ganha outra preponderância quando tem uma referência fixa na área, explorando a segunda bola, a sobra (ou, alternativamente, procurando combinar frontalmente com o ponta de lança). Para isso acontecer, é necessário que os alas procurem a profundidade e centrem para a área, o que justifica o sistema que preconizo para Vietto. Para ilustrar o que digo, recordo que foi de 2 cruzamentos junto à linha, de Bolasie, que resultaram duas bolas perdidas na área e os golos de Vietto contra a Belenenses SAD. Assim, Vietto poderia ser para este Sporting aquilo que Saviola representou para o Benfica de Jesus.

 

Resolvido o problema de Vietto, surge uma outra questão: onde colocar Bruno Fernandes? Bom, Bruno é o melhor jogador do Sporting e tem de jogar sempre. Aqui não estou tanto de acordo com o painel do programa "Futebol Total" do Canal 11, na medida em que estes preconizaram que Bruno seria mais um 2º avançado do que um "10". Ora, o período menos fulgurante de Bruno foi precisamente quando jogou muito distante dos restantes dois médios, durante o consulado de José Peseiro. E isso aconteceu porque o jogo passava-lhe um pouco ao lado, na medida em que jogava mais de costas para a baliza do que de frente para a mesma. Ao contrário de Vietto, o melhor sistema para o médio maiato é o 4-3-3, com 3 médios de perfil a definirem 3 linhas no meio campo, sendo ele o médio atacante. Para o conjugar no 4-4-2 ideal para Vietto, Bruno teria de ser o segundo médio. É possível, visto que o maiato não só sabe colocar-se no espaço do adversário e assim recuperar bolas como ao mesmo tempo possui a estamina de um queniano que lhe permite um constante vai-vem. No entanto, as estatísticas dizem-nos que é a "10" que marca mais golos e se torna mais influente. Não um "10" puramente organizador, de marcar tempos de jogo, como Aimar ou Rui Costa, mas um "10" dinamitador, explosivo, do tipo Isaías, mas ao mesmo tempo com capacidade de colocar a bola à distância com destreza ou fazer passes de ruptura frontais (como Deco). Assim sendo, parecendo certo que não é possível ambos os jogadores actuarem em simultâneo nas posições mais indicadas para si, a solução poderá passar por minorar os estragos, ponderar o que se ganha em equilíbrio próprio face ao que se perde em desequilíbrio do adversário, e, dado que face à escassez de jogadores de qualidade é importante jogarem os dois (não saindo Vietto, já que Bruno para mim é indiscutível), Bruno ser colocado como "8". Fica ainda assim a sensação de que o nosso capitão não terá tantas oportunidades de marcar os golos de que o Sporting precisa, na medida em que estará à partida mais longe da área, ele que tem bem mais golo que o argentino. Por outro lado, pensando no restante plantel, a inclusão de Bruno como "8" significaria no imediato a desvalorização de Wendel e a não imposição imediata de um jogador em quem vejo enorme potencial (Matheus Nunes) e que já justifica uma oportunidade.

 

É claro que poderia haver uma solução ideal. Essa, na minha opinião, passaria por um 3-5-2 (acabaria o pesadelo dos alas invertidos), mas para isso necessitaríamos de dois laterais capazes de se metamorfosearem em alas. E aqui temos outro problema: é que se as características de Acuña ajustam-se na perfeição à esquerda, Rosier (por questões físicas) e Ristovski (por questões técnicas) terão mais dificuldade de o fazer à direita. O ideal seria haver um atleta como César Prates, capaz de fazer todo o corredor. Camacho já disse não querer ser lateral, mas neste sistema poderia potenciar as suas qualidades (por algum motivo Klopp viu nele uma alternativa ao potente Alexander Arnold). É que, mesmo sendo ágil e rápido, não parece ser um jogador com uma gama de truques que o tornem decisivo no 1x1, mas embalado de trás e aprimorando os cruzamentos poderia ser muito útil. Nesse sentido, o melhor Sporting para mim teria Renan; Coates, Mathieu (sim, no meio) e Neto (se há posição onde Borja pode jogar é nesta, tenho pena que Gonçalo Inácio, central esquerdino que actuava no início da época com brilho nos sub23, apareça hoje em dia mais nos juniores, Quaresma será melhor central pela direita); Camacho, Battaglia (Doumbia enquanto "Batta" não regressar), Matheus Nunes (Wendel), Bruno e Acuña; Vietto e Pedro Mendes (Luíz Phellype). Silas tem aqui uma boa dor de cabeça, mas ao mesmo tempo um desafio à altura de um treinador ambicioso e com vontade de fazer uma boa carreira. É que o papel de um técnico é optimizar os recursos que tem à sua disposição e quando estes são escassos há que puxar pela cabeça e tentar reunir os melhores jogadores no "onze". 

 

Deixo ainda uma última nota referente aos jogos mais exigentes da época. Admito perfeitamente, quando jogarmos na Luz ou no Dragão, que se adopte o 4-3-3, com Bruno Fernandes como médio de ataque e Vietto como falso ponta de lança. 

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29
Out19

A estratégia de Silas


Pedro Azevedo

Se o que o Sporting faz com bola ainda não é particularmente entusiasmante, o jogo com o Vitória de Guimarães mostrou uma adaptação mais pronunciada do plano de jogo ao adversário por parte dos pupilos de Silas, algo pouco comum nos últimos treinadores do clube. Tal desde logo foi visível na escolha do homem mais avançado dos leões. Seguro de que Ivo Vieira iria procurar assumir o jogo, Silas escolheu Jesé em detrimento de Luíz Phellype porque as características do espanhol favoreciam mais a exploração do espaço concedido nas costas dos minhotos aquando das transições ofensivas leoninas. Pese embora a travagem fatal do defensor vimaranense que facilitou o trabalho de Jesé, o primeiro golo dos leões expôs à evidência o mérito da estratégia desenhada por Silas. Já o segundo golo foi mais consequência de um erro de palmatória da defesa do Vitória, aliás muito semelhante a um outro cometido pelos vizinhos famalicences em Alvalade (golo de Vietto na primeira parte). Em ambos os casos, um defesa colocado sobre o lado esquerdo procurou bascular a bola para o flanco oposto do seu meio campo, acabando por desequilibrar toda a equipa na medida em que o receptor de bola ficou sem apoios próximos e assim susceptível ao erro. 

 

Se em termos de transições ofensivas as coisas correram de feição, a transição defensiva dos leões continua a deixar muito a desejar. É certo que no lado esquerdo Acuña consegue disfarçar, mas o corredor direito tem-se mostrado uma passadeira para as equipas adversárias. A responsabilidade não será apenas de Rosier, pois nem o médio defensivo mais próximo tem basculado para proteger o flanco nem o ala tem recuado para ajudar nas tarefas defensivas. Para agravar a situação, o francês comprado esta época ao Dijon tem revelado má leitura das situações de jogo, bastas vezes posicionando-se deficientemente. Tal é notório quando frequentemente aparece à queima, sinónimo de que a sua posição inicial não era a correcta. Aspecto a corrigir com urgência, na medida em que nem sempre aparecerá a toda a hora um pronto-socorro do tipo daquele em que Mathieu se investiu no último Domingo. 

 

O jogo da próxima quinta-feira obrigatoriamente colocará novos desafios a Silas. Nesse sentido, não será crível que volte a abdicar do Felipe das Consoantes, pois o Paços dever-se-á apresentar num bloco baixo ou médio-baixo. Assim sendo, dependerá da boa e rápida circulação da bola o sucesso do Sporting. O futebol é tempo e espaço. Executar rápido e bem desequilibra o adversário e cria espaço. No início da construção, onde não é imaginável que o espaço seja criado através da finta, torna-se essencial haver quem tenha recepção e passe imaculados. Se a isso se puder juntar velocidade na condução de bola, então óptimo. É por isso que creio que a visita à Capital do Móvel será o cenário ideal para o lançamento do jovem carioca Matheus Nunes, pese embora o gostasse mais de ver com o intenso Battaglia nas suas costas. Tem a palavra Jorge Silas. 

09
Jun19

O onze de Portugal


Pedro Azevedo

Onze oficial: Patrício; Semedo, Ruben Dias, Fonte e Raphael Guerreiro; Danilo, William e Bruno Fernandes; Bernardo, Ronaldo e Guedes. Presumo que a equipa se organize num 4-3-3, embora durante o jogo, para tentar surpreender o adversário, Fernando Santos possa ser tentado a aproximar Guedes de Ronaldo e pedir a Bernardo para conduzir o jogo a partir do centro, no que seria o regresso do 4-4-2 em losango. Mas, com estes jogadores, julgo que o 4-3-3 seria o esquema ideal, com William como "box-to-box" ou duplo-pivot com Danilo - mais forte na marcação do que Ruben Neves, ganhando-se ainda presença na bola parada nas duas grande-áreas, mas perdendo-se alguma criatividade (passe longo de Ruben) na saída para o ataque - , Bruno finalmente a "10", Bernardo a vir da direita, Guedes da esquerda e Ronaldo não fixo na frente, aproveitando-se assim a mobilidade do trio de ataque.  

11
Fev19

Guia Prático para um Leão ansioso


Pedro Azevedo


  1. O seu clube há anos que prega como Frei Tomás a propósito da Formação: aconselha-se uma massagem relaxante;

  2. Os jornais anunciam que o seu clube pretende vender um dos seus poucos jogadores de categoria extra por 20 milhões de euros: tente meditar, o yoga pode ajudá-lo;

  3. Do palmarés de títulos europeus desaparece o troféu do Goalball: procure dormir bem;

  4. O treinador insiste em ir a jogo sempre com os mesmos: faça uma boa gestão do seu tempo e procure organizar um conjunto de actividades a coincidir com os jogos;

  5. Gastamos 70 milhões de euros por época e estamos 7 pontos atrás de um Braga que tem um plantel que custa um quarto desse valor: aconselha-se apoio psiquiátrico;

  6. Tem um craque na equipa e há adeptos que o veem como um problema: comunique regularmente e eficazmente com os outros, tal ajudá-lo-á a diminuir a irritação;

  7. Um jogador da nossa equipa é expulso com um hematoma na cabeça e um adversário fica em campo depois de sem bola atacar o tornozelo do nosso melhor jogador. Perante tudo isto, o clube fica em silêncio: oiça música, ajuda a relaxar;

  8. Nani e Montero são referenciados na imprensa (sondagem de opinião?) como hipóteses para a MLS: comece a tomar uns anti-depressivos;

  9. Num dia acusas o presidente do Braga de histerismo, no outro ligas-lhe. Parece faltar convicção em tudo: complemente a sua medicação com uns ansiolíticos;

  10. Se nada disto resultar, tome uns Lexotan (ou Valium). Pior do que os jogadores do Nacional ontem na Luz não deverá ficar.

09
Jan19

Dr. Feelgood ou contramestre das tácticas?


Pedro Azevedo

A propósito das recentes derrotas leoninas, na minha opinião Marcel Keizer começou a dar ouvidos aos criticos e, ao tentar melhorar a descompensação defensiva, acabou por estragar o ataque, também. Vejamos, a saída de bola deixou de ser feita pelos centrais, o trinco recuou mais do que o costume para vir organizar o jogo, Wendel e Bruno Fernandes apareceram em linhas iguais, em vez de estabelecerem a habitual "escadinha" no centro. Para além disso, Diaby, que jogava a partir da ala e aparecia em diagonais para finalizar - a ala nos primeiros tempos de Keizer era usada para dissuadir o adversário, pois o objectivo era a condução da bola pelo meio - veio para ponta-de-lança ou "mezzapunta", onde estraga muita ligação de jogo ofensivo e desperdiça oportunidades de golo em catadupa, ocasiões essas que, ao contrário do que se passa com Raphinha que muitas vezes origina os seus próprios lances, são criadas pelos seus companheiros. 

 

Por tudo isto, o que mais desejo é que Keizer volte a ser Keizer e que não substituamos o Keizerbol (condução do jogo pelo centro e procura de retomar a posse em 5 segundos) pelo Cruzabol, ou até pelo chuveirinho dos últimos minutos, de Jesus. O primeiro, muito mais interessante, de inspiração no xadrez e no rugby, perceptível no domínio do centro e na quantidade de jogadores dispostos em triângulos e que conseguem chegar à área em simultâneo; o segundo, baseado nos movimentos de basculação do andebol e a pedir profundidade nas alas. Pouco me importa a musiquinha dos "flautistas de Hamelin" à volta dos golos sofridos, sabendo que nos primeiros 7 jogos, para além de os termos vencido todos, marcámos 30 golos e consentimos 8. Ora, isto dá uma média de vitória por jogo superior a 3 golos de diferença.

 

É inteiramente verdade que a maioria dos treinadores dos chamados pequenos em Portugal não tem propriamente uma ideia de jogo, limitando-se a adaptarem-se e assim condicionar o adversário - as excepções recentes serão Miguel Cardoso e Silas -, mas o grau de eficácia dessa adaptabilidade deve medir-se pelo conjunto dos jogos com os "grandes" e pelos jogos europeus das equipas treinadas por eles. Analisando estes últimos, conclui-se que o Guimarães perdeu por um agregado de 6-2 face aos austríacos do Altach, o Nacional foi derrotado por 5-2 pelo Dinamo Minsk, da Bielorrússia e o Rio Ave sofreu um 5-0 quando encontrou pela frente os ucranianos do Dinamo de Kiev. E isto só para citar exemplos mais ou menos recentes. De resto, a amostra face aos principais clubes portugueses também não é famosa, como se comprova pelos 88 e 86 pontos que Benfica e Sporting, respectivamente, amealharam na época de 2015/16 ou os 88 pontos que o Porto fez em 2017/18.

 

Por tudo isto, temos é de entrar "com tudo" e deixarmo-nos de adaptações. Há uma passagem do livro sobre Malcolm Allison e a dobradinha de 1982 em que os jogadores estranham que Allison não apareça no balneário durante o intervalo. O Sporting perdia 1-2, em casa, contra o Boavista, em partida a contar para a Taça de Portugal. Quando os jogadores, atónitos, se preparavam para regressar ao relvado, eis que Big Mal abre a porta do balneário, chama rápidamente os jogadores e diz-lhes apenas isto (antes de voltar imediatamente a sair): "rapazes, se querem ganhar o jogo ponham a bola no Mário Jorge". Resultado: ganhámos por 3-2, com 1 golo e uma assistência do esquerdino açoriano. O futebol não é rocket-science, não é física nuclear, e isso é o que me fascina no Keizer original e não contaminado pelos "opinion-makers". Pelo menos, divertia-me a ver os jogos. Keep it simple, Keizer! E, se perderes, perde pelas tuas convicções. Se correr mal e se este vier a ser o Inverno do nosso descontentamento, sempre preferirei recordar o sonho de uma(s) noite(s) de Outono que Keizer me proporcionou do que a crónica de uma morte anunciada que nos estava reservada com Peseiro. keizer2.jpg

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