O futebol é, certamente, um fenómeno que atrai superstições e crendices várias. De Zandinga a Delano Vieira, passando pelos alhos de Oliveira ou encomendas ao General Professor Nhaga, a tudo se recorre quando é importante ganhar. E, claro, se o futebol para muitos é uma "religião", a fé também está sempre presente.
Lendo Galeano, deparo-me com um conjunto risível de episódios que marcaram o futebol brasileiro. A narrativa começa no Vasco da Gama, decorria o ano de 1937. Numa noite chuvosa, um adepto de uma modesta equipa adversária (Arubinha) enterrou um sapo e lavrou uma maldição: "o Vasco não ganhará o campeonato nos próximos 12 anos". Durante anos, funcionários, fãs e até jogadores cavaram a terra à procura do sapo. Sem sucesso! O clube dos portugueses do Rio foi comprando os melhores jogadores do Brasil, mas os resultados deixaram de aparecer. Até que em 1945, o clube conseguiu finalmente ganhar o Estadual, após 11 anos de seca, o que levou o seu presidente a declarar que Deus lhes tinha feito um pequeno desconto.
O segundo episódio passou-se com o Flamengo, o mais popular clube do Brasil. Os seus fãs ansiavam por um título e, em 1953, foram falar com um padre católico. O Padre Góis garantiu a vitória desde que os jogadores assistissem a uma missa antes de cada jogo. A verdade é que o ‘Fla’ venceu o campeonato nos 3 anos seguintes, o que levou os seus rivais a apresentarem queixa junto de um superior do padre, o Cardeal Jaime Câmara. Ao quarto ano, o Flamengo não ganhou. Consta que os jogadores nunca mais compareceram na igreja onde o padre celebrava a missa.
O terceiro exemplo relaciona-se com o Fluminense. O Padre Romualdo obteve autorização do Papa para se associar ao ‘Flu’. O sacerdote passou a assistir a todos os treinos do "Pó de arroz", embora os jogadores não gostassem da sua presença. Já decorriam 12 anos desde o último troféu do Fluminense e os atletas associavam o padre a um grande pássaro negro, sinal de má sorte. Muitas vezes gritavam-lhe insultos, desconhecendo que o Padre Romualdo era surdo desde nascença. Um dia, o Fluminense começou a ganhar. Um campeonato, depois outro e outro...Então, os jogadores exigiram à Direcção só treinar na sombra do padre. Após cada golo no entreinamento criaram o hábito de beijar a sua batina. Aos fins-de-semana, o padre passou a assistir aos jogos na Tribuna de Honra, muitas vezes inclusivé bramindo a sua ira contra o árbitro e os jogadores da equipa adversária(!).
Vem isto a propósito de um longo ciclo sem vitórias do Sporting no campeonato nacional. Que se segue a um anterior de 18 anos. Tudo isto ajudando a que não tenhamos ganho um campeonato em ano ímpar desde 1953. Há 66 anos, portanto. Não sei, mas mal não faria se mandassemos benzer balneários, bancadas e relvado, não Vos parece?
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