O tema do momento no futebol do Sporting versa sobre a titularidade ou não de Sporar. De facto, para quem olhe apenas para os golos e assistências, os números do esloveno estão longe de impressionar. Como tal, há quem legitimamente defenda que um ponta de lança tem obrigatoriamente de apresentar mais acções decisivas por jogo. Porém, o futebol está longe de ser apenas aquilo que os nossos olhos retêm num primeiro momento, sendo certo até que muitas vezes o que nos agrada à vista não nos enche a barriga. Quando há 3 anos criei o Ranking GAP, fi-lo para ajudar a uma melhor compreensão do jogo e também para reparar a injustiça de não se verem plasmadas nas estatísticas ofensivas uma série de acções que conduzem ao golo. Desse modo, comecei a considerar passes de ruptura e participações em lances de ataque que são determinantes para golo. Assim, um passe de 30 metros a isolar o jogador que depois faz a assistência, ou o jogador que é carregado em falta dentro da área passaram a constar dessas minhas estatísticas enquanto participação importante para golo. Adicionalmente, incluí essas acções, conjuntamente com os golos e assistências, na medição da influência de um jogador. Foi isso, por exemplo, que me levou a concluir ser Bruno Fernandes o jogador mais influente do Sporting na época 17/18, a última de Jesus. Ora, olhando para o Ranking GAP, é possível verificar que apesar do seu número de golos (2) e de assistências (1) ser modesto, Sporar participou de forma importante em outros 5 golos. Assim sendo, não é para mim consensual que não esteja a cumprir com os objectivos. Há, porém, algo que me suscita apreensão e que creio diluirá a sua importância na equipa: a esmagadora maioria das acções que o revelaram influente resultaram de lances de transição. Ora, é minha convicção que, passado um primeiro momento em que beneficiou de algum menosprezo dos adversários, a nossa equipa encontrará muito menos espaços para transição nos próximos jogos, tendo de percorrer estradas secundárias e itenerários complementares com muito tráfego em detrimento das autoestradas em que se sente particularmente confortável. Provavelmente ainda não em Famalicão, equipa que assume o jogo e pretende construir desde trás, mas definitivamente no que virá para diante. Assim sendo, teremos muito mais jogos como o do Moreirense e muito menos como o de Guimarães. Nesse sentido, sem espaço, Sporar torna-se um jogador mais banal. Ele não é o ponta de lança clássico, mas sim um jogador essencialmente de transições, inteligente na movimentação de procura dos espaços (para si ou para os colegas) que se abrem entre os defesas contrários. Quando esse espaço lhe é retirado, Sporar vê expostas imediatamente duas debilidades: o seu fraco jogo de cabeça na área e a falta de faro de golo, características importantes para um "9". Assim, não sendo um cabeceador nato e não antecipando os lances, o esloveno tem muita dificuldade em contribuir para a equipa. É possível que com a idade que tem ainda possa haver alguma evolução, mas dificilmente Sporar será algum dia aquilo que se designa como um "Matador". Assim, antecipando as dificuldades que os autocarros estacionados à volta de Palhinha prometem avolumar, creio ser tempo de começar a dar algum tempo de jogo ao jovem Pedro Marques, o qual possui características mais híbridas, revelando dons que o esloveno não tem na área e mostrando-se igualmente competente em transições no que a acções de finalização diz respeito (vidé os golos obtidos recentemente na Holanda ou pela nossa equipa B), embora porventura não tão forte na associação com a restante equipa como o esloveno. Talvez ainda não com o Famalicão, pelos motivos que acima descrevi, mas em breve. É que, caso contrário, a pouca eficácia do ponta de lança acabará por induzir situações de risco máximo do tipo das utilizadas contra o Gil Vicente (3-2-5), o que nos poderá ser fatal quando do outro lado houver um "10" com bom tempo de passe a lançar a transição face a um equipa toda adiantada no relvado.
P.S. Não descartar Tiago Tomás. Apesar de mais utilizado sobre a direita, TT mostrou contra o Gil Vicente uma qualidade essencial num ponta de lança: o timing de ataque à bola e remate. Nesse sentido, esse lance foi de compêndio.
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