Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

Castigo Máximo

17
Fev23

Tudo ao molho e fé em Deus

Ornatos de Ponta de Lança


Pedro Azevedo

"Ouvi dizer que o nosso amor acabouPois eu não tive a noção do seu fimPelo que eu já tenteiEu não vou vê-lo em mimSe eu não tive a noção de ver nascer um homem (Chermiti) (...)

 

(...) (Agora a parte em que entra o Espadinha, desconhece-se se à estalada)

O estádio está desertoE alguém ecoa o teu nome (Paulinho) em toda a parteNas casas, nos carros, no (Leonel) Pontes, nas ruasEm todo o lado essa palavraRepetida ao expoente da loucuraOra amarga, ora docePra nos lembrar que o amor é uma doençaQuando nele julgamos ver a nossa cura" - adaptação livre de "Ouvi Dizer", dos Ornatos Violeta

 

Desde a "Antiguidade Clássica" de Rúben Amorim no Sporting que a nossa equipa se vê grega em inferioridade numérica no meio campo. Primeiro com Matheus e Wendel, depois (época do título) com Palhinha e João Mário (34 jogos) e Matheus (39 jogos) sempre pronto a entrar quando o diesel do agora benfiquista chegava ao fim (o que não acontece agora quando Morita "dá o berro"), na temporada passada com Palhinha e Matheus (e Ugarte como opção). Mas havia Palhinha e/ou Matheus, dois super-heróis com poderes especiais que valiam por três jogadores, pelo que a aritmética desfavorável só era absolutamente nítida quando enfrentávamos outros super-poderes na Europa. Havia risco, sim, mas controlado. Só que agora não há Palhinha. Nem Matheus. Há Ugarte e Morita, que são bons mas humanos, não caíram no caldeirão da poção mágica em pequeninos como o Obelix nem foram banhados no rio sagrado como o Aquiles. Sem Morita, Amorim decidiu desafiar ainda mais os deuses e as probabilidades e deixou o uruguaio sozinho no centro do campo. Muitos vê-lo-ão como uma imprudência, eu tomo-o como uma tentativa de homicídio. Passo a explicar: a esforçar-se desta maneira, se não morrer entretanto, o Ugarte acabará a carreira como um ancião aos 25 anos. E, até lá, não haverá uma companhia de seguros disposta a vender-lhe sequer uma apólice de saúde, quanto mais de vida.   

Vem a "Antiguidade Clássica" de Amorim no Sporting a propósito do seguinte silogismo aristotélico: Rúben afirma frequentemente que o futebol é o momento. Ora, em grande momento estava o Chermiti, com golos, assistências e arrastamentos para golo. Assim sendo, o Chermiti deveria ontem ter sido titular. Mas não, em vez do silogismo triunfou o associativismo. E o Paulinho é que foi a campo. É o amor de perdição de Amorim, o Camilo até já escreveu sobre isto. Restará saber se em prol do associativismo não os veremos em simultâneo a deixar Alvalade. Com o Esgaio e o Trincão a transportarem as malas à saída. Talvez então o Rúben se liberte da escuridão e não mais renegue a realidade como ela é, embora quem despreze Aristóteles também possa nada aprender com um  seu mentor (Platão, aluno de Sócrates e autor da Alegoria da Caverna).

 

Outra coisa que me intriga é o início de construção da nossa equipa. Há quem lhe chame saída de bola, mas no nosso caso é mais "saída de barra". É que as chuteiras do Adán devem ter sido feitas na Lisnave, ali bem perto de onde o rio desagua no mar...(Temos aqui um caso paradigmático de construção naval, tanta é a água que se mete no processo, razão pela qual esta temporada vamos permanecer em doca seca... de títulos.)

 

Andamos quase todos aqui às voltas com a vontade de recuperar o melhor Amorim (esse pelo menos fez-nos campeões, que garantias nos darão os que se seguirão?) que até nos esquecemos das responsabilidades de Frederico Varandas. É que bom presidente não é o que passa a perna ao treinador ao vender-lhe o Matheus, bom presidente, sim, é o que estende a mão ao treinador e despacha o Paulinho para longe, para as arábias ou assim, onde se poderá associar com os camelos de duas e uma bossa (dromedários) e assim aprender como armazenar energia, conhecimento que lhe poderá ser muito útil na hora de rematar à baliza. [Em tirocínio, ontem até me pareceu vê-lo a transportar qualquer coisa (seria a bola?) nas costas.] Com a ajuda do super-empresário Mendes, pois claro, que vender seca (de golos) no deserto não deve ser tão fácil quanto "enganar ingleses" com o Bruno e o Matheus, ao melhor estilo do Zezé Camarinha. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Manuel Ugarte, qual Atlas a levar às costas o mundo do leão. 

paulinho mid.jpg

30
Out22

Tudo ao molho e fé em Deus

O Professor Pardal e o Lampadinha


Pedro Azevedo

Para algumas pessoas que seguem o futebol tudo se circunscreve a sorte ou a azar (ou ao árbitro). Por exemplo, jogamos com um ponta de lança que por acaso (claro!) é um extremo e por azar (obviamente!!) só tem 1,69m e não se chama Romário e queixamo-nos da falta de sorte na finalização, quando, se calhar, deveríamos pensar que se tivéssemos um ponta de lança que não fosse um extremo, não se chamasse Paulinho e tivesse 1,85m como o Rodrigo Ribeiro estaríamos mais perto de ter mais sorte nas finalizações. Mas isso sou eu que digo, que não sou treinador nem tive de passar por aqueles cursos complicadíssimos que fazem com que o senhor José Pereira dê prova da sua existência. (A ASAE deveria investigar o conteúdo desses cursos porque parece-me que o Amorim se estragou e está muito menos fresco desde que ficou com nível.) Porque esta coisa de correlacionar um ponta de lança com o golo deve estar errada desde o início. Porém, eu, que ainda sou do tempo do anúncio do Restaurador Olex - "Um preto de cabeleira loira ou um branco de carapinha não é natural" - , não me conformo e sou capaz de achar um bocadinho de invencionice as peças estarem fora do seu sítio natural, como se num Banco o Compliance andasse a fazer investimentos por conta dos clientes e a Gestão de Activos tratasse da contabilidade, ou num hospital o nefrologista operasse o coração e o estomatolista fosse para o refeitório descascar dentes de alho (olho por olho, dente por dente, se o Coates por ser alto é recomendável para ponta de lança...). Todavia, na vida encontramos sempre pessoas com um espírito revolucionário e ego suficiente para baralhar e dar de novo. Quando acertam, elevam-se a génios, se falham redondamente há sempre uma qualquer desculpa que justifique o insucesso. Simplesmente, não há desculpa que esconda a má percepção da realidade por parte de quem lidera. E a dificuldade consequente de aceitar a derrota e arrepiar caminho só cria atalhos para a invenção, com apostas cada vez mais altas e improváveis de obterem sucesso. Pensei maduramente nisso ao ver o nosso jogo em Arouca. E caro Leitor, há que dizê-lo com frontalidade: Rúben Amorim é o nosso Professor Pardal e o Rochinha ontem foi o seu Lampadinha, o protótipo de uma ideia de ponta de lança que traduz a negação da realidade.  

 

É também, realmente, um Azar dos Távoras ter no plantel um jogador irregular mas com uma obsessiva vocação para marcar golos decisivos como o Jovane. E ainda mais azar é dar-lhe uma grandíssima oportunidade e ele, em dois ou três minutos, não conseguir resolver a eliminatória da Taça com o Varzim. Lá está, o Rúben tinha razão, o cabo-verdiano é muito ansioso. Eu também, de cada vez que repetidamente o Trincão desperdiça os 90 minutos que regularmente o Rúben lhe concede. Vai daí, o Jovane continua a ver os jogos à flor da relva (banco de suplentes) e o Trincão continua a ver a relva através dos jogos (ainda se tirasse os olhos do chão...). 

 

Finalmente, no Sporting é comum que quando um treinador começa a sentir-se apertado aposte na Formação. Contudo, convém haver um critério. Por exemplo, eu até admito que o Mateus Fernandes se tenha cansado demasido devido aos 29 minutos que jogou em Londres e que o Essugo fosse mais indicado para um jogo que se antevia mais físico, mas já não entendo que na ausência de um placebo que nos dá a sensação de "wishful thinking" e custou uns módicos 16 M€ (por 70% do passe) não se convoque o tal ponta de lança proveniente da Formação que tinha servido à narrativa de que não era necessário ir ao mercado contratar alguém para marcar golos. Por isso, mais do que ansiar pela pausa do Campeonato do Mundo a fim de podermos recuperar alguns lesionados, eu suspiro por essa interrupção para que possamos recuperar o ... Rúben Amorim.

 

E agora é esperar que na terça-feira esta montanha russa de emoções continue e levemos de vencida o Frankfurt... (Caso contrário, depois da salsichada que foi este início de época, iremos ter de nos conformar com uns enlatados até ao fim.)

 

PS: Saudades de ver Palhinha a destruir tudo o que lhe aparecia pela frente e Matheus Nunes a quebrar sucessivamente as linhas do adversário. Se falharmos a Champions, não se esqueçam de debitar esse "custo" (quebra de Proveitos) aos valores dessas duas transferências.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Pedro Porro 

ProfPardal_31.jpg

06
Dez21

Como o Sporting venceu o Benfica


Pedro Azevedo

Táctica, técnica, física e estrategicamente o Sporting dominou o Benfica na Luz. Optando por entregar a posse ao adversário (estratégia), o Sporting pôde exercer a pressão alta de que tanto gosta a fim de recuperar a bola e rapidamente explorar os espaços deixados em aberto pelo Benfica. Por via disso, a zona do terreno mais massacrada pelos leões foi a compreendida entre Lázaro e André Almeida, por onde aliás Sarabia emergiu para marcar o primeiro golo. Pouco depois, uma combinação entre Matheus e Sarabia voltou a expôr o lado direito da defesa encarnada, valendo ao Benfica a anormal má finalização de Pote. As águias nunca conseguiram durante o jogo estabilizar o seu flanco direito defensivo, nem mesmo após Cebolinha ter rendido Lázaro. Apesar de ter explorado prioritariamente as transições ofensivas, o golo inaugural do Sporting surgiu em ataque organizado, com Matheus Nunes a receber um lançamento lateral de Matheus Reis e a fugir à pressão que Weigl e João Mário lhe teceram. A bola chegou depois a Pote, que baixou linhas e combinou com Porro. O passe do espanhol tirou 3 jogadores benfiquistas da jogada e permitiu a Pote receber sem marcação mais à frente. Este, com duas opções de passe (Paulinho e Sarabia), serviu com êxito o ex-PSG porque Lázaro não acompanhou a sua movimentação. Do trio PSP (Pote, Sarabia e Paulinho) houve sempre um jogador a baixar linhas para pegar na bola e desmontar marcações. Isso criou inúmeros desequilíbrios ao Benfica, o qual apostara em marcações praticamente individuais ao longo do campo. Com o passar do tempo, o jogo partiu-se, cenário ideal para o Sporting, em duas transições rápidas, decidir a partida. Mérito para Matheus Nunes, que então dinamitou um meio campo do Benfica absolutamente impotente para o travar. Aliás, o meio campo do Sporting ofuscou todo o jogo o do Benfica. Foi como se tratasse de um confronto de estilos musicais: de um lado, os metaleiros Matheus e Ugarte, do outro os baladeiros João Mário e Weigl. No fim, o heavy-metal superou os "slows", deixando Jorge Jesus à beira de ter de ir cantar de galo para outra freguesia. 

P.S. (Jorge) Jesus virou-se para Lázaro e disse-lhe "levanta-te e anda" mas o Lázaro deixou-se ficar pelo chão, algo mais tarde replicado pelo André Almeida  quando Matheus "escreveu" o seu capítulo nesta história. É verdade, para o Benfica as incidências do jogo ganharam proporções bíblicas...

golosaravia1.jpg

04
Dez21

Tudo ao molho e fé em Deus

Dinamatheus


Pedro Azevedo

Com o Rúben Amorim a degustar ao jantar o Mestre da Tactica com 3 batatinhas e o Matheus Nunes a recordar-nos que o Ruca é uma estorinha para embalar meninos, o Sporting venceu sem espinhas na Luz. Durante a semana muito se havia falado das ausências de Palhinha e Coates, como se o Sporting, à laia da B SAD, se fosse apresentar apenas com 9 jogadores em campo. Acontece que o Ugarte e o Neto jogaram mesmo, e o uruguaio destacou-se em particular pela audácia com que encarou o seu novo habitat, não deixando crescer a relva à sua volta. Depois, os movimentos entre-linhas de Pote, a utilização por parte de Sarabia da via verde na auto-estrada existente entre Lázaro (mais tarde, Cebolinha) e André Almeida e a capacidade de pressão alta de Paulinho ajudaram a cavar a diferença. De tal forma que só por sorte o Benfica não chegou ao intervalo a perder por 2 ou 3 golos, algo visível para todos os espectadores excepto para o Mr Magoo que se sentou no banco dos encarnados. Com muitas soluções entre os suplentes para refrescar a equipa, no segundo tempo o Benfica cresceu na partida. Mas então entrou em acção Matheus Nunes: foram duas cavalgadas (eu já tinha dito que ele é um Mustang) de 50 metros que dinamitaram e aniquilaram por completo a resistência encarnada, a primeira concluída com um passe de ruptura(!) a servir de bandeja Paulinho, a segunda directamente a pô-lo na cara do golo e assim permitir-lhe sentenciar o jogo. O que deixa a seguinte questão: quão mais tempo conseguiremos manter o  Matheus afastado da cobiça dos gigantes europeus? É que ele assentaria que nem uma luva no Liverpool de Klopp, por exemplo. Bom, mas isso só acontecerá numa das próximas janelas de transferências, por isso desfrutemos ao máximo dele enquanto podemos. Todavia, será possível ter saudades de alguém ainda presente? Eu já tenho. Ah, e não esquecer o Gonçalo Inácio! Vinte aninhos apenas, mas uma saída de bola a fazer lembrar o Kaiser Beckenbauer e uma coordenação da linha defensiva que deve ter rebentado de orgulho o grande capitão Coates. E assim, com este espírito e esta classe, vai crescendo a onda Sporting. Na crista, a surfá-la com maestria, está o Amorim. Deus o guarde connosco por muitos anos, que não há preço para a felicidade e a alegria nos lábios de crianças e de adultos que há muito já mereciam isto. 


P.S.1. Qual a diferença entre o golo de Sarabia e o tão aclamado golo de Bernardo Silva a meio da semana? 

P.S.2. Sem querer "puxar o saco", já dizia o Cruijff que os sacos de dinheiro não ganham jogos. 

Tenor "Tudo ao molho...": Matheus Nunes. Paulinho, Sarabia, Gonçalo Inácio, Ugarte e Pote (anormalmente perdulário na finalização) estiveram também em excelente plano, mas todos os utilizados passaram no teste. 

25
Nov21

Tudo ao molho e fé em Deus

A alegria do povo


Pedro Azevedo

De Mané Garrincha se dizia ser a "Alegria do Povo". Com o estádio cheio e contra adversários difíceis, Garrincha jogava como se estivesse numa peladinha entre amigos. Nunca acusava a pressão, nem tão pouco temia o circunstancial opositor de um determinado dia. Todos para ele eram "Joões", fossem eles do Flamengo, Fluminense, Vasco, ou da Checoslováquia ou Suécia. Movia-se por puro instinto, e só isso. Todos conheciam a sua finta, mas ninguém o conseguia deter.

 

Penso em Garrincha quando olho para Pedro Gonçalves. Troco apenas o instinto e a arte da revienga de um pela inteligência e assertividade no remate do outro. Quanto ao semi-alheamento comum a ambos, o do Mané tinha mais a ver com a falta de noção enquanto o do Pedro parece propositado e visar melhor enganar o adversário. Partilham porém o facto de ambos serem "cool as a cucumber", imperturbáveis de uma forma quase arrogante, absolutamente confiantes e seguros do seu papel desequilibrador no campo. 

 

Durante meia-hora não se viu o nosso Pote de Ouro no relvado. Mas da primeira vez que se deu por ele foi golo. De uma forma prática, sem adornos desnecessários, a um só toque, sabendo encontrar o espaço ideal para melhor ferir o adversário. Como se de um duende, um leprechaun se tratasse, escondendo-se entre a vegetação (relva) para aparecer de repente, traquino e astuto. Com esse golo, Pedro Gonçalves incendiou um José Alvalade até aí inquieto, possuído pelas dúvidas. É que a forte pressão alemã a meio-campo conseguiu durante muito tempo ofuscar a entrada pressionante dos leões e chegou a temer-se o pior. Mas Coates e Inácio estiveram imperiais na defesa, Matheus e Palhinha correram muito para esbater a inferioridade numérica a meio-campo e o Sporting conseguiu aguentar-se no jogo. Até que apareceu o Pote, uma e outra vez. Da segunda vez a concluir uma brilhante jogada colectiva: Matheus Nunes avançou pela direita, Paulinho amorteceu e deixou para Matheus Reis, este visou a zona de penálti onde Matheus Nunes segurou de costas como um ponta de lança, Sarabia tocou suavemente para a entrada da área e Pote rematou colocado e com uma violência dir-se-ia impossível para um golpe desferido com a parte de dentro do seu pé direito. O Sporting ia para o intervalo com a vantagem ideal que lhe permitia a qualificação imediata para a fase seguinte da Champions. Faltavam, porém, 45 minutos para carimbar essa passagem.

 

Entrámos bem no segundo tempo e uma combinação entre Pote e Sarabia poderia ter dado o terceiro golo não fora o cansaço já evidente do espanhol. Mas acabariam por ser os alemães a cometer o hara-kiri quando Emre Can se fez expulsar por agressão a Porro. Em noite de Pedros, a importância de Porro não se ficaria por aqui, surgindo a recarregar com êxito um penálti desperdiçado por Pote e ganho por Paulinho.  Com o 3-0 e mais um homem no terreno veio uma descompressão que se poderia ter revelado fatal. O jovem Nazinho foi lançado às feras em jogo internacional, os alemães reduziram, a inexperiência nestas andanças veio ao de cima e durante alguns minutos os leões deixaram de trocar a bola com critério, pelo que a ansiedade tomou conta de todos, espectadores incluídos, até ao silvo final do árbitro. Seguiu-se a festa, bem merecida.

 

O Sporting cometeu o feito de se apurar para os oitavos-de-final da Champions, algo que não acontecia desde 2008/09 com Paulo Bento, e o grande arquitecto de tudo isto é o Rúben Amorim. Depois de um início titubeante, quem diria que à quinta jornada já estaríamos apurados? Na vida estanos sempre a aprender, e o Amorim aprende muito depressa. Sagaz, inteligente e de comunicação assertiva, corajoso no lançamento de jovens e providencial na preparação do futuro, Rúben Amorim está na sua cadeira de sonho. Ou melhor, na nossa, porque enquanto ele por cá andar estaremos sempre bem sentados. Sonhando, e dormindo descansados.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Pote

pote dortmund.jpg

30
Set21

Eu prefiro o Rúben


Pedro Azevedo

Uma coisa é o Benfica golear o Barcelona por 3-0, outra é o Jorge Jesus não descolar os pés do chão ou apenas levantar vôo esporadicamente e de forma curta como a codorniz. Se querem que vos diga, estou mais preocupado com a segunda premissa do que com a primeira. Mas continuo a acreditar piamente no Sporting de Rúben Amorim, reconhecendo e agradecendo o enorme mérito do nosso treinador nas 3 conquistas obtidas em apenas ano e meio (só faltou a Taça de Portugal). Adicionalmente, louvo-o pela aragem nova que trouxe em nome da nossa sustentabilidade baseada num modelo económico viável e financeiramente compatível com as nossas possibilidades de clube de um país periférico. Está Rúben isento de erros? Não. Critico-o por vezes? Sim. Mas já dizia Aristóteles que só há uma forma de alguém evitar ser criticado: "Não fazer nada, não dizer nada e não ser nada". Ora, a obra realizada e o discurso certeiro são a prova viva da existência de Mister Rúben Amorim, treinador para além do mais com estrelinha. (Vale mais a pena um Mestre da Láctica do que um Mestre da Táctica, até porque aquilo que chamamos de sorte habitualmente esconde muito trabalho efectuado.) Pelo que...

04
Mar21

Matador!


Pedro Azevedo

Na sua ainda curta carreira desde cedo tudo pareceu fazer sentido. Iniciou-se como "novilheiro" num picadeiro ali para os lados de Pina Manique. A alternativa recebeu-a das mãos de Salvador, que lhe cedeu a arena em Braga. Em pouco tempo Varandas chamou-o, e ele desceu até Lisboa à procura da glória. A princípio participou nuns festivais taurinos de fim de época, foi-se mostrando. Até que entrou em cartel grande. Como mais novo, era a terceira figura do cartaz: no meio estava Conceição, um clone de Ponce, de estilo vigoroso adornado a lidar com os Vitorinos da sua predilecção; à cabeça, Jesus, o Curro Romero da Reboleira. Cabia-lhe iniciar a lide. O sol ia ainda alto e ele escolhera trajar de esmeralda e ouro como se a esperança se mesclasse com o seu desejo de ostentar um valor para quase todos então ainda desconhecido. O inteligente já dera o sinal, o cornetim tocara a condizer, começava o primeiro tércio. O touro saía do curro e já o caPote de um dos seus peões de brega arrancava bruás em cada lar. Atento, foi lendo os movimentos do touro, apercebendo-se como investia ao engano. Entre chicuelinas e verónicas, lidou com todas as ameaças sem perder a graciosidade, entrando mesmo nos perigosos terrenos do touro sem dar a ilusão de poder ser colhido. Com uma revolera rematou o toureio de capote. Novo toque de cornetim e eis que, qual Morante, ele próprio assume as bandarilhas. Um par logo de entrada, de poder a poder, mostra que Braga já ficou lá para trás. As sortes de bandarilhas saem-lhe como o capote, mas ainda há mais uma para completar o segundo tércio. Não será fácil, como nunca o foi. Entretanto, vem até à barreira limpar o suor e tomar um pouco de água. Segredam-lhe que acabam de estender por mais uma temporada o contrato que lhe permitirá continuar a exibir os seus dotes em praças de primeira. Vem aí a lide a pé, muleta e espada, onde sempre se decide o destino da Corrida. A multidão, em casa, sempre em casa, agita-se. O sol já baixa, o tércio decisivo está mesmo aí a chegar. Passo a passo, como desde cedo nos ensinou, procurará superá-lo. Passo a passo, interiorizando nós, procuraremos durante mais dois meses resistir a pensar vê-lo sair pela Porta Grande a caminho do Marquês, a caminho de todos nós. Boa sorte, Rúben Amorim. Que sejas "Matador"!

05
Jan21

O Sporting de Rúben Amorim


Pedro Azevedo

O futebol é um desporto que combina os aspectos técnicos, tácticos, físicos e mentais, sendo a maior ou menor capacidade de integrar harmoniosamente todos eles um factor crítico de sucesso (considerando apenas o que acontece dentro das quatro linhas e não relevando alegados jogos subterrâneos em que o futebol português frequentemente se vê envolvido). Assim sendo, pensei em deixar aqui a minha avaliação à actual equipa de futebol do Sporting, subordinando-a ao desempenho em cada um dos aspectos acima mencionados. Então, aqui vai:

 

- Técnica: a contratação de Pedro Gonçalves, regresso por empréstimo de João Mário e promoção de Matheus Nunes vieram dar a este equipa do Sporting um toque distintivo de classe. Pote é um jogador que partilha com Bruno Fernandes a capacidade de enquadrar o remate com a baliza. Ilustrativo disso é o facto de deter o melhor registo de eficácia de remate da Primeira Liga,registo esse traduzido no facto de 42,3% dos seus remates terminarem em golo. Raramente o vemos a chutar à toa na hora da finalização, pelo contrário os seus remates mais parecem um passe à baliza onde a colocação da bola é a prioridade. Além disso, é um jogador fino e inteligente, dotado de apurada visão de jogo, que bastas vezes recua da posição de interior para a de médio centro para ajudar na organização de jogo da sua equipa e provocar uma nuance táctica capaz de desequilibrar o opositor. O "Pantufas" é um jogador diferente. Muito hábil, parece bailar com a bola. Não é mais o jogador desequilibrador que vimos em 15/16, mas tem reservado o papel de controlo da qualidade da posse no miolo do terreno. Destaca-se pelo passe preciso nessa zona nevrálgica do terreno, raramente perdendo a bola e ajudando a equipa a sair em segurança desde trás. O "Menino do Rio" é um jogador de técnica finíssima. Por motivos que têm a ver com o rendimento da equipa, essa qualidade foi durante muito tempo desvalorizada por renomados experts do futebol. Talvez por jogar fora da sua posição natural aquando da ausência de Palhinha, Matheus viu-se obrigado a esconder o seu jogo. Mas há pormenores que não escapam a um olhar cuidado sobre o jogador. Desde logo, a forma como recebe de frente para a sua baliza e como roda com facilidade para qualquer um dos lados, independentemente de estar a ser pressionado, e fica a ver o jogo de frente. Depois, a passada larga com bola que lhe permite rapidamente galgar 20 ou 30 metros e criar desequilíbrio. Por fim, a exclusividade do seu "Turn", um tipo de finta que faz lembrar a especialidade desenvolvida por Johan Cruijff e que só está ao alcance de alguns eleitos. Sequeira pôde testemunhá-lo, ao vivo e a cores, no Sábado passado. Além dos supracitados, Bragança tem jogado menos mas tem um toque de bola distintivo e uma capacidade de passe de ruptura frontal que impressiona.

Atendendo às opções tácticas de Amorim, o Sporting tem neste momento 2 jogadores no seu onze titular com imensa categoria e um 12º jogador que não lhes fica atrás. Qualidade de nível mundial, porém não de forma abundante se pensarmos em categoria-extra que faz ganhar jogos individualmente. Nota (0 a 10): 6 

 

- Táctica: o 3-4-2-1 de Rúben Amorim tem potenciado as melhores qualidades dos nossos jogadores e escondido as suas maiores fraquezas. Nesse sentido, é um modelo vencedor, na medida em que a equipa tem sido claramente melhor do que o somatório dos seus valores individuais. Obviamente, há ainda muito a desenvolver. Na minha opinião, ofensivamente, a interligação do meio campo com os interiores está ainda longe de ser bem conseguida. Apesar da qualidade de passe curto de João Mário, há pouca progressão e o jogo empastela muito no meio campo. Nesse sentido, o jogo posicional do Sporting não é muito eficiente, acabando a equipa por tirar mais partido do ataque rápido ou da transição. Jogando João Mário mais longe de Palhinha do que no passado Matheus Nunes, o risco é de o internacional português acabar por roubar espaços que Pote tanto gosta de ocupar quando recua no terreno. Creio que esse aspecto carece de uma melhor articulação e tem estado na origem de um maior apagamento recente do ex-famalicense. Por outro lado, defensivamente, acontece muitas vezes vermos João Mário envolvido com os interiores e o ponta de lança na pressão alta sobre a saída de bola adversária. O risco é o de, passada essa zona de pressão, o adversário surgir em superioridade numérica no miolo do terreno, sendo Palhinha escasso para tanto fogo à sua volta. O B SAD soube explorá-lo, o Braga também com a nuance de Paulinho descer para ajudar a criar superioridade numérica nesse sector. Todavia, este sistema tem funcionado muito satisfatoriamente, permitindo um bom balanceamento ofensivo dos nossos laterais/alas e concomitantes desequilíbrios que permitem aos interiores jogar por dentro e aproveitar os espaços que aparecem por via da dissuasão provocada nas bandas do campo. Adicionalmente, os centrais recolhem conforto com este sistema, escondendo até o défice de velocidade que os caracteriza. A equipa jogo relativamente junta e raramente se desequilibra de uma forma flagrante, os jogadores vão para o campo com o guião certo e sabem exactamente o que fazer. Nota: 8

 

- Físico: os laterais/alas e o ponta de lança são os jogadores sujeitos a um maior desgaste, logo seguidos pelos interiores e médio defensivo. Os restantes quase que jogam de cadeirinha. Neste Sporting, os jogadores não correm por correr, sabem exactamente o que fazer, o que limita as perdas de rendimento do ponto de vista físico. Tiago Tomás (ou Sporar) será o jogador sujeito a maiores gastos de energia, com a equipa muitas vezes recorrendo aos seus apoios frontais à falta de melhor solução. Isso prende-se com a menor capacidade de saída de bola dos centrais e com o condicionamento adversário a Palhinha, o que, mais do que deveria, obriga a chutar a bola directamente para a frente. Os laterais também têm uma função desgastante, sempre acima e abaixo, sendo de destacar a forma física de Porro face a um Nuno Mendes que tem vindo a ser arreliado por algumas lesões. Do ponto de vista físico, a resposta global da equipa tem sido muito positiva, para o qual também contribui a rotação que Amorim sabiamente tem vindo a operar, limitando o desgaste. O não envolvimento nas competições europeus, sendo sempre negativo para um cube que tem como lema "tão grande como os maiores da Europa", tem sido um daqueles males que vêm por bem, permitindo à equipa treinar e não estar permanentemente a ter de jogar. Ainda assim, a sensação que o adepto recolhe é que a equipa vende saúde, tem disponibilidade física e uma "alma até almeida". Nota: 8

 

- Mental: quando vemos um jogador a mimetizar os voleibolistas e a lutar por cada lançamento lateral como se de um ponto se tratasse, então não há como não ficar agradado com o que se observa. Esse jogador, Porro, é claramente diferenciado do ponto de vista mental e parece ser feito daquela massa que consolida os campeões. Não é porém caso único: quando um suplente muito pouco utilizado como Pedro Marques é visto a ir ao fundo das redes adversárias após cada golo que marca, ficamos com a sensação que há muita competitividade e sede de ganhar nesta equipa. Nuno Santos é outro jogador particularmente raçudo, assim como Feddal, qualidade que lhe permite esconder algumas fragilidades. Coates e Neto também são vistos frequentemente a "dar o peito às balas", atirando-se para cima da bola e evitando golos certos, sinal de atitude. E quando à disponibilidade física se une a disponibilidade mental, então temos uma equipa. Nesse sentido, não é dispiciendo observar que 19 jogadores já contribuíram para os nossos golos, o que ilustra também a motivação dos que saem do banco para resolver. A sensação é que não há titulares absolutos, e isso constitui um factor de motivação para todo o plantel. A forma como Sporar entrou contra o Braga denota isso mesmo. Individualmente, há jogadores que podem ser mais fortes no aspecto mental. Por exemplo, a meu ver Matheus Nunes reune todas as condições físicas e técnicas para ser um jogador de topo. Melhorou também muito tacticamente com Rúben Amorim, pelo que o único limite que lhe encontro é o mental. Tem condições para exponenciar a meia-dúzia de intervenções que me fascinam em noventa minutos e traduzi-lo quantitativamente na produção de jogo. Raramente aproveita o remate forte e colocado que já lhe vimos nos sub-23 e ainda se mostra algo tímido em alguns momentos do jogo, parecendo não ter plena consciência das suas inúmeras capacidades. Todavia, não nos podemos esquecer de que há dois anos estava no Ericeirense, pelo que a sua progressão tem vindo a ser astronómica para um jogador que não teve escola e até há pouco tempo atrás conciliava o futebol com a actividade de pasteleiro.

Em traços gerais, gosto muito da atitude mental da equipa. Nota: 9

 

Nota final combinada: (6+8+8+9)/4= 7,75

amorim.jpg

22
Dez20

Dobrado o Bojador, venham as Tormentas


Pedro Azevedo

A passagem da Consoada em primeiro lugar no campeonato veio destruir alguns mitos urbanos criados por adversários e Velhos do Restelo conhecedores do nosso costumeiro fado natalício. Nesse sentido foi como dobrar o Cabo Bojador (nem de propósito assinalado a vermelho na infografia que acompanha este texto), sendo Ruben Amorim o nosso Gil Eanes que perante uma nau à deriva soube recuperá-la, manobrando e encontrando ventos amenos que abriram caminho para os grandes descobrimentos. Todavia, entrando agora em mares desconhecidos desde 2002, o navegador Amorim enfrentará no futuro próximo grandes perigos. Para já valeu a pena. Até porque, como diria Pessoa em A Mensagem, "Tudo vale a pena se a alma não é pequena". Porém, para a jornada terminar em sucesso, necessário será chegar e ultrapassar por fim o Cabo das Tormentas, um teste à capacidade de sacrifício e de superação dos tripulantes da nossa embarcação em mares encrespados e com ventos que frequentemente sopram fortemente no sentido contrário às nossas ambições. Simultaneamente, em terra, importante será com inteligência e persuasão saber reunir e alargar apoios para a prossecução desta expedição. Porque, recuperando Pessoa, "Quem quer passar além do Bojador, tem de passar além da dor". Da dor e do nestas gestas sempre encarnado Adamastor. Só assim a hoje legítima esperança se tornará uma Boa Esperança

 

P.S. Inspirado por um texto do José Duarte em "A Norte de Alvalade" onde faz uma alusão ao Cabo da Boa Esperança.

bojador.jpg

12
Jun20

Primeiras impressões


Pedro Azevedo

Gosto:

  • da comunicação assertiva de Ruben Amorim.
  • do seu discurso ambicioso, de acordo com a grandeza do clube.
  • da confiança que Ruben Amorim transmite aos jovens. 
  • da insistência em Matheus Nunes, não o deixando cair após uma estreia menos conseguida.
  • dos laterais/alas de propensão atacante.
  • do papel dado a Jovane como dinamitador das linhas de defesa adversárias.
  • com dois enganches por detrás, dos espaços que se abrem para Sporar inteligentemente explorar. 
  • de ver Ruben Amorim assumir as coisas menos boas, sem desculpas.

 

Não gosto:

  • da forma como Ruben Amorim tem gerido publicamente o dossier Mathieu, porque creio que nunca esteve em causa o comprometimento do francês com o clube, trata-se tão-somente de uma opção (ou não) de final de carreira de um jogador que ainda poderia ser muito útil para a próxima época não só pelo que joga como também pela experiência acumulada que passaria a jovens como Eduardo Quaresma e Gonçalo Inácio.
  • da "Táctica do Pentágono", sistema de defesa da nação leonina em que 2 trincos se posicionam em cima de 3 centrais ("congestionamento"), proporcionando carambolas em situação de evidente superioridade numérica do tipo da que resultou no segundo golo vimaranense.
  • da ausência de um "8" bem definido, o que elimina os movimentos verticais de aproximação à linha atacante, tornando o nosso jogo mais previsível e de colocação constante das bolas nas costas dos defesas contrários, táctica que dificilmente resultará com equipas posicionadas em bloco baixo e que leva a muitas perdas de bola. 
  • da inexistência de um "10" (Vietto neste sistema é um dos segundos avançados), o que a somar à falta de um "8" faz com que o nosso jogo interior, de construção desde trás, seja substituído por transições constantes. Está a faltar quem pense o jogo e lhe dê temporizações, a fim de que a equipa não se parta tanto em campo.
  • de Mathieu, elemento mais rápido e experiente da defesa, não ser o central de referência pelo meio, expondo-nos demasiadamente a contra-ataques rápidos. 

rubenamorim3.jpg

11
Jun20

A cada novo Princípio de Peter, um castigo de Sísifo


Pedro Azevedo

Como é hoje em dia claro como a água, o Sporting colocou toda a responsabilidade do edifício do seu futebol em Ruben Amorim. Sem pôr minimamente em causa a competência do nóvel treinador leonino, não seria esse o meu modelo - todos sabem que advogo a existência de um Director Técnico, um COO com plenos poderes na gestão do futebol - e considero a decisão um erro. Repito, nada contra Amorim, a quem desejo as maiores felicidades (que serão também minhas), simplesmente na minha mente faz muito pouco sentido ser o treinador, alguém que pela inerência das suas funções estará sempre de passagem (o presidente é o primeiro a admiti-lo quando reconhece que terá em breve a cobiça de grandes clubes), o responsável pela ligação entre futebol profissional e Formação e gestão de carreira de jovens jogadores. Acresce que, se se confirmarem os bons augúrios de Frederico Varandas em relação ao treinador, este não permanecerá muito tempo entre nós, razão suficiente para perguntar o que se fará a partir desse momento com a Estrutura que o treinador deixará no clube e se ela resistirá à entrada de um novo treinador, com ideias possivelmente diferentes. 

 

A meu ver, um dos erros da gestão da política desportiva de Frederico Varandas é estar permanentemente a laborar no erro de promover o Princípio de Peter, submetendo os seus colaboradores a missões ou tarefas que os desfocam daquilo que são as suas competências naturais e para as quais não têm a preparação devida. Isso é particularmente notório desde a saída de José Peseiro, que motivou na altura a ascensão de Tiago Fernandes à equipa principal e consequente sua substituição nos sub-23 por Alexandre Santos, treinador proveniente do Estoril. Tal voltou a acontecer com a promoção de Leonel Pontes a treinador principal do clube, abandonando um trabalho 100% vitorioso que estava a realizar no escalão de sub-23, função essa à qual posteriormente viria a voltar mas já sem o "élan" anterior, marcado que ficou pela experiência pouco feliz nos séniores. Sem esquecer a contratação de treinadores que não revelaram o grau de maturação necessário e suficiente, ou a personalidade requerida, para comandar uma nau como a do Sporting. 

 

Com tudo isto, Frederico Varandas já teve 6 treinadores na equipa A e 4 na equipa de sub-23, o que em ano e meio em funções denota pouca estabilidade emocional e falta de convicções na gestão do dossier futebol por parte do presidente e faz com que estejamos sempre a recomeçar de novo, como se de um castigo de Sísifo se tratasse. Claro que o presidente tem procurado revestir cada nova mudança de um cariz estratégico, mas é notório para a maioria dos observadores não enviezados que tudo não tem passado de sucessivos balões de oxigénio com que Varandas vem procurando combater o ar cada vez mais rarefeito de Alvalade.   

 

Hoje ficámos a saber que Leonel Pontes deixará as suas funções. Tal acontece num momento em que existem legítimas expectativas positivas em relação ao trabalho de Ruben Amorim, fundamentalmente devido à aposta que tem estado a promover nos jovens. Ora, tendo esses jovens vindo a ser trabalhados por Pontes, a decisão de o dispensar não deixa de ser surpreendente. Mais, não querendo acreditar que as decisões no futebol do Sporting dependem de cumplicidades pessoais, será de admitir que Pontes e Amorim não compartilhavam das mesmas ideias no que diz respeito ao desenvolvimento dos jovens, ou que o trabalho que era feito nos sub-23 não estava em harmonia com o que Amorim pretende, o que parece algo a carecer de fundamentação à luz da pandemia que fez parar competições e treinos. Não deixa, no entanto, de ser mais uma decisão insólita do presidente, ainda mais atendendo a que na próxima temporada haverá mais uma equipa de última estação de formação, a B. Para além de que teremos mais uma indemnização a pagar a um treinador no horizonte, a juntar a um rol tão numeroso que se torna fastidioso acompanhar, sendo certo que o R&C de Março de 2020 indica um valor de quase 7 milhões de euros de indemnizações pagas nestes 9 meses de actividade, a que se devem juntar os 1,7 milhões de euros gastos no mesmo item em 18/19.

sisifo.jpg

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Mensagens

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D

Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

Siga-nos no Facebook

Castigo Máximo

Comentários recentes