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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

07
Nov19

Tudo ao molho e fé em Deus - O fiel amigo da Noruega


Pedro Azevedo

Mal começou a transmissão televisiva, percebi que íamos ganhar. É que a equipa de arbitragem exibia um equipamento rosa, a cor nossa talismã. Dúvidas? Se bem me lembro, por seis vezes esta época jogámos sob o signo da rosa, por seis vezes vencemos. E como não ganhamos assim tantas vezes...

 

Como diria o grande Gabriel Alves, o jogo não foi bom nem mau, antes pelo contrário. Classificá-lo-ia como um solteiros contra casados em terras da Noruega, com os portugueses no final a mostrarem como se faz um bacalhau com (duas) batatinhas a murro, receita de fiél amigo e assim imune à azia leonina. Dentro do espírito da coisa, houve também fases verdadeiramente hilariantes como quando Doumbia (1ª parte) e Rosier (2ª parte) reflectiram filosoficamente sobre como um objecto tão leve pode ser um peso tão insustentável e nesse transe - momento de hipnose induzida pela posse de bola - acabaram por confundir a bola com os tornozelos dos adversários, ou quando o nº 15 norueguês pretendeu fuzilar Renan (ainda no 1º tempo), acto que configurou uma tentativa de homicídio qualificado. 

 

O Sporting apresentou-se num 3-4-3 de 3 centrais, com a excentricidade de Bruno Fernandes aparecer como ponta de lança. No entanto, defensivamente a equipa baixava para um 5-3-2, um sistema conhecido no Mar do Norte como a Táctica do Bacalhau. A primeira parte correu-nos bem. O Neto foi ao lado direito tirar um cruzamento com o aroma que o nosso "Mateus" Rosier ainda não descobriu e na sequência Coates, influenciado plos bons ares de Trondheim, cabeceou para golo na baliza certa. Pouco tempo depois, um norueguês pôe-se a fintar sem protecção nas costas, Doumbia roubou-lhe a bola e Bruno Fernandes gingou entre 2 adversários e marcou. 

 

O jogo parecia fácil e a forma como os noruegueses controlavam a bola fazia crer que as chuteiras dos seus jogadores haviam sido produzidas num dos seus inúmeros estaleiros navais. Mas os nossos jogadores encontram sempre forma de apimentar as coisas e, às tantas, o Rosenborg começou a descobrir a especiaria. Com Borja e Ilori sobre a esquerda, o espaço compreendido entre eles tinha bolori, pelo que os noruegueses foram explorando-o na esperança de desenvolverem um antibiótico contra as bactérias que os leões tinham espalhado pelo campo. Para além destes dois candidatos a "Calamity Jane", Eduardo também ajudava à festa, oferecendo bolas à entrada da área. Valeu então Renan, que por três ou quatro vezes evitou o pior. 

 

Simultaneamente, na narração da SportTV, um recente Director da Formação esboçava um arrazoado sobre a necessidade de entrar alguém desde que não fossem os jovens que anteriormente supervisionara, os quais considerou inexperientes. Sobravam assim o Felipe das Consoantes ou o Wendel. Estava eu a discorrer sobre a mentalidade inerente a tal pensamento quando Silas manda Camacho para a frente de batalha. Mal eu sabia que seguir-se-iam Rodrigo Fernandes (4 minutos) e Pedro Mendes (1 minuto), numa folia total de 22 minutos de uma fortíssima aposta na Academia. O resultado já não seria alterado.

 

Como rescaldo final, devo dizer que Renan voltou a ser providencial. Estou convencido que o único que lhe pode tirar a titularidade é Bruno Fernandes, a quem não me admiraria nada que Silas viesse a entregar numa próxima ocasião as redes leoninas. Aliás, deixo aqui a dica ao Placard para começar a contemplar nas suas apostas em que posição vai Bruno Fernandes actuar e qual o sistema que o Sporting usará. Creio que dificilmente haverá totalistas...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Renan Ribeiro. Coates esteve quase lá, não fosse ter sido apanhado em contrapé naquela tentativa de fuzilamento do nosso guarda-redes. Bruno Fernandes e Neto fizeram um jogo competente.

coates rosenborg.jpg

17
Jul19

Renan, o homem talismã


Pedro Azevedo

Quando Renan fechou a baliza de tal forma que quatro bracarenses não o conseguiram desfeitear, o mundo leonino abriu a boca de espanto. Sabendo-se que do outro lado estava Marafona, um reputado especialista em defesa de grandes penalidades, as apostas pendiam para o favoritismo do Braga, mas o guarda-redes brasileiro foi o elemento de surpresa ao parar 3 remates (Ricardo Horta, Murilo e Ryller) e dissuadir outro (Paulinho, remate ao poste). O Sporting apurava-se assim para a final da Taça da Liga. No jogo decisivo, quis o sortilégio que novamente tudo se decidisse por penáltis. Sambando em cima da linha de golo, Renan parou o remate de Hernâni e desviou da baliza com o olhar os remates de Militão e Felipe. O Sporting vencia a Taça da Liga.

 

Quatro meses depois, Porto e Sporting voltavam a encontrar-se numa final. Desta vez o palco era o Jamor, cenário do desenlace da Taça de Portugal. Os leões estiveram quase a fazer a festa no prolongamento, mas um golo tardio de Felipe restabeleceu o equilíbrio no marcador. Tudo se decidiria da marca dos 11 metros. Bas Dost começaria por falhar, Pepe imitá-lo-ia. Eis então que Renan pára o remate de Fernando (excelente estirada para a sua esquerda), possibilitando assim a Luiz Phellype resolver a contenda. Mais um troféu para o museu leonino. Feito o balanço, Renan nesses 3 jogos contribuiu com 5 defesas e viu outros 4 remates não atingirem o alvo, num total de 9 tentativas fracassadas dos adversários em 17 oportunidades, um rácio de sucesso de 53% para o guardião do Sporting, algo pouco usual quando falamos de pontapés da marca de grande penalidade.

 

Com excelentes reflexos entre os postes, a Renan faltará melhorar o jogo de pés e o preenchimento da zona entre a baliza e a linha defensiva, esta última na maioria das vezes disposta em bloco alto (deixando muito espaço nas costas que exige uma reacção do guarda-redes). Tal dever-se-á a já ter chegado tarde à Europa. No Brasil, devido ao calor, os jogos são disputados a um ritmo menos intenso. Em sintonia, a relva é deixada alta, de forma a que a bola não deslize muito rapidamente e se poupe no desgaste. Ora, este contexto não favorece a saída dos postes dos guarda-redes quando as bolas são metidas nas costas da defesa, pois a redondinha geralmente prende e eles podem ser surpreendidos a meio do caminho, ficando assim expostos a um chapéu ou uma finta.

 

De todo o modo, mesmo assumindo que ainda está longe da perfeição, creio que Renan merece continuar como titular das balizas leoninas. Não só por ser talismã nos mata-mata, mas também por dar pontos durante o campeonato. De facto, não foi por ele que perdemos a competição máxima do calendário português, mas foi muito por ele que conquistámos 2 títulos na época passada. E creio que, mais do que uma embirração muitas vezes motivada consciente ou insconscientemente por motivos políticos, Renan merece a gratidão de toda a nação sportinguista. Deve, por isso, iniciar a nova temporada como titular. Na certeza de que na sua rectaguarda se vai desenvolvendo o mais do que previsível futuro dono das redes leoninas: Luis Maximiano, mais conhecido por Max, a caminho de ser um SuperMax.

 

As nossas redes estão em boas mãos.

renanribeiro.jpg

26
Mai19

Tudo ao molho e fé em Deus - Gente feliz com lágrimas


Pedro Azevedo

No Jamor, o pré-jogo é tão ou mais importante do que o próprio jogo. Desde o meio-dia reunidos à volta da mesa, os convivas começam por atacar umas entraditas, assim a jeito de quem vai ao relvado fazer um aquecimento. Seguem-se umas gambitas, como quem estuda o adversário e esconde algumas energias para a batalha decisiva que far-se-á mais lá para a frente. Quando chega o leitão, a coisa fica mais séria, o confronto endurece e as armas estão todas presentes em cima da mesa. As pernas começam a fraquejar e a hidratação torna-se fundamental. Produz-se o oximoro: a mini maximiza a resistência ao calor. Vencido este jogo de parábolas, os convivas vão então ao verdadeiro jogo. E que jogo!

 

Anos e anos de desilusões tornaram o sportinguista prudente. Se o resultado é sempre incerto, o sofrimento é mais do que certo. Penso até que, futuramente, o kit para novos sócios deveria incluir um desfibrilador. (Just in case...) Nesse espírito, como quem tenta conter a projecção da felicidade, lá rumámos aos nossos lugares na bancada, descendo dos courts de ténis e passando a Porta da Maratona, tudo presságios daquilo que estará para acontecer mais adiante: um jogo com prolongamento e decidido num tie-break de penalidades. 

 

Devo dizer que a entrada em campo do Sporting foi surpreendente. Os leões rapidamente assumiram o jogo e remeteram os dragões para o seu meio-campo defensivo. Mas alguns handicaps cedo ficam a nu: um alívio despropositado de Bruno Gaspar oferece a Otávio a primeira grande oportunidade do jogo. O remate sai forte e colocado, mas Renan diz presente e resolve com uma grande defesa. O brasileiro abriu em grande e em grande viria a fechar o jogo. Bom, mas isso foi mais para a frente. Rebobinando, o Sporting respondeu de pronto e Bruno Fernandes obriga Vaná a uma boa parada. Até aos 20 minutos, o Sporting tem o controlo das acções, mas após esse período o Porto equilibra e até ganha algum ascendente. Raphinha tira tinta ao poste e, na resposta, Marega marca, mas está fora-de-jogo. Já perto do intervalo, Herrera recepciona a bola com o ombro(?), centra e Soares, de cabeça, coloca os pupilos de Sérgio Conceição na frente do marcador. O jogo está bom e agora é o Sporting que ataca: Bruno Fernandes recebe um passe de Acuña, remata, a bola ainda bate em Danilo e entra. Está reposta a igualdade, mesmo ao soar do gongo para o descanso.

 

Já na etapa complementar, o Porto é agora dominador. Logo de início, Soares acerta no poste direito de Renan, mais tarde Danilo visa o outro poste. Wendel ainda ameaça, mas o Sporting não consegue fluir o seu jogo. Keizer tenta brevemente implementar uma linha defensiva de 3 centrais, retirando Bruno Gaspar, fazendo entrar Ilori e avançando ligeiramente Acuña. Raphinha é agora lateral direito, com Diaby (mudou de flanco) à sua frente. O Sporting parece crescer com a nova táctica e leva perigo por duas vezes ao último reduto portista, mas a entrada de Dost para o lugar do maliano produz nova alteração no xadrez das peças, jogando agora o Sporting num 4-4-2, com Bruno Fernandes encostado à esquerda e Ilori e Acuña a preencherem as laterais. A custo, e com um SuperMat (a versão super-herói de Mathieu), o Sporting leva o jogo para prolongamento.

 

A primeira parte da prorrogação vê o Sporting a dar a volta ao marcador: uma bola perdida na área é aproveitada por Dost para rematar cruzado e sem hipótese de defesa para o guardião dos dragões. Mais uma vez, Acuña está na origem da jogada. O cansaço já é muito, o Porto ameaça, mas o público leonino embala a equipa com os seus cânticos. A vitória parece possível, vai ser possível, mas eis que o fado do leão se volta a manifestar e o Porto empata já depois da hora. 

 

Mais uma cambalhota no jogo e esta com marcas profundas na montanha russa de emoções vivida pelos adeptos sportinguistas. Do outro lado, os Super Dragões rejubilam, conscientes de que a vantagem psicológica passou para o seu lado. Nesse transe, o jogo vai para penáltis. Os leões confiam em Renan, o herói da Taça da Liga, a fé dos adeptos portistas reside na "igreja" Vaná. O início das penalidades confirma que o ascendente passou para os dragões e Dost falha ao tentar estrear uma nova forma de marcar a partir dos 11 metros. Parece que o Porto vai ganhar, mas Pepe acerta também na barra. Nada está perdido, mas também nada está ganho no momento em que os sportinguistas roem as unhas enquanto Coates se prepara para marcar o último penálti da série regular. O uruguaio tem um histórico de falhanços que não abona e muitos viram as costas à finalização. A coisa acaba por correr bem aos leões. Com 4-4, entramos naquela fase mata-mata. Fernando é o homem chamado por Conceição para bater. Renan voa e voa e voa e, num instante, abre asas aos sonhos dos sportinguistas. Agora, "só" falta o Felipe das Consoantes meter a bola lá dentro. Há quem chore, quem não queira ver, quem ganhe força agarrando-se frenéticamente a quem está mais à mão. Um estádio inteiro suspenso de um pontapé na bola. E é a redenção! O toque de Deus! Uma época que tinha tudo para correr mal, acaba em glória com a conquista de duas taças. Confesso que as lágrimas me escorreram pelos olhos no preciso momento em que vi a bola anichar-se no fundo das redes portistas. Feliz por mim, pelos meus companheiros de aventura epicurista, pelos milhares de sportinguistas presentes no estádio, pelos milhões espalhados pelo país e no estrangeiro. Gente feliz com lágrimas, título roubado a João Melo, será porventura a melhor forma de definir a catarse que os sportinguistas ontem viveram. Na hora H, o trauma por todos vivido há 1 ano esvaiu-se naquelas lágrimas e ficou para trás, e os sportinguistas reconciliaram-se consigo próprios e com o clube. Sim, o clube, a razão de ser de tudo isto. Não precisamos de mais nada. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Jeremy Mathieu, o SuperMat. Tal como indica a publicidade, ele é rápido, versátil e seguro. Destaques também para Renan (eu bem ia dizendo que ele estava muito sub-valorizado) e para o inevitável Acuña. 

final taça portugal.jpg

(fotografia: O Jogo)

04
Mar19

Tudo ao molho e fé em Deus - O condutor


Pedro Azevedo

Na física, um campo eléctrico é criado por cargas eléctricas ou por variação de campos magnéticos. As cargas eléctricas necessitam de condutores para se poderem deslocar. No Sporting, o Bruno Fernandes é esse condutor de electricidade da equipa no campo. Já o Gudelj é um isolante, nele não existe qualquer movimentação de corrente. Tal como um dínamo, ou o motor de um automóvel, Bruno é a fonte de alimentação que traz a corrente contínua a todo o circuito formado pela equipa leonina. A sua acção é constante ao longo do jogo, tal como a de Acuña ou de Mathieu. Por Tiago Ilori, por exemplo, passa uma corrente alternada, pois o sentido do seu jogo varia tanto com o tempo que chega a um ponto em que já não faz qualquer sentido.

 

Em tempo de Carnaval, o Sporting recebeu ontem uma escola de samba em Alvalade. Comandados por Paulinho, e com Tabata, Wellington e Lucas Fernandes em bom plano, o Portimonense, com 8 brasileiros no seu "onze" inicial, tentou pregar uma partida à equipa leonina. Porém, acabaria por ser outro Fernandes, Bruno de seu nome, a ser o Rei Momo. A sua marca ficou logo registada ao minuto 10, e em dose dupla: primeiro, serviu de trivela Raphinha para um remate defendido por Ricardo Ferreira para canto; de seguida, enviou do quarto de círculo um míssil que Diaby desviou para golo; finalmente, com a parte interior do pé direito, isolou Raphinha para o segundo da noite. Nada mal para aquele que cada vez um número mais reduzido de adeptos que certamente não aprecia o bom futebol continua a não querer perdoar, indo ao ponto de lhe atribuir um epíteto insultuoso. É que Bruno não é um verme, mas sim um Vermeer e, em duas pinceladas de génio, da sua cabeça (e pés) saíram umas composições inteligentes e brilhantes com que começou a ilustrar uma nova tela.

 

Os de Portimão não se ficaram e desataram a incomodar a baliza de Renan. Com facilidade iam ultrapassando Ilori, no solo ou pelos ares, embora sem consequências de maior, até que Renan, primeiro, e Mathieu depois, foram o pronto-socorro que evitou males maiores. Estimulados pela oportunidade, os algarvios viriam a reduzir diferenças, num lance em que Gudelj desligou a ficha e deixou a sua baliza em circuito aberto. Com o golo, o jogo ficou repartido e as oportunidades até ao intervalo sucederam-se a um ritmo frenético. Primeiro, foi Bruno (sempre ele!) a encontrar Raphinha solto na direita e este a deixar Diaby isolado na cara de Ricardo, após simulação e arrastamento de Dost, em lance ingloriamente desperdiçado pelo maliano. Depois, foi Renan o herói, e tal como Bruno em dose dupla, parando os remates consecutivos de Paulinho e de Wellington, sem que nunca Gudelj surgisse a pressionar o portador da bola ou a ajudar os seus defesas. De seguida, Lucas Fernandes enviou uma bomba que acertou na trave e ressaltou para cá da linha de golo, ficando a rabiar nas suas imediações. Finalmente, Bas Dost, servido por Bruno e isolado perante o guarda-redes adversário, voltou a ter uma falha eléctrica no seu cérebro, sintoma que não sabemos se estará relacionado com a leitura de algum relatório e contas.

 

No recomeço, o Sporting já não surgiu tão afoito, facto que também não permitiu as transições portimonenses. Ainda assim, os leões desperdiçaram inúmeras oportunidades. Assim, de cabeça, Diaby e Bruno falharam golos cantados. Mais tarde, com os pés, repetiriam o desígnio. Destaque, no entanto, para a jogada em que Bruno tirou dois adversários da frente e rematou de pé direito para uma enorme defesa de Ricardo Ferreira. Entretanto, ainda antes da hora de jogo, Dost deu lugar a Phellype. Keizer, no fim do jogo, justificou a decisão com a observação de que o seu compatriota não estava no jogo. Observação correcta, diga-se. Não que o brasileiro que o substituiu tenha trazido algo de especial ao jogo, para além do cartão amarelo da ordem. Eis então que Keizer colocou Doumbia em campo para nos mostrar que este é bem melhor que Gudelj e, provavelmente, o único jogador contratado este Inverno para a equipa principal do qual ouviremos falar (bem) no futuro. No entanto, não foi o sérvio a sair mas sim Raphinha. Uma lástima, pois o marfinense deveria jogar sempre e, tal como nos medicamentos, vir acompanhado da contra-indicação de não ser misturado com cidadãos dos balcãs. Com a substituição, o Professor Marcel pretendeu fechar o jogo, mas um algarvio não concordou e imbuído do espírito do entrudo deu uma martelada na cabeça do Bruno Fernandes dentro da área. Chamado a converter a penalidade, o Bruno sentou o guarda-redes com a paradinha e escolheu o lado por onde rematar com sucesso. Ainda houve tempo para a entrada de Francisco Geraldes, por troca com Wendel. O homem que mais aquece em Alvalade queria tanto tocar na bola que quando teve oportunidade agarrou-a (literalmente) com as duas mãos. O Capela não gostou e o Xico saiu do lance com um sorriso (e não só) amarelo. Nós também, no fim do jogo, pese embora tenhamos ganho, o que é sempre o mais importante. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes (who else? - médio com mais golos obtidos numa só época em toda a história do Sporting). Menções honrosas para Renan (3 defesas importantes), Mathieu (seguro, ainda teve tempo de ir à frente assistir Diaby para um falhanço) e Acuña (tem corrente para os 90 minutos). Raphinha e Diaby marcaram um golo cada, mas destacaram-se igualmente (mais o maliano) pela trapalhice com que abordaram alguns lances.

BFportimonense.jpg

11
Fev19

Tudo ao molho e fé em Deus - Echo da Feira


Pedro Azevedo

Só pude ver a primeira parte do jogo da Feira. Os Echo & The Bunnymen tocavam em Lisboa e o concerto era ainda longe do bairro onde moro, pelo que tive de sair de casa ao intervalo. Devo ter perdido a melhor parte, pois o que vi deixou-me à beira de uma ataque de nervos. Os jogadores do Feirense pareciam porcos-espinhos ("Porcupine") que os leões evitavam tocar, ganhando sucessivos duelos individuais e aproximando-se com perigo da nossa baliza. Nesse transe, os fogaceiros conquistavam alguns cantos a seu favor. De um deles resultou o golo feirense: Renan tinha Marco Soares à sua frente, não foi suficientemente efusivo a dar conta de ter sido estorvado na pequena área e a bola acabou por bater no "derrière" do cabo-verdiano e entrar. Porém, antes que eu pudesse esboçar uma sarcástica piada escatológica, o VAR interveio e aconselhou Manuel Mota a visionar o lance. Em sequência, o árbitro anulou o golo. Safámo-nos de boa, pensei eu, e logo troquei o sarcasmo pelo agradecimento a Deus ("Heaven up here"). Logo de seguida, novo canto e desta vez foi Renan, com uma defesa miraculosa, de puro instinto, a evitar que os de Santa Maria da Feira inaugurassem o marcador. Os feirenses, a precisarem de pontos, batiam em tudo o que vestisse de verde-e-branco e numa dessas jogadas Marco Soares mereceu ter ido a banhos mais cedo, após entrada fora de tempo ao tornozelo de Bruno Fernandes. Manuel Mota nem amarelo deu, enquanto Bruno se contorcia no chão com dores. A partida caminhava para o intervalo e a minha impaciência, sabendo que teria de sair, ia aumentando. Paralelamente, ia constatando que, mais do que falta daquele jargão futebolistico de "atitude", aos leões faltavam jogadores de qualidade extra para além de Bruno Fernandes e de Acuña (apesar de uma folha salarial de aproximadamente 70 milhões de euros por ano). Estava eu neste pensamento quando o maiato vê o argentino solto na meia-lua, endereça-lhe a bola e Acuña coloca a bola magistralmente nas costas da defesa feirense, onde apareceu Borja a centrar para um cabeceamento de Wendel que ainda tocou no braço de Briseño antes de encontrar o caminho da baliza de André Moreira. O Sporting desfazia o nulo no marcador em cima dos primeiros 45 minutos. 

 

O início da segunda parte ouvi-o já no carro. O locutor da Antena 1 dizia que agora o Feirense tinha mais posse de bola e comecei a temer o pior. De facto, os ecos que me chegavam de Santa Maria da Feira, via rádio, não eram de todo auspiciosos. Enquanto tentava imaginar o que se poderia fazer, o narrador recomendava a troca de Wendel por Idrissa, o qual estaria a aquecer. Subitamente, tudo se alterou: Diaby arrancou um centro da direita do nosso ataque e Bruno Fernandes foi fazer de Bas Dost e marcou de cabeça. Pouco depois, parei para apanhar uns amigos para o concerto no preciso momento em que Bruno se preparava para bater um livre. Perigoso, sugeria a minha companhia radiofónica. Bruno chutou e marcou e, de repente, tudo fez sentido na minha cabeça. É que este concerto dos Echo & The Bunnymen foi premonitório. Eu explico: o Echo inserido no nome da banda resultou do facto de inicialmente não terem um baterista, recorrendo assim a uma caixa de ritmos em sua substituição. Ora, quem marca o ritmo na equipa do Sporting é Bruno Fernandes, daí os ecos dos seus golos que me chegavam da Feira.

Os leões voltavam a ser leões, e não "Crocodiles" a arrastarem-se no terreno de jogo. Com o jogo resolvido, Bruno finalmente lá teve descanso e Xico pôde estrear-se. O Feirense ainda reduziria após uma displicência do brinca-na-areia Borja, mas isso já não importava, a nossa vitória já não fugiria. Lá entrei então para o concerto e o que é que estava no alinhamento? "The game"! Ah pois é, já dizia a Margarida Rebelo Pinto que não há coincidências... Obrigado Ian McCulloch. E, já agora, um pedido: não dá para virem a Lisboa todos os fins-de-semana? A malta do Sporting agradecia...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes (menções honrosas para Acuña e Renan).

bruno fernandes feirense.jpg

(Imagem: O Jogo)

04
Fev19

Tudo ao molho e fé em Deus - O acordeão


Pedro Azevedo

Há um equívoco no futebol do Sporting. Keizer tem uma (boa) filosofia de jogo, mas não tem jogadores para essa filosofia. (É como ter "queda" para as acrobacias e não ter rede onde cair.) Os centrais são lentos, e protegem-se não subindo no relvado. Com isso, quando a equipa estica e o adversário entra em transição, fica uma buraco no meio. O mesmo, quando tenta pressionar alto. Em suma, a música que tocamos é de acordeão: quando o fole alarga, tudo fica mais grave. 

 

Claro que não ajuda à festa jogar sem Acuña - lesionado ou poupado (para o Zenit) - ou Ristovski, da mesma forma que a ausência de movimentos interiores dos alas não é benéfica nem ajuda a ligar o jogo. Para não falar do modesto metro quadrado que para Gudelj é um latifúndio, ou da súbita apatia de Dost. Deste modo, torna-se difícil ganhar um jogo quando apenas Wendel, Bruno Fernandes e Renan estão minimamente à altura das circunstâncias. Nesse sentido, torna-se incompreensível que não se tenha aproveitado a reabertura de mercado para imediatamente ir buscar pelo menos 1 central veloz, em vez da prioridade dada a um avançado. É que Ilori - enfim, foi essa a opção e, do ponto-de-vista desportivo, não a vou criticar - chegou apenas em cima do Clássico. Também não se entende como Thierry Correia não voltou a ser chamado (após uma aposta inicial), quando Bruno Gaspar se tem sucessivamente mostrado curto para as exigências a este nível, e um lateral muito rápido (Lumor) - qualidade que poderia compensar a lentidão dos centrais -, e que poderia utilizar a sua aceleração para dobrar o eixo defensivo, foi emprestado. Com tudo isto, não sei se aproveitámos o Mercado de Inverno para arranjarmos soluções ou se, simplesmente, comprámos mais problemas, na medida em que acabam sempre por jogar os mesmos (mas os custos são de todos...). 

 

Hoje, o Benfica foi muito superior. E em nossa casa, o que tornou tudo um pouco mais humilhante. Na primeira parte então andámos completamente à deriva, sendo o resultado ao intervalo lisonjeiro face àquilo que foi a nossa actuação, algo que deveremos agradecer a Renan e a Bruno Fernandes, este último autor de um golo de belo efeito. O curioso é que os encarnados só tinham dois médios no centro, mas conseguiram sempre ter superioridade numérica nessa zona nevrálgica do terreno, aproveitando as transições para explorar o espaço que os leões iam dando, eles que durante esse período do tempo deixaram que a equipa se partisse em dois, com Gudelj e os centrais a terem de se haver com os movimentos frontais de João Felix e Seferovic, frequentemente apoiados pelas subidas de Grimaldo (Pizzi fechava), que beneficiou de uma ala direita do Sporting em fim de tarde desastroso. A equipa leonina não melhorou muito a sua organização no segundo tempo e o Benfica continuou a ser mais perigoso, razão pela qual obteve mais dois golos. No fim, vitória confortável do Benfica, num jogo aberto, com 6 golos, 2 golos anulados por acção do VAR (um fora-de-jogo e uma falta), duas bolas ao poste (uma para cada lado) e dois penáltis (um sinalizado pelo VAR). Uma vitória também da verdade desportiva e da implementação do vídeo-árbitro, que evitou um embaraço maior para as nossas cores (noutras circunstâncias teríamos perdido por 2-5).

 

Mas o mais rude golpe no coração de um leão, a nossa maior derrota, foi ver um menino vestido de vermelho fazer gato sapato da nossa defesa. Porque esse menino é um produto da Formação do Seixal e resulta de uma política desportiva definida pelo Benfica. O presidente do clube da Luz pode ter os defeitos todos que lhe reconhecemos, mas neste particular manteve-se firme numa aposta que outrora já foi uma bandeira verde-e-branca. E parece estar a ganhá-la. Já do nosso lado, Miguel Luís e Jovane foram subitamente sujeitos a um ostracismo que deixa várias interrogações. Acrescente-se o caso  de Francisco Geraldes, cuja proximidade do relvado se circunscreve a umas corridas de aquecimento, e o mistério adensa-se. Não digo que Miguel e Xico fossem titulares indiscutíveis, mas a verdade é que permitiriam dar mais descanso a Wendel e Bruno Fernandes, os quais ainda assim conseguem ser os melhores jogadores da equipa. Até admito que Geraldes possa não ser opção e não peço as 20 oportunidades que já foram concedidas a Bruno Gaspar, gostaria é que pelo menos fizesse 1(!) jogo completo. Depois, até poderíamos concluir que não está à altura... 

 

As dúvidas que nos inquietam não obtêm qualquer resposta da Estrutura do clube. Bem sei que "a alma é o segredo do negócio", mas... Como tantas vezes no passado, os sócios só são importantes nos momentos eleitorais. Passado esse período, o desrespeito é quase total. Agora, como num passado bem recente. Bem sei que tivemos limitações várias na construção deste plantel, que esta Direcção entrou em funções com o campeonato já em funcionamento e sem poder ir ao mercado, mas a verdade é que depois do sonho de umas noites de Outono estamos a cair numa realidade que não compreendemos na sua totalidade, onde a ruptura com o passado não é evidente.

O nosso presidente até pode ser um Egas Moniz da medicina, um Rambo das Forças Armadas portuguesas, um Bill Gates da gestão, mas e o futebol? Durante a campanha eleitoral, Varandas apresentou os seus conhecimentos do fenómeno futebolistico como uma mais-valia. Reconheço na sua equipa pessoas com capacidade, pelo menos nas áreas financeira e do marketing, mas uma boa gestão do futebol profissional é fundamental e ajuda a melhorar o desempenho de outras áreas. No entanto, as evidências parecem provar que, mais ainda do que um gestor para o futebol, aparentemente precisamos é de um técnico de investigação operacional, especializado em gestão de stocks (mais de 80 jogadores com contrato profissional na nossa folha de pagamentos) e em simulação de filas de espera (aparentemente, a Gertrudes na Academia está sempre com o sinal encarnado e não há passagens à equipa principal). E assim se vai esticando o acordeão...

 

P.S. Quarta-feira temos de dar a volta. Um leão nunca se rende. Força Sporting!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes (menções honrosas para Wendel e Renan).

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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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