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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

14
Fev23

O momento do Sporting


Pedro Azevedo

A equipa profissional de futebol do Sporting registou a sua décima primeira derrota na actual época desportiva. Num momento destes o normal é disparar-se em todas as direcções: presidente, treinador, jogadores e adeptos. Mas os adeptos não jogam, os jogadores fazem o que podem (e, se não podem mais, é porque não sabem e isso não é culpa deles), o treinador até já foi campeão e o presidente não acrescenta mas calado pelo menos tem marcado poucos auto-golos. Por isso, sendo certo que para cada problema deverá haver uma solução, o diagnóstico do problema não é assim tão claro que perspective encontrar-se facilmente o caminho que nos liberte das trevas, ou não há um grande e incontornável problema que esteja à vista de todos. Porque, desde logo, o que me parece é existirem vários pequenos problemas que, todos juntos, vêm contribuindo para colocar areia na engrenagem e estão na origem do resultado desapontante desta temporada. Desde logo, a falta de golos, o que pode ser atribuído à insistência do treinador com Paulinho. Mas também a profusão de golos encaixados, o que terá a ver com as características dos nossos jogadores de meio campo, menos intensos que os seus predecessores, e com a opção (da Direcção) de vender Matheus já depois de também ter alienado o passe de Palhinha. A venda de Matheus, e o timing em que ocorreu, conduziu Amorim no caminho da experimentação. As contratações menos conseguidas, também. Ora, dificilmente experimentação se coaduna com a alta competição, e isso tem um custo. É certo que o mês de Dezembro e a Taça da Liga chegaram a parecer o tempo ideal para se encontrarem as soluções alternativas mais correctas. Mas, em vez de convicções mais profundas, no novo ano multiplicaram-se as dúvidas, num constante entra e sai de jogadores que dificilmente contribui para a estabilidade de uma equipa. O que me leva a perguntar a mim próprio se algo de positivo se pode tirar de uma época assaz negativa. Na minha opinião, há. Desde logo é preciso que quem tenha mais responsabilidades reflicta sobre o processo. A falta de humildade (Amorim a não querer ver o óbvio) e a soberba (o presidente a chamar patetas a todos os que correlacionaram a saída de Matheus com o desenlace da época) conduziram-nos aqui, pelo que ou muda a atitude de quem dirige ou entraremos num caminho sem saída. Dentro disto, os jogadores serão os que terão menos responsabilidades, eles que até têm procurado adaptar-se às por vezes excêntricas opções do treinador: Inácio tem feito épocas quase inteiras a jogar de pé trocado na defesa, o lateral Matheus Reis fez-se central, Nuno Santos destacou-se a percorrer todo o corredor, Morita encontrou uma chegada à área até aí desconhecida no seu percurso, Arthur tanto joga a interior como a ala, Pote sobe e desce no terreno consoante as necessidades e humores do seu treinador. Como estar a pôr a culpa nos adeptos seria no mínimo tolo e qualquer estratégia de os usar para desviar as atenções seria quase criminosa (sim, há arruaceiros semi-profissionais, com os quais não há diálogo possível, mas não tomemos a nuvem por Juno), é a estas pistas que nos deveremos agarrar, reflectindo para o futuro. E é preciso a massa adepta sentir que essa reflexão está em curso, a começar no seu presidente, que deve interromper o seu silêncio e aparecer num momento destes para mostrar que tem consciência do momento que se vive e do resultado das opções tomadas. Falando para aqueles que serve, porque no dia em que não tiver ninguém a quem servir a sua função deixará de ter expressão. É esse aliás o grande perigo que emerge desta época: a desagregação. E o caminho de apontar baterias para sócios e adeptos, tantas vezes falaciosamente percorrido, não pode ser um caminho a seguir, a não ser que se pretenda deparar com o abismo. Claro que a resiliência de sócios e adeptos é importante numa hora difícil, mas então que isso seja pedido conjuntamente com uma reflexão consciente sobre o que nos trouxe aqui e sinais claros de mudança. Porque um Homem sem sonho não é nada, e um clube sem emoção à sua volta nada é. 

20
Jun19

Venha viver uma experiência radical - Um estádio "às moscas"


Pedro Azevedo

A Lei da Procura diz-nos genericamente que o preço e a procura estão inversamente relacionados. Quando o preço de um bem ou serviço sobe, o poder de compra diminui e os consumidores mudam para bens ou serviços mais baratos (efeito de substituição). Considerando o rendimento limitado, essa realocação de bens e serviços dependerá de preferências, restrições orçamentais e de escolhas, podendo ainda se dar o caso de o consumidor deixar simplesmente de consumir o tipo de bem ou serviço, especialmente se não for de primeira necessidade. 

 

Olhando para a última estatística disponível no site da Liga, verificamos que o Sporting teve uma média de 33 691 espectadores nos seus jogos em casa durante a temporada de 2018/19, o que corresponde a uma taxa de ocupação de 66,73%. Ora, não deixando de considerar que vários portadores de gamebox não compareceram a todos os jogos e que a taxa de ocupação não reflecte, como tal, o que foi realizado economicamente (apesar das "borlas" poderem compensar este valor), não deixa de ser notório que, em média, 1/3 do estádio não teve ocupação, com consequências óbvias em termos económicos, de apoio à equipa de futebol, na Cultura corporativa, identidade do clube, peso institucional, patrocínios, etc. Perante este cenário, dever-se-iam criar condições para que se aumentasse rapidamente a taxa de ocupação do estádio até à sua máxima capacidade, de forma a que, então sim, quando a optimização fosse atingida, se pudesse começar a manusear para cima a variável preço. Porém, a realidade da Gamebox 2019/20 demonstra o contrário, com particular incidência no sacrifício que é pedido às Famílias, por via do aumento significativo registado no escalão sub-11 (a que se pode acrescentar a realidade dos dias de hoje, em que os jovens ficam até mais tarde em casa dos pais e deles são dependentes até pelo menos terminarem os estudos universitários - por volta dos 23 anos - e entrarem na força laboral, o que aumenta os encargos das Famílias). 

 

Antes de mais, e com o estádio ocupado a apenas 2/3, não faz sentido os preços aumentarem. Isso quanto muito poderia em teoria fazer sentido se a subida do preço viesse acompanhada de um aumento de produção de lugares - o que num estádio de futebol é impossível dado que a sua capacidade é limitada (a não ser que fosse proposto cobrir o fosso com mais espaço de bancada) - , ou uma melhoria de produção de eventos, do tipo de uma presença na Champions, algo que infelizmente também não acontecerá. Adicionalmente, do ponto-de-vista político, é uma medida impopular, inoportuna e imprudente, o que julgo não carecer de explicação. Finalmente, analisando pelo prisma da Cultura sportinguista, oferece-me dizer o seguinte: vários anos de ausência de títulos relevantes produziram uma diminuição da militância, mas, curiosamente, não causaram erosão sensível na base de apoio de simpatizantes, adeptos e sócios, tendo estes últimos, inclusivé, vindo a aumentar nos últimos anos. Tal deveu-se em boa parte a um factor distintivo dos sportinguistas: a capacidade que os pais têm tido de passar o amor ao clube aos seus filhos, de uma forma estóica e resiliente, o que tem permitido manter o impacto social do clube. Ora, em minha opinião, esta subida de preços mais sentida no escalão sub-11 é contraproducente a vários níveis, na medida em que em vez de estimular o reforço da presença do agregado familiar no estádio (com consequências positivas até no ambiente nas bancadas, recuperando tempos idos e diversificando o entusiasmo por diferentes sectores do estádio) acabará por o mitigar, porque obrigará em muitos casos a um "downgrade" de lugares com o impacto que isso tem em termos de curva de satisfação e experiência Sporting e, finalmente, porque nalguns casos pais e filhos trocarão o lugar na bancada por um lugar no sofá junto ao televisor, por a taxa marginal de substituição de satisfação do progenitor não pressupor a vantagem de ir à bola com o filho em detrimento de abrir mão de lugares de Categoria 1/2, por exemplo.

 

Há quem use o argumento de que alguns sócios compravam gamebox em nome dos filhos e iam eles aos jogos. Krugman e Wells levantaram a questão de se saber se os indivíduos na busca do seu interesse próprio contribuiriam para o interesse da sociedade no seu conjunto e o caso referido parece indicar que não, mas isso são questões que se deverão resolver com regulação (no caso, fiscalização à entrada através de cores de cartões diferenciadas).

 

Gostaria de terminar, com um reparo ao folheto de promoção do Cartão Gamebox que me chegou às mãos ontem. Nele está contida uma relação explícita entre o amor ao clube e os números que marcam a relação, como se tudo o que conta pudesse ser contado. Há mesmo uma alusão à "dimensão do teu amor". Eu acho triste esta mensagem que poderá não ser muito bem recebida por quem seja sócio há pouco tempo, tenha gamebox há poucos anos, ou seja simplesmente um simpatizante, pois há aspectos que vão desde a distância geográfica, idade, doença, disponibidade profissional, situação financeira, entre outras, que são condicionantes mas em nada prejudicam o amor ao clube. Até estou perfeitamente à vontade dada a minha ligação longa de sócio e portador de gamebox, mas deixo aqui uma nota em jeito de conselho para quem queira ouvir: os sócios são o maior activo do clube. Estes são movidos pela paixão, independentemente das suas circustâncias pessoais. Pensem nisso, no que esses sócios podem dar ao clube e, em primeiro lugar, envolvam-nos no dia-a-dia através de uma Comunicação sóbria, elucidativa, inspiradora e virada para dentro. Depois, sim, um sócio feliz, o elo emocional, a compra por impulso trará o cliente, o qual mais facilmente visitará a Loja Verde se for ao estádio (e menos resistirá ao consumo perante um pedido expresso de uma criança). Ver as coisas ao contrário, no momento débil em que nos encontramos, em que precisamos de nos focar no que nos aproxima e não no que nos afasta, não é muito auspicioso.  

 

P.S. Seja como for, podendo haver quem legitimamente conteste o arrazoado que aqui deixo, creio que numa coisa estamos todos de acordo: este tipo de alteração de preços nunca deveria ter acontecido sem a explicação do seu "porquê". Infelizmente, no Século XXI, continuamos a ter empresas a comunicar o que fazem, como fazem, esquecendo-se da razão das coisas. É que o porquê das coisas é que cria a ligação emocional no sócio, quiçá cliente. No caso concreto, esta subida de preços deveria ter sido acompanhada de um discurso galvanizador do tipo do de Kennedy nas portas de Brandenburg, mas que simultaneamente mostrasse consciência (acusasse a recepção) do sacrifício que se está a pedir às pessoas.

P.S.1. O título deste texto é obviamente provocativo, única e exclusivamente com o propósito de fazer reflectir quem tem responsabilidades no clube. A minha renovação de gamebox será feita como habitualmente. E estou certo que a maioria dos portadores de gamebox tentará, consoante as suas possibilidades, se adaptar.

P.S.2. Um sub-23 (sub-11 também) que compre um lugar de época junto às claques (Categoria 6) gastará cerca de metade do que se acompanhar o seu pai num lugar de Categoria 1/2. Depois admirem-se. Dado todo o histórico recente, não deveríamos ter um Pelouro da Juventude que estudasse estas questões, que aumentasse a oferta aos nossos jovens em vez de a tornar mais redutora, mais própria de um "guetto"? O momento que o clube viveu muito recentemente não nos deveria prestar particular atenção ao segmento mais jovem?

P.S.3. Paralelamente, e atendendo às alterações demográficas em Lisboa, que trabalho está a ser desenvolvido para seduzir os milhares de residentes não-habituais (gamebox) e de turistas (bilhética jogo-a-jogo) com que esbarramos diariamente? Não faria sentido uma campanha de charme junto de embaixadas, consulados, câmaras do comércio, hóteis, etc? 

 

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