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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

12
Mai19

Tudo ao molho e fé em Deus - Adeus à Champions


Pedro Azevedo

O jogo começou com os acordes de "O mundo sabe que..." ainda a serem entoados, algo infelizmente tão comum como o Ristovski ser expulso na véspera de uma partida contra outro grande do futebol português.  

 

Logo de início, o Borja atrasou uma bola à balda. Mathieu ainda tentou estorvar o mais que pôde, mas já não conseguiu evitar que frente a frente ficassem os dois jogadores mais subvalorizados desta Liga: Tomané e Renan. Venceu o duelo o nosso guarda-redes, tocando a bola miraculosamente para canto. 

 

Aos 4 minutos, o Ristovski apareceu solto na direita do ataque e centrou para o Acuña rematar. A bola saiu meio prensada, mas o Luíz Phellype, na pequena área e de costas para a baliza, conseguiu dominá-la. Quando se ia virar, o Ricardo Costa puxou-o e Tiago Martins assinalou o castigo máximo. Chamado a converter, Bruno Fernandes marcou como de costume, o 32º golo da sua conta pessoal esta época.

 

Um jogador do Sporting foi apanhado em fora de jogo e, seguindo as recomendações, o auxiliar deixou seguir. O comentador da SportTV, um tal de João Aroso, ficou incomodado. Segundo ele, o adiantamento era tão evidente que deveria ter sido logo levantada a bandeirola. Tendi a concordar. [O pior veio depois: já na segunda parte, um jogador do Sporting foi apanhado milimétricamente em fora de jogo e o auxiliar prontamente sancionou. João Aroso voltou a aplaudir e eu fiquei de pé atrás. Foi só esperar mais um pouco para que a cena se repetisse, só que agora estando Wendel perfeitamente em jogo. Desta vez, Aroso não falou.]

 

O jogo ia caminhando para o intervalo. Borja acumulava faltas e ofensivamente mantinha-se fiél ao "inconseguimento" da Assunção Esteves. Eis então que Ristovski aparentemente dá um pisão a um tondelense. (Um indivíduo subscreve um canal pago para depois ter acesso a umas imagens que mais parece terem sido filmadas de Marte.) Ora, como toda a gente sabe, o pisão tem uma medida de intensidade variável, com uma força aplicada máxima em Alvalade e mínima no Dragão e na Luz. Vai daí, o Tiago Martins expulsou o (C)risto, o qual chegou assim à terceira estação da sua Via Crúcis. E só não foi penálti porque o Tomané antes tinha ajeitado a bola com o braço, pelo que o jogo estava interrompido. Com 10 em campo, o Keizer decidiu mandar o Borja continuar a fazer miséria, mas agora na lateral direita. Recuou o santo do Acuña para a lateral esquerda...

 

A etapa complementar começou com o Tondela mais afoito e, lançado por Tomané, Delgado falhou escandalosamente o cabeceamento. O mesmo jogador, logo de seguida, agarra Acuña e impede-o de progredir rapidamente para o ataque. Já com um amarelo, Tiago Martins perdoa-lhe a expulsão. Junto à linha, com um sorriso irónico e braços abertos, não é difícil imaginar o que vai no pensamento de Keizer: "this s**t is a joke (part II)". O Sporting está na sua melhor fase do jogo e Bruno Fernandes (lançado por Raphinha), primeiro, Luíz Phellype (assistência de Acuña), depois, e Mathieu (outra vez Raphinha) perdem o duelo contra Cláudio Ramos, o guardião tondelense. O jogo está partido, Borja não acerta uma, Gudelj está desgastado, mas o Tondela, nervoso, não consegue ligar o jogo, pese embora a entrada de Xavier tenha melhorado a equipa.

 

O Tondela deposita esperança num canto e acaba por ser feliz: num duelo aéreo de Brunos, o Monteiro bate o Fernandes e toca a bola para a entrada da pequena área onde aparece Tomané a desviar para a baliza. Keizer decide mexer, trocando Borja por Ilori, mas nada de substancial se altera. Manda então Bas Dost - amarelado no banco na sequência de uma simulação de um jogador do Tondela não sancionada disciplinarmente pelo árbitro - para o campo, por troca com Wendel. Com Bruno à direita, Raphinha à esquerda, Luíz Phellype e Dost no centro do ataque, o Sporting cria novamente perigo, mas eis que o treinador holandês volta a mexer, tirando o ponta de lança brasileiro e colocando Diaby. Foi o canto do cisne! Se o meio-campo já não tinha tracção, pior ficou. Em vez da troca de Gudelj por um fresco Doumbia, a entrada do maliano acentuou a clareira na nossa zona defensiva. Malgrado o esforço de Mathieu, obrigado aos 35 anos a fazer piscinas acima e abaixo de forma a ligar o jogo dos leões, o Tondela pôde então encontrar espaços para circular a bola e só por ansiedade não causou mais perigo. Ainda assim, num livre soberbamente executado por Xavier, Renan brilhou com uma das melhores defesas deste campeonato. Noutra ocasião, um desvio milagroso em Acuña evitou o pior.

 

E assim, ingloriamente, o Sporting despediu-se pelo seu próprio pé da edição da Champions de 2019/20. O bom senso recomendaria poupar alguns jogadores nucleares (Bruno, Acuña, Mathieu, Raphinha) na última partida do campeonato, guardando-os para a final da Taça e evitando aquelas contrariedades que se costumam abater sobre nós antes dos jogos decisivos. Enfim, pode ser que chegue finalmente a oportunidade de Francisco Geraldes.

 

Meus caros, é tudo por hoje. Vou imediatamente deitar-me, antes que o Piscarreta me entre pelo ecrã da televisão adentro e me provoque uma insónia daquelas...

 

P.S. Uma pergunta: o que é que os sapientíssimos "Scouters" do futebol português, que substituiram os antigos Olheiros, não vêem em Tomané?

 

Tenor "Tudo ao molho...": Acuña. Boas exibições também de Raphinha e Mathieu. Entrevistado no final do jogo, o francês disse que queria "seguir" por cá. Nós, adeptos, também queremos seguir com ele.

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06
Mai19

Tudo ao molho e fé em Deus - Killer Instinct


Pedro Azevedo

Em Manhattan, as ruas não têm nomes mas sim números. No Jamor, a equipa da casa também não tem nome. E hoje o Sporting deixou-a feita num oito. É o que geralmente acontece no futebol quando, de um lado, se reúne uma equipa com tendências suicidas e, do outro, uma (finalmente!!!) com "killer instinct".

 

Silas será, porventura, um treinador para equipa "grande", com guarda-redes, defesas e médios com qualidade técnica superior que garanta alta eficácia de passe perante o risco iminente. Numa equipa média, tal ambição assemelha-se a praticar trapézio sem rede e a queda pode ser bem dolorosa. Ainda assim, os azuis estão fora de perigo, no nono lugar da tabela classificativa, sinal de que a estratégia serviu para o nosso campeonato, facto digno de realce num clube (SAD?) com as dificuldades por todos conhecidas.

 

Num final de tarde triste para Muriel, acabou por ser Guilherme, o seu substituto, a "pagar as favas" (são verdes...). Tudo começou quando aos 4 minutos o guarda-redes brasileiro arriscou um passe para Eduardo, que estava pressionado por dois adversários. Da perda de bola subsequente resultou, primeiro, um remate de Raphinha que encontrou Luíz Phellype (deitado) no caminho da baliza e, depois, um chuto de Bruno Fernandes salvo sobre o risco por Cleylton. Em condições normais, tal seria considerado um aviso. Acontece que, 6 minutos depois, Muriel repetiu a gracinha e agora com consequências bem mais gravosas para a sua equipa: Raphinha interceptou a bola, iludiu um defensor contrário e rematou de pé direito para o primeiro golo do jogo. (Ou como uma ideia de sair a jogar se transforma em hara-kiri.) 

 

Se as coisas já não estavam a correr bem a Muriel, ainda viriam a piorar: Bruno Fernandes e Raphinha combinaram para aplicar na prática o enunciado da Lei de Murphy e o guarda-redes acabou expulso. Silas alterou o seu 3-5-2 para um 4-4-1, fazendo sair um dos centrais e baixando os alas para posições defensivas, a fim de que pudesse entrar alguém para a baliza. Em cima do intervalo, Bruno Fernandes, com um toque de magia (calcanhar), serviu Luíz Phellype para o segundo golo dos leões, o sétimo do brasileiro em seis jogos consecutivos a marcar.  

 

No início da etapa complementar, o Sporting abrandou um pouco o ritmo. Os azuis ameaçaram e à segunda tentativa reduziram o marcador. Mas estava escrito que o dia não seria bom para os pupilos de Silas e, para prová-lo, nada como Gudelj finalmente mostrar a sua lendária, dir-se-ia até hoje mitológica, meia distância, ainda que para tal tenha beneficiado de uma carambola digna do Mundial de Snooker que se está a disputar em Sheffield, Inglaterra. Com o golo sofrido, os azuis definitivamente baixaram os braços. Já desorientados, de uma bola perdida na sua área viria a resultar um penálti desnecessariamente cometido sobre Luíz Phellype. Na conversão, Bruno Fernandes marcou o seu primeiro da tarde. Com 20 minutos ainda para jogar, o Sporting manteve a pressão, revitalizando o miolo do terreno com a entrada de Idrissa Doumbia para o lugar de um pouco intenso Wendel. Bas Dost preparava-se para ir a jogo, mas o Felipe das Consoantes não abandonaria o campo sem deixar pela terceira vez a sua marca no jogo, interpondo-se entre um defesa e o guarda-redes adversário e servindo em bandeja de prata Bruno Fernandes para novo golo. Mal entrou, o holandês marcou: nova bola perdida pelos azuis no seu meio-campo e Bruno Fernandes a servir Dost, o qual marcou à segunda. Depois, Acuña centrou da esquerda e Bruno Fernandes, sem deixar a bola cair, completou o hat-trick, obtendo o seu 31º golo da época, um record europeu para um médio. A partida não terminaria sem que Doumbia se estreasse a marcar - aventurou-se em caminhos que para o colega sérvio seriam o Cabo das Tormentas -, após assistência de Diaby (e belíssima simulação de Dost), na sequência de um passe de ruptura de (quem mais?) Bruno Fernandes (31 golos, 18 assistências, participação importante em outros 16 golos, ou seja, influência em 59,6% dos golos do Sporting). Foi o 109º golo da temporada, marca que suplanta os 108 golos da última temporada de Jorge Jesus, quando ainda faltam 3 jogos para terminar esta época.

 

Em conclusão, na jornada em que deixou de ter hipóteses matemáticas de ganhar o campeonato, o Sporting registou a sua vitória mais robusta da época. O "killer instinct" tão arredio ao leão rampante - na década de 90 já Bobby Robson se queixava da sua ausência - acabou por se manifestar de forma exuberante, algo inimaginável num campo onde o mais que provável futuro campeão nacional perdeu por dois golos de diferença (na Luz, o Benfica também não bateu o Belenenses SAD). Uma pequena compensação e mais uma demonstração do sortilégio do futebol, a fazer-me lembrar um outro 8-1, ao Braga, que há 35 anos atrás presenciei no antigo José de Alvalade. Dia 25 voltaremos ao Estádio Nacional, na esperança de que desta vez não haja um (J)amor de perdição que tudo deite a perder. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes. Menções honrosas para Luíz Phellype e Raphinha. Destaque especial para o regresso de Bas Dost (1 golo). 

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28
Abr19

Tudo ao molho e fé em Deus - O Castro e o ferro


Pedro Azevedo

Durante um quarto de hora, o Sporting abdicou de se acercar das muralhas do Castelo de Guimarães. A tarde, soalheira, convidava mais à praia do que a batalhas castrenses e um Sporting invulgarmente contido preparava o engodo para adormecer os vimaranenses. Propositadamente, ou devido aos ajustamentos necessários à integração de um novo elemento (Doumbia) numa zona vital do terreno, a equipa mantinha-se na expectativa. Entretanto, o Vitória tinha a ilusão de que controlava o jogo e ia trocando a bola de pé em pé. Convencido de que a melhor defesa é o ataque, o líder vimaranense ordenara aos seus guerreiros para atacar o último reduto leonino e Davidson esteve à beira de causar danos profundos, não fora um mau domínio no momento decisivo quando já só tinha Renan pela frente. Sentindo o perigo, os leões iniciaram a exploração do espaço nas costas do adversário. Primeiro desastradamente através de Diaby, um homem lançado brilhantemente por Keizer para criar no adversário a utopia de que nada tinha a temer. Sem que os de Guimarães o pudessem sequer imaginar, em pouco tempo o Sporting transformaria o castelo em ruínas arqueológicas dignas de um Castro. Como sabem, um Castro é típico da idade do ferro e Raphinha, Bruno Fernandes e Phellype substituiram o Carbono-14 nos testes ao metal. Pressentindo que os vimaranenses estavam datados, os leões atingiram pela primeira vez o seu coração, contando para isso com a colaboração de um observador independente - não vislumbrou uma manobra irregular fora da sua área do argentino Acuña - e de um cavalo de tróia, o antigo vitoriano Raphinha (autor do 100º golo do Sporting na temporada). Antes de uma breve trégua retemperadora de 15 minutos, tempo ainda para Phellype realizar o quarto e último exame ao ferro.

 

Reatada a batalha, Bruno Fernandes voltou a ameaçar as muralhas de Guimarães. Seria o presságio para o que viria a seguir: Raphinha dançou à porta do castelo, iludindo dois vimaranenses que a protegiam, e permitiu a Phellype finalmente arrombar a casa da guarda, a sexta vez que o faz perante cinco oponentes consecutivos diferentes.

Os vitorianos não desistiram e Keizer voltou a ser brilhante, trocando o inoperante Diaby por um hesitante Borja, um colombiano que a cada arrancada de 10 metros pára a fim de se interrogar sobre a condição humana, regressando de seguida ao local de partida. (Ao contrário do maliano, que denota inteligência nas movimentações mas tem assim um género de produto cerâmico em forma de paralelepípedo, vulgo tijolos, nos pés, o lateral que veio de um clube mexicano tem boa relação com a bola mas, das duas uma, ou parte para as jogadas de ataque com 1906 possibilidades no seu cérebro, e depois baralha-se e entra em convulsões com tanta opção, ou não tem nenhuma ideia, parte à aventura, e depois logo vê o que pode ou não improvisar, sendo que, seja qual fôr a hipótese mais credível, o resultado tem sido, em regra, a inconsequência.)

Claro que tudo isto fez parte de uma estratégia de disuassão do técnico holandês, servida para dar ao adversário a ilusão de que teria os leões na mão. A verdade é que os vimaranenses voltaram a morder o isco, mas o cansaço de Wendel - com a tarde quente e os 30 minutos que esteve a aquecer, Miguel Luís já estava em ponto de ebulição quando entrou em campo - , Bruno e Raphinha impediu que não ficasse pedra sobre pedra no castelo do Guimarães. Na senda da oportunidade aos jovens da nossa Formação, ainda houve tempo para o salomónico Keizer dar também 1 minuto a Jovane, o que a julgar pelo que tem acontecido a Xico Geraldes deve ser entendido como um presságio de que o cabo-verdiano deve ficar fora dos convocados na próxima semana. No final, nona batalha consecutiva ganha pelos leões. Como em tempos pediam os madridistas: venha a décima!

Em resumo, uma tarde bem passada, e se muito aqui se falou do ferro, dado o sol que incidiu sobre as bancadas também o bronze se tornou inevitável. ( "O ferro e o bronze" porventura seria um título mais apropriado para esta crônica.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Raphinha. Menções honrosas para Bruno, Phellype e Doumbia.

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16
Mar19

Tudo ao molho e fé em Deus - Pobreza franciscana


Pedro Azevedo

Como que para provar que na vida não há concidências, o Sporting recebeu ontem um clube que no seu nome evoca Santa Clara (Chiara d`Offreducci, seguidora da São Francisco de Assis) e realizou um jogo de uma pobreza franciscana, no fundo a mesma a que parece confinado outro Francisco, o Geraldes, em termos de utilização na equipa, ele que só por milagre não estará destinado a ter de ir pregar itenerantemente por outras freguesias o seu futebol, visto que em Alvalade só o deixam pregar gameboxes. 

 

Este foi mais um jogo iniciado sem um único jogador da nossa Formação no "onze" titular, o óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues, que expõe a contradição entre um dos dois motivos (aposta na Formação/futebol positivo) enunciados por Frederico Varandas para a contratação do senhor Keizer e aquilo que se passa na prática. Ora, isto seria matéria suficiente para o senhor presidente confrontar o treinador holandês com os factos e ser ele próprio interrogado pelos sócios sobre a opção que tomou, pelo que, à cautela, nada melhor do que colocar um ovo de Colombo em cima da mesa e dizer que a nossa Formação não tem qualidade. Assim, iliba-se de uma só penada presidente e treinador e ganha-se tempo. Ah, a imagem do clube? Não há problema, logo de seguida renova-se com uma dúzia de jovens jogadores. O clube está com uma situação de tesouraria crítica e compromete o fair play financeiro (palavras de um administrador da SAD no Jornal Sporting)? Nada de mais, venha um carregamento de uma dezena de jogadores contratados no Inverno, todos eles certamente provenientes de bem mais excelsas escolas de formação e melhores do que os jovens dos sub-23. É só mais uma voltinha de um carrossel já antigo em que craques como Ronaldo, Figo, Simão, Quaresma, Hugo Viana, Bruma, Dier, João Mário, Adrien, William, Rui Patrício, et caetera, foram vendidos e ainda assim os resultados acumulados da SAD são francamente negativos e os seus capitais próprios encontram-se inteiramente diluídos. Entretanto, a Formação do nosso vizinho do lado, cheia de Jotinhas, até já levanta Ferro e sente-se Felix apoiada por Bruno Lage, enquanto os miúdos anseiam por ser os Bernardos e os Cancelos de amanhã, aqueles que tinham que "nascer 10 vezes" no tempo do outro senhor. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades... 

 

Keizer fez-nos acreditar numa laranja mecânica de onde se conseguiria extrair um intenso sumo, mas actualmente o futebol do Sporting assemelha-se mais a um limão gasto e todo espremido à mão. O encantamento outonal foi substituído pela alegria dos cemitérios de um futebol sem chama e pouco pressionante, com várias situações que escapam à compreensão do adepto comum, desde os dedos apontados a Nani até ao estranho eclipse de Bas Dost, passando pelo degredo de Jovane ou Miguel Luís. Adicionalmente, agora que o calendário já não está carregado, não se justificam exibições tão frouxas. 

 

Ontem, de destacar, a estreia positiva a titular de Doumbia, um jogador claramente com mais tracção à frente do que Gudelj, embora tenha ainda pormenores, nomeadamente de posicionamento defensivo e de ligação aos centrais para prosseguir a construção de jogo, a corrigir. A espaços Mathieu, Acuña e Bruno Fernandes (o melhor jogador deste elenco) mostraram a sua qualidade top, tendo os dois últimos sido providenciais no golo da vitória (um misto de "ratice" sul-americana e trivela não-sérvia), mas foi Raphinha o melhor em campo no meu entendimento (e não só por ter marcado). O ex-vimaranense foi protagonista quase exclusivo dos poucos desequilíbrios provocados nos açorianos, os quais se apresentaram compactos, reduziram espaços aos leões e, com o tempo, foram ficando mais afoitos, ao ponto de terem criado as melhores oportunidades de golo do jogo. Sendo frio e racional, ganhámos três pontos e continuamos a correr por fora. Enquanto houver vida no campeonato, temos de manter a esperança.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Raphinha

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10
Mar19

Tudo ao molho e fé em Deus - VARdade?


Pedro Azevedo

O Sporting apresentou-se no Bessa com 5 bebés lançados por Keizer. Ah, não? Desculpem, últimamente ando a ler muita ficção científica. O Record, conhecem? Também não se pode levar a mal o jornal, afinal só se enganaram no "careca". Tal como nós. É que se um treinador do Sporting tivesse lançado esses jovens anteriormente no Ajax, então chamar-se-ia Peter Bosz e provavelmente os leões hoje não teriam jogado (substitutos incluidos) sem um único jogador proveniente da sua Formação

 

No xadrez boavisteiro, o Sporting apresentou-se sem uma das suas Torres (Bas Dost). Uma Torre do Tombo, dado o seu desempenho em 2019, mas que de alguma forma encerra em si os pergaminhos de anteriores equipas do Sporting Clube de Portugal, algo que não se viu naquele peão contratado no Inverno que hoje foi a jogo, incapaz de segurar uma bola na zona de ataque, o que conjugado com a desinspiração de Wendel e a falta de apoio de Gudelj fez com que Bruno Fernandes tivesse ficado isolado no miolo, pelo que as nossas jogadas se desenvolveram exclusivamente pelas alas, não havendo penetrações centrais.

 

O jogo começou praticamente com o golo do Boavista. Aos 3 minutos, o Felipe das Consoantes foi até à área leonina mostrar o seu bom jogo de cabeça e daí resultou o golo axadrezado. Levantaram-se dúvidas sobre a posição de Neris - sozinho na pequena área, porque Ristovski deslocou-se para um espaço onde já estava Coates - , mas o VAR manteve a decisão da equipa de arbitragem liderada por João Pinheiro. Durante algum tempo a equipa leonina pareceu de cabeça perdida, com Gudelj literalmente a mostrá-lo após choque com Gustavo Sauer, uma estreia nos do Bessa que deixou muito boas indicações. De seguida, Borja foi tentar compensar a sua defesa, mas acabou ultrapassado por Sauer em lance que terminou com uma defesa de Renan para canto. Um canto que se desdobrou em vários e que terminou com uma involuntária assistência de Coates que miraculosamente não apanhou um boavisteiro no caminho para a baliza. Eis então que Raphinha vai formoso pela direita, ganha a linha de fundo, centra e Edu Machado tenta interpor-se entre Acuña e a sua baliza, acabando por desviar a bola na direcção errada, com o argentino ainda a tocar ao de leve na bola antes de esta passar a linha de golo. O Sporting reequilibrava os pratos da balança, numa altura em que o nosso jogo era monocórdico e consistia em centros razoáveis de Borja para a molhada. Até que um livre marcado por Bruno Fernandes, e desviado por Raphinha, encontrou Luíz Phellype ao segundo poste, sozinho. Cabeceamento do brasileiro e gol...ahhhh...ao poste. Incrível! Phellype, a 2 ou 3 metros da baliza, não fez golo. Logo de seguida, Raphinha marcou de cabeça, mas o árbitro auxiliar, primeiro, e o VAR, depois, anularam o golo, em lance com algumas semelhanças com o golo validado ao Boavista. As notícias não eram boas, mas até ao intervalo a esperança renasceria, nomeadamente quando Gudelj viu um amarelo e ficou impedido de participar no próximo jogo. Soa a Divina Providência, não é? Tempo ainda para Coates fazer de ponta-de-lança (não há um nos Sub-23?) e cabecear a rasar o poste de Bracali, após livre marcado na direita por Acuña. 

 

O segundo tempo iniciou-se com um elaborado gesto "técnico" de Gudelj, uma "pentavela" - trivela com dedo (a mais) de sérvio - em que a bola foi aceleradamente "de vela" directamente pela linha lateral, deixando os adeptos com muitos nós na cabeça. Coates voltou a ir à frente mostrar como se faz, mas a bola teve o mesmo destino da primeira vez. Eis então que, num momento desconcertante, Ristovski tirou um centro de sonho que embalou Phellype para um sono profundo, perdendo-se outra grande oportunidade. Logo de seguida, bicicleta de Bruno e grande defesa de Bracali. Keizer mexeu, entrando Diaby e Doumbia e saindo Borja (recuou Acuña) e Wendel. O marfinense mostrou instantaneamente a sua categoria, saindo da zona de pressão com destreza assente em velocidade e poder de finta, embora jogando mais adiantado do que o costume, mas o maliano foi mais ou menos igual a si próprio, ou seja, uma nulidade. Até que, quando tudo indicava que teríamos a "reprise" do acontecido na Madeira, já em tempo de compensação João Pinheiro viu uma pseudo-agressão a Raphinha na área axadrezada. Penálti, conversão como habitual de Bruno e três pontos sacados no Bessa, uma compensação que promete vir a ser ruidosa para uma silenciosa disparidade de critério disciplinar nos jogos que envolvem o Sporting.

 

A missão do Sporting assemelha-se cada vez mais ao Algoritmo do Caminho Crítico. Neste, há um tempo para cumprimento de um conjunto de tarefas. Para este ser cumprido, é necessário que as várias tarefas intermédias não se atrasem. Ora, esta equipa leonina continua a não evoluir por laborar num conjunto de erros que atrasa a sua progressão. Geraldes vai assistindo do banco, não podendo assim contribuir para a necessária rotatividade do plantel, Miguel Luís anda desterrado nos Sub-23, situação incompreensível e que até terá custado a titularidade do promissor Matheus Nunes nos últimos dois jogos do escalão, e Doumbia continua à espera de Godot, que é como quem diz desesperando, pois o nosso Keizer está a corporizar muito bem o espírito que norteou a obra de Samuel Beckett. Eu cá gosto mais do Elia Kazan e confesso que o amarelo que Gudelj viu hoje soube-me a "um eléctrico chamado desejo". Uma boa semana para todos!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Raphinha. Boas prestações também de Mathieu, Coates, Acuña e Bruno Fernandes.

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04
Mar19

Tudo ao molho e fé em Deus - O condutor


Pedro Azevedo

Na física, um campo eléctrico é criado por cargas eléctricas ou por variação de campos magnéticos. As cargas eléctricas necessitam de condutores para se poderem deslocar. No Sporting, o Bruno Fernandes é esse condutor de electricidade da equipa no campo. Já o Gudelj é um isolante, nele não existe qualquer movimentação de corrente. Tal como um dínamo, ou o motor de um automóvel, Bruno é a fonte de alimentação que traz a corrente contínua a todo o circuito formado pela equipa leonina. A sua acção é constante ao longo do jogo, tal como a de Acuña ou de Mathieu. Por Tiago Ilori, por exemplo, passa uma corrente alternada, pois o sentido do seu jogo varia tanto com o tempo que chega a um ponto em que já não faz qualquer sentido.

 

Em tempo de Carnaval, o Sporting recebeu ontem uma escola de samba em Alvalade. Comandados por Paulinho, e com Tabata, Wellington e Lucas Fernandes em bom plano, o Portimonense, com 8 brasileiros no seu "onze" inicial, tentou pregar uma partida à equipa leonina. Porém, acabaria por ser outro Fernandes, Bruno de seu nome, a ser o Rei Momo. A sua marca ficou logo registada ao minuto 10, e em dose dupla: primeiro, serviu de trivela Raphinha para um remate defendido por Ricardo Ferreira para canto; de seguida, enviou do quarto de círculo um míssil que Diaby desviou para golo; finalmente, com a parte interior do pé direito, isolou Raphinha para o segundo da noite. Nada mal para aquele que cada vez um número mais reduzido de adeptos que certamente não aprecia o bom futebol continua a não querer perdoar, indo ao ponto de lhe atribuir um epíteto insultuoso. É que Bruno não é um verme, mas sim um Vermeer e, em duas pinceladas de génio, da sua cabeça (e pés) saíram umas composições inteligentes e brilhantes com que começou a ilustrar uma nova tela.

 

Os de Portimão não se ficaram e desataram a incomodar a baliza de Renan. Com facilidade iam ultrapassando Ilori, no solo ou pelos ares, embora sem consequências de maior, até que Renan, primeiro, e Mathieu depois, foram o pronto-socorro que evitou males maiores. Estimulados pela oportunidade, os algarvios viriam a reduzir diferenças, num lance em que Gudelj desligou a ficha e deixou a sua baliza em circuito aberto. Com o golo, o jogo ficou repartido e as oportunidades até ao intervalo sucederam-se a um ritmo frenético. Primeiro, foi Bruno (sempre ele!) a encontrar Raphinha solto na direita e este a deixar Diaby isolado na cara de Ricardo, após simulação e arrastamento de Dost, em lance ingloriamente desperdiçado pelo maliano. Depois, foi Renan o herói, e tal como Bruno em dose dupla, parando os remates consecutivos de Paulinho e de Wellington, sem que nunca Gudelj surgisse a pressionar o portador da bola ou a ajudar os seus defesas. De seguida, Lucas Fernandes enviou uma bomba que acertou na trave e ressaltou para cá da linha de golo, ficando a rabiar nas suas imediações. Finalmente, Bas Dost, servido por Bruno e isolado perante o guarda-redes adversário, voltou a ter uma falha eléctrica no seu cérebro, sintoma que não sabemos se estará relacionado com a leitura de algum relatório e contas.

 

No recomeço, o Sporting já não surgiu tão afoito, facto que também não permitiu as transições portimonenses. Ainda assim, os leões desperdiçaram inúmeras oportunidades. Assim, de cabeça, Diaby e Bruno falharam golos cantados. Mais tarde, com os pés, repetiriam o desígnio. Destaque, no entanto, para a jogada em que Bruno tirou dois adversários da frente e rematou de pé direito para uma enorme defesa de Ricardo Ferreira. Entretanto, ainda antes da hora de jogo, Dost deu lugar a Phellype. Keizer, no fim do jogo, justificou a decisão com a observação de que o seu compatriota não estava no jogo. Observação correcta, diga-se. Não que o brasileiro que o substituiu tenha trazido algo de especial ao jogo, para além do cartão amarelo da ordem. Eis então que Keizer colocou Doumbia em campo para nos mostrar que este é bem melhor que Gudelj e, provavelmente, o único jogador contratado este Inverno para a equipa principal do qual ouviremos falar (bem) no futuro. No entanto, não foi o sérvio a sair mas sim Raphinha. Uma lástima, pois o marfinense deveria jogar sempre e, tal como nos medicamentos, vir acompanhado da contra-indicação de não ser misturado com cidadãos dos balcãs. Com a substituição, o Professor Marcel pretendeu fechar o jogo, mas um algarvio não concordou e imbuído do espírito do entrudo deu uma martelada na cabeça do Bruno Fernandes dentro da área. Chamado a converter a penalidade, o Bruno sentou o guarda-redes com a paradinha e escolheu o lado por onde rematar com sucesso. Ainda houve tempo para a entrada de Francisco Geraldes, por troca com Wendel. O homem que mais aquece em Alvalade queria tanto tocar na bola que quando teve oportunidade agarrou-a (literalmente) com as duas mãos. O Capela não gostou e o Xico saiu do lance com um sorriso (e não só) amarelo. Nós também, no fim do jogo, pese embora tenhamos ganho, o que é sempre o mais importante. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes (who else? - médio com mais golos obtidos numa só época em toda a história do Sporting). Menções honrosas para Renan (3 defesas importantes), Mathieu (seguro, ainda teve tempo de ir à frente assistir Diaby para um falhanço) e Acuña (tem corrente para os 90 minutos). Raphinha e Diaby marcaram um golo cada, mas destacaram-se igualmente (mais o maliano) pela trapalhice com que abordaram alguns lances.

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20
Fev19

Os Cavaleiros da Ordem de Alvalade


Pedro Azevedo

O futebol debate-se com os constrangimentos inerentes a ser simultaneamente um espectáculo e um negócio. Nesse sentido, o treinador deixou de ser somente um táctico para ser também um estratega, um gestor de activos do clube. Bem sei que essa área está consignada a um departamento específico, mas o treinador está a montante de todo o processo e é das suas convocatórias que depende o aparecimento de um ou outro talento. Para defesa do grupo, raramente o treinador destaca individualmente um jogador. Tal não significa que não haja uma ordem de mérito no balneário, simplesmente não é só a técnica ou a habilidade individual que é valorizada. Uma equipa é como um exército e nela coabitam a infantaria, a cavalaria e a artilharia. Por vezes, reforçada pela força aérea, procurando no ar as soluções que não se encontram por via terrestre. Não desprezando o papel dos sapadores de infantaria, sempre disponíveis para minar e dinamitar os avanços do adversário, ou dos artilheiros, que através de apontadores e municiadores tentam posicionar o poder de fogo da equipa de forma a destruir e/ou neutralizar o moral do oponente, é a mobilidade, velocidade, destreza e flanqueamento da cavalaria que salta mais à vista do comum adepto. Nesse sentido, vou aqui apontar aqueles que para mim são os "cavaleiros" deste Sporting versão 2018/19:

 

Bruno Fernandes - Todas as estações do ano são Outono, quando ele bate os livres em folha seca. É a alegria do povo e este põe todas as fichas na sua roleta, uma peça de arte anteriormente popularizada por Zinedine Zidane.

 

Wendel - Por vezes vai por ali fora sem destino certo, como se apenas se pretendesse evadir de um imobilismo fatal. A equipa nem sempre consegue acompanhar esses momentos de jazz de improviso, dada a sua variação harmónica bem distante da música dentro de um tom a que está habituada. É mais eficiente quando o conjuga com o samba, e o som imaginário das palmas e dos batuques dão-lhe o compasso certo para variar o seu andamento em função da equipa. 

 

Raphinha - Nascido em Porto Alegre, no sul do Brasil, o seu futebol sofre a influência gaúcha também comum aos argentinos. O ar geralmente reservado, os olhos tristes e o bailado que suscita com a bola fazem lembrar um dançarino de tango. Este género aparece ainda intermitentemente combinado com movimentos de capoeira, visível na ginga com que por vezes se desfaz dos adversários. 

 

Mathieu - Transmite aquela sensação de que poderia estar a dar umas passas nuns Gauloises e a despachar o expediente ao mesmo tempo, tal o ar "négligé" que sempre exibe. Mas isso apenas esconde a confiança ilimitada que tem nas suas capacidades técnicas e atléticas, as quais lhe permitem sair a jogar como um médio e recuperar a profundidade como um jovem de 20 anos. 

 

Acuña - É raro o jogador que consegue associar doses semelhantes de intensidade e capacidade técnica. O argentino é um infante que pelos seus feitos virou cavaleiro. Nesse sentido, não herdou o "savoir faire" típico da nobreza e continua a jogar de faca nos dentes, o que gera sentimentos contraditórios nas bancadas. Incensado nas curvas, repudiado nos camarotes, todos coincidem nisto: a sua entrega ao jogo e capacidade de cruzamento são imaculadas.

 

Doumbia - Se para Gudelj um m2 é um latifúndio, o marfinense é o homem dos grandes espaços, da savana africana. Poderoso, possui na finta o seu grande argumento para rapidamente sair da zona de pressão. Dá verticalidade ao jogo do Sporting. Na minha opinião, uma das duas contratações do Mercado de inverno que de facto pode fazer a diferença.

 

Matheus Nunes - Igualmente jovem e ainda mais desconhecido, é o mais recente produto da ilustre(?) casa de Mateus nas suas diferentes variantes (Mathieu, Matheus Pereira, Mattheus Oliveira). Podendo jogar em qualquer posição do meio-campo, é como pivot que tem vindo a ser testado. Tem uma velocidade com a bola nos pés incomum, parecendo deslizar no campo como se tivesse skis e não botas nos pés, acção que o faz libertar-se com facilidade da zona de pressão adversária. Para além disso, tem uma excelente técnica de passe à distância e sabe aparecer em zonas de finalização. Um excelente projecto em desenvolvimento.

 

Assim termino este breve resumo sobre aqueles que considero serem os mais dotados jogadores do nosso plantel. Oxalá tenham gostado ou, de alguma forma, Vos possa ter sido útil.

cavaleiros.jpg

22
Jan19

Ala, que se faz tarde! (2)


Pedro Azevedo

Ontem, mostrei aqui uma comparação estatística relativa à eficácia ofensiva dos alas leoninos Nani, Diaby, Raphinha e Jovane. Mas, o futebol não é só feito de números. Pelo contrário, ele vive essencialmente de momentos, fragmentos, instantâneos que agitam corações e que, capturados, fazem a nossa memória guardá-los para sempre, produzindo-se assim o elo emocional que transforma o desporto-rei num fenómeno à escala planetária. Por isso, hoje, vou repetir a comparação anteriormente feita, só que, desta vez, baseando-me naquilo que os meus olhos viram até agora. 

Comecemos então: 

  • Nani - dos 4 alas, é o que tem melhor leitura dos vários momentos do jogo. Já não tem a velocidade que caracterizou a sua primeira passagem pelo clube - aspecto em que actualmente fica a perder para qualquer um dos seus concorrentes -, mas ainda consegue vencer sprints a jogadores como Corona, como se pôde verificar no último Clássico. É especialmente letal quando recebe a bola de frente para a baliza, podendo encontrar um apoio na zona frontal com quem iniciar uma tabelinha ou, simplesmente, aplicar o seu remate forte e colocado. Não tão forte quando recebe a bola posicionado paralelamente à linha de fundo, demora algum tempo a encontrar a solução adequada ao jogo interior, motivo que leva alguns adeptos a confundi-lo com recreio com a bola, acusando-o de excessiva temporização. Com a idade tem refinado a sua relação com o golo, aparecendo muitas vezes em zonas de finalização, inclusivé fazendo uso do seu bom jogo de cabeça (notável para um jogador relativamente baixo), aspecto onde vence declaradamente a concorrência. Com espaço é letal nas alas, destacando-se pela colocação e tensão dos seus cruzamentos. Mas a característica porventura mais importante para a equipa é a sua capacidade de sentir quando é necessário imprimir aceleração ou, pelo contrário, quando importa pôr gelo e acalmar o jogo, aspectos que tem vindo a refinar com a experiência. Numa fase difícil do clube aceitou regressar. É o nosso capitão e um dos líderes do balneário, e o seu ar desconsolado após o jogo em Tondela mostrou bem o seu grau de comprometimento com o clube. Para mim, é um dos indiscutíveis do plantel leonino;
  • Diaby - é um jogador que faz da velocidade a sua principal arma e que tem boa leitura de jogo interior. Infelizmente, a sua fraca qualidade técnica limita-o bastante, tanto na ligação do jogo por dentro (tabelinhas que não lhe saem por passe deficiente) como na procura da profundidade, onde a recepção de bola nem sempre é a melhor. Lançado em corrida, através de um passe rasteiro nas costas da defesa, é temível, podendo aí aplicar as suas melhores qualidades: velocidade e remate colocado de primeira. Mas se a bola vem por alto e é preciso orientar a recepção, então começam aí os seus problemas. Também não tem um bom jogo de cabeça, já tendo perdido golos "cantados" devido a essa insuficiência. No entanto, é um jogador talhado para o tipo de jogo que Keizer quer impôr no Sporting, pelos seus constantes movimentos de aproximação à bola e disponibilidade física nas movimentações constantes, que ajudam a baralhar as marcações contrárias. A maioria dos seus golos surge quando os jogos já estão resolvidos, aspecto que me leva a pensar que será uma solução a usar a partir do banco quando os jogos já estão partidos e o Sporting lidera confortavelmente;
  • Raphinha - tem uma boa relação com o golo, mas a lesão sofrida numa fase prematura da época limitou a sua progressão. Ainda não tirei totalmente a dúvida se Raphinha é um jogador de ataque continuado ou, essencialmente, de transição. A seu favor tem o facto de a maior parte das suas oportunidades surgirem de lances por si criados a partir da ala direita, mostrando que, sem a ajuda da equipa, desequilibra muito mais do que, por exemplo, Diaby. Contra si, pesa a evidência de que tem poucos golos marcados esta época, estando ainda longe daquilo que mostrou no Vitória de Guimarães. Em Santa Maria da Feira teve um ou outro lance em que mostrou uma variação face ao habitual movimento de diagonal a partir da ala, nomeadamente procurando a linha de fundo para cruzar com o pé contrário (esquerdo), algo que deverá estimular para aumentar a incerteza no adversário. No último jogo (Moreirense), mostrou saber posicionar-se correctamente de forma a poder beneficiar de uma transição rápida, aproveitando depois a sua velocidade e capacidade de finta para marcar um golo ingloriamente invalidado pelo árbitro auxiliar. Jogador muito interessante e com elevada margem de progressão, necessita de estar mais concentrado e conectado com o jogo, aspectos nem sempre presentes no seu desempenho e que o vêm impedindo de brilhar mais;
  • Jovane - para além dos golos e das assistências, é um dos artesãos responsáveis pela criação de inúmeras oportunidades de golo. O jogo em Alvalade, para a Taça de Portugal, contra o Rio Ave, mostrou-o em abundância, quando visou Acuña em dois passes açucarados de ruptura que, posteriormente, permitiram ao argentino fazer duas assistências para golo. Adicionalmente, alguns golos nasceram de roubos de bola deste cabo-verdiano (naturalizado português), aspecto que nem sempre é devidamente realçado ou captado por comentadores especializados e espectadores em geral. Criou-se o mito de que é mais importante para a equipa quando proveniente do banco, mas já fez grandes jogos a titular (Marítimo e Rio Ave). Tem faro de golo e facilidade de remate, destacando-se a potência e colocação do seu tiro de fora da área. Será, porventura e ainda mais do que Raphinha, o mais rectilíneo de todos os alas leoninos. Tem de melhorar a sua concentração e compreensão dos espaços onde pode perder a bola sem deixar a equipa descompensada, mas é um Mustang (adaptando o que de Quaresma dizia Boloni) e um projecto estimulante para qualquer treinador. O mais imprevisível ala leonino do momento. 

 

Bom, estas são as sensações que retiro daquilo que os meus olhos viram até agora. Abro assim este espaço para diferentes pontos-de-vista de adeptos do nosso clube (ou de outros) que queiram divergir/convergir/acrescentar elementos a esta análise que aqui deixo. A todos, o meu obrigado pela atenção dispensada. 

nani e diaby.jpeg

jovane e raphinha.jpg

21
Jan19

Ala, que se faz tarde!


Pedro Azevedo

As posições que suscitarão maiores dúvidas nos adeptos leoninos serão as dos alas (esquerdo e direito). Habitualmente, Nani e Diaby são os homens chamados à titularidade, mas tal não é consensual para a bancada. Há quem peça por Raphinha e quem queira ver Jovane de novo no relvado. A maioria não compreende a fixação de Keizer em Diaby, alguns insistem, incompreensivelmente, em assobiarem Nani com o argumento de que se agarra muito à bola. Nestas coisas, quando grassa a dúvida, nada como nos agarrarmos às estatísticas. Assim sendo, realizei um estudo com duas vertentes: numa primeira, porventura mais simples, fui ver os minutos de utilização de cada jogador e depois dividi-os pelo número de golos obtidos; numa segunda análise, mais fina, dividi os minutos de utilização de cada jogador pela sua contribuição (Golos, Assistências, Participação importante) para os golos.

Os resultados apurados apontam para uma conclusão definitiva: tanto por um critério como pelo outro, Nani e Jovane têm os melhores indicadores de desempenho, pelo que deveriam ser eles a compôr a dupla ideal. Por isso, ala que se faz tarde, Diaby tem de ceder rapidamente o seu lugar na equipa a fim de que o desempenho colectivo da equipa melhore.

 

 GAPminutosG/min.Influência/min.
Diaby6131448241145
Jovane44989922553
Nani9541980220110
Raphinha314967322121

 


jovaneenani.jpg

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