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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

07
Mar23

O Estado da Art&manha


Pedro Azevedo

O estado de crispação e de desesperança a que chegou a nossa sociedade é intolerável. E a responsabilidade é toda nossa, cada um contribuindo com o seu quinhão para esta triste realidade. Uns por vocação maniqueísta, outros por inacção e um silêncio tolhido de medo, alguns pela irresponsabilidade, muitos movidos pelo interesse. É por isso difícil nomear uma única razão que justifique o status-quo. Nas sociedades sempre conviveram situacionistas, reformistas e revolucionários. Se dependesemos dos primeiros, ainda viveríamos em ditadura. Mas se entregassemos o nosso destino aos terceiros, passaríamos o tempo a reconstruir, com todos os danos colaterais que a sociedade saída de Abril abundantemente ilustra. Pelo que o barómetro de um país se mede pela capacidade dos reformistas de alterar o sistema por dentro. E onde estão esses reformistas, presentemente? Provavelmente submersos por um aparelho judicial que não funciona bem e não protege devidamente as pessoas do bem, por oportunidades que são cirurgicamente entregues a yes-men que não se afastem de uma determinada linha condutora, por uma audiência que os ignora, privilegiando os soundbites inflamados para os telejornais, nos facebooks e demais redes sociais em detrimento da opinião razoável, moderada e construtiva. Isto que se aplica para o país, repassa também para o nosso Sporting.

 

No Sporting actual, e quando digo actual refiro-me às últimas décadas, abundam os maniqueístas, gente que vê o mundo a preto e branco e não observa prioritariamente o que deveria ser o predominante verde. Há também os interesses que se movem de forma mais ou menos óbvia, desde o director do jornal que acredita que terá melhor fontes de informação que ajudem a vender se alinhar a sua opinião com a de quem dirige o clube até aos marginais infiltrados nas claques que não querem perder os seus negócios mais ou menos clandestinos. Depois, existem também os irresponsáveis, os pirómanos e fomentadores de ódio, cuja vaidade os faz despudoradamente procurar escaranfunchar a ferida em busca de uma maior audiência da opinião publicada. Finalmente, há uma enorme maioria silenciosa que se afastou do estádio e do clube, perdeu paixão e compromisso. São pessoas a quem a histeria agride, que têm a paz como um bem inalienável e a sua segurança como prioridade e movem-se pelo amor e não pelo ódio às coisas. Ninguém actualmente comunica para estas pessoas, e não há presentemente soluções para as suas necessidades. Porque se a comunicação não vem de dentro, do coração, não cria um eleo identificador entre os homens e as mulheres de boa-vontade. Se a comunicação apenas visa defender o poder, só um estranho alinhamento de estrelas faria com que tal fosse conjugável com o interesse colectivo, o superior interesse do Sporting. Que deveria ser também o dos Sportinguistas, mas infelizmente não é, desde logo por haver Sportinguistas a achar que o Sporting muito lhes deve e, por conseguinte, a sobreporem-se ao clube, ou a justapor o seu interesse pessoal e agenda mais ou menos oculta ao interesse colectivo. 

 

Como referi em cima, não há uma só razão que justifique termos chegado aqui, a esta encruzilhada. Assim, não tenho um diagnóstico preciso para a situação presente. Mas sei que se quisermos sair daqui só poderá haver uma solução. E essa solução será passarmos a mover-nos pelo amor às coisas, no caso o amor à causa, ao Sportinguismo, que crie uma cultura corporativa que isole comportamentos nocivos em sociedade e nos una em prol de um bem comum. Por isso, exorto o actual Conselho Directivo a preocupar-se com a próxima geração e não com a próxima eleição. Dando o exemplo e encorajando a enorme massa silenciosa a segui-lo. As pessoas precisam de bons exemplos, e necessitam de quem as lidere por esse caminho. Só assim teremos a nossa causa, só assim não perderemos a nossa relevância desportiva e social. 

27
Ago20

Ponto de situação


Pedro Azevedo

Nos últimos tempos tenho vindo a ouvir falar muito em experiência. Mas experiência não é só por si sinónimo de competência. Um indivíduo pode ter 33 anos de experiência e tal significar apenas um ano mau repetido por trinta e duas vezes. A experiência é importante quando acompanhada por qualidade e sabedoria. Olhando para o Sporting, Jeremy Mathieu foi o paradigma de como pode haver utilidade na experiência quando o ponto de partida é a qualidade e depois existe a humildade de procurar conhecer mais sobre o jogo, aprender e evoluir. Quando tudo isto é acompanhado por uma especial vocação para transmitir conhecimento, então, aí, sim, esse capital de saber acumulado torna-se determinante para uma qualquer organização, não só pelo trabalho individual realizado pelo próprio mas também pelo seu papel formativo dos quadros mais jovens e desenvolvimento geral do grupo de trabalho. Nesse sentido pode dizer-se que Mathieu elevou a qualidade do futebol Sporting, lamentando-se apenas que só tenha tido escassos 3 meses de contacto a sério com os jovens da nossa Formação a fim de deixar um cunho ainda mais pronunciado nas suas características futuras. Algo que, por exemplo, o Benfica soube fazer muito bem com Luisão, que do meu ponto de vista era menos jogador que Mathieu,  aproveitando-o praticamente como última estação de produção da linha de montagem sita no Seixal. É essa qualidade futebolística extra, aliada à sabedoria, que recomenda a aquisição de um veterano, pois do ponto de vista estritamente financeiro é sabido de antemão que o negócio será deficitário. Todavia, aposta-se no rendimento desportivo imediato do jogador e seu contributo para a melhoria do desempenho colectivo da sua equipa, bem como na ajuda pelo exemplo ao desenvolvimento de futuros novos craques que, para além do rendimento em campo,  poder-se-ão vir a constituir como importantes mais-valias para o clube. Na minha opinião, nesse sentido, e apenas assim, a contratação de um veterano fará todo o sentido.

 

Dito isto, para mim não é correcto ir-se buscar um veterano sem passado desportivo significativo ou para uma posição onde já se impôs um jovem da fornada da Formação. Desse modo, não só na minha ideia não se substitui um jogador de qualidade-extra como Mathieu por um Feddal como também não se coarta o desenvolvimento de valor de um Max adquirindo Adán. Admitia, isso sim, e escrevi-o aqui no início de Julho, que o gaulês fosse substituído por Vertonghen, jogador que a fazer fé nas notícias chegou ao Benfica por valores contratuais e prémio de assinatura semelhantes aos que envolveram em 2017 a aquisição de Mathieu. Por outro lado, havendo um Renan que foi determinante na conquista de duas taças, não só teria mantido o brasileiro como segunda opção como continuaria a apostar na melhoria de valor de mercado de Max, jogador que me parece seguir as pisadas de Rui Patrício, eventualmente até com menos dores de crescimento do que o hoje campeão europeu e guarda-redes titularíssimo da selecção nacional.

 

Mais do que experiência, falta ao plantel do Sporting jogadores de qualidade superlativa que peguem de estaca. Nesse sentido, a saída de Acuña, jogador de raça, regular a alto nível, experiente, polivalente, de forte entrega ao jogo e capaz de proporcionar cruzamentos com conta, peso e medida, parece-me um passo atrás na progressão colectiva da equipa, perdendo-se mais uma referência a juntar à sangria verificada em apenas ano e meio, período no qual o Sporting viu sair Nani, Raphinha, Bas Dost, Bruno Fernandes e Mathieu. Esta escassez de qualidade-extra no plantel trará inevitavelmente como consequência uma pressão adicional sobre os mais jovens, em especial sobre o muito promissor Pedro Gonçalves, um jogador que poderá ser o nosso Pote de Ouro mas que precisará de um período de adaptação a um grande clube e necessitaria de um melhor enquadramento que o soltasse mais de prematuras responsabilidades para com a equipa. 

 

Acresce que nenhuma equipa do mundo terá estabilidade quando praticamente todos os seus jogadores estiverem no mercado. Já o ano passado foi notório, mesmo num jogador experiente e plenamente adaptado ao clube como Coates, a consequência das notícias da imprensa que apontavam para a sua muito possível saída. O que me parece é que existem planos a mais e convicções a menos. Disse-o na preparação de 19/20, apontando algumas incongruências que alguns na altura terão interpretado mal, e repito-o agora. Não é possível abrirmos diariamente os jornais e vermos Acuña ou Jovane como vendáveis a preços muito abaixo das suas cláusulas de rescisão, o mesmo se passando com Max. Com a agravante do argentino, à semelhança de Palhinha, nem ter seguido para o estágio no Algarve, uma forma de desvalorização imediata de jogadores.

 

Neste transe, teme-se que se volte a vender qualidade para continuar a comprar quantidade. Entretanto, à maioria dos sócios continua a passar despercebido o nosso maior problema. Falo da colocação do elevado lote de excedentários, muitos deles acabados de comprar pela Estrutura de futebol do clube. Entre eles, aliás, constam dois dos mais caros: Rosier e Camacho. Não conseguindo baixar a massa salarial e realizar algum capital nessas vendas, para além da venda de qualidade teme-se que voltemos de novo a alienar prematuramente os passes dos jogadores mais jovens. Esse é um erro recorrente proveniente de uma política desportiva que enferma de vários erros, uns conceptuais, outros funcionais, outros ainda orgânicos. 

 

Tudo isto vem contribuindo para reduzir o moral dos adeptos Sportinguistas e traz agregado o habitual discurso miserabilista de que não há dinheiro - entre Janeiro de 19 e Março de 20 investiram-se (com comissões) cerca de 50 milhões de euros em 15 jogadores, que terão custado nesse período qualquer coisa entre 15 e 20 milhões em salários (estimativa), além de termos pago 8,7 milhões de euros em indemnizações a treinadores e um ou outro jogador, mais 3 milhões a Mihajlovic e 10 milhões a Ruben Amorim (e penalizações e juros), num total que deve andar à volta dos 90 milhões de euros (fora os custos com o restante plantel de cerca de 50 milhões anuais, ou talvez um pouco menos exclusivamente devido à Covid e concomitantes medidas de lay-off, mais os 30 milhões de fornecimentos e serviços externos, além de outros pequenos itens) - , afastando cada vez mais o nosso estado actual daquilo que efectivamente somos: o maior clube desportivo nacional e uma dos maiores da Europa. O ser humano convive bem com conjunturas positivas e prepara-se no sentido de adequar-se por algum tempo às conjunturas  negativas. Aquilo com que o ser humano convive mal é com a incerteza. E aquilo com que não consegue viver de todo é com a ausência de esperança. Eu quero estar errado, mas entrando numa nova época com um défice estrutural sem venda de jogadores de cerca de 70 milhões de euros, e nada mudando em termos de política desportiva, os augúrios não são os melhores. Além disso, continua a faltar um discurso de verdade, que indique as coisas como elas são e simultaneamente dê eco de que se escutaram as pessoas e vamos mudar na direcção certa, explicando minimamente os passos que serão dados. Pedindo tempo, mas mostrando que esse tempo não será ingloriamente desperdiçado como até agora. Infelizmente, não vejo nada disso. E, sinceramente, já não acredito nisso. O Sporting é um grande clube e conduzir esta nau é uma enorme responsabilidade. Nunca seria fácil após as consequências sociais, desportivas, económicas e financeiras de Alcochete, mas esta direcção tem conseguido piorar a situação em todas as vertentes. Mesmo os resultados financeiros que vai apresentando resultam exclusivamente da venda dos melhores jogadores do plantel, vendas essas cuja necessidade se tem vindo a intensificar. Temo, como tal, que a filosofia venha a ser cada vez mais a de lançar jovens para rapidamente os vender, paradigma a meu ver totalmente errado. Isso até pode fazer sentido num Vitória de Guimarães, com todo o respeito que me merecem a instituição e as aguerridas gentes vitorianas, mas não faz qualquer sentido num clube com os pergaminhos do Sporting, onde formar deve ser sinónimo de ganhar e só depois vender. Só que para ganhar precisaríamos de enquadrar esses jovens com 3 contratações efectivamente cirúrgicas ano a ano, de indiscutível qualidade, que aumentassem a qualidade global da equipa. Ora, não deixando de saudar finalmente se ter apostado nos jovens, para ganhar é preciso criar-se uma simbiose perfeita entre os jovens, jogadores de qualidade e carregadores de piano. À semelhança do que Allison fez em 82. E isso não é possível à medida que, um a um, os melhores jogadores do plantel vão saindo. Deixo a pergunta: onde estão os nossos Meszaros, Eurico, Manuel Fernandes, Jordão e Oliveira, os craques de 82, que permitiram enquadrar os Mário Jorge, Virgílio, Carlos Xavier, Freire, Alberto ou Ademar que então despontavam? Concluindo: há que mudar de paradigma em termos de política desportiva e ter uma comunicação que efectivamente envolva os Sportinguistas e lhes mostre não só objectivos mas também, de uma forma convincente, a forma de lá se chegar, ainda que possa demorar algum tempo. E mesmo com tudo isto, ainda faltará uma coisa: uma ideia do Sporting para o futebol português. Tudo o que seja menos que isto significará uma perda de tempo que não temos.

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