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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

09
Dez21

As vantagens do copo meio-cheio


Pedro Azevedo

Paulinho, Palhinha, Feddal, Jovane, Vinagre e Coates serão baixas leoninas para a recepção ao Boavista. Para além de um impedimento disciplinar e de um caso detectado de Covid-19, algumas lesões estão na origem destas ausências que necessariamente impactam num plantel curto. Mas isso será ver o copo meio-vazio e Rúben Amorim já nos mostrou, com o seu proverbial optimismo, que percepciona nas ameaças também grandes oportunidades. Será por isso a oportunidade de Nuno Santos (ou Esgaio) jogar na ala esquerda, de Ugarte consolidar o seu estatuto natural de primeiro candidato à sucessão de Palhinha e de TT ganhar minutos e confiança. À espreita, Tabata e Bragança deverão ser opções para entrar mais tarde no jogo, sendo de prever que vários jovens venham a completar a convocatória e quiçá virem a ter mais alguns minutos para ganharem tarimba. Tal só é possível por o plantel (22 jogadores) ser curto e requerer constantemente o recurso às equipas de formação. Assim, em vez de um monte de "consagrados" pagos a peso de ouro e cheios de azia por estarem no banco (ou na bancada), Amorim ganha um conjunto de jovens que já se sentem privilegiados por poderem calçar com os craques, jovens esses para os quais o copo está sempre meio-cheio. Tal como o Rúben o vê. A isto chama-se sintonia. E soma ao espírito de grupo, evidentemente. 

29
Jul20

Às voltas com a política desportiva


Pedro Azevedo

Um dos grandes problemas da gestão de Frederico Varandas tem sido a política desportiva perseguida, não só no sentido do não-aproveitamento de anteriores boas gerações de jogadores da Academia como também nas incursões no mercado que têm sido pouco menos que apocalípticas. 

 

Assim, nos últimos anos o Sporting desperdiçou em termos de rendimento desportivo jogadores como Demiral (saiu com Cintra e foi contratado posteriormente pela Juventus), Domingos Duarte (integrante do "Onze Revelação" da La Liga), Mama Baldé (melhor marcador do Dijon na Ligue 1), Daniel Bragança (melhor jogador do Estoril), Palhinha (imprescindível para Ruben Amorim no Braga), Matheus Pereira (Rei das Assistências no Championship), Ryan Gauld (melhor marcador do recém-promovido Farense) ou Gelson Dala (1 golo a cada 79 minutos de utilização no Rio Ave), mostrando assim à evidência o erro de análise (ou soberba) de Frederico Varandas quando decretou o "gap" da Formação. 

 

Adicionalmente, o Sporting contratou, sem qualquer rendimento desportivo significativo, jogadores como Valentin Rosier (5.3 milhões de euros mais o passe de Mama Baldé), Tiago Ilori (2,4 milhões mais comissões de manutenção por 60% do passe), Borja (3,5 milhões), Idrissa Doumbia (4,4 milhões), Rafael Camacho (5,6 milhões) ou Eduardo (3 milhões). Outros há que ficam a perder na relação como custo/benefício, como é o caso de Vietto (7,875 milhões por 50% do passe). Jesé (empréstimo de 2 milhões de euros), Fernando (conheceu melhor a enfermaria que os relvados) ou Bolasie foram empréstimos sem racional económico ou desportivo. Neto (850 mil euros) é apenas um bom suplente, o mesmo se passando com Luís Phellype (700 mil euros), jogador algo irregular e com propensão para ganhar peso. Restam Sporar, Plata e Matheus Nunes, sendo certo que para mim o brasileiro é o mais promissor e aquele que teve melhor rendimento global nos jogos com os grandes (pese embora o erro fatal que deu o segundo golo ao Benfica). E já nem estou a considerar para este efeito o custo anual em salários nada desprezível destes 15 jogadores.

 

O que verdadeiramente me preocupa no rol de contratações é não notar-se o dedo de um treinador ou Director Técnico, mas sim da Estrutura. Vou dar um exemplo: o esloveno Sporar é um jogador forte nas transições. Não sendo rápido, é inteligente, sabe explorar os espaços entre os defesas adversários e possui um remate forte e colocado (habitualmente raso, de difícil defesa para os guarda-redes). Simplesmente, o Sporting joga habitualmente contra equipas dispostas em bloco baixo e tem posses de bola compreendidas entre 70 e 80% com clubes do meio da tabela para baixo. Ora, embora Sporar dê apoios frontais, nessa situação precisamos essencialmente de um ponta de lança de área, com faro de golo, forte no jogo de cabeça e com sentido de antecipação, características que já se viu o esloveno não possuir. Causa assim alguma incredulidade este avançado ter sido a primeira opção (em jogos europeus e contra equipas mais fortes talvez se justificasse mais a sua utilização) no mercado, independentemente das qualidades que lhe apontei em cima, algo que não deveria ter passado despercebido ao olho clínico de um treinador. E é nesta falta de sentido de construção do plantel que vamos surfando na maionese, antevendo-se mais do mesmo na janela de Verão. Nesse sentido, muito mais do que a experiência anunciada por Frederico Varandas do que precisamos é de qualidade. Não se entende assim porque Acuña está de saída, ele que é a réstia de qualidade superlativa do actual plantel e um guerreiro. Só assim se entenderá a chegada de Antunes, embora não se compreenda muito bem a razão pela qual iremos adquirir um jogador presumivelmente de ordenado alto (o tal custo zero tão enganador) e que não joga há tanto tempo quando, em época de vacas magras, temos um lateral sob contrato e com muita propensão ofensiva (vantagem no sistema de Ruben Amorim) que acabou de fazer 23 jogos na exigente La Liga (Lumor). Tal parece-me um desperdício de recursos, mais a mais quando tudo indica que Nuno Mendes será titular indiscutível. Adicionalmente, não se entende porque se vai contratar Adán, guarda-redes que não virá nada barato e que não joga há muito tempo. Temos Max como primeira opção para valorizar e dar rendimento desportivo, se queremos um segundo guardião (porque não Renan que nos deu duas taças?) então talvez Beto fosse uma muito melhor opção. Enfim, poder-se-ia também abordar o estranho caso de Feddal, jogador sem carreira significativa e a anos-luz de Mathieu que vem protagonizando uma estranhíssima novela, mas o essencial está dito e denota uma falta de visão geral sobre o que é necessário, ou, pelo menos, uma visão profundamente deturpada e superficial do que urge ser feito. 

 

Cada vez mais parece fazer sentido a ideia de que Varandas não pretende ter no plantel jogadores contratados por terceiros, num pretenso desejo de afirmação que demonstra mais ego e soberba que inteligência. Tal está errado sob diferentes prismas e o Sporting é que mais uma vez "pagará as favas". Apostando tudo na sorte, uma vez mais.

 

Sorte? Sorte é quando a oportunidade encontra o nível de preparação adequado. Alguém acredita?varandasaeroporto1.jpg

21
Jul20

O caminho não se faz caminhando para trás


Pedro Azevedo

Confesso que o ingresso de Jesus no Benfica me preocupa. Independentemente de nunca ter achado JJ o treinador adequado para um projecto que procure rendibilizar a Formação, a verdade é que lhe reconheço a capacidade de pôr uma equipa a jogar futebol e de desenvolver os jogadores com quem efectivamente se preocupa entre as dezenas que manda comprar e desperdiça. Por isso, não tenho dúvidas que com um forte investimento por trás o Benfica será um fortíssimo candidato ao título em 2020/21. Porém, essa não é a minha grande preocupação, o que me desassossega é a possibilidade de isso poder alterar o caminho que o Sporting começou a percorrer após a pandemia. E desassossega-me porque sinto que esse caminho não foi uma opção natural mas tão só o único possível na conjuntura em que estávamos mergulhados, fora da luta em todas as competições, com um défice de exploração antes da venda de jogadores de cerca de 70 milhões de euros e com o valor do plantel a deteriorar-se. É certo que Ruben Amorim, na conferência de imprensa de ontem, deu-me sinais animadores ao transmitir que pouco importa ao Sporting o que acontece no vizinho e que temos é de continuar no nosso caminho, mas será que a administração da SAD irá resistir a ir ao mercado da forma que foi no ano anterior? Nós não queremos mais desculpas do género "o Rosier compreensivelmente teve dificuldades, não sabe falar inglês", como se a linguagem do futebol não fosse universal ou isso alguma vez tivesse impedido Yazalde, Balakov, Seminário ou Keita de soltarem o perfume do seu futebol. Não, o que desejamos antes de mais é a sustentabilidade do clube/SAD. E que isso crie posteriormente condições para que sejamos um verdadeiro candidato ao título nacional. É por isso fundamental que a aposta nos miúdos da nossa Formação não fique por aqui e não sirva apenas para disfarçar uma época mal conseguida, à semelhança do ocorrido em 16/17 quando Geraldes, Podence e Palhinha regressaram a meio da época dos empréstimos. Não só a aposta deve continuar como terá de ser acompanhada por importação de três jogadores de qualidade indiscutível (do tipo de um Bruno, Mathieu ou Acuña, e não remendos comprados na Loja dos 300). Apenas três, mas que façam uma efectiva diferença que ajude os nossos formandos a crescerem mais depressa. Seguidos de outros três na época seguinte, na medida em que não há dinheiro para fazer tudo de uma vez. Nesse sentido, o pior que se poderia fazer a esta geração de promissores jovens futebolistas, às nossa finanças e a um modelo económico sustentável seria entrar em pânico e ir aos saldos comprar por comprar, cobrindo todas as posições sem critério e acabando por investir (compras) e gastar (ordenados) mais dinheiro do que no cenário alternativo que apresento. Num momento em que o mais urgente será arranjar colocação para uma boa dúzia de excedentários do plantel que custam uma fortuna todos os anos e assim libertar a folha de pagamentos, uma nova roda-viva no mercado seria absolutamente letal. Não só porque coartaria as legítimas aspirações dos nossos formandos, mas também na medida em que prejudicaria definitivamente qualquer percepção de projecto desta Direcção existente na mente dos Sportinguistas, neles incluindo mesmo os mais optimistas ou situacionistas. 

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25
Jun20

PED Talks

Modelo para o futebol/Política desportiva


Pedro Azevedo

O futebol cumpre uma importante função social, ele é o circo romano dos tempos modernos. Por paixão pelo jogo, amor ao clube, desejo de vencer, necessidade de pertença e/ou de partilha ou, simplesmente, como escape para frustrações diversas do quotidiano, os adeptos vão aos estádios. Se for possível contribuir para que de lá saiam mais felizes do que entraram e não totalmente entediados, quando não enervados, então penso que o clube cumprirá uma função importantíssima do ponto-de-vista social. Defendo, por isso, que o Sporting tem de oferecer um bom produto aos seus adeptos sob a forma de um futebol positivo, onde o rigor táctico possa ser compatibilizado com os desequilíbrios provocados pelos "gladiadores" que fazem o bilhete valer a pena. Nesse sentido, entendo que o treinador principal do clube deve ser escolhido por conseguir conciliar a aposta nos jovens com uma boa ideia de jogo que permita algum deleite ao espectador e não transforme um campo de futebol numa repartição pública. Um perfil semelhante ao que em tempos tivemos com Malcolm Allison, ainda que não necessariamente tão "bigger than life" como o inglês. 

 

Há demasiados erros conceptuais no projecto de futebol do Sporting. Creio, por isso, que o elemento mais importante deverá ser o Director Técnico. O Sporting precisa de alguém que seja um pensador de todo o futebol do clube e que possa actuar com total autonomia, numa abordagem "top-down", definindo o tipo de jogo que se pretende praticar a nível sénior - se a Direcção, como entendo que o deve fazer até em função de poder chamar mais gente aos estádios, definir como prioridade uma ideia de "futebol positivo", então o Director Técnico deve procurar modelizar princípios de jogo compatíveis com tal - , sugerindo à Direcção treinadores que se possam adequar a esse desiderato, coordenando o futebol juvenil, de forma a que as rotinas implementadas - a partir dos escalões competitivos, porque no início não se deve estereotipar as crianças mas sim dar-lhes liberdade para que desenvolvam as suas qualidades técnicas - se assemelhem tanto quanto o possível à realidade dos seniores, trabalhando com os treinadores da Formação no sentido de serem desenvolvidas determinadas características em futebolistas jovens que mais tarde possam constituir uma mais-valia no plantel principal. A meu ver, esse Director Técnico deveria também ser responsável pelo complemento da formação de jovens treinadores a trabalhar na Academia, facilitando assim o seu crescimento na Estrutura até, alguns deles, poderem assumir-se futuramente como timoneiros da equipa principal do clube, ganhando assim o projecto por haver técnicos bem identificados com o processo. Com isto conseguiríamos ter um Futebol de Autor como oposição ao futebol de cada treinador que tem sido a nossa realidade, o que evitaria estarmos sempre a recomeçar a obra de construção do nosso futebol (Castigo de Sísifo) de cada vez que vamos buscar um novo treinador, perdendo-se inúmeros jogadores promissores no processo. 

 

Da forma como entendo o modelo, de cada vez que o treinador principal necessitar de um jogador com determinadas características, o Director Técnico deve primeiro procurar se elas existem na Academia, ou se é possível desenvolvê-las em tempo útil. Caso tal não seja possível, então, sim, dever-se-á recorrer ao mercado. (Se tivermos um miúdo nos escalões jovens que precisa de mais 1 ano para amadurecer, mais vale ir buscar um veterano tipo Mathieu que me faça uma temporada do que investir bastante dinheiro na compra de um jovem promissor que depois vai tapar o lugar ao produto da nossa Academia.) Como profundo conhecedor que será das necessidades da equipa principal, o Director Técnico deverá sempre ter a última palavra, ficando a liderar Scouting e Gestão de Activos, de forma a que sejam limitados ao máximo os erros de "casting". 

 

Um edifício futebolistico constrói-se pelos seus alicerces. No nosso caso, a nossa fundação é a Formação. Investimos dinheiro no projecto da formação com o objectivo de virmos a colher benefícios disso, tanto a nível desportivo como económico. Ora, é extremamente importante saber balancear estas duas vertentes e, através delas, assegurar a sustentabilidade do projecto. Por isso, defendo que tem de haver outra ligação entre o que é feito no terreno e a gestão do clube. Desde logo, através de um planeamento decorrente de um diagnóstico, tão precoce quanto possível, do valor intrínseco de cada jogador da nossa Academia. Nesse sentido, constituiria um Gabinete Técnico, conectado com a área de gestão de activos, que catalogaria os nossos jovens em 4 categorias:

  • jogador de classe extra(4), tipo Futre, Figo ou Ronaldo
  • jogador muito bom(3), tipo Adrien, William, Rui Patrício ou João Mário 
  • jogador bom(2)
  • jogador de classe média(1)

 

Quando o jogador chega aos juniores, haverá um ano para completar o seu diagnóstico. Com estas conclusões na mão, a gestão de activos e o treinador principal deverão seguir este plano: o jogador da classe 4 deve ser considerado um "eleito" e deveremos tentar mantê-lo o tempo possível para que nos ajude a ter êxito desportivo, sem prejudicar a sua valorização enquanto "activo". Nesse sentido, idealmente só o libertaremos por volta dos 23 anos, permitindo-nos 4/5 épocas na equipa principal e concomitante rendimento desportivo. Este tipo de jogadores nunca deverá ser vendido por valor inferior a 50 milhões (para quem ache pouco relembro que Futre saiu a custo zero, Figo por 2/3 milhões e Ronaldo por 15 milhões); os jogadores da classe 3 não despertarão tanta cobiça imediata por parte dos tubarões europeus. Aparecerá certamente uma segunda linha de clubes de topo interessada neles, mas os valores não serão assim tão sedutores. Preconizo que se tente fixar uma bitola entre os 25/35 milhões para venda destes "activos" e que se tente mantê-los até uma idade próxima dos 27 anos. Se, como no caso de João Mário, o valor oferecido pelo mercado for superior ao preço por nós definido, então aceitaremos libertar o jogador mais cedo; ligo muito a classe 2 à nossa sustentabilidade financeira, até porque tenho a firme convicção de que aqui há um trabalho importante de racionalização e optimização dos recursos a fazer. Se não trabalharmos bem esta classe ficaremos com os tais plantéis de 70/80 jogadores que, todos juntos, acabam por pesar bastante na conta de exploração da SAD.  Na minha opinião, é com as vendas destes jogadores - a esmagadora maioria dos quais condenados a empréstimos e pré-épocas na equipa principal fracassadas - que pagaremos por longo tempo os custos incorridos com a nossa Formação. Imagine-se que definimos um preço entre os 10 e os 15 milhões para venda de um determinado jogador. Em vez de "aquecer" o banco ou andar de empréstimo em empréstimo até ao final do seu contrato, um jogador destes, só por si, pagaria 3 anos da nossa Academia. Não podemos querer ter os "cromos" todos e se percepcionamos que o treinador principal não o vê a entrar de caras na equipa nos seus 3 primeiros anos de sénior, então o melhor é tirar algum proveito económico/financeiro do investimento que fizemos na formação do atleta; finalmente, o jogador da classe 1 deve ser alienado no final do seu primeiro ano de juniores ou na passagem para sénior, de preferência a clubes com que tenhamos boa relação e protocolo e com quem se possa estabelecer um acordo de opção de recompra (valor que não deverá superar 0,5/1 milhão de euros), precavendo o caso de o jogador vir a desenvolver-se de uma forma surpreendente que suplante o pré-diagnóstico feito.

É de superior importância que se reconheça e aprove o processo e que este não possa estar dependente de um eventual diagnóstico falhado. No futebol, infalíveis são apenas os ferros das balizas e a bola que rola (quando não fura), até a relva nem sempre cumpre como bem sabemos (e todo o mérito, independentemente de outras considerações, a quem finalmente resolveu esse problema), pelo que não será o erro que nos deverá desmobilizar de tentar introduzir alguma ciência na gestão dos activos. Os desvios devem ser corrigidos, substituindo ou reforçando pessoas no tal Gabinete Técnico se for caso disso, mas não deveremos nos afastar do processo nem duvidar das suas vantagens. (nota: os valores apontados para venda não dispensam que o valor das cláusulas de rescisão dos jogadores permaneça elevado, na ordem dos 60 ou 100 milhões, até de forma ao clube poder ter maior liberdade negocial)

 

De seguida, passarei a abordar ideias sobre o futebol profissional e a sua articulação com a Formação. O modelo de aposta na Formação deve ser imposto pelo clube, sem trangiversações e como parte integrante da sua política desportiva. É que, independentemente dos resultados desportivos que o treinador consiga obter, a factura é paga pelo clube/sociedade anónima desportiva e cabe a ela garantir a sustentabilidade económico/financeira do projecto.

 

  • Princípios de jogo/Sistema de jogo: (Ponto prévio: a visão da ideia de futebol positivo é da competência da Direcção, a forma de lá chegar é definida pelo Director Técnico e adoptada pelo treinador que comunga dessas ideias e está integrado no projecto.) Mais do que o 4-3-3 ou o 3-4-3, o mais importante no futebol são os princípios de jogo. Por exemplo, se eu quiser adoptar os princípios da escola holandesa de Michels e Cruijff, então eu vou jogar um futebol posicional, em que desenho triângulos constantes à frente do portador da bola de forma a que este tenha sempre linhas de passe. No fundo, quem se desmarca é que define para onde vai o passe, não quem tem a bola. A ideia é tentar ver o jogo o mais possível de frente, começando a construção na posição "6" ou, até ainda mais atrás, através de um central com boa saída de bola, razão porque Cruijff no Barcelona fez recuar Koeman ou Guardiola para essa posição. O futebol um pouco como o rugby, partindo de trás, sem chutões para a frente e tentando levar o máximo de jogadores em futebol apoiado até à baliza adversária. Sem bola, pressão inteligente. Por exemplo: se vou fechar o lateral direito adversário, devo tapar-lhe o lado do seu melhor pé, dando-lhe apenas a opção de bater com o pé esquerdo. Logo, imediatamente, faço subir um médio para tentar fechar a saída de bola pelo centro. E se subo esse médio, e dou espaço ao médio contrário, tal deve ser compensado por um defesa imediatamente. Tudo isto deve ser treinado e rotinado desde cedo, nos escalões de formação competitivos. O que para mim não faz qualquer sentido é andarmos anos a formar Daniel Bragança como "6", o que sugere uma ideia de futebol posicional em que a construção começa a partir dessa posição, para depois nos seniores querermos um "6" essencialmente repressivo, exemplo acabado de uma articulação inexistente entre formação e futebol profissional.
  • Treinador Principal do futebol profissional: a meu ver, o treinador tem de ser alguém com especial vocação de artífice, no sentido em que está na última estação de produção de talento da linha de montagem que é a nossa Formação. Ao seu nível, tratará dos “acabamentos”, a dimensão táctica do jogador. Se este chegar aqui com deficiências técnicas, a nível do passe e recepção orientada, dificilmente terá um crescimento tão exponencial quanto aquele que se poderá esperar no plano táctico (olho para Ristovski, por exemplo, um jogador rápido e todo-o-terreno, mas nota-se a falha na sua formação a nível de recepção orientada). Já a finta ou o remate poderão mais facilmente ser trabalhados, burilados pelo treinador. Ao mesmo tempo, o treinador tem de estar habituado à pressão de ganhar, mesmo quando com orçamentos inferiores aos seus rivais. 
  • Adjuntos: um dos adjuntos da equipa profissional deve ser uma velha glória do Sporting, campeão pelo clube e com capacidade para passar a cultura Sporting ao plantel. Deve também ser um homem leal e que ajude na integração do treinador principal e restante equipa técnica, especialmente se forem estrangeiros.
  • Gabinete Técnico do futebol profissional: formada por Director Técnico para o futebol profissional (superintende Scouting e Gestão de Activos), treinador principal do futebol profissional, Coordenador do futebol de Formação, treinador dos sub-23 (e/ou treinador da equipa B) e treinador dos juniores. Reunindo semanalmente, espaço onde se pode ir avaliando a evolução dos jogadores jovens com potencial para subirem à 1ª equipa do clube, bem como estabelecerem-se pré-diagnósticos (com base em informação constante do Gabinete Técnico da Formação, onde estarão os treinadores das várias camadas da nossa Formação, que produzirá relatórios anuais sobre o desenvolvimento dos jogadores) dos mesmos em articulação com a área de gestão de activos. Decisões como “queimar etapas” na Formação, posições em que é necessário intensificar o treino do jovem, com mais conteúdos tácticos, para mais rapidamente suprir uma lacuna da equipa principal, empréstimos para rodar ou dispensas devem ser aqui definidas, de forma a que o Director Técnico possa saber com a máxima antecedência possível com o que pode contar na equipa principal e as posições em que terá de ir ao mercado.
  • Política de quotas da Formação até que a aposta se consolide: não sou muito fã das quotas, mas a verdade é que se tem de começar por algum lado. Por exemplo, em tempos não muito distantes, foi a única forma de as mulheres poderem subir na sua carreira profissional. Uma discriminação positiva e que, no início poderá mais privilegiar a quantidade do que a qualidade, mas creio ser a única forma de impedir desvios ao que deveria ser o nosso ADN. Julgo, por isso, que deveria haver um número mínimo de jogadores provenientes dos nossos escalões de Formação na equipa principal e nem me chocaria que isso fosse integrado nos Estatutos do clube.
  • Tecto máximo de jogadores: o plantel principal deve ter um número máximo de jogadores. Na minha opinião deveria ser de 24: dois por cada posição, 3 pontas-de-lança e 3 guarda-redes. Havendo lesões, subiriam jogadores dos sub-23 (ou B) à equipa principal para as posições em défice. Seria uma maneira inteligente de optimizar recursos, com consequências positivas em termos de custos com pessoal e resultados líquidos da sociedade anónima desportiva.
  • Política de empréstimos: do meu ponto-de-vista, cumprindo-se os pressupostos dos dois pontos anteriores não seria necessário emprestar muitos jogadores (existe a equipa sub-23 e a B). Em todo o caso, estes, a acontecerem, por motivos de maior competitividade, deveriam privilegiar clubes que tenham treinadores com histórico de aposta em jogadores jovens e da nossa Formação (Couceiro, por exemplo, que nos melhorou João Mário, Ruben Semedo ou Ryan Gauld) ou com ligações históricas ao nosso clube (filiais). A meu ver, nessa política o treinador é mais importante do que o clube. Pode-se ter óptimas relações com o clube, mas o treinador não apostar em jovens. A não ser que se queira influenciar a escolha do treinador por parte do clube, mas isso já seria passar aquela linha que a mim me começaria a causar alguma urticária, pois a possibilidade de a coisa entrar no domínio do conflito de interesses seria considerável.e tenho como certo que o Sporting é um clube que não pode estar ligado a essas situações.
  • Contratação de novos jogadores: só deveriam ser contratados jogadores cirurgicamente e para as posições em falta. No máximo 3 jogadores por época e de muita qualidade, que efectivamente produzam a diferença, em detrimento de "contratações cirúrgicas" em classe média/baixa do futebol mundial. Qualidade e não quantidade. Posições como as de ponta-de-lança, que a nossa Formação geralmente não produz, por exemplo, e outros que conjunturalmente seja necessário colmatar. De qualquer forma, a qualidade das “fornadas” da Academia não é uniforme de ano para ano pelo que que haverá anos em que será necessário actuar mais no mercado. Evidentemente, uma boa oportunidade de mercado não deve ser desperdiçada, obedecendo ao tecto contemplado em cima. Vi o Sporting a contratar um jogador de qualidade média como Marcelo (defesa), com 28 anos, e fez-me uma certa confusão. O mesmo se passou com Ruben Ribeiro. Sobre Jesé, Bolasie e Fernando, que chegaram por empréstimo, é melhor nem falar. Outros não falo porque ainda são nossos jogadores. Eu proporia que só se contratassem jogadores com idade máxima de 23/24 anos (numa óptica de rendibilização de investimento) e alguns jogadores mais velhos apenas quando pudessem efectivamente fazer a diferença (Mathieu, por exemplo) e trouxessem a experiência que faltasse à equipa. Se eu tiver fundadas esperanças num craque da Formação e achar que precisa de 1/2 anos de estágio para que possa vir ao de cima todo o seu potencial, então será melhor contratar um jogador mais veterano (prematuro envelhecimento em cascos de carvalho) de créditos firmados - que vem cumprir esse período e que anteriormente já foi informado que se pretende que contribua para o crescimento desse jovem - do que estar a ir buscar ao mercado um jogador igualmente jovem e que depois, devido ao seu preço, vou ter a pressão de o pôr a jogar, prejudicando assim a ascenção do jogador formado na nossa Academia. Quantos casos destes ou semelhantes já não tivemos? Nunca contrataria nenhum jogador por empréstimo, excepto se tiver uma cláusula de opção com um valor acessível para as nossas finanças. Eu tenho a certeza de que se deve falar a verdade aos sócios e adeptos. Não temos dinheiro para de uma vez só actuarmos eficazmente no mercado, pelo que precisaremos de ir compondo a equipa em 2-3 anos, a fim de então podermos discutir o título.
  • Introdução do treino por sectores na Formação: vemos as melhores práticas dos desportos profissionais americanos e fica sempre a sensação que a Europa está muito atrás em diferentes matérias. Desde logo na interligação com os adeptos, mas aqui vou falar do treino por sectores, algo que é particularmente visível no futebol americano. O futebol ganhará muito com os ensinamentos de outros desportos. Por exemplo, a basculação (mudança de flanco) é uma coisa que se vê com frequência num jogo de andebol. Como é possível termos um homem como Manuel Fernandes nos nossos quadros e continuarmos sem produzir um ponta-de-lança com qualidade? Manuel Fernandes daria um bom treinador de avançados e pontas-de-lança em particular, transversal aos diferentes escalões de Formação, ensinando os miúdos em questões de posicionamento no campo, colocação do pé na bola, cabeceamento (vemos muitos que chegam ao plantel principal com défices nesse aspecto – Gelson, Matheus, etc). Não seria o Manél mais útil para nós aqui que no Scouting?
  • Scouting: conseguir cadastrar a base-de-dados com o maior número possível de jogadores, nacionais e internacionais, ainda em idade juvenil e ter a capacidade de os ir acompanhando até que as regras FIFA (jogadores estrangeiros) não impeçam a sua contratação. Isto traria menores custos na sua aquisição. Quando se chega a um jogador “já feito”, os custos são necessariamente superiores. Procurar mercados emergentes (Argentina, Uruguai, Chile, os brasileiros já estão muito inflacionados), mas também afluentes. No tempo de Sousa Cintra (outro tempo) chegaram ao Sporting, pela mão do empresário Lucídio Ribeiro, uma série de jogadores muito interessantes, provenientes do centro da Europa e do Magrebe. Balakov, Iordanov (bulgaros), Cherbakov (Ucrânia), Valckx (holandês) ou Naybet e Hadgi (marroquinos) foram jogadores que chegaram ao Sporting por valores acessíveis e que tiveram excelente performance desportiva, além de, alguns deles, proveitos extraordinários para o clube após venda. Abandonaram-se esses mercados e não se percebe bem porquê.
  • Propriedade Intelectual vs Academia: julgo que a maioria dos adeptos e até alguns dirigentes confunde muito a nossa Formação com a Academia de Alcochete. A Academia é um espaço físico, com excelentes condições é certo, mas o que faz toda a diferença é a propriedade intelectual, o enorme talento de homens como Aurélio Pereira ou João Couto, por exemplo, ou dos falecidos César Nascimento e Osvaldo Silva que fizeram escola. Se alienarmos isto, podemos ter a melhor Academia do mundo que os resultados não aparecerão. E depois há outras coisas: aquele campo pelado, ali ao lado do antigo pavilhão, viu nascer jogadores como Futre, Figo e Ronaldo (apanhou a Academia já no final da sua formação). Esses campos irregulares estimulavam a técnica e a habilidade dos jogadores, obrigados a dominar a bola após ressaltos inesperados ou a fintar entre umas covas ou lombas no terreno de jogo. Hoje em dia, os campos são perfeitos mas os talentos escasseiam. Dá que pensar, mas talvez não fosse má ideia ter um campo pelado em Alcochete, que pudesse recriar um pouco as condições do futebol de rua, onde craques como os já citados, para além dos ultramarinos Peyroteo, Hilário, Eusébio, Coluna ou Matateu, aprenderam o ofício. E continuem a recrutar formadores de excelência para enquadrar os nossos jovens.do ponto-de-vista desportivo e educacional. Houve quem brincasse quando eu falei a primeira vez dos campos pelados, mas eis que o Ajax decidiu ultimamente seguir esse caminho, construindo 3 campos baldios na sua academia. E porquê? Porque os jovens precisam de ser desafiados com novas dificuldades e as irregularidades de certos campos, que se assemelham às condições do futebol de rua, melhoram o tempo de reacção do jogador e aprimoram-lhe a técnica.
  • Independência total face a agentes de jogadores: no Sporting não podem nunca ocorrer situações de conflito de interesses que envolvam profissionais com vínculo com o clube e agentes de jogadores. O clube precisa de ter rigorosos procedimentos em matéria de prevenção desse tipo de situações, seja a nível do plantel profissional ou da sua Formação. Precisamos de ter a certeza que o único interesse instalado no Sporting é a defesa intransigente do clube.

 

É evidente que um clube como o Sporting não pode apostar só na Formação. Mas, temos é de saber estrair dela todo o seu potencial e não prejudicar o nosso investimento com redundâncias vindas de fora. Todo o jogador de categoria e que seja empenhado no trabalho é bem-vindo ao Sporting e o clube não pode estar de costas voltadas para o mercado, mas não faz qualquer sentido gastar dinheiro com suplentes ou suplentes de suplentes e colocá-los em cima dos jovens por nós formados, criando uma pirâmide que retira qualquer possibilidade de afirmação a estes. E com custos que se reflectirão no aumento do nosso Passivo e na Demonstração de Resultados. Do mesmo modo, a sintonia entre a Direcção/Administração e o treinador deve ser total (algo facilitado pelo facto do Director Técnico ter equiparação a COO no meu modelo de governação) e este último deve comungar das directrizes traçadas acima. Como tudo na vida, não basta ter (boas) ideias, igualmente importante é saber implementá-las e ter a força para, acreditando no projecto, não nos desviarmos nunca do mesmo, independentemente de acertos cirúrgicos que se venham a fazer, sem prejuízo da integridade do processo pensado e criado. Na verdade, isso tem falhado e há décadas. Melhorou nos primeiros anos de Bruno de Carvalho, mas regrediu pós aposta em JJ, ficando sempre a ideia de que o processo era demasiado empírico e muito assente na maior ou menor sensibilidade do treinador principal.

 

Uma equipa de futebol não pode ser a soma das competências de cada um. Para isso, existe um treinador, o qual cabe a atribuição de criar um todo que seja superior à soma de cada um. O envolvimento de toda a Estrutura no processo é importante, assim como a relação com os adeptos e a forma como os jogadores sentem o projecto e o clube. 

 

Para finalizar, gostaria de abordar as diferentes academias que temos espalhadas por Portugal e pelo mundo, constatando que existem actualmente diferentes modelos de negócio. Em algumas, o Sporting tem uma participação; noutras receberá um “fee” (100% franchising). Seria interessante que estes modelos e respectivos Business Plan fossem apresentados aos associados e que se percebesse, através de planos plurianuais, quais os custos em que o clube incorre e os proveitos que se podem esperar destas apostas. Igualmente, no plano desportivo, perceber-se quais são os objetivos. Há algumas informações dispersas que indicam que já há alguns jovens a treinar nas equipas de Formação do Sporting (Lucas Dias, muito bom jogador dos nossos juvenis, creio que veio de Toronto) e que são provenientes deste tipo de academias, mas não são claros quais são objectivos (quantificáveis). É importante uma clarificação aos sócios dos objectivos económicos e desportivos da aposta nas academias, a nível nacional e internacional, e perceber-se qual a política de expansão e como se conjuga com o merchandising e a promoção da marca, áreas onde haverá muito trabalho a desenvolver.

 

PED Talks - Princípios, Estratégia, Desporto

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19
Fev20

A realidade inconveniente


Pedro Azevedo

O Sporting continua a gastar demasiado no futebol para os resultados desportivos que apresenta. Tal concorre para Resultados sem transacção de jogadores fortemente negativos. Eis os principais desequilíbrios verificados a nível da SAD, visíveis através do R&C anual referente à época 2018/19 (não significativamente alterados em 2019/20):

 

  • Resultados Operacionais sem transacção de jogadores negativos em 29 milhões de euros, consequência do lado dos Proveitos da não qualificação para a Champions e do lado dos Custos do não ajustamento dos Custos com Pessoal e dos Fornecimentos e Serviços Externos (FSEs) à nova realidade europeia;
  • Subida das Amortizações para um valor de 30,9 milhões de euros, por via da insuficiente aposta em jovens da Formação (Valor Bruto e Amortização zero) e da aquisição de demasiados jogadores;
  • Resultados Financeiros negativos em 10,4 milhões de euros, devido a um aumento dos custos de financiamento da dívida;
  • Somando estas 3 rúbricas, a Sporting SAD perde 70,3 milhões de euros;
  • Não havendo ajuste dos Custos aos Proveitos, mantendo-se este cenário, a SAD precisará de realizar vendas anuais de 70,3 milhões de euros para não apresentar prejuízos.

 

Olhando para este cenário, é óbvio para todos que a realidade está muito longe da desejada sustentabilidade. Acresce que os resultados desportivos não justificam de todo o investimento produzido (aquisição de jogadores) e os gastos gerais em que a SAD incorre anualmente. Tal resulta de uma política desportiva delirante (pardon my french), completamente desfasada dos constrangimentos financeiros da SAD e que privilegia a quantidade em detrimento da qualidade e ignora a Formação. Olhando para a Demonstração de Resultados é perfeitamente identificável o não ajuste dos Custos à quebra de Proveitos motivada pela exclusão da Champions, desequilíbrio que não se reflecte positivamente de nenhuma maneira no desempenho da principal equipa de futebol do clube. Sendo certo que a situação já estava descontrolada nos últimos tempos de Bruno Carvalho, por via de um aumento pronunciado dos custos (cerca de 75 milhões de euros em Custos Com Pessoal) e de investimento (63,7 milhões de euros em 17/18 divididos em diferentes R&C) que estava ainda assim suportado num lote de jogadores de qualidade mas que ficou em parte ameaçado com as rescisões, a não imediata reacção à perda de Proveitos e a Alcochete agudizou o problema. É difícil não pensar que se poderia fazer muito melhor gastando e investindo muito menos. Não são só os benchmarks (referências) de mercado (Braga, Rio Ave, Famalicão) que o indiciam, é também o passado. Por exemplo, se olharmos para a temporada de 2013/14 verificamos o seguinte (face à temporada anterior): corte nos FSEs de 4,3 milhões de euros, redução dos Custos com Pessoal em 16,6 milhões de euros, diminuição no valor das Amortizações em 11,3 milhões de euros devido a uma maior aposta na Formação e melhoria dos Resultados Financeiros em cerca de 3 milhões de euros (menos dívida e renegociação das taxas de juro), para além de menos 3 milhões de euros em provisões. Tudo isto concorreu para uma melhoria dos Resultados da SAD em 38,2 milhões de euros. E os resultados desportivos? Bom, passámos de um 7º lugar em 2012/13 para um 2º lugar (qualificação para a Champions) em 2013/14, demonstrativo de que se pode fazer melhor, de uma forma sustentável, mesmo gastando muito menos. 

 

Conclusão: qualquer pessoa minimamente experiente em "turnaround" de empresas saberá que a actual situação é insustentável e que a aposta na Formação conjugada com uma política desportiva que privilegie a qualidade em detrimento da quantidade é a única solução possível. Ora, perante isto, o investimento de 47 milhões de euros em 15 contratações cirúrgicas em apenas 1 ano tem de ser considerado irresponsável, porque não só veio afectar ainda mais negativamente os Resultados da Sociedade como também não se perspectiva que possa proporcionar mais-valias significativas no futuro que possibilitem a cobertura do défice de exploração da Sociedade. Adicionalmente, a troca constante de treinadores (5 durante o consulado de Frederico Varandas) também não tem proporcionado a estabilidade necessária que mitigue um pouco os erros cometidos nas janelas de transferências. Para além disso, é hoje absolutamente notório um enfraquecimento da qualidade média do plantel face ao momento em que Varandas assumiu a presidência do clube. Nani, Raphinha, Bas Dost e Bruno Fernandes já não estão entre nós, Matheus Pereira, Domingos Duarte, Mama Baldé ou Ryan Gauld, jovens que estavam numa linha de sucessão, também não. Perante tudo isto, torna-se complicado perspectivar como a SAD conseguirá viver a partir de 2020/21, nomeadamente sabendo-se que sem cortar na despesa terá um défice de cerca de 70 milhões de euros e poucos jogadores de qualidade para o cobrir. 

 

Epílogo: Se Alcochete foi uma Tragédia Grega, na minha opinião a gestão produzida na SAD durante esta temporada deve ser encarada como uma nova peripécia dessa mesma Tragédia. À exuberância irracional do posicionamento de Bruno Carvalho nos últimos meses da sua presidência seguiu-se o preconceito com a Formação e o deslumbramento ("fácil, fácil") da política desportiva, tudo isto concorrendo para a situação dramática que actualmente se vive, que consiste em resultados desportivos medíocres e numa situação económica (a financeira resolveu-se apenas para esta época) deplorável e em constante deterioração. É urgente parar isto!

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31
Jan20

O senhor dos anéis


Pedro Azevedo

Nani, Bas Dost, Raphinha, Domingos Duarte, Matheus Pereira, Bruno Fernandes (Acuña que se cuide...) OUT! Rosier, Ilori, Eduardo, Jesé, Fernando, Neto (tanto nervosismo...) IN!

 

Vão-se os anéis, ficam os dedos? De que mão?

 

P.S. Ponta de lança? O Pedro Mendes já está inscrito e há um rapaz no Varzim (Leonardo Ruíz) que é nosso e é só o melhor marcador da 2ª Liga. Por falar em emprestados, lembram-se do Daniel Bragança? A ideia não era sair a jogar de trás? 

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16
Fev19

Mercado de Inverno


Pedro Azevedo

Por muito boa vontade que possa haver, custa-me muito compreender a acção do Sporting no Mercado de Inverno. Isto é, eu entendo que o estrangulamento financeiro, aliado à muito previsível perda do maior objectivo da temporada para um clube grande (campeonato nacional), impele o clube a vender alguns dos jogadores que mais pesam na conta de exploração. (Não conheço os salários de ambos os jogadores, mas alguns "sites" indicam que Nani ganhava 4 milhões de euros brutos por ano.)

 

Percebo também que se tenha esticado o mais possível o prazo para a venda até ao final da última janela de transferências aberta, procurando assim não prejudicar o desempenho da equipa. Acontece que o plantel do Sporting não tem muitos jogadores de qualidade acima da média e a saída destes dois jogadores tem o potencial de ainda vir a reduzir mais a capacidade competitiva da equipa e a identificação do grupo com o clube (Nani era o capitão, produto da nossa Formação e leão assumido). Adicionalmente, transmite o sinal de que "deitámos a toalha ao chão", mesmo que a segunda mão dos dezasseis-avos-de-final da Liga Europa (uma montra para o mundo onde podemos valorizar os nossos activos) ainda esteja por disputar, bem como a segunda mão da meia-final da Taça de Portugal. E menos ainda se compreende como gastámos, a fazer fé na imprensa dado que o clube não divulgou os dados oficiais, 12 milhões de euros em contratações (a que acrescem os salários) de 9 jogadores, onde se incluem o albanês Lico, os brasileiros Ronaldo (ex-Alverca), Matheus Nunes e Luíz Phellype, o marfinense Idrissa Doumbia, o colombiano Borja, o equatoriano Plata e os portugueses Ilori e Neto (este para a próxima época). Isto para além do regresso de Francisco Geraldes, que segundo li implicou uma compensação ao Eintracht Frankfurt pelos salários pagos desde o início do empréstimo (informação surgida na imprensa e que carece de confirmação oficial). Ora, o preocupante é termos gasto este dinheiro e na última quinta-feira nenhum destes jogadores ter sido utilizado como titular (apenas Luíz Phellype entrou na segunda parte). Mesmo olhando para os jogos anteriores, apenas Borja e Ilori têm sido aposta na equipa principal. 

 

Perante isto, o que me faz confusão é que estejamos a gastar dinheiro que não temos em jogadores que não fazem a diferença para depois vendermos alguns dos nossos (já poucos) melhores futebolistas. Eu sei que algumas das supracitadas contratações são para a equipa de Sub-23 e já dei a minha opinião sobre as qualidades que vejo em Matheus Nunes (vamos ver que oportunidades terá), mas não compreendo esta política na sua globalidade. Não havendo categoria superlativa nos jogadores adquiridos, o destino final será a criação de stocks. Entretanto, a qualidade vai definhando e neste momento restam-nos apenas Bruno Fernandes (até quando?), Acuña (apesar dos "apagões"), Mathieu (veterano) - estes três acima de todos outros - , Bas Dost (baixa de forma), Raphinha, Wendel ou Battaglia (lesionado) como jogadores de um patamar superior e com valor de mercado interessante. Ainda se isso significasse que se iria apostar nos jovens...

15
Fev19

Casa de doidos


Pedro Azevedo


  1. Montero, ausente já há bastante tempo e único ponto-de-lança capaz de combinar jogo atacante, chegou a acordo com o Sporting para rescindir o seu contrato. É anunciado nos Vancouver Whitecaps, da MLS. Relembro que para o seu lugar chegou um jogador proveniente da 2ªLiga, certamente aquilo que se entende como um "upgrade"...

  2. A Bola noticia que Nani está de saída.

  3. Luís Paixão Martins, fundador da LPM, empresa que segundo A Bola gere a comunicação do Sporting, divulgou no Twitter: "Peseiro foi um erro, a sua substituição permitiu vencer a Taça da Liga. Keizer é outro erro. Ainda vamos a tempo?"

  4. O Sporting não acompanhou o Ministério Público no recurso da decisão da juíza Ana Peres (Tribunal Central de Instrução Criminal), no âmbito do processo E-toupeira. 

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