O Homem-Elástico
Pedro Azevedo
Ando aqui já há alguns dias para Vos dizer alguma coisa sobre o Meszaros. Li que morreu, mas sei que não pode ser verdade, que homens como ele são imortais, viverão para sempre na nossa memória. E quais são as minhas? Em primeiro lugar, as dos bravíssimos duelos com dois meus outros perpétuos amores, Maradona e Keegan, em representação da selecção húngara ou do Sporting. Aí destaco o Homem-Elástico, com o seu inumano golpe de rins e bigodaça à Gengis Khan (ou talvez à Mark Twain, que, lá está, dizia que as notícias da sua morte haviam sido manifestamente exageradas) - num Hungria vs Argentina, no Mundial de 82, d10s e Meszaros jogaram um jogo à parte, o melhor do argentino nesse torneio, em que o magiar sofre dois mas tira 3 golos feitos a El Pibe, um dos quais desafiando todos os conhecidos manuais de anatomia; numa deslocação do Sporting a Southampton, clube imbatido em casa (The Dell) há 13 meses, Meszaros assegura a vitória leonina com uma defesa da mesma estirpe a remate de Kevin Keegan, o astro inglês - , que são uma perfeita metáfora daquilo que foi como profissional, felino e aventureiro. Esse aventureirismo tornou-o um dos últimos românticos do futebol mundial. No obrigatório livro de Gonçalo Pereira Rosa sobre Allison e a saga de 82, Big Mal & Companhia, vem descrito um episódio que nos dá conta de que o húngaro entrava em campo com um cigarro aceso escondido nas luvas e dava uma última furtiva passa antes de o apagar contra um dos postes. Das minhas memórias pessoais destaco também o "entertainer", que defendia a bola com o seu "derrière" ou a uma só mão, ou que simulava lançar a bola para um lado antes de a enviar no sentido oposto com tanta força no braço que invariavelmente a fazia transpôr a linha de meio-campo. E, claro, o mortal à rectaguarda a sacudir a bola por cima da barra, a sua marca mais distintiva. Como não há Bela sem senão, foi mais uma das vítimas do processo auto-destrutivo do Sporting que levou também à saída de Malcolm Allison, Eurico, Inácio, Ademar ou Nogueira, de que o clube leonino tardou 18 anos a recompor-se, sendo susbtituído por um Katzirz que era grande mas não lhe chegava aos calcanhares. Rumou então para Faro, e daí para Setúbal, sempre com Allison, um grande apreciador das suas qualidades que já o tinha recomendado anteriormente a João Rocha, como seu treinador. Mas nunca esqueceu sentimentalmente o Sporting, regressando até profissionalmente como treinador de guarda-redes na era de Queirós ao comando técnico do clube. Nós também jamais o esqueceremos. RIP.