Ainda me lembrava do Costa Malheiro, do tempo em que apresentou o boletim metereológico na RTP. Sabia do seu conhecimento e fluência, qualidades que de resto também eram comuns ao colega Anthímio de Azevedo. Ambos marcaram uma época televisiva em que ainda não havia meninas da SIC e as únicas curvas visíveis no ecrã eram as linhas de umas parábolas marcadas a giz num quadro verde. Estranhei por isso quando soube que iria apitar o nosso jogo em Setúbal, mas associei-o logo a ciclones e centros de baixa pressão, os quais geralmente indiciam que vem aí mau tempo. Precavido, tentei saber mais sobre o assunto. Consultado o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, percebi que os centros de baixa pressão se concentram à superfície, o que traduzido para futebolês e para a realidade que se iria viver no Bonfim significaria junto à relva. Temi o pior.
Ao ver a constituição da equipa do Sporting percebi que apenas Acuña tinha sido poupado. Não para o derby, mas sim para...o Zenit. Fez sentido!
Nani estava no banco, numa espécie de plano de emergência, para não lhe acontecer o mesmo que a Liedson aqui há uns anos, não fosse o árbitro ser levezinho na mostragem de um amarelo. Check!
Ainda não estavam decorridos 10 minutos de jogo e Malheiro marcou uma falta a Petrovic. Estabeleceu-se um diálogo entre os dois, onde o sérvio, com o nariz fracturado, terá verbalizado um "não me cheira" e o homem do apito gestualmente apresentado um cartão amarelo. É no que dá usar uma máscara. O árbitro entrava em cena com cerca de 10 minutos de atraso e em sincronia perfeita com Varandas (esperara pelo último homem a entrar), naquilo que seria um duro teste às convicções do presidente sobre "histerias" e "cobardias".
Começou então a aparecer Bas Dost, na sua nova versão fofinha. Por duas ocasiões, em vez de martelar a bola impiedosamente como é habitual, tocou-a suavemente para a baliza. Resultado: dois golos perdidos. A meio da primeira parte, Cadiz apareceu só com Petrovic ao lado. O leão, já condicionado pela admoestação, não foi a banhos e também não se meteu em caldeiradas e daí resultou o golo do Setúbal. Até ao final da primeira parte criámos novas oportunidades, com Raphinha e Dost a voltarem a não acertar na baliza. Quem não desperdiçou a oportunidade de ir ao bolso...e de lá tirar uns amarelos (4) foi o Malheiro, que distribuiu 1 para o Vitória e 3 para o Sporting.
No segundo tempo, o Sporting entrou mandão e disposto a dar a volta ao resultado. Em resposta, o Ruben Micael entrou brigão e disposto a dar a volta ao Doumbia. O Bruno Fernandes não se conformou, protestou e levou mais um amarelo para a colecção (7º da época), progressão aritmética de razão conhecida e que aponta para que o 10º (e concomitante paragem) coincida com a antecâmara de um qualquer jogo de importância extrema. Quem é que se atreve a dizer que a matemática não é uma ciência exacta? Salomonicamente, o árbitro pôde então dar um amarelo ao Micael. É incrível como este tipo de árbitros entendem de sucessões...
A seguir, o Mendy espetou uma cotovelada no Ristovski. O lateral ficou estendido no relvado e o jogo prosseguiu sem que Malheiro tivesse descortinado qualquer razão para falta ou sanção disciplinar. Com a cabeça quente e a testa inchada, facto visível desde a Lua, Ristovski terá dito qualquer coisa ao árbitro, estabelecendo-se a dúvida se o leão já seria fluente em português ou se o árbitro entenderia macedónio. O que não se entende é que tenha expulsado o nosso jogador. É caso para dizer que foi "galo"!
A perder e com menos 1 jogador em campo, o Sporting lançou-se num "Kamikeizer" de apenas 3 defesas. Primeiro, Petrovic, Coates e Jefferson, mais tarde Bruno Gaspar, Coates e Jefferson. Oscilando entre o 3-3-3 e o 3-2-4, para terminar num "tudo ao molho e fé em Deus" em que Nani e Bruno Fernandes chegaram a ser os homens mais recuados. Nesse transe, a faltarem 10 minutos para o final, o agora latinizado Dost substituiu a sua faceta de bombardeiro por um toque subtil a desviar um primeiro remate de Bruno Fernandes, tendo a bola terminado no fundo das redes sadinas. Ainda havia algum tempo e os leões partiram à procura da vitória. Numa bola por alto, o guarda-redes vitoriano saiu em falso e Dost foi desviado com a anca por um adversário quando se preparava para se elevar e cabecear a bola, mas Malheiro apitou uma falta (ou fora de jogo?) imperceptível contra nós. Noutra ocasião, o Luíz Phellype tentou uma acrobacia aérea que o Malheiro caracterizou como de potencial anticiclónico e parou a jogada quando a bola sobrava para o Diaby. Pelo meio, ainda mostrou mais 3 amarelos e apitou um sem número de faltas e faltinhas pelo que o jogo lá caminhou para o inexorável fim, não sem que antes Nani tivesse involuntáriamente assistido Hildeberto para o que poderia ter sido o Bom Fim da equipa vitoriana. Renan salvou. (É impressionante como uma partida em que os jogadores se respeitaram termina com um total de 10 amarelos e 1 vermelho, com o Sporting, naturalmente, a tomar a fatia de leão, com 6 amarelos e 1 vermelho. É que quem não tenha visto o jogo pode até ficar com a ideia de que se tratava da Guerra de Tróia.)
Em conclusão, o jogo acabou com um empate frustrante e com a constatação de que todos os objectivos que anteriormente neste blogue eu tinha enunciado falharam. Relembrando, estes eram:
- Ganhar o jogo;
- Poupar alguns dos jogadores mais utilizados;
- Dar rodagem a novos jogadores e a outros que incompreensivelmente se eclipsaram;
- Aproveitar para manter o "momentum" vitorioso antes da recepção ao Benfica.
Não só não ganhámos como, reduzidos a 10, cansámos os habituais titulares até à exaustão física e emocional. Geraldes (nem no banco estava), Miguel Luís e Jovane continuam a aprender flamengo e só Idrissa Doumbia, já com temporadas realizadas na Flandres, teve minutos. É caso para perguntar, aonde é que eu já vi isto? Querem lá ver que o Keizer ainda se vai associar à companhia de Jesus? Deus nos livre...
Tenor "Tudo ao molho...": Wendel (menções honrosas para Coates e Nani, este último muito influente na recta final, pese embora aquele deslize final que poderia ter sido fatal).
P.S. Infelizmente, afinal não foi o saudoso Costa Malheiro que eu vi ontem no Bonfim. O metereologista de serviço chamava-se Hélder Malheiro e há que reconhecer que previu bem o tempo que se iria fazer sentir. E de uma maneira retro, a fazer lembrar outros tempos, como quando, num quadro verde, marcou a giz o Petrovic e usou o apagador em Ristovski.
Não deixa porém de ser estranho que, estando Keizer a descrer das suas próprias ideias, venha agora a fazer escola através do senhor Malheiro, o qual ontem, por exemplo, soube repescar a famosa regra dos 5 segundos (para apitar uma falta contra nós) do holandês, característica que no estádio causou algumas irritação.
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