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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

15
Mar22

Tudo ao molho e fé em Deus

Slimani contra a seca... de golos


Pedro Azevedo

O erro faz parte do futebol. Quer dizer, à partida o erro deveria fazer parte do futebol. Só que por vezes o erro é mitigado por acção de terceiros. Foi o que aconteceu ontem em Moreira de Cónegos quando um Pinheiro se confundiu com um eucalipto e quase secava tudo à sua volta. A coisa começou quando um defensor moreirense desafiou todos os cânones do bem jogar e, vindo de fora para dentro da sua pequena área, despachou a bola rasteira para a zona central. Por milagre, Edwards, posicionado à entrada da grande área, não captou logo a bola, mas um segundo jogador do Sporting conseguiu-o e avançou com perigo. Subitamente, ouviu-se um silvo. Era o Pinheiro a descascar uma "falta" de Slimani sobre o tal trôpego defensor. Revistas as imagens, o Slimani levou com um pontapé no joelho, consequência reflexiva do alçar de perna do moreirense no momento do chuto. Não sei que regra do International Board o Pinheiro terá rotulado (o joelho e tal...), mas até acho que neste estado de coisas foi uma sorte o argelino não ter levado um cartão amarelo. Sorte que, por exemplo, o Ugarte pouco tempo depois não teve quando numa disputa de bola encostou o seu ombro no ombro de um adversário, o que está bom de ver logo mereceu uma punição disciplinar ao pobre do uruguaio. Punido foi também o Edwards, culpado por reagir a uma falta nítida não assinalada sobre si. E, por falar em nitidez de faltas, o Pinheiro lá viu o Pablo a destruir uma arrancada promissora do Matheus Nunes. O (segundo) amarelo e consequente expulsão é que ficou para um outro dia. Posto isto, o Pinheiro é uma exportação nacional, um internacional com insígnias e tudo. E é também uma comédia, um nonsense que o Flying Circus itinerante de Fontelas Gomes promove pelo mundo. Pena é não ficar por lá, pelo menos a atestar pela sua ausência de uniformidade de critério técnico e pelos 20 cartões amarelos já exibidos a jogadores do Sporting em apenas 4 jogos por si apitados. 

 

O que valeu ao Sporting foi ter um ponta de lança, essa figura que no Sporting já se julgava ser uma lenda da mitologia do mundo da bola. Até que (res)surgiu o Slimani no clube e afinal chegámos à conclusão que um ponta de lança até dá jeito. É o que se conclui quando um jogador recém-chegado contribui com 4 dos últimos 5 golos da equipa. E de todas as maneiras e feitios: 2 de cabeça, 1 com o pé esquerdo, outro com o direito. Não deixando de combinar bem com a equipa, apesar de não ter a técnica mais apurada do avançado centro Paulinho. Dando, porém, outras coisas ao nosso jogo. Como a profundidade ou a capacidade de luta, que o homem mesmo nos seus 33 anos, continua rápido e resistente como um daqueles ases quenianos da dupla-légua. Além disso, a sua actual excelente forma parece ter espicaçado o seu colega Paulinho, ontem autor do outro golo após um belo bailado que envolveu Edwards e Porro. Tudo boas notícias, portanto, razão mais do que o suficiente para eu não querer dar muito relevo àquela segunda parte enfadonha que mais uma vez me fez invocar aquela frase do Bobby Robson em que este afirmava que ao Sporting faltava "killer instinct". (E quando assim é ficamos mais expostos ao "killer instinct" de outros.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Islam Slimani. Completam o pódio o Edwards e o Porro. 

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25
Out21

Tudo ao molho e fé em Deus

A importância de ganhar


Pedro Azevedo

Os jogos com as equipas pequenas e médias são os que tradicionalmente decidem campeonatos. Como tal, é decisivo ganhá-los. E, para ganhá-los, há que marcar golos ou, pelo menos, mais um golo que o adversário, cabendo geralmente ao ponta de lança a dose de leão da contabilidade dessa arte de abanar as redes. É certo que o adepto pode exasperar se aquele que é designado por ponta de lança não fizer jus a esse epíteto, mas no passado já tivemos pontas de lança goleadores como Liedson ou Dost e não deixámos de escorregar e de perder pontos em jogos que antecipadamente dávamos como favas contadas. Por isso, ganhar é sempre o mais importante, marque o Coates, o Paulinho roupeiro ou o Ambrósio do Ferrero Rocher. (Neste último caso, tipo disco pedido do "Quando o telefone toca..." com senha e tudo a condizer, o adepto partilharia o seu desejo com o Ambrosio da seguinte forma: - Ambrósio, apetece-me algo... - Sim, senhor, que tal um golo açucarado? O adepto assentiria, o Ambrósio far-lhe-ia a vontade e ambos, no fim, partilhariam um doce e cúmplice sorriso.)

 

Para além destes jogos tomados como fáceis muitas vezes darem razão à alegoria do David e do Golias, a recepção ao Moreirense em particular sucedia a uma partida desgastante do ponto de vista físico e emocional, de alta intensidade e concentração máxima, disputada na longínqua Istambul. Havia, como tal, razões ponderosas de gestão de plantel a considerar, bem como uma presumível preocupação acrescida da equipa técnica com o foco dos jogadores, algo sempre difícil quando se vem da Cerimónia dos Óscares para a festa de anos do Óscar.  

Assim, há que dizer que a prova foi superada. Não com distinção, até porque do outro lado não estavam exactamente 11 bidões e sim uma equipa que ainda num passado recente veio ganhar com alguma facilidade ao Estádio da Luz, mas de uma forma relativamente tranquila e com poucos sobressaltos, que no fim serviu para garantir os tão desejados 3 pontos. 

O Paulinho não marcou? Não. E teve 5 boas oportunidades para isso. Não sei se será possível estabelecer com o Paulinho uma linha de diálogo do tipo Ferrero Rocher e porventura (o mais certo) ele até poderá ser diabético em matéria de golo e ter um metabolismo que não aguenta níveis elevados de produtividade em frente das balizas, mas enquanto houver uma equipa em vez de 11 jogadores será sempre possível esconder as fragilidades de cada um e sublimar a força do todo. Todo esse onde nós, adeptos, também nos inserimos, levando ao colo o Paulinho aquando da sua saída do terreno de jogo. Para um dia, quem sabe, levar-nos ele ao colo, se bem que "colinho, colinho" é mais fácil presumir do outro lado da Segunda Circular. 

Tenor "Tudo ao molho...": Matheus Reis (melhor exibição de leão). Coates foi, uma vez mais, decisivo (quem é que precisa de um ponta de lança quando tem um Coates escondido lá atrás?). Sarabia já podia ser o rei das assistências deste campeonato, assim concretizassem os seus inúmeros passes com conta, peso e medida para golo. Bragança distinguiu-se pelos bons pormenores com bola, ainda que defensivamente tenha sido leve na abordagem de alguns lances. Ugarte entrou com ganas e mostrou merecer mais minutos e Matheus Nunes ainda teve tempo para uma arrancada típica das suas. 

06
Abr21

Tudo ao molho e fé em Deus

Regresso às aulas


Pedro Azevedo

Com o regresso às aulas voltaram também as lições de educação visual, trabalhos manuais e ciências. Nesse sentido, a régua, o esquadro e o microscópio foram muito utilizados pela sala do VAR, assim como a tesoura pela turma moreirense. A aplicação desta última sem a requerida cartolina (amarela, ou vermelha?) justificaria uma falta de material à classe arbitral, infração que já se sabe não constituir objecto de análise por parte do conselho disciplinar do colégio federativo. Restará assim a "jarra", se a associação de estudantes do apito não quiser passar uma borracha sobre o assunto.  

 

O Sporting também voltou ao campeonato. Não se pode dizer que o regresso tenha sido auspicioso, pois empatou. Para melhor tentar explicar aquilo que vi (não é axiomático) vou deixar a sátira de lado e concentrar-me na análise que me parece curial fazer nesta circunstância. Assim, mais preocupante que o resultado é a indefinição que se nota quanto ao melhor sistema de jogo a aplicar quando nos aproximamos do último quarto da competição. O sacrifício de um dos interiores (Nuno Santos ou Jovane) teve consequências na falta de apoio observado por Matheus Reis na altura de fechar o espaço a Walterson aquando do golo do Moreirense. Por outro lado, o transporte de bola em segurança de João Mário parece-me claramente sobrevalorizado num clube que quer ganhar todos os jogos, na medida em que retira imprevisibilidade à equipa e não proporciona os desequilíbrios que quem lute por títulos tem de provocar no adversário. A equipa parece estar a viver uma pequena crise de indentidade, dispersa entre o ataque rápido e transição que deram tantos dividendos no passado e os fundamentos do jogo de ataque posicional. A introdução de Bragança traz qualidade de passe e fluidez de jogo, mas se queremos um terceiro médio que contraste com estas características então Matheus Nunes, um dinamitador de linhas, seria uma melhor solução do que João Mário, amortecendo os efeitos da passagem abrupta do 3-4-3 para o 3-5-2. Por outro lado, os poucos minutos de jogo de Jovane são um mistério. O jogador foi progressivamente apagando-se nas preferências de Amorim depois de ter sido instrumental na imposição do jovem técnico em Alvalade no final da época passada. Esta temporada voltou a ter um papel importante quando reapareceu a tempo de evitar o terceiro resultado negativo consecutivo da equipa, ajudando assim a ganhar a Taça da Liga e a criar a confiança necessária que alavancou o nosso desempenho no campeonato. A sua escassa utilização desde esse momento não deixa de surpreender, ainda mais pelo facto de o jogador continuar a mostrar-se influente mesmo jogando muito pouco tempo. Ontem nem sequer foi a jogo, optando Amorim por manter um Paulinho claramente desgastado e ainda a acusar alguma falta de ritmo resultante da lesão que o impediu de realizar uma série de jogos. Ao contrário daquilo que vem sendo habitual, desta vez Amorim não conseguiu esconder os pontos fracos individuais dos jogadores. Assim, Porro mostrou-se desatento ao avanço de Abdu Conté nas suas costas e Feddal foi imprudente na abordagem ao lance fatal, procurando improvisar com o calcanhar sem ter o virtuosismo para tal requerido de um outro magrebino que imortalizou tal gesto técnico no Porto e na Europa, tudo situações que habitualmente não se revelam quando o Sporting está no relvado e que por falta de estrelinha desta vez vieram a redundar em golo no único remate enquadrado da equipa de Moreira de Cónegos. No plano positivo, Paulinho marcou finalmente um golo e mostrou bons pormenores que lhe podiam ter rendido um outro e uma assistência. No entanto, precisa de melhorar o timing de ataque à bola na área, aspecto em que ficou aquém após primorosa assistência de Porro que poderia ter resolvido o encontro. Bragança esteve em excelente plano, rodando a bola com rapidez, incorporando-se no ataque com critério e proporcionando uma excelente assistência para golo a Paulinho. Evidentemente, a avaliação é contínua e a equipa tem créditos acumulados que permitem antecipar uma óptima nota final, mas será importante voltar a estabilizar uma ideia de jogo clara e dar oportunidades a jogadores que façam efectivamente a diferença. A equipa parece viciada nos equilíbrios, mas é importante que haja também quem desequilibre. Igualmente, a manutenção de um elevado ritmo de jogo que não permita aos adversários reentrarem nas partidas parece-me chave para um final de época sem sobressaltos. Nesse sentido, noto que à semelhança do jogo com o Rio Ave estivemos longe de esgotar as 5 substituições possíveis. Mas há que aprender a lição e andar para a frente. Acreditemos, porque Amorim e a equipa merecem-nos esse capital de confiança. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Daniel Bragança

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29
Nov20

Tudo ao molho e fé em Deus

O presente de César


Pedro Azevedo

Como em termos de organização o futebol jogado em Portugal ainda está na Idade Média, disposto a tomar de assalto um grupo de irredutíveis com sede a noroeste de Lisboa, o Clero Regular uniu-se a um César para conquistar a Sportingália. Com esta associação, os cónegos julgaram assim poder ditar leis em terra conhecida por não se governar sozinha nem se deixar governar por outrém. O problema é que com o advento da Idade Média e as invasões bárbaras a influência dos César perdeu-se. E nem o Clero Secular, de estricta obediência aos bispos, ajudou às pretensões dos cónegos. 

 

Em Alvalade, 1 ano corresponde a 1 segundo em termos de tempo de Humanidade. Assim, se ontem estávamos entre o triássico e o paleolítico inferior - assistindo à dança do T-Rex Jesérássico e vendo uns cromagnons a desenhar pinturas rupestres com os pés - , amanhã poderemos chegar à Modernidade. Um dos responsáveis por esta metamorfose é Potix, assim designado por ter tomado um pote de poção mágica em pequenino. O outro é Amorinix, o chefe da Sportingália. Ao contrário do seu antepassado Abraracourcix que tinha medo que o céu lhe caísse em cima da cabeça, Amorinix só tem medo que a cabeça dos seus pupilos toque na lua. Por isso, insiste em que todos ponham os pés bem assentes na terra e não vão em cantos de sereia. O mínimo que se pode dizer é que o combate de ontem deu-lhe inteira razão.

 

Ainda não estavam decorridos 3 minutos e já Palhinix era abandonado por Analgésix no meio da batalha, ficando assim impotente para travar um cónego que de forma nada canónica revelava más intenções. Esquecendo-se de que junto ao seu aquartelamento a correlação de forças era-lhe favorável em 5 para 2, Feddalix não saiu a campo aberto para ajudar. Para piorar as coisas, o jovem Mendix adormeceu na formatura e permitiu que a cavalaria moreirense o flanqueasse. Nesse transe, Geriatrix (também conhecido como Agecanonix ou Decanonix), o ancião da aldeia, assustou-se e abriu as portas à invasão dos cónegos. Determinados a contra-atacar, os homens de Amorinix não desarmaram. Mendix avançou com Santix, e este deu a munição para que os poderes sobre-humanos de Potix restabelecessem a igualdade de forças. Dada a forma célere como as tropas de Amoranix haviam recuperado de um duro revés no dealbar da batalha, pensou-se que a derrota dos cónegos estaria iminente. Puro engano. É certo que Sporarix podia até ter sentenciado cedo a contenda, mas um intrépito cónego também teve tudo para causar dolo se bem municiado quando, após um risco mal calculado por Feddalix, ganhou 2 metros a um Geriatrix que na correria pareceu transportar um menir às costas.

 

Dada a dureza inaugural da refrega, ambos os exércitos optaram por se estudar. Nesse transe, acabou por ser decretado um intervalo na contenda. Não se sabe se tal foi acompanhado por um pequeno repasto, o provável é que ao bardo de serviço não tenha sido impedido que entoasse melodias para um campo de batalha vazio e uma arena envolvente sem assistência até que escrivães e narradores voltassem ao serviço. Reatada a contenda, cedo se notou que a infantaria de Amorinix enfrentava dificuldades tamanhas na nevrálgica zona central do terreno, optando sempre por circular em "U" e utilizar a cavalaria. O problema é que, mesmo desbravado o terreno pelos flancos, Sporarix (onde andava o Marquix?), o guerreiro encarregue de conquistar o estandarte moreirense, tardava em dar a estocada final. Como tal, a situação caiu num impasse. Para quem conheça bem a vida na Sportingália, quando as coisas se complicam a solução está no Potix. E este não desiludiu. Assim, se num primeiro momento fez abanar as fundações da fé moreirense, num segundo momento conseguiu ultrapassar o trôpego "passionato" guardião dos cónegos, um presente de César que antecipou o período natalício que vem aí. Consta que tudo acabou em bem e que, observado o devido distanciamento social, o bardo Assurancetourix lá acabou amarrado a um canto para não suscitar reacções enérgicas da parte dos restantes aldeões. Comme il faut! (O Linguistix da aldeia ao lado é que não deve ter ficado nada contente com o desfecho e em Janeiro lá estará a pedir a um Ordralfabétix de ocasião mais munições para arrasar a malta.)

 

Menir d'Ouro "Tudo ao molho...": Potix. Outra boa opção seria Palhinix.pote moreirense.jpg

07
Jul20

Tudo ao molho e fé em Deus

O Restaurador Olex e a dura lex, sed lex


Pedro Azevedo

Jogo na segunda-feira às 9 da noite, em Moreira as bancadas estão vazias mas há uma varanda desconfinada sobranceira ao estádio onde o distanciamento social é uma ilusão. Sem praia, também o Portugal rural a mandar às couves as recomendações da Drª Graça Freitas. No relvado a coisa parece um concerto dos Stomp em que tudo serve para martelar. Não há canelas, tornozelos, tendões de aquiles ou dedos dos pés que resistam. Dois canhotos, Abdu Conté e Borja, são os líderes metaleiros. Só os guarda-redes parecem a salvo. Mas eis que o treinador do Moreirense entra na festa:

- Pasinato, ó Pasinato! - , grita para o relvado o Ricardo Soares.

- Sim, mister?

- Atira-te para o chão! Para o chão!

- E dói-me o quê?

- O gémeo. (Ricardo Soares caricatamente contorce-se e simula um boneco desarticulado por uma pretensa força que incide sobre a barriga da sua perna.)

- Ah, ok!

Paragem interminável do jogo de forma a que Steven Vitória possa aquecer à vontade e o treinador engendrar um novo sistema táctico que resista à inferioridade numérica. Tudo à vista de toda a gente, sem vergonha, na segurança da sua impunidade. Bem podia ser uma Farsa de Aristófanes, mas não, é o futebol português em todo o seu "esplendor" (caro Fernando Gomes, esta a ver porque o produto não é exportável?). O mesmo futebolzinho onde depois do martelo vem a foice e o Jovane é cortado rente como a seara dentro da área moreirense perante o olhar indiferente de Tiago Martins e o silêncio conivente de Jorge Sousa, o VAR de plantão. Tudo paradigmas da ideologia "comunista" que ontem grassou em Moreira, acérrimamente defensora da igualdade e da co-propriedade (dos pontos).

 

O jogo? Em terra de cónegos é possível que o "Diácono Remédios", habitual zelador dos costumes das tácticas neste blogue, se venha politicamente manifestar, mas o estimado senhor que tenha paciência pois a verdade é que ontem foi de novo visível que, com 2 médios jogando muito perto um do outro, o fosso para os 2 interiores que jogam por detrás do ponta de lança é enorme, o que leva sistematicamente a circularmos a bola em "U", procurando assim através da Ala dos Namorados flanquear o opositor. A alternativa é o recúo dos interiores, ficando então Sporar numa ilha, longe de tudo e de todos. É curto, embora pontualmente a inspiração de um jogador possa resolver. Ultimamente esse jogador vinha sendo o Jovane, isto é, o Jovane que não é loiro nem branco de carapinha e é natural (a marcar golos) como o Restaurador Olex. Mas esse não esteve ontem em Moreira de Cónegos. O Max também poderia não ter estado, visto que não foi chamado a realizar uma defesa. Pelo menos a remates de jogadores do Moreirense...

 

Desta vez jogaram menos miúdos. Com isso vieram à superfície algumas limitações no plantel. Atente-se no Neto. O Neto é bom rapaz, respeitador do clube e da sua história, mas precisa compreender que não tem de ler toda a enciclopédia luso-brasileira antes de fazer um passe. Outro mestre na arte de engonhar na hora da saída de bola é o Borja. O colombiano, naquele seu jeito vai-que-não-vai com passes laterais dentro da área à mistura, provoca calafrios constantes ao bom do adepto. Ontem safou-se de boa após entrada imprudente e pouco católica sobre um cónego. Depois há o Ristovski, sempre a cruzar contra o primeiro boneco que lhe apareça pela frente. A coisa só melhorou quando o Acuña foi improvisado como central pela esquerda, o Nuno Mendes alargou na ala e estendeu-se ao comprido de forma literal e não idiomática e o Wendel entrou e começou a transportar jogo para a frente. 

 

Com os descontos, o Sporting esteve cerca de 45 minutos em superioridade numérica no relvado. Sensivelmente meia-parte em que a bola circulou lenta, lentamente como quem clama por praia em jogos com trinta graus à sombra. O Sporting não tinha sido melhor que o Moreirense na primeira parte e não soube traduzir o domínio no segundo tempo em oportunidades de golo. Talvez se o Geraldes não se tivesse lesionado as coisas pudessem ter sido diferentes, na medida em que houve vários momentos do jogo em que um passe de ruptura e uma superior visão de jogo teriam feito a diferença. De outro modo ficámos com pouco de que nos queixar. Ou ficaríamos, pois tempo ainda houve para o momento de dramatismo em que o Tiago Martins foi ver umas imagens e concluiu que o agarrão ao Coates fazia parte das leis do jogo ("dura lex, sed lex"). Mas quem nada propôs e nenhuma medida se lhe conhece até hoje para alterar este paradigma do futebol português também pouca moral tem para reclamar. Afinal, de que serve esgrimir argumentos contra os moinhos como D. Quixote de segunda-feira enquanto os outros enchem a pança? (A UEFA e a FIFA é que parecem não ter dúvidas sobre a sua qualidade, pelo menos a atestar pela ausência nos relvados dos árbitros portugueses nas ultimas competições internacionais de seleções organizadas por esses dois organismos que superintendem o futebol.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Wendel. Menções honrosas para Coates e Nuno Mendes. 

 

P.S. Uma coisa é termos a consciência da grandeza histórica do clube, daquilo que somos, o que é Ser Sporting. Outra coisa, bem diferente, é os adeptos embandeirarem em arco e, perante o silêncio conivente de uma Direcção que vê nessa ilusão uma forma de sobrevivência, começarem a acalentar o sonho do título em 2020/21. Isso só trará desilusão e consequente instabilidade social ao clube, pelo que é importante haver desde já um discurso de verdade por parte de quem é competente para o efeito. É preciso perceber que há que ter paciência com os miúdos e dar-lhes margem para errarem e crescerem. Simultaneamente, não havendo dinheiro para satisfazer todas as posições em défice, há que definir prioridades de mercado e procurar apenas qualidade. Ao mesmo tempo, urge libertar a folha de pagamentos de imensas redundâncias que nada acrescentam em campo e tantos constrangimentos criam à nossa tesouraria e conta de exploração. É impossível resolver o problema de falta de jogadores de referência em apenas 1 ano, mas se resistirmos a ir ao mercado em quantidade como no passado recente e procurarmos apenas qualidade de uma forma efectivamente cirúrgica (2-3 jogadores por ano), fazendo também regressar alguns dos emprestados (Bragança, Dala), então será possível lutarmos pelo título até ao fim em 2021/22. Portanto, duas coisas serão essenciais no futuro próximo: manutenção de expectativas baixas associadas ao crescimento dos miúdos e escolha criteriosa da qualidade que queremos importar para o plantel. Se estas premissas não forem cumpridas e o populismo se sobrepuser à razão, então teremos definitivamente comprometido o nosso futuro. Mas se tudo for cumprido, então estarei disposto a apoiar esse caminho. 

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08
Dez19

Tudo ao molho e fé em Deus - Ter ou não ter um ponta de lança


Pedro Azevedo

O fim de semana tinha começado bem. Com efeito, no andebol, o Sporting havia vencido confortavelmente um Benfica que quase 30 anos depois ainda não mostra sinais de ter recuperado do trauma da perda do angolano Vata, o mais marcante andebolista da sua história. Desta forma, terminaram o jogo com um(a) grande Carol(a). O Domingo também abriu da melhor maneira, com o triunfo do basquetebol no Dragão Caixa, 24 anos após o último clássico que a nossa equipa da bola ao cesto aí havia disputado, numa partida em que se produziu um oxímoro. É que quem acelerou mais o marcador foi um... Travante! (E Williams, como na F1...)

 

Embalados pelos êxitos das modalidades, os leões foram a jogo no futebol contra o Moreirense. O momento da equipa não era o melhor. Adicionalmente, em tempos dominados pelos "padres" uma visita de cónegos constitui sempre alguma apreensão. Ainda assim, atendendo à cotação do adversario, o meu prognóstico na antecâmara do jogo era moderadamente optimista. A coisa piorou quando vi que na frente do ataque estava um "avençado centro" (emprestado) com um estilo à "pintas" de lança. Susti a respiração. A inspiração parece ter contagiado Borja, o qual hoje conseguiu ir mais vezes à linha do que em toda a sua carreira por cá. E logo da primeira vez deu golo! Golo esse que viria a ser anulado por 14 cm, uma grande medida para um vídeo-árbitro, um mero detalhe para o John Holmes. Já se sabe que à menor adversidade a equipa desconjunta-se e assim voltou a acontecer. Bolasie e Jesé (por duas vezes) ainda visaram a baliza moreirense, mas seriam os cónegos a ter a melhor oportunidade da primeira parte quando Luther apareceu isolado mas não conseguiu desfeitear o Super Max da nossa Formação, em lance onde, parabolicamente falando, de uma costela de  Neto os deuses do futebol fizeram um Coates.

 

Na etapa complementar a toada morna mantinha-se. Aqui e ali entrecortada pela classe individual dos nossos melhores jogadores, como quando Mathieu fez estrelar a bola no poste da baliza de Pasinato na conversão de um livre directo. Borja procurava centrar para a área, simplesmente a inferioridade numérica sportinguista na área do Moreirense era da razão de 1 para 5 pelo que as jogadas acabavam por não dar nada de relevante. Os minhotos ameaçaram, mas Max desviou com a luva para canto. Eis então que Silas decide jogar futebol com um ponta de lança a sério. E, se 14 cm fizeram toda a diferença, 6 minutos ainda o fizeram mais. Esse foi pelo menos o tempo que Luíz Phellype demorou a marcar, respondendo com uma forte e colocadíssima cabeçada (até parecia o Jardel...) a um cruzamento de Mathieu, um sub-37 que é uma das maiores promessas em Alvalade. Até ao fim o Sporting conseguiu controlar o jogo, com Bolasie muito dinâmico a arrancar a expulsão de Iago e a colocar assim o Sporting em vantagem também no número de jogadores em campo pese embora a entrada de Camacho. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Jeremy Mathieu. Destaques pela positiva para Max, Bolasie e Luíz Phellype. Borja fez o seu melhor jogo de leão ao peito, mas peca por muitas vezes nos cruzamentos a bola ficar no primeiro homem da defesa contrária. Bruno, sempre esforçado, esteve abaixo do normal, Ristovski substituiu Rosier com vantagem para a equipa. Coates, que entrou para o lugar de Neto, não comprometeu. Os outros estiveram num plano inferior aos citados. Azar para Neto, com uma costela partida e perfuração do tórax. Rápidas melhoras para ele!

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19
Jan19

Tudo ao molho e fé em Deus - Acuña contra os cónegos


Pedro Azevedo

Hoje, pela primeira vez na temporada, faltei a um jogo da Liga em Alvalade. As nuvens negras e a dupla Costa/Capela ameaçavam tempestade, razão pela qual me decidi pelo sofá. Mas não fiquei só, o Bas Dost também seguiu a mesma opção, provavelmente a sonhar com Madrid. Também não me desiludi: não só a chuva caiu durante praticamente todo o jogo como árbitro e VAR estiveram à altura de duas carreiras recheadas de tantas decisões polémicas que não caberiam na edição completa da Enciclopédia Luso-Brasileira. Este tomo em particular começou num lance entre Acuña e Arsénio, com o cónego a parecer ter sido desviado com os braços na área leonina, e acabou num despautério total.

 

Os jogadores do Sporting entraram interessados em mostrar que têm treinado as bolas paradas: aos 2 minutos, Nani apareceu no primeiro poste a desviar (de cabeça) para golo um canto marcado por Acuña, e o mesmo argentino logo de seguida bateu um livre para Diaby acrescentar mais um capítulo ao seu futuro Best Seller "Mil e uma maneiras de falhar um golo", actividade certamente lucrativa (ou não fosse o valor da sua contratação) na qual substituiu outro autor consagrado que passou por Alvalade, o costa-riquenho Bryan Ruiz. Por volta dos 25 minutos a jogada repetiu-se e com o mesmo resultado. Valha a verdade que houve intervenção de Jhonatan, que adivinhou o lance (ou não tivesse o "h" adiantado "nas horas"), e do travessão. A bola, teimosamente, resistiu a ultrapassar a linha de fundo e Bruno Fernandes apanhou-a, afagou-a e serviu Ristovski para nova defesa de Jhonatan. Do ressalto, Bruno Fernandes fez o segundo, coroando a fase matraquilhos da partida. 

 

Acuña era o homem do jogo, no relvado e na televisão. Durante um quarto-de-hora, Rui Pedro Rocha manteve que o argentino tinha rescindido no Verão com o Sporting e que, posteriormente, se havia arrependido e regressado. Após o 2-0, lá desfez o equívoco. O Sporting dominava e Bas Dost falhou escandalosamente à boca da baliza um passe de Ristovski. Logo de seguida, novo caso do jogo: Bas Dost foi derrubado por um defensor moreirense quando se isolava para receber um passe de Diaby, sobrando a dúvida se foi fora ou dentro da área. Nem "penalty" nem expulsão, Rui Costa deixou prosseguir e, após 2 minutos em que o jogo não parou, o Moreirense reduziu, num golo de Heriberto. Estalou a polémica, entrou o VAR em cena, mas o Sporting, em vez de se ver com um jogador a mais e/ou com uma vantagem muito provável de 3 golos no marcador, acabou por ficar a liderar por apenas um golo de diferença. Um clássico com este árbitro, que já na temporada passada havia ignorado o apelo do VAR para uma grande penalidade cometida sobre Gelson, mantendo após visionamento das imagens a sua interpretação de simulação do (aí) ala leonino e respectivo cartão amarelo.

 

Ao intervalo, a SportTV mostrava William nos camarotes de Alvalade. Ouvi qualquer coisa do Rui Pedro Rocha sobre isso, mas depois da confusão criada com Acuña não lhe dei grande credibilidade, pelo que fiquei sem saber se o médio também se arrependeu e se é reforço de Inverno. O segundo tempo iniciou-se e o público ia pautando as poucas faltas marcadas pelo árbitro a nosso favor com aplausos. Nesse transe, o cartão amarelo mostrado a Chiquinho (falta sobre Bruno Fernandes) mereceu até uma ovação. No entanto, rapidamente o Sporting nivelou os cartões, numa fase em que Gudelj filantropicamente preveniu o aparecimento de varizes em vários dos seus adversários, insistindo em que não ficassem de pé durante muito tempo. O Sporting estava mais lento, acusando o cansaço da intensidade posta no jogo de três dias antes, e Diaby conseguia estragar imensas jogadas. Aliás, o ala nunca poderá seguir uma carreira pós futebol na organização de eventos, pois não sabe preparar recepções, até porque as condimenta com demasiada canela. (Já Francisco Geraldes é hoje mais Relações Públicas do que jogador, pelo menos a avaliar pela venda de gameboxes e pelas oportunidades que lhe dão para jogar à bola.) Esperava-se a saída do maliano, mas Keizer surpreendeu ao substituir Nani por Raphinha. O ex-vimaranense entrou com vontade de ganhar a titularidade e marcou à primeira oportunidade. Auxiliar e VAR conseguiram ver um milimétrico fora-de-jogo e anularam o golo da tranquilidade. O martírio da arbitragem prosseguiu quando Wendel foi carregado duramente por trás e o cartão vermelho correspondente foi trocado por um de cor amarela, em jogada que obrigou à substituição do brasileiro e regresso do duplo-trinco (entrada de Petrovic). Até ao fim do jogo ainda houve alguns calafrios provocados por cantos contra nós, mas o triunfo acabaria por ser do Sporting, mesmo que Acuña tenha tido muitas vezes que se superiorizar a dois ou três adversários por falta de ajuda de um Diaby que miraculosamente conseguiu ficar os noventa minutos (mais os descontos) em campo. O ex-Racing de Avellaneda, aliás, foi o melhor em campo, atacando também com grande brio e qualidade, nomeadamente cruzando sempre com eficácia. Fico agora à espera que não cruze também o continente, de oeste a leste, e acabe em São Petersburgo, até porque a equipa precisa de jogadores com esta raça e atitude no relvado.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Marcos Acuña. (Gostei também de Mathieu, Ristovski e de Bruno Fernandes, embora este último não tenha estado particularmente inspirado.)

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(Fonte Imagens: A Bola)

19
Jan19

Xeque-mate!


Pedro Azevedo

A base da ideia de jogo de Marcel Keizer é o domínio do centro, um processo também comum ao xadrez. Por isso, logo à tarde, temos de dispôr as nossas peças no tabuleiro (axadrezado) moreirense de forma a que possamos rapidamente obter o xeque-mate. Os pontos fortes da equipa de Moreira de Cónegos residem no seu meio-campo: à experiência de Fábio Pacheco, potência de Loum e destreza de Chiquinho, somam-se a qualidade técnica, habilidade no 1x1, diagonais e facilidade de remate dos alas Heriberto ou Arsénio que se podem tornar letais para os seus adversários. O ponto fraco será a sua defesa, hoje desfalcada simultaneamente de Ivanildo (emprestado pelo Sporting), Abarhoun (vendido ao Rizespor) e João Aurélio. Há, por isso, que exercer pressão logo à saída de bola e ir flanqueando o último reduto adversário à espera de que se abra uma brecha no centro que deixe Jhonatan desguarnecido. À partida será o suficiente, desde que os cónegos não venham a contar com um inesperado apoio dos bispos.  

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