A Selecção Nacional foi a jogo na véspera do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas (e também do Sport Lisboa, mas este comemora-se durante todo o ano neste país) e acabámos todos a celebrar em antecipação. Em Dia de Pentecostes, o Espírito Santo parece ter iluminado todos os intervenientes: os jogadores foram uns "heróis do mar" e levantaram de novo o esplendor de Portugal; Fernando Santos, humilde, soube dar asas à epopeia lusa, trocando o caos, que a introdução de Felix gerara no jogo anterior, pela organização colectiva; os adeptos presentes no estádio, incansáveis, foram a voz de todos os portugueses espalhados pelo mundo.
Liberto do tabu da utilização de Felix, Fernando Santos foi a jogo num 4-3-3. No meio-campo, Danilo era o homem mais recuado, William um "box-to-box" e Bruno Fernandes o "10". No entanto, esta geometria era variável, aparecendo algumas vezes William (meia esquerda) a par de Bruno Fernandes (meia direita), formando-se assim um triângulo de cariz mais ofensivo. Na frente, Guedes entrou para a ala esquerda, formando o trio de ataque com Ronaldo (centro) e Bernardo (ala direita). Na segunda parte, a táctica foi subtilmente alterada: voltou o losango, agora com William como homem mais adiantado a pressionar a saída de bola holandesa, recuando Guedes para a meia esquerda e derivando Bruno Fernandes para a meia direita, mantendo-se Danilo atrás. Na frente, Bernardo aproximava-se de Ronaldo pela direita.
A táctica revelava uma ideia chave: o condicionamento do jogo holandês, selecção que aparecia em grande forma após ter eliminado sucessivamente a Alemanha, a França e a Inglaterra. Portugal jogaria nos intervalos de não deixar jogar a Holanda. Ter mais ou menos bola dependeria da eficácia da nossa pressão sobre Frankie de Jong, o homem que fazia a ligação do jogo holandês. William tomou a si a missão, com a mesma determinação com que os generais Fernandes Vieira e Vidal de Negreiros haviam impedido a passagem das tropas da República das Sete Províncias Unidas no Morro dos Guararapes durante a Guerra Luso-Holandesa. E a verdade é que resultou, conseguindo Portugal estancar o sumo de uma Laranja Mecânica para o efeito transformada num limão espremido à mão. Sem bola, a dinâmica de movimento holandês tornou-se enócua, sem sentido ou propósito. Se durante o primeiro tempo Portugal ameaçara por Bruno Fernandes (o luso mais rematador), no segundo viria a conseguir o tão desejado golo à hora de jogo, na sequência de uma bela combinação entre Guedes e Bernardo, brilhantemente concluída pelo primeiro. Em desespero e sem mecânica, à Holanda restou-lhe recorrer à aeronáutica, procurando o jogo directo para a cabeça de Luuk de Jong, ponta de lança lançado para o efeito por Ronald Koeman. Sabendo sofrer, Portugal contou então com um Ruben Dias que foi descascando laranjas umas atrás das outras e um Rui Patrício muito atento a apanhar as cascas, não permitindo aos holandeses reentrar no jogo e vencendo assim a primeira edição da Liga das Nações, a segunda importante conquista internacional do futebol português a nível de selecções seniores.
Em modo de balanço final, sendo certo que Ronaldo nos salvou de uma eliminação anunciada nas semi-finais, desta vez Fernando Santos foi capaz de dar a Ronaldo aquilo que Allegri não conseguiu na Juventus: a eliminação dos pontos fortes do jogo holandês. E, juntos, já somam dois titulos inéditos por Portugal. Uma vez mais, com o importante contributo de jogadores made-in Sporting. Se em Saint-Dennis haviam sido 10, agora foram 5. Sem esquecer Bruno Fernandes, claro.
Agora, há que aproveitar e festejar o dia, até porque nos outros 364 festejam os holandeses. É só comparar o salário médio de cada país, a taxa marginal de IRS ou o imposto sobre os lucros das empresas. Mas, isso, os nossos governantes não se apressam a comentar em jeito de uma "flash-interview" ...
Tenor "Tudo ao molho...": Bernardo Silva. Na equipa portuguesa, Bernardo, William e Ruben Dias foram os melhores, mas toda a equipa (o suplente Rafa incluído) esteve em bom plano e cumpriu na perfeição o plano de jogo.
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