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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

27
Set22

Tudo ao molho e fé em Deus

O Santos Contestável


Pedro Azevedo

Um Portugal vs Espanha traz-nos sempre à memória Aljubarrota, o "Mestre de Avis", e D. Nuno Álvares Pereira, o mestre da táctica, que passou à história como o Santo Condestável. Nesse tempo "jogávamos" em inferioridade numérica, apesar dos ocasionais reforços provenientes de Inglaterra, mas no final o Quadrado, a Ala dos Namorados e o jóquer Brites faziam toda a diferença. Mas esse era um outro tempo, de antes quebrar que torcer, onde o engenho e a arte abundavam e compensavam as limitações próprias de um país pequeno. 

 

Hoje em dia a realidade é outra, vivemos em abundância (de talento): Portugal teve, entre o relvado e o banco de suplentes, 13 jogadores que actuam nos melhores clubes do mundo (Man City, Man Utd, PSG, Liverpool, Atlético de Madrid, Nápoles e Milan), um luxo. Cumprindo a velha tradição da aliança com os ingleses, outros 5 vieram de clubes da Premier League, o campeonato dos campeonatos europeus. Bem sei, o Quadrado, que Fernando Santos no passado recente adaptou como losango, desfez-se num triângulo. Mas tivemos duas (dois!) alas de grande nível, pelo que uma coisa compensou a outra. O que nos faltou, então? Bom, uma coisa é ter do nosso lado o Santo Condestável, outra é ter o Santos Contestável. E se quem dirige não ajuda a assegurar o ganha-pão, não admira que a Padeira tenha falta de comparência. (A Espanha a meter a alta cilindrada, o Palhinha e o Matheus a criarem raízes no banco e o João Mário, aquele que no Sporting-campeão não era opção para o seleccionador, a entrar quando o motor espanhol estava muitas rotações acima da sua trotinete, eis um breve resumo do inglório desperdício de talento operado pelo nosso seleccionador.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Diogo Jota. Nota alta também para Nuno Mendes e Danilo.  

Portugalespanha2.jpg

18
Nov20

Tudo ao molho e fé em Deus

Retratos de Rubens


Pedro Azevedo

A conclusão que se poderá tirar deste jogo é que provavelmente a nossa selecção teria ficado melhor no retrato se Fernando Santos houvesse optado por separar ("split") os Rubens. É que se o estilo barroco de Dias se traduziu extravagantemente no marcador, o estilo bacoco de Semedo na abordagem aos lances, misto de excesso de confiança e de um sem medo a roçar a displicência, poderia ter deitado tudo a perder. E é pena, até porque a qualidade (abundante) está lá. Mas, o tempo passa, as falhas de concentração exasperam e deixam qualquer um de rastos (rastas?).

 

Ao contrário do jogo com a França, desta vez a nossa equipa manteve as linhas bem próximas. Num campo cheio de sulcos e muito esperançoso para o cultivo de tubérculos, coube a Moutinho a batata quente de assegurar a ligação do jogo, tarefa que cumpriu com aproveitamento. Todavia, com Ronaldo (ansioso sempre que se aproxima de um novo recorde) e Jota abaixo dos seus níveis habituais de eficácia e Felix e Bruno muito fora do jogo, Portugal, disposto em 4-4-2, sujeitou-se a que os croatas, com a sua qualidade técnica, numa transição rápida fizessem a diferença no marcador. Desse modo, fomos para o intervalo em desvantagem após uma má abordagem defensiva da nossa equipa ter sujeitado Rui Patrício a um pelotão de fuzilamento. 

 

No reatamento, após uma falta nas imediações da área croata, Portugal rapidamente ficou em vantagem numérica no batatal de Split. Na conversão do livre, Ronaldo mandou uma daquelas bolas curvas e cheias de efeito tão comuns no basebol e Livakovic sacudiu como pôde. Os Rubens combinaram e tiraram-lhe o retrato. Bradaric exclamou e Juranovic ajuramentou a igualdade no marcador. Pouco tempo depois, mãozinha marota de Jota sem VAR e Felix a marcar aos trambolhões. Pensava-se que o jogo tinha terminado aí, mas mais uma abordagem macia de Ruben Semedo a um lance e uma deficiente leitura de jogo de Danilo, atraído pela bola e esquecendo-se de cobrir a entrada de área, combinaram para permitir aos croatas restabelecerem a igualdade. O esgar contínuo de pescoço de Fernando Santos era o retrato fiél do que se passava em campo.

 

Fernando lançou Cancelo e conjuntamente com Nelson Semedo passámos a ter duas motas nas alas. Bernardo também entrou e logo falhou um golo digno dos "bloopers": com o guarda-redes no chão, a bola saiu caprichosamente por cima da baliza. Trincão agitava o jogo e justificava a chamada em cabines telefónicas. O jogo aproximava-se do fim e a igualdade teimosamente persistia no marcador. Lovren, após a expulsão de Rog o único não "ic" em campo do lado croata, insistia em orientar a equipa no sentido de virar a página do seu insucesso recente. Nada como fazer entrar Brekalo para assegurar o mesmo propósito, pensou o seleccionador croata. Até que o guarda-redes largou uma bola perfeitamente ao seu alcance e Ruben Dias pintou de novo a manta. Apesar disso, a imagem que ficou não foi a melhor, como aliás Fernando Santos deu conta no final do jogo. Bons tempos estes em que se lamenta uma exibição menos conseguida após uma vitória no relvado(?) do vice-campeão do mundo!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Ruben Dias

croácia portugal.jpg

14
Nov20

Duelo de campeões


Pedro Azevedo

O Portugal-França de logo à noite (Estádio da Luz, 19h45) não será apenas mais um clássico latino. De facto, nas últimas décadas o futebol gaulês e o luso evoluiram tanto a nível de selecções que o jogo que se avizinha irá contrapor o actual campeão europeu ao campeão mundial em título. Sendo certo que o Mundo é maior que a Europa - algo que Joaquim Meirim um dia teve oportunidade de explicar enquanto procurava moralizar o guarda-redes suplente do Varzim ("és o maior da Europa") que almejava a titularidade no clube da Póvoa ("não jogas porque o Benje é o maior do Mundo) - , a verdade é que, para ser campeão europeu, Portugal teve de vencer a França, enquanto os franceses não precisaram de ganhar aos portugueses para se sagrarem campeões mundiais. Deste modo, o jogo de mais logo será como que um tira-teimas entre selecções que têm dominado o panorama futebolístico, pouco tempo depois de um primeiro diagnóstico realizado no Stade de France (Saint-Denis/Paris) se ter revelado inconclusivo. Não se pense porém que o único aliciante do jogo residirá aí, pois é bom não esquecer que estará em causa a qualificação para a final-four da Liga das Nações, competição que Portugal brilhantemente venceu em 2019 após derrotar na final a Holanda. Num jogo desta natureza é muito difícil atribuir favoritismo. Se é certo que Portugal venceu o Euro-2016 após bater os anfitriões gauleses na final com um golo de Éder no prolongamento, não é menos verdade que os lusos não ganham aos franceses em 90 minutos há 45 anos. É verdade!, a última vitória portuguesa conseguida no tempo regulamentar data de 1975. O jogo ocorreu em Colombes, os golos foram obtidos por Nené e Marinho. O treinador luso era José Maria Pedroto, e Samuel Fraguito destacou-se pela arte com que escondeu a bola dos gauleses. Doze jogos depois - oito derrotas e quatro empates - , Portugal irá entrar em campo para matar o borrego, que é como quem diz, depenar o galo. E se os gauleses têm razões para levantar a crista dada a presença de Griezmann, Pogba ou Martial, os portugueses não lhes ficarão atrás com o trio Bruno Fernandes, João Félix e Bernardo Silva. Para o póquer de ases ficar completo, nada como acrescentar-lhe as cartas principais de cada baralho futebolístico: Mbappé e Ronaldo. Em condições normais isto poderia ter a simbologia de um render de guarda, uma passagem de testemunho do veterano português para o jovem francês. Porém, Cristiano Ronaldo nada tem de normal no que de comum concerne. A sua ambição renova-se a cada instante e a sua sede de glória parece inesgotável. Assim sendo, acredito que Mbappé vai ter de continuar à espera da sua hora. Ah, e já agora, tenho o pressentimento que, cartas todas metidas em cima da mesa, um Joker (Jota) poderá fazer toda a diferença e em Dia dos Bandeirantes - também é Dia Mundial da Diabetes, o que, já se sabe, invoca a necessidade de  muito equilíbrio - abrir novos caminhos para Portugal. Em todo o caso, Senhoras e Senhores, Mesdames et Messieurs, façam as vossas apostas, faites vos jeux!

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15
Out20

Tudo ao molho e fé em Deus

A moto Jota contra o Auto Sueco


Pedro Azevedo

Ao contrário do que autoridades sanitárias e comentadores descreveram, o Ronaldo esteve ontem no relvado do Sporting. Pelo menos no subconsciente dos suecos, os quais andaram sempre à procura do "Melhor do Mundo" de cada vez que os portugueses se acercavam da sua área. Debalde, pois foi como se perseguissem um holograma, deixando espaço para que o DJ de serviço aquecesse a noite fria de Alvalade.

 

Antes porém, os suecos foram ameaçadores. Com uma potência propulsionada por vários cavalos de força, o motor sueco encontrou durante algum tempo uma autoestrada no meio do campo lusitano. Porém, à medida que os portugueses foram construindo portagens e assim encurtando os espaços de circulação, os vikings deixaram de poder desenvolver todo o vigor da sua máquina e os seus problemas de afinação emergiram. Numa dessas pequenas cabines, Bruno Fernandes atrai dois suecos e encontra Jota solto. Este, nada egoísta, serve Bernardo e Portugal adiantava-se no marcador. Manietados, os suecos viam-se agora obrigados a acelerar em espaços de reduzida mobilidade. Em consequência, começaram a bater de frente e de lado e a desorganizarem-se. Pressentindo isso, Cancelo, sem ninguém a pressioná-lo, lançou a bola para as costas da defesa sueca onde a moto Jota acelerou mais do que toda a frota sueca e dilatou a vantagem portuguesa. Portugal ia para o intervalo com dois golos à maior. 

 

No reatamento, Portugal controlou totalmente o jogo. Com Pepe investido como Ministro da Defesa, todos os avanços suecos esbatiam na boa organização defensiva lusa. Simultaneamente, abriam-se espaços na frente por onde contra-atacar. Numa dessas ocasiões, Bruno Fernandes isolou Felix, mas o promissor avançado embora estivesse sozinho frente a Olsen encontrou pela frente um batalhão de comentadores que diariamente o pressionam até ao limite do surreal e falhou. Quem não desperdiçaria nova oportunidade seria Jota. Servido por William, entrou em altíssima rotação pelo lado direito da defesa sueca, mandou uma mudança abaixo, flectiu para dentro e apanhou em contramão o desamparado guarda-redes escandinavo. Estava feita a história do jogo. Começando a diesel, aos poucos a selecção de Fernando Santos foi boicotando as máquinas a combustão suecas, cansando-as e levando-as para terrenos onde os cavalos não conseguiam fazer a diferença, caminhos esses mais propícios a quem tem moto. Chamam-lhe Jota. Fixem-lhe o nome.

 

Um dos grandes méritos do engenheiro é este: sem dramas, quando não tem cão Fernando Santos caça com gato. Ou, como quem diz, sem Ronaldo, craque e inspirador desta nova geração, dá palco aos jotinhas. E Portugal continua a ganhar. 

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10
Jun19

Bruno Fernandes no Onze Ideal da Liga das Nações


Pedro Azevedo

Os observadores técnicos da UEFA presentes na fase final da Liga das Nações já escolheram o Onze Ideal da prova, e Bruno Fernandes consta nele.

 

Numa lista onde entram 5 jogadores portugueses, aqui ficam os nomes dos eleitos pela UEFA: Jordan Pickford; Nélson Semedo, Rúben Dias, Virgil Van Dijk e Daley Blind; Frankie de Jong, Giorginio Wijnaldum e Bruno Fernandes; Bernardo Silva, Cristiano Ronaldo e Xherdan Shaqiri.

10
Jun19

Tudo ao molho e fé em Deus - Dia de Portugal antecipado


Pedro Azevedo

A Selecção Nacional foi a jogo na véspera do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas (e também do Sport Lisboa, mas este comemora-se durante todo o ano neste país) e acabámos todos a celebrar em antecipação. Em Dia de Pentecostes, o Espírito Santo parece ter iluminado todos os intervenientes: os jogadores foram uns "heróis do mar" e levantaram de novo o esplendor de Portugal; Fernando Santos, humilde, soube dar asas à epopeia lusa, trocando o caos, que a introdução de Felix gerara no jogo anterior, pela organização colectiva; os adeptos presentes no estádio, incansáveis, foram a voz de todos os portugueses espalhados pelo mundo. 

 

Liberto do tabu da utilização de Felix, Fernando Santos foi a jogo num 4-3-3. No meio-campo, Danilo era o homem mais recuado, William um "box-to-box" e Bruno Fernandes o "10". No entanto, esta geometria era variável, aparecendo algumas vezes William (meia esquerda) a par de Bruno Fernandes (meia direita), formando-se assim um triângulo de cariz mais ofensivo. Na frente, Guedes entrou para a ala esquerda, formando o trio de ataque com Ronaldo (centro) e Bernardo (ala direita). Na segunda parte, a táctica foi subtilmente alterada: voltou o losango, agora com William como homem mais adiantado a pressionar a saída de bola holandesa, recuando Guedes para a meia esquerda e derivando Bruno Fernandes para a meia direita, mantendo-se Danilo atrás. Na frente, Bernardo aproximava-se de Ronaldo pela direita. 

 

A táctica revelava uma ideia chave: o condicionamento do jogo holandês, selecção que aparecia em grande forma após ter eliminado sucessivamente a Alemanha, a França e a Inglaterra. Portugal jogaria nos intervalos de não deixar jogar a Holanda. Ter mais ou menos bola dependeria da eficácia da nossa pressão sobre Frankie de Jong, o homem que fazia a ligação do jogo holandês. William tomou a si a missão, com a mesma determinação com que os generais Fernandes Vieira e Vidal de Negreiros haviam impedido a passagem das tropas da República das Sete Províncias Unidas no Morro dos Guararapes durante a Guerra Luso-Holandesa. E a verdade é que resultou, conseguindo Portugal estancar o sumo de uma Laranja Mecânica para o efeito transformada num limão espremido à mão. Sem bola, a dinâmica de movimento holandês tornou-se enócua, sem sentido ou propósito. Se durante o primeiro tempo Portugal ameaçara por Bruno Fernandes (o luso mais rematador), no segundo viria a conseguir o tão desejado golo à hora de jogo, na sequência de uma bela combinação entre Guedes e Bernardo, brilhantemente concluída pelo primeiro. Em desespero e sem mecânica, à Holanda restou-lhe recorrer à aeronáutica, procurando o jogo directo para a cabeça de Luuk de Jong, ponta de lança lançado para o efeito por Ronald Koeman. Sabendo sofrer, Portugal contou então com um Ruben Dias que foi descascando laranjas umas atrás das outras e um Rui Patrício muito atento a apanhar as cascas, não permitindo aos holandeses reentrar no jogo e vencendo assim a primeira edição da Liga das Nações, a segunda importante conquista internacional do futebol português a nível de selecções seniores. 

 

Em modo de balanço final, sendo certo que Ronaldo nos salvou de uma eliminação anunciada nas semi-finais, desta vez Fernando Santos foi capaz de dar a Ronaldo aquilo que Allegri não conseguiu na Juventus: a eliminação dos pontos fortes do jogo holandês. E, juntos, já somam dois titulos inéditos por Portugal. Uma vez mais, com o importante contributo de jogadores made-in Sporting. Se em Saint-Dennis haviam sido 10, agora foram 5. Sem esquecer Bruno Fernandes, claro.

 

Agora, há que aproveitar e festejar o dia, até porque nos outros 364 festejam os holandeses. É só comparar o salário médio de cada país, a taxa marginal de IRS ou o imposto sobre os lucros das empresas. Mas, isso, os nossos governantes não se apressam a comentar em jeito de uma "flash-interview" ...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bernardo Silva. Na equipa portuguesa, Bernardo, William e Ruben Dias foram os melhores, mas toda a equipa (o suplente Rafa incluído) esteve em bom plano e cumpriu na perfeição o plano de jogo. 

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09
Jun19

O onze de Portugal


Pedro Azevedo

Onze oficial: Patrício; Semedo, Ruben Dias, Fonte e Raphael Guerreiro; Danilo, William e Bruno Fernandes; Bernardo, Ronaldo e Guedes. Presumo que a equipa se organize num 4-3-3, embora durante o jogo, para tentar surpreender o adversário, Fernando Santos possa ser tentado a aproximar Guedes de Ronaldo e pedir a Bernardo para conduzir o jogo a partir do centro, no que seria o regresso do 4-4-2 em losango. Mas, com estes jogadores, julgo que o 4-3-3 seria o esquema ideal, com William como "box-to-box" ou duplo-pivot com Danilo - mais forte na marcação do que Ruben Neves, ganhando-se ainda presença na bola parada nas duas grande-áreas, mas perdendo-se alguma criatividade (passe longo de Ruben) na saída para o ataque - , Bruno finalmente a "10", Bernardo a vir da direita, Guedes da esquerda e Ronaldo não fixo na frente, aproveitando-se assim a mobilidade do trio de ataque.  

09
Jun19

Celebrar em casa


Pedro Azevedo

Há 15 anos atrás, perdemos no Estádio da Luz a oportunidade de ganhar o primeiro troféu internacional de selecções a nível sénior. Estive lá e senti a desilusão dos portugueses presentes e ausentes, jogadores e equipa técnica incluídos. Nessa ocasião, não conseguimos imitar o que os holandeses haviam feito 16 anos, no Euro 88, quando derrotaram a União Soviética de Dassaev após uma derrota com a mesma selecção no jogo inaugural. Infelizmente, Portugal, em 2004, após uma derrota no Estádio do Dragão frente à Grécia, em jogo que abriria a competição, viria a perder de novo contra os helénicos na final. Uma ‘tragedia grega’ escrita por Otto Rehhagel ao melhor estilo de Ésquilo ou Sófocles.  Na memória ficaram as lágrimas de tristeza de um, na altura, muito jovem (19 anos) Cristiano Ronaldo, titular indiscutível dessa equipa e a dar os primeiros passos no caminho para o estrelato planetário.  

 

Portugal não falharia novamente o encontro com a sua história no Euro 2016. Em França, contra a equipa da casa, os nossos jogadores conquistaram o troféu, criando uma onda de euforia em todo o território nacional e reforçando o orgulho patriótico em todos os portugueses espalhados pelo mundo, com particular ênfase nos que haviam emigrado para terras gaulesas. No final, Ronaldo manteve as lágrimas, mas agora de felicidade.

 

Hoje, temos a oportunidade de voltar a fazer história, mas agora pela primeira vez em nosso solo. Quinze anos depois, Ronaldo é agora o melhor do mundo. Campeão europeu de clubes e selecções, campeão mundial de clubes, cinco vezes Bola de Ouro, vencedor dos campeonatos de Inglaterra, Espanha e Itália, Cristiano, insigne produto da Formação do Sporting, nada mais tem a provar ao mundo, a não ser a alguns cépticos portugueses do lado errado da 2ª Circular a quem a clubite aguda parece causar uma sensação de ardor que tem início na parte posterior do esterno e se espalha pela faringe. Diga-se em abono da verdade que são poucos, ricos de narrativas, mas pobres de espírito e não representativos do grande clube que é o Benfica. 

 

Como sempre, confiamos em CR7. Mas também precisamos de Rui Patrício, Cancelo, Fonte, Guerreiro, William, Bruno, Bernardo, Guedes, Félix, dos Rubens e de todos aqueles que vierem a pisar hoje o Estádio do Dragão. E de Fernando Santos. E do desfibrilador, que os sobressaltos a que a nossa selecção nos costuma obrigar aconselham especiais cuidados com o coração. Depois, será só juntar a corrente positiva de todos que partilham o orgulho de ser português de uma forma incondicional, pese todo o constrangimento inerente a um ideal de Portugal permanentemente adiado, e, por uma vez, bater o pé a uma económicamente bem mais poderosa nação. É só futebol, a coisa mais importante de todas as coisas verdadeiramente não importantes, mas que nos daria muita felicidade transformar uma laranja mecânica num limão espremido à mão, lá isso daria. Nem que para isso, durante 90 minutos (ou mais), felicidade se tivesse de escrever com um "x"...

08
Jun19

Santos, o engenheiro do caos


Pedro Azevedo

Quando se soube o resultado do sorteio dos grupos da Liga das Nações, as previsões apontavam para que Portugal encontrasse França e Croácia (finalistas do último Mundial), e ainda a Bélgica, na Final Four da nóvel competição. 

 

Mas quem tem um treinador capaz de ganhar um Campeonato da Europa vencendo apenas 1 jogo (Gales) nos 90 minutos, sabe o poder do efeito borboleta. Relembremos que um improvável golo tardio (nos descontos) da igualmente improvável Islândia havia colocado Portugal no lado mais favorável do quadro dos últimos 16, fugindo a todos os principais favoritos (colocados do outro lado do quadro) e permitindo-lhe defrontar as mais acessíveis Croácia, Polónia e Gales até ao jogo decisivo. Assim, após 3 empates na fase inicial (3º lugar), algo que logo fez lembrar a Itália de 82, 1 jogo vencido nos penáltis (Polónia) e 2 desafios ganhos no prolongamento (um deles, Croácia, na resposta a um remate ao poste da baliza de Patrício), Portugal sagrou-se campeão do velho continente. 

 

Olhando para a organização táctica da equipa lusa no jogo das semi-finais da Liga das Nações, com vários jogadores fora da sua posição natural, nota-se um relevante investimento no planeamento do caos. Isto para os observadores poderá parecer inusitado, mas obedece à superior ordem das coisas: Fernando Santos soube ler os sinais e bateu asas à imaginação no sentido de se adaptar ao enunciado da teoria do caos e dele poder tirar o melhor partido. Por isso, a recorrência de eventos, para muitos erróneamente considerados aleatórios, é apenas a expressão de uma genial modelação do engenheiro, que propositadamente introduziu instabilidade de uma forma recorrente na equipa sabendo de antemão o comportamento futuro desse sistema caótico - utilizando para o efeito um icónico losango de inspiração "risco ao meio" mais próprio de uns anos 80 marcados por camisolas de lã com motivos geométricos e penteados inenarráveis -, algo que seria impossível de prever se o sistema fosse aleatório. 

 

Ou não fosse um engenheiro, onde alguns veem o acaso, Santos estuda o fenómeno representado por sistemas de equações. Nestes, a Holanda, que não conseguiu qualificar-se para o Euro 2016 e para o Mundial 2018, tirará do nosso caminho as favoritas França, Alemanha e Inglaterra, após esta última ter antecipadamente afastado as bem cotadas Espanha e Croácia. Ao mesmo tempo, Portugal passará por uma simpática Polónia e pela pior Itália de sempre até eliminar uma Suiça que alterou a sensibilidade às condições inciais ao eliminar a perigosa Bélgica. 

 

O que a Lorenz custou anos de investigação, laboratórios do MIT e mega-computadores, Santos determinou num espaço de tempo muito curto e em relvados de futebol. Resta-lhe apenas modelar o caos ao contexto de outros continentes, já que na Europa ele está aprovado e comprovado. Estranho é ainda haver quem atribua o seu sucesso à sorte ou à fé, quando afinal ele se deve à forma genial como engenhou a adaptação ao caos. 

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