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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

15
Mar23

O Jogo (*)


Pedro Azevedo

Eu não entendo por que pessoas que escrevem sobre futebol procuram tanto repudiar a opinião dos outros sobre o jogo. A não ser que o seu interesse não seja escrever sobre futebol mas apenas usar o jogo como uma forma de aparecerem e assim parecerem relevantes. Ou para procurarem colectivizar o pensamento, e assim servir um qualquer interesse obscuro ou oculto. Porque, na verdade, no futebol não há verdades absolutas. Por isso é fascinante trocar opiniões com pessoas de diferentes faixas etárias ou condição social e daí retirar mais perspectiva e conhecimento. Antes de mais, o futebol é um jogo repetido muitas vezes. Daí a sensação de angústia que por vezes nos perpassa a ver um jogo, como se subitamente fôssemos invadidos por um sentimento de "dejá vue". No fundo, um jogo é a continuação de muitos jogos anteriores, uma representação do passado com cambiantes do presente introduzidas por actores que frequentemente fogem ao guião. (Se o futebol pertencesse só aos treinadores, os jogos repetir-se-iam de uma forma totalmente monótona, é a auto-determinação, o grito de liberdade dos futebolistas e por vezes o acaso que o projecta para algo mais do que o teatro clássico.) Sendo o futebol um espectáculo, ele só faz sentido com uma multidão a enquadrá-lo. É o público que justifica o jogador profissional e o sublima, não o seu contrário. E esse público é geralmente bastante inteligente, conhecedor  e informado acerca do jogo, especialmente se liberto do fanatismo que por vezes lhe tolda as ideias. Essa inteligência à volta do jogo não deixa de ser intrigante, ainda que real e bem intuitiva, na medida em que indivíduos que fora dos estádios não revelam uma capacidade intelectual elevada são capazes de mostrar sabedoria ao analisar as tácticas, a disposição das equipas em campo e do que uma equipa está a precisar num dado momento do tempo. Por isso, ao mesmo tempo que fico entusiasmado com essa inteligência, fico aborrecido com a ignorância daqueles que desprezam essa inteligência e a remetem para o pejorativo "treinadores de bancada", como se as convicções de alguém abalassem as certezas de outrém e isso lhes causasse medo. (A inteligência deve ser vivida e partilhada, não reprimida.) Eu gosto muito de futebol. Mas não me esqueço de que é um jogo, um jogo onde a bola é uma marionete, ou talvez o boneco do ventríloquo, e o jogador, se for bom e mostrar perícia, é o Master Puppeteer, a puxar os cordelinhos. Não espero nem mais nem menos do jogo. No fim, voltaremos para os nossos trabalhos, as nossas famílias, os nossos amigos, mas teremos sempre uma próxima repetição desse teatro de identidade a que chamamos futebol, onde encontraremos, uma e outra vez, a nossa tribo e aqueles por quem o nosso coração bate, numa osmose que se pretende perfeita entre o apolíneo e o dionísico, entre a perfeição que pedimos aos jogadores e os cânticos e murmúrios que emanam das bancadas. Por que razão deveria o jogo ser um espaço de confronto entre os nossos, se em tudo ele é essencialmente uma comunhão? 

 

(*) Inspirado por textos de Galeano e Critchley

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23
Fev21

Jogar à bola sem bola


Pedro Azevedo

Vejo muitos treinadores adversários a esfregar as meninges de preocupados com a forma como o Sporting joga. Aparentemente, segundo eles nas suas alocoções públicas, não há relação directa entre o que a nossa equipa produz e os resultados, pelo que a explicação para a derrota é sempre o erro individual, a falta de eficácia ou o azar dos seus jogadores. Ora, eu penso que é extremamente fácil tipificar a forma como o Sporting joga. E de condicionar, também. Basta tamponar os médios ao centro e fechar nas alas. O Gil fez isso. Porém, na minha modesta opinião, o segredo não está na forma como o Sporting joga, mas sim na forma como o Sporting joga... sem bola. A forma como leva o adversário para certos terrenos que lhe são desfavoráveis e escolhe onde, quando e como pressionar. E as movimentações dos vários jogadores envolvidos no processo de recuperação de bola/preparação da transição ou ataque rápido. Por isso, o mérito desta equipa do Sporting vai muito para além daquilo que joga e está mais associado àquilo que os jogadores correm. Não correndo por correr, à toa, mas correndo bem, com um propósito. Encurtando espaços rapidamente quando sem bola e alargando o campo, procurando o espaço, sempre que a bola é conquistada, o que exige sucessivos sprints e óptima condição física. E quando finalmente em posse ou ataque organizado, sabendo interpretar melhor do que os outros o seguinte princípio que tem previamente interiorizado: não é o jogador que tem a bola que determina o passe, mas sim aqueles que se desmarcam constantemente e oferecem linhas por onde a bola pode chegar. Não são princípios intangíveis, o que é difícil é ter jogadores com a disponibilidade para o jogo como aqueles que Rúben Amorim soube escolher. O mérito deve ser dado a quem o tem, nomeadamente a quem tem sabido traduzir complexidade em simplicidade. É que pode até parecer fácil, mas há muito trabalho por detrás deste Sporting versão 2020/21. 

PS: Se eu tiver pela frente um lateral direito com a bola nos pés e dificuldade em usar o pé esquerdo, vou dar-lhe o lado de dentro ou o de fora? Obviamente, atraio-o para dentro, pressionando-o a usar o pé menos bom de forma a perder a bola com um passe menos certeiro. É só um exemplo da complexidade de riqueza de soluções quando não temos a bola. É que muitas vezes a forma mais rápida de criar oportunidades de golo é entregar a bola ao adversário. Lá está, onde uns podem ver o início de um problema, outros estarão preparados para que seja uma solução.  

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