O dia em que o futebol morreu
Pedro Azevedo
O jogo que opôs ontem essa criatura malparida a quem se deu o nome de B SAD e o Benfica remeteu-nos para os bancos de escola e a figura patusca do guarda-redes avançado. Sem uniformidade de número de jogadores em campo, um nove contra onze que acabaria por redundar no seis contra onze que concluiria o tormento (para não dizer farsa) observado no relvado. Ontem, o futebol português morreu. E o palco escolhido para o féretro também não podia ter sido mais apropriado: o Estádio Nacional, ele também já, por outros motivos, tantas vezes apodado de Pântano do Jamor. Seguir-se-á o habitual sacudir de água do capote, desporto nacional de eleição de quem não tem um pingo de sentido de responsabilidade, vergonha e as mínimas condições de organização e liderança. Lá fora, as reações oscilam entre a estupefacção e o escárnio, algo que não deve deixar de indignar quem luta por um país melhor e quer ter orgulho da sua pátria, das suas gentes, e honrar a nossa história. Num país a sério não ficaria pedra sobre pedra no edifício a quem cabe organizar as competições profissionais de clubes e a acção da DGS seria minuciosamente escrutinada. Por cá, ficaremos à espera. Eventualmente serão criadas algumas Comissões, forma ideal de empurrar o assunto para as calendas gregas e o esquecimento. Porém, quem tem vergonha na cara e ama o futebol não poderá nunca esquecer o que ocorreu ontem, o dia em que o futebol português morreu. Mas ressuscitará, porventura, num outro dia, porque a bola, mesmo quando enlameada, não se suja. A bola.