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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

07
Abr21

Transparência


Pedro Azevedo

Não existe neste momento tecnologia suficiente para determinar com um nível de significância alto se um jogador que à vista desarmada está em linha se encontra de facto em fora de jogo. Desde logo porque o ponto de contacto na bola no momento do passe é muito difícil de determinar com exactidão na medida em que há um atrito não negligenciável entre a superfície do corpo do jogador e a bola (para não falar da incerteza quanto ao efectivo momento em que a bola contacta com a superfície do corpo do jogador ou dela sai). Ora, esse atrito, de décimos de segundo, implica um número considerável de "frames", todos eles apontando para uma posição absoluta e relativa (face aos adversários) do jogador que recebe a bola diferente. Deste modo, torna-se impossível determinar com segurança se o "frame" escolhido é o correcto ou não. Assim, a aceitação da decisão final do VAR é essencialmente um acto de fé, o que nesta religião pagã de que comungam os adeptos do futebol geralmente não augura nada de bom.  

 

Acresce que a própria representação do terreno de jogo em computador pode implicar um erro humano. Foi aliás o que aconteceu em Moreira de Cónegos aquando da deslocação do Braga. Nesse jogo, os bracarenses viram anulado um golo legal por alegado fora de jogo quando o seu jogador estava cerca de 130 centímetros em jogo. Na altura o erro foi imputado ao operador de imagem, mas estranhei não ter havido um inquérito rigoroso por parte da Liga que produzisse conclusões que pudessem sossegar os adeptos do futebol quanto à não recorrência deste tipo de erro. É que se avançamos para a tecnologia com a finalidade de evitar o erro, então deveremos por todos os meios assegurar que essa própria tecnologia não se torna uma fonte do próprio erro, manipulável e assim contribuinte para o adensar do clima de suspeição. E é nisto que eu me gostaria de focar: o que fazem as autoridades competentes no sentido da promoção da transparência? É certo que não se pode ser a favor da verdade desportiva e depois queixarmo-nos de um fora de jogo de 2 cm, mas mandaria o bom senso que houvesse uma espécie de caixa negra onde estes lances milimétricos seriam arquivados para posterior observação de um comité de análise independente, comité esse que depois tornaria pública a sua avaliação. 

 

Quanto à questão da margem de segurança nestas decisões de fora de jogo, o problema é exactamente determinar que tipo de margem deveria ser usada. Para tal, talvez fosse interessante determinar em média qual o impacto de um "frame" em centímetros, mas isso estará certamente dependente da velocidade de deslocamento de um jogador, variando assim consoante a situação específica. Por outro lado, admitindo que se daria uma margem de erro de 15 centímetros na determinação de um fora de jogo, logo apareceria gente a queixar-se se o fora de jogo fosse de 16 cm, insinuando que o tal centímetro adicional teria sido forjado.

 

Assim, não havendo possibilidade com a tecnologia presente de determinar com exactidão o momento em que a bola efectivamente sai do corpo do jogador (diferente do momento do primeiro contacto) que faz o passe, o que sugiro é que se aposte na transparência e que alguém mais tarde venha publicamente informar se a decisão foi bem ou mal tomada face aos óbvios constrangimentos existentes. Como deveria ser, na total salvaguarda da verdade desportiva possível, não dando azo a que o adepto pensasse em manipulação. O que não me parece bem é que o espectador em casa, que é quem paga o serviço televisivo que indirectamente, via DireitosTV, alimenta os clubes (e por conseguinte a Liga), não tenha acesso às medições de fora de jogo de outros dois lances ocorridos em Moreira de Cónegos. Isso não só aparenta ser um desprezo por quem efectivamente paga o futebol como também em nada contribui para a idoneidade do produto Futebol Português. 

 

Concluindo, de pouco serve dotarmos o futebol de um instrumento de apoio à verdade desportiva se depois nos esquecermos dessa finalidade primária e envolvermos o VAR numa opacidade absolutamente contrária ao princípio que o emanou. Nesse sentido, exige-se que haja quem controle à posteriori as decisões do VAR. E, já agora, que as comunicações entre VAR e árbitro sejam públicas, a bem da transparência. Teme-se o quê? Haverá bem maior na promoção de um produto que a sua idoneidade? Food for thought...

var1.jpg

23
Mar21

Ao fim e ao Cabo


Pedro Azevedo

O FC Porto é uma parábola de uma nação portuguesa, tão capaz de ancestrais e épicas empreitadas extramuros como a dobragem dos cabos Bojador ou das Tormentas, que em casa se especializou a dobrar o Cabo Carvoeiro a caminho das Berlengas, sempre à cata de apanhar todo o percebe existente nas zonas de maior turbulência por muito que se tivesse de arranhar no processo, e depois acabou tomada simplesmente pelo gosto de ir contra a rebentação e não quer (não sabe) mudar de vida. 

11
Fev21

O achamento de Luís Godinho


Pedro Azevedo

Ontem à noite, o FC  Porto deu-se conta de que Luís Godinho é um árbitro incompetente, que revela pouca personalidade dentro do campo e tem uma ainda mais deficiente leitura das jogadas via vídeo do que em tempo real. Assim como Pedro Álvares Cabral achou o Brasil (mas o Brasil já estava lá), os portistas acharam Luís Godinho. Mas a coisa não foi propriamente uma descoberta, o senhor já andava por lá e disso havia amplo conhecimento. Por exemplo, andava por lá em 17 de Outubro do pretérito ano quando no José Alvalade perdoou por duas vezes a expulsão a Zaidu, uma por má avaliação de uma entrada ao tornozelo (é curioso...) de Porro, outra por dar ouvidos ao VAR Tiago Martins em lance que não seria da competência deste avaliar (tanto quanto leio no Protocolo, o VAR não vem munido de amperímetro que meça a intensidade, mas posso estar enganado...) e de onde, cumulativamente, resultou a não-marcação de um penálti favorável ao Sporting. Também andava por lá em 5 de Dezembro de 2020. Nesse dia, para além de uma arbitragem sem qualquer uniformidade de critério disciplinar que prejudicou os leões,  Luís Godinho decidiu acatar nova decisão do VAR sobre intensidade, desta vez cortesia de Artur Soares Dias, e anular um golo a Coates. 

 

Antes tarde que nunca, o Porto finalmente achou Luís Godinho. Mas, o seu a seu dono, a descoberta deve ser creditada ao Sporting.

 

P.S. A inacreditável expulsão de Luis Díaz foi uma dupla-penalização ao jogador. E dupla porquê? Porque, após uma jogada onde desfilou técnica e potência incríveis - isso é que é o futebol, e sobre isso dever-se-ia falar muito mais - , para além de se ver forçado a sair do terreno (deixando o Porto em desvantagem numérica), da sua expulsão resultou o labéu (inaceitável, por não real) de que negligentemente (para não dizer intencionalmente) colocou em risco a carreira de um infortunado colega de profissão (a quem envio votos de o mais rápido restabelecimento). E isso simplesmente não se faz. O resto são narrativas, espuma que o tempo leva. 

luis godinho.jpg

08
Fev21

Sobre "sacos de batatas"...


Pedro Azevedo

Após o "choro" de ontem de Vítor Bruno, adjunto de Sérgio Conceição, convém notar que tanto Tiago Tomás como Matheus Nunes precisam de menos tempo de utilização para sofrerem uma falta do que Corona. Fazendo a projecção face à média, se o TT e o Matheus tivessem os mesmos minutos de utilização do Tecatito as faltas cometidas sobre si seriam, respectivamente, 62 e 58 (o Corona sofreu 37). É só para recordar, não vá a narrativa portista apanhar alguém desprevenido...

 

P.S. Acresce que no final da primeira volta os jogadores do FC Porto tinham sofrido 283 faltas. Já os do Sporting haviam sofrido 308 faltas. 

#deixemjogarotiagotomas

#deixemjogaromatheus

faltas sofridas.png

Fontes: Liga Portugal e Transfermarket

04
Fev21

What???


Pedro Azevedo

"A deficiente calibragem técnica das linhas de fora de jogo originou a má avaliação de um lance de ataque do SC Braga, aos dois minutos do jogo com o Moreirense FC. O jogador do SC Braga encontrava-se em jogo por 1,18 metros e não em fora de jogo" - explicação oficial sobre golo (mal) anulado ao SC Braga 

 

Quer dizer, como se já não fosse mais do que suficiente a subjectividade da intensidade discricionariamente medida pelo VAR, ficámos a saber que as linhas de fora de jogo que nos aparecem no ecrã podem estar deturpadas por um erro de "calibragem técnica". "What"? É verdade, já não bastava o Conselho de Arbitragem, o árbitro, os árbitros assistentes, o quarto árbitro, o VAR e o senhor que traz as bicas para a rulote (assistente de VAR), temos agora de nos preocupar com a figura do "Técnico de Imagem". A quem cabe calibrar referências como as grandes-áreas, linhas laterais, linha do meio-campo, linhas de fundo, etc, de forma a poder medir-se o posicionamento relativo dos jogadores no campo. Diz o Duarte Gomes que havendo 3 câmaras na análise dos potenciais foras de jogo - de topo/master (ângulo aberto), de fora de jogo e de "curtos" (ângulo fechado) - o que falhou foi a triangulação entre elas, uma explicação em forma de assim (grande O'Neill!), como se o Nuno Mendes tivesse colocado a bola nas costas do lateral esquerdo contrário, o Nuno Santos aparecesse e tocasse para o lado e o Pote rematasse cento e dezoito centímetros por cima da barra. Porém, existe uma diferença: é que, enquanto o remate do Pote não deixaria de ter sido um mau gesto técnico, faria parte do futebol. Agora, num país que se pretende civilizado e que defenda a transparência e a integridade como valores de referência em sociedade, a Liga - organizadora da competição - e a FPF - responsável pela arbitragem - deveriam imediatamente ter anunciado a promoção de um rigoroso inquérito para apuramento das causas que originaram o erro, com o fim de as apresentar posteriormente a clubes e adeptos de futebol, dando garantias de eliminação de potencial erro futuro (através do reforço de meios técnicos e de infraestrutura) e blindando assim a competição contra a suspeição. Terá custos? Sim, montar por exemplo uma torre acima das bancadas de forma a se poderem elevar as câmaras (de outro modo colocadas em cima do relvado em estádios sem as melhores condições) terá um custo. Mas, qual é o custo da falta de transparência? 

 

Era só mesmo o que nos faltava: duvidarmos das linhas. Será que, para além do vídeo-árbitro assistente, passaremos também a ter a figura da "Tia" (Técnico de Imagem Assistente)? Este futebol português é um pagode. Oh yeah!

var.jpg

13
Jan21

Um Nobre influente em tempo de República


Pedro Azevedo

António Nobre protagonizou ontem mais um dia infeliz da arbitragem portuguesa. Primeiro ao punir com a amostragem do segundo cartão amarelo uma carga de ombro, logo legal, do nacionalista Rui Correia sobre um jogador do Porto. Acresce que, para além do lance ter sido mal ajuizado, a ter havido falta a punição só poderia ser o cartão vermelho pois o avançado do FC Porto ficaria de outro modo isolado e com a baliza à sua frente. Sem aduzir qualquer processo de intenção ao árbitro, a verdade é que a amostragem do amarelo validou automaticamente o primeiro erro, inviabilizsndo a apreciação posterior pelo VAR que decirreria do protocolo caso Antonio Nobre tivesse mostrado a cartolina escarlate. Mas não ficou por aqui a polémica: o golo que permitiu ao Porto levar o jogo para o prolongamento ê precedido por um toque da bola no braço de Taremi. Ora, durante semanas, no seguimento do alegado toque da bola no braço de Pore no decurso do Sporting-Moreirense, andámos a ouvir uma narrativa emanada de sábios da arbitragem que consistia em haver recomendações aos árbitros para invalidar jogadas de golo em que o braço de quem ataca tenha sido protagonista, não sendo relevante para o efeito a questão da intencionalidade ou não. Bom, a verdade é que esse era lance de VAR e este não terá visto nada que revertesse a decisão do árbitro. Chegados a este ponto, já ninguém se entende. As más decisões são mais que muitas, a falta de uniformidade de critérios idém e fica a ideia de que jamais nos libertaremos destas polémicas. Em simultâneo, tudo como dantes no Quartel de Abrantes, o Conselho de Arbitragem continua a assobiar para o lado. Até quando, e com que custos para a credibilidade do produto futebol português ainda não sabemos na sua verdadeira dimensão. 

29
Dez20

Retalhos da vida de um campeonato


Pedro Azevedo

Estádio Afonso Henriques, resultado de 1-0 para o Vitória, 29 minutos de jogo: Romário Baró faz falta que interrompe um contra-ataque vimaranense. O árbitro Hélder Malheiro, o do "galo" dê Ristovski, não mostra o segundo amarelo ao jogador portista, a que se seguiria a consequente expulsão. Imediatamente, Sérgio Conceição substitui Baró por Luís Diaz. 

17
Dez20

Tailor-made


Pedro Azevedo

Nem os melhores alfaiates de Savile Row terão alguma vez produzido um fato tão à medida quanto as nomeações pelo Conselho de Arbitragem de Nuno Almeida para a deslocação do Benfica a Barcelos ou de Manuel Oliveira para a recepção do Porto ao Nacional da Madeira terão assentado a, respectivamente, águias e dragões. Já nós vamos ter o André Narciso (5 amarelos mostrados ao Sporting contra o Gil) e Bruno Esteves será o VAR, esperando e desejando eu que o jogo não venha a ser empastelado com faltas e faltinhas e seja respeitada a lei da vantagem como sugerem as directrizes de fluência do jogo. Evidentemente, não é o fato que faz o homem, pelo que temos todos de acreditar que cada um dos árbitros saberá escolher boas linhas com que coser o seu desempenho. Mas que as nomeações são imprudentes, lá isso são, expondo desnecessariamente o árbitro que vox-populi apelidou de Ferrari (alegadamente citado, à semelhança de Bruno Esteves, nos supostos emails trocados entre Pedro Guerra e Adão Mendes como um dos árbitros em que o Benfica poderia confiar, segundo notícia do DN de 6/6/2017) e um outro que causou polémica por alegadamente ter estado num camarote no Dragão. Ora, numa altura em que a arbitragem portuguesa voltou a estar sob os holofotes mediáticos, com críticas ao sector que se estenderam a observadores percepcionados como independentes, até no sentido da protecção da honorabilidade dos árbitros não seria de todo desapropriado que o Conselho de Arbitragem adoptasse o princípio da mulher de César. Mas isso é matéria para o CA reflectir, aos jogadores do Sporting caber-lhes-á focarem-se no que depende deles e no Farense, e dentro do campo fazerem prevalecer a sua superioridade teórica.

 

P.S. Dando voz ao contraditório, sobre o árbitro Manuel Oliveira a APAF em 25 de Setembro de 2018 emitiu o seguinte comunicado: "Sempre que o árbitro Manuel Oliveira é nomeado para um jogo de maior visibilidade começa a circular uma fotografia nas redes socias de forma a denegrir a imagem do árbitro. Nessa imagem (sempre a mesma), Manuel Oliveira surge ao lado de um amigo de longa data e que ao contrário do que é repetido sobre essa imagem, o árbitro apenas está num momento da sua vida social, não está em nenhum camarote de honra, não foi convidado pelo clube e se o fosse naturalmente não aceitaria. 

Vivemos um tempo em que a propaganda impera e lamentavelmente, os órgãos de comunicação social oferecem o tempo e o espaço de que dispõem a este tipo de campanhas fúteis. Este é um tempo em que os jornalistas deixaram de ser as pessoas mais importantes nos meios de comunicação social, pois se os jornalistas ainda dispusessem de liberdade editorial, um simples telefonema impediria a reprodução de mais uma mentira, que constantemente circula de forma propositada e intencional. Infelizmente este é o tempo de luta de audiências, da caça ao clique, da busca de cada euro de publicidade. Num tempo como este, lamentavelmente para o jornalismo e para os jornalistas os cidadãos devemos desconfiar de tudo o que se ouve e escreve nos media. O caso da foto de Manuel Oliveira é apenas um entre muitos." Sobre Nuno Almeida não encontrei qualquer posição da APAF.

manuel oliveira.jpeg

09
Dez20

Pergunta inocente (2)


Pedro Azevedo

Como é que o Sporting vai descalçar esta bi-bota de Gomes (Fernando & Fontelas)? E como é que estes vão descalçar a bota da desvirtuação do papel do VAR e das decisões absurdas e vazias de uniformidade de critérios que dele emanam? 

 

P.S. A propósito, a célebre Comissão de Análise que ficou de estudar a justa pretensão leonina de considerar os campeonatos de portugal conquistados como títulos de campeão nacional já mumificou?

22
Nov20

Bizarrices


Pedro Azevedo

Após uma paragem de duas semanas para as selecções, um pouco por toda a Europa os campeonatos retomaram o seu curso. Assim ocorreu na Alemanha, Espanha, Inglaterra, França e Itália, os Big 5. Não foi porém o caso em Portugal, país onde jogar-se-á muito pouco para a Primeira Liga durante o mês de Novembro. Ora, eu não tenho nada contra a Taça de Portugal, competição que nos traz a nostalgia de rever históricos como a antiga CUF (hoje Fabril), Barreirense, Montijo, Beira Mar ou Sporting de Espinho e leva a atenção dos amantes do futebol até ao Portugal profundo, onde há sempre um David preparado para derrotar um Golias e tornar-se o novo tomba-gigantes. O que me incomoda é a forma como é gerido o negócio do futebol profissional em Portugal. Sim, porque o campeonato e as provas internacionais são o negócio, para a Taça de Portugal está reservado o futebol no seu estado mais puro: uma festa. Mas haverá festa do futebol quando o público não pode estar presente nas bancadas?

a festa da taça.jpg

(Imagem: Sapo Desporto)

23
Out20

Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay


Pedro Azevedo

Sancho Pança dizia ao seu mestre "yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay". Com esta frase, Cervantes colocou na boca do fiél escudeiro de D. Quixote um sentimento por muitos partilhado: não sendo racional acreditar na existência de bruxas, a superstição acaba por fazer temer esses míticos seres do oculto. 

 

O que dizer então da 3ª eliminatória da Taça de Portugal onde o sortilégio colocou frente-a-frente o Fafe e o Vilar de Perdizes? De um lado o Bruxo de Fafe, do outro a aldeia mais mística de Portugal, o jogo (aguardado para o dia 22 de Novembro) promete atrair à cidade do distrito de Braga curiosos interessados em ver bruxos e bruxas, diabos e mafarricos. Todos na esperança de literalmente observarem dentro das 4 linhas aquilo que um adepto Sportinguista figurativamente já há muito se apercebeu: é que, no relvado, o futebol português é solo fértil para o sobrenatural.  

30
Set20

As causas da coisa (2)


Pedro Azevedo

Causa nº2: Equidade de critério disciplinar por parte dos árbitros

 

Procurando deixar de lado a óbvia parcialidade de quem é Sportinguista e adepto e sócio do Sporting, não deixou de ser notório em Paços de Ferreira que o critério disciplinar usado por Fábio Veríssimo não foi uniforme para as duas equipas. Não se tratou só do facto de a equipa que mais faltas cometeu (18 contra 12) ter sido a que menos vezes foi admoestada com o cartão amarelo (2 contra 6) mas também de faltas cometidas por trás pela equipa pacense - por vezes com infração dupla que consistiu em puxão pelas costas acompanhado de pisão no tendão de aquiles (gravidade extrema) - terem passado impunes do ponto de vista disciplinar. Ao mesmo tempo, irregularidades leves cometidas por jogadores leoninos foram severamente punidas com a cartolina amarela. Desta forma, o jogo terminou com um rácio de cartão amarelo por falta de 11,1% para os pacenses contra 50%(!) para os leões. Um absurdo! Poderá alguém alegar que o árbitro não viu o tal lance faltoso do jogador pacense e que o total de amarelos mostrados no jogo (8) se deveu a ser especialmente rigoroso em matéria disciplinar. Porém, analisando os outros dois jogos que apitou esta época - um jogo da Liga das Nações entre País de Gales e Bulgária e uma partida de qualificação para a Liga Europa entre Riga e Celtic - verificamos que em cada um apenas levou a mão ao bolso por três vezes.

 

Se o critério do árbitro num mesmo jogo não é uniforme, imagine-se a equidade que se pode esperar quando se compara do ponto de vista disciplinar o critério dos "n" árbitros habilitados a apitar jogos da Primeira Liga. Nesse sentido, o Tiago Cabral, no És a nossa FÉ, ontem apresentou números comparativos que evidenciam que o Sporting já tem mais cartões amarelos num só jogo do que o somatório de Benfica e Porto em dois jogos. Enquanto para os leões, 12 faltas cometidas implicaram 6 amarelos (rácio de 50%), Porto e Benfica juntos apenas viram o rectângulo icterícia por 5 vezes após 57 (!) faltas (8,8%). Dirão alguns que portistas e benfiquistas sabem onde fazer faltas e que são especialmente meticulosos na forma de transgredir a regra sem necessidade de infração disciplinar, porém não só quem veja os jogos não tem essa noção como não deve ser desprezado o ilícito disciplinar que decorre da recorrência da falta por parte do(s) mesmo(s) jogador(es). Acrescento ainda aqui o exemplo do Braga, equipa que tem os mesmos amarelos que nós. Acontece que para isso os braguistas cometeram 31 faltas, o que lhes confere um rácio de 19,4%. 

 

Estes números do Sporting não deixam de causar estranheza quando analisados de forma comparativa com outros clubes. Analogia que não fica por aqui e que se pode estender ao desempenho disciplinar dos leões nas provas europeias. Se bem que a amostra é de apenas 1 jogo, na partida contra o Aberdeen os leões viram 2 amarelos e cometeram mais uma falta do que no jogo em Paços. Enfim, usando uma expressão bem cara a O' Neill, a uniformidade de critério disciplinar dos árbitros portugueses é "uma coisa em forma de assim". Assim vai o futebol português...

 

P.S. Algumas notas: Guga, do Famalicão, é o jogador mais faltoso (7) ao fim de 2 jornadas. Não tem nenhum cartão amarelo. Enfim, poder-se-á dizer que é um médio de ataque e como tal as infrações que comete são fora de uma zona de perigo para a sua equipa. De qualquer forma, há aqui a questão da acumulação. O mesmo é válido para Corona, que tem já 6 faltas e ainda não viu o amarelo. Já em relação ao rioavista Borevkovic, igualmente com a folha disciplinar em branco, a coisa não será tão líquida, na medida em que é um central e já cometeu 5 faltas em apenas 132 minutos de utilização. 

mao-do-arbitro-com-cartao-amarelo_9083-2170.jpg

29
Set20

As causas da coisa (1)


Pedro Azevedo

Com a devida vénia ao Miguel Esteves Cardoso, a quem alterei o plural com o singular (e vice-versa) de um dos seus mais famosos livros, aqui irei começar uma nova rúbrica dedicada às causas pelas quais merece a pena lutar no futebol português.

 

Causa nº1: Mais tempo útil de jogo

 

https://castigomaximo.com/tempo-util-de-jogo-140013

https://www.ojogo.pt/futebol/1a-liga/tondela/noticias/o-que-aconteceu-e-uma-vergonha-e-o-cartao-de-visita-do-futebol-portugues-12763903.html

 

O indicador estatístico do tempo útil de jogo aponta que a Primeira Liga portuguesa é aquela a nível europeu onde se joga menos. Tal tem obviamente repercussão na qualidade do espectáculo e intensidade e ritmo de jogo, aspectos que se tornam depois mais notórios quando as nossas principais equipas competem na Europa. É essencialmente uma questão de mentalidade que urge alterar, sendo que para isso se torna necessário envolver dirigentes de clubes, treinadores, jogadores, árbitros e a própria Liga Portugal. Para que o futebol positivo vença e possamos ter equipas mais competitivas deverá haver um maior equilíbrio. Isso passa por uma maior equidade na distribuição das receitas televisivas entre os clubes, mas também encontra raiz profunda nos valores que são trazidos para o jogo: presidentes que ao fim de duas, três derrotas interrompem projectos, treinadores receosos do despedimento e a quererem ganhar a todo o custo, jogadores educados no anti-jogo, árbitros que contemporizam com as simulações dos jogadores e paragens abusivas de tempo para quebra do ritmo do jogo são apenas alguns factores que carecem de uma mudança de mentalidade, processo do qual a Liga não se pode obviamente demitir. 

liga nos.jpg

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