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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

15
Mai23

O tempo


Pedro Azevedo

O conceito de tempo no Sporting é diferente do que no Benfica e Porto. Enquanto em Alvalade nunca falta quem diga que "há que dar tempo ao tempo", nos nossos rivais há uma urgência mais compaginável com o provérbio "não deixes para amanhã o que podes fazer hoje". A consequência de tudo isto é no Sporting pedir-se tempo para depois o desperdiçar ingloriamente. O pior é que isto vem acontecendo desde o final dos anos 50 do século passado. E com uma progressão de razão geométrica. Senão vejamos: se nos anos 60, o clube desperdiçava 3 em cada 4 anos, a partir de meados dos anos 80 passou a queimar 18 ou 19 anos num total de 19 ou 20, descendo de um aproveitamento de 25% para um à volta de 5%, ou seja, cerca de 5 vezes inferior. E nem a sempre tão falada rotação de presidentes, ao contrário da maior estabilidade dos rivais, explica este facto, na medida em que o Sporting teve exactamente o mesmo número de presidentes quando a seca foi de 4 anos (espaço temporal entre 58 e 70) que no período superior de 19 anos: seis. Mais estranha ainda que a falta de urgência no Sporting é a ausência de endeusamento do presidente mais vezes campeão de sempre, Ribeiro Ferreira, 6 vezes ganhador em 7 anos de mandato. Fala-se muito de João Rocha - 3 campeonatos em 14 - e com muita justiça dada a sua visão de ecletismo para o clube - , mas muito pouco do presidente mais laureado de sempre no futebol. Mas, como "há que dar tempo ao tempo", um dia essa obra ainda merecerá o devido relevo. Sem urgência, claro, que, como o senhor já não está entre nós, um ano a mais ou menos no seu esquecimento não alterará o seu estado civil. E assim o tempo vai passando e o Sporting contemporizando. Contemporizar é aliás a nossa característica predilecta, só comparável à procrastinação. Singular, pois, sendo cada vez mais um "outsider", seria de pedir a um clube de semelhante dimensão histórica que ousasse, inovasse e tivesse uma atitude disruptiva face a um sistema que o comprime. Mas não. No Sporting as elites, a vanguarda, estão na retaguarda e a retaguarda está no Miguel Bombarda, à beira de um ataque de nervos, entre a auto-exclusão da sociedade e o estertor após umas passas de cannabis. Sobra assim a classe média, que deveria pegar no leão pela juba, mas esta divide-se entre o sebastianismo mais ou menos disfarçado e o mero conformismo. Assim, tudo fica para amanhã, que variações (Variações?) não poderia(m) ser para hoje. A boa notícia é que, adiando tudo, só podemos ter futuro, que presente não temos nenhum. Mas amanhã, quem sabe... [Se bem que as coisas hoje não são mais o que propunha o passado (há 2 anos) para o presente.]

25
Nov22

Tudo ao molho e fé em Deus

Doha a quem doer


Pedro Azevedo

A FPF delegou numa empresa privada, a Femacosa, a gestão da sua principal equipa de futebol. O gerente dessa empresa é o simpático Engenheiro Santos (santinho!), que em dia de treino ou de jogo adquire a personalidade do seu maléfico altar-ego, o senhor Femacosa, à boa maneira de uma novela gótica com elementos de ficção científica e de terror. (Sendo a Selecção Nacional a "Equipa de todos nós", na expressão feliz de Ricardo Ornellas, doravante tratemos carinhosamente a empresa que a gere por "Femacosa Nostra".)

 

Ontem, a Femacosa Nostra foi a jogo. Os jogos da Femacosa Nostra são como os melões: tanto dá para empatar ou perder com as Ilhas Salomão como dá para empatar ou ganhar à França. Tudo na verdade obedece a uma aleatoriedade capaz de desafiar a epistemologia das coisas. Com a Femacosa Nostra ganha-se como se perde ou se empata: não desse o árbitro um penálti ou não escorregasse o Williams na hora de surpreender o Diogo Costa e estaríamos agora a lamentar um empate ou uma derrota num jogo em que tivemos tudo para golear. Mas não goleámos. Primeiro, porque demos uma parte do jogo de avanço, renunciando a provocar desequilíbrios que na mente do gerente da Femacosa Nostra nos desequilibrassem a nós. (A Louis Vuitton deveria deixar-se de Ronaldos e Messis e convidar o Engenheiro Santos para defrontar o senhor Femacosa no tabuleiro do xadrez.) Segundo, porque finalmente por cima do jogo, o senhor Femacosa decidiu aliviar a pressão no meio campo e fazer entrar um passeante, o William de Carvalho, permitindo-lhe assim fazer a digestão do almoço no relvado de Doha. Terceiro, porque ter Bernardo Silva e obrigá-lo a vir buscar a bola junto dos centrais desafia qualquer lógica de Jogo Posicional e desgasta desnecessariamente uma unidade que deveria ser resguardada para fazer a diferença na frente (e não atrás). Quarto, porque aos evidentes erros de casting do plantel, para uma competição com estas condicionantes de temperatura e humidade, seguiu-se as já habituais inações e atrasos nas decisões que viram Matheus não sair do banco ou Rafael Leão entrar já tarde no jogo, dois jogadores com aquilo que qualquer Selecção presente neste Mundial necessita para ter sucesso: explosão com bola. No entretanto, o Otávio e o Ruben Neves nunca pegaram no jogo, os laterais não arriscaram no 1x1 e os extremos fugiram das alas e assim afunilaram o nosso jogo. Defensivamente, os erros somaram-se, como é bom exemplo o primeiro golo ganês: a bola passou, primeiro, pela frente de Ruben Dias sem que este a interceptasse e, depois, por entre as pernas de Danilo. 

Foi já com Leão aberto na esquerda e Félix na direita que Bruno Fernandes encontrou espaço para si próprio no miolo do campo para endereçar dois passes açucarados para golo, com os africanos centrados na marcação a Ronaldo. Ronaldo que ganhou um penálti, viu um golo aparentemente limpo ser anulado pela precipitação do árbitro e ainda teve duas oportunidades negadas pela excelente acção do guarda-redes do Gana. Numa delas, sprintou em 30 metros, deixando um defesa colado aos blocos. Pelo meio, elevou-se e falou aos pássaros como só ele sabe. Nada mau para um ancião (dizem eles)... Ronaldo que deu sempre a sensação de ser o inimigo público número 1 para os géneses. Uma vez mais emocionou-se e emocionou o seu povo, pelo menos aquele povo que valoriza o mérito e não se revê na inveja e na perfídia. "Once Ronaldo, always Ronaldo" - os seus críticos ainda vão ter de "levar com ele" mais algum tempo. Entretanto, lá bateu mais um recorde, com golos em 5 fases finais de mundiais de futebol. Despedido por um clube à venda e injustiçado por uma narrativa de não haver quem o compre, Ronaldo simbolicamente ergueu-se sobre um Messi que o olhou embevecido. Não surpreendeu, porque os grandes sabem reconhecer-se entre eles. Força Femacosa, força Federação, uma entidade de utilidade pública. (Se fosse púbica, contratava-se o John Holmes e o problema estaria resolvido sem hesitações.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Ronaldo 

ronaldo over messi.jpg

24
Ago22

Para a frente é o caminho


Pedro Azevedo

Não se pode conduzir uma viatura sempre a olhar para o espelho retrovisor porque inevitavelmente acabar-se-á por bater de frente. Esta alegoria rodoviária aplica-se na perfeição à vida e em particular ao futebol. O jogo do Dragão tem sido suficientemente escalpelizado, termo até bem apropriado ou não houvesse para aí alguns "peles vermelhas" a pedir o escalpe do treinador. Ora, não só não devemos fazer o jogo dos nossos adversários como já é tempo de nos focarmos no que temos pela frente. E esse é o Chaves, que eu vi pela primeira vez em Alvalade no tempo daquele temível, irrequieto e guedelhudo ponta direito que dava pelo nome de Antonio Borges, um avançado que fazia jus ao "átomo a mais que se animou" imortalizado pelo também ele imortal Jose Régio.  Pouco tempo depois surgiria outro craque na outrora Aquae Flaviae. Era então o tempo dos bulgaros, a quem o regime simpatizante dos soviéticos só permitia que saíssem do país após completarem 30 anos. Assim chegou a Chaves o Radi Zdravkov, como a Belém atracou o Stoycho Mladenov ou a Alvalade o Vanio Kostov, este último já casado por correspondência e tudo numa daquelas chico-espertices de que o nosso futebol é fértil. O Radi era um grande jogador, búlgaro mas nada bulgar (o homem jogou no Norte, não é verdade?). E a verdade é que, mesmo sofrendo com a interioridade, desde aí o Chaves tem aparecido com alguma regularidade na divisão principal do futebol português. Será por isso, mas também pelas características de resiliência inatas ao povo transmontano, um adversário a não desvalorizar, pelo que se pede um Sporting desempoeirado, liberto de traumas e respeitador de quem terá pela frente. Ora, como isso tem sido o paradigma desde que Ruben Amorim comanda a principal equipa do nosso clube, só nos resta esperar uma boa prestação leonina. Eu aposto num bom dia! E, já agora, que esse dia seja o primeiro do resto da nossa vida neste campeonato. Que está a começar, é bom não esquecermos. 

21
Ago22

Em Ruben Amorim eu confio


Pedro Azevedo

Quem é que se lembrará que o Paulinho custou 16 M€ (70% dos direitos económicos) se a aposta que Ruben Amorim promete fazer em Rodrigo Ribeiro vier a render 40 ou 50 M€ no futuro? No futebol, como na vida, existe um deve e um haver e o saldo de Amorim é francamente positivo. Vidé os casos de Nuno Mendes, Palhinha, Inácio ou Matheus Nunes na rendibilização dos activos formados em casa, ou de Pote, Nuno Santos, Matheus Reis ou Sarabia no que respeita a activos encontrados no mercado. A não ser que se queira voltar ao tempo das "contratações cirúrgicas" e conseguirmos o pleno de 11 erros em 11. Ruben preferia manter os que tinha do que ir ao mercado? Acho muito bem! Mal seria vê-lo a patrocinar o carrossel do costume. A memória dos adeptos é que me parece ser curta, assim como roça a ingratidão a tentação de oferecer o treinador como bode expiatório na hora da derrota. Porque se há constrangimentos de ordem financeira e económica que implicam com a constituição do plantel de 2022/23, então teria de ser a administração da SAD a assumi-lo desde o primeiro dia da época perante os sócios e adeptos do clube. O contrário faz lembrar os tempos de Paulo Bento, sozinho nas conferências de imprensa e a ter de dar a cara pelo que não era da sua competência. Com a diferença de que contra todas as expectativas o Ruben até já foi campeão, um milagre em que ninguém acreditava e que, a manterem-se os actuais constrangimentos de tesouraria, dificilmente se repetirá. Com ele ou com qualquer outro, que até Jesus Cristo quando veio à Terra não abusou dos milagres. 

P.S. Está na hora de reforçar o "Onde vai um, vão todos". Unam-se internamente, e assim unam também os adeptos. É na hora da adversidade que se vê quem são os Homens. E os líderes, já agora. Por isso, resolvam os problemas internamente e deixem-se de mensagens subliminares através do jornal do costume. 

14
Ago22

Tudo ao molho e fé em Deus

Pote renascido e um Matheus para a história


Pedro Azevedo

Fitar o alvo, olho director apontado à mira, culatra puxada atrás e pum(!), golo. Não sei se o golo de Matheus Nunes valeu o bilhete ou se o remate em si foi um bilhete (de despedida?), o que sei é que levou um selo que o fez chegar ao seu destinatário, ainda que a violência do impacto o tenha feito saltar da "caixa do correio". 

O golo de Matheus foi o momento lusco-fusco de um jogo disputado ao entardecer, um render da guarda entre o dia e a noite, como se o pôr-do-sol anunciasse uma iminente saída do luso-brasileiro, muito pretendido em Inglaterra e a reservar-se para um City ou Liverpool. Se assim foi, a despedida ocorreu em beleza. Obrigado, Matheus, especialmente por todo o respeito que sempre demonstraste pela grandeza do Sporting. 

 

Mas o jogo não se resumiu ao golo de Matheus. Não, valeu desde logo pelo trio dinâmico da frente do nosso ataque, com Edwards e Pote en grande nível e Trincão à procura da melhor forma. Pedro Gonçalves que marcou 2 golos, esbanjando outros 2 pelo caminho naquele seu jeito em "souplesse" que às vezes roça o displicente. Todavia, é essa frieza, essa sustentável leveza do seu alter-ego Pote, que faz de Pedro Gonçalves o matador que é, disputando jogos a sério como se estivesse numa peladinha entre amigos. 

Uma palavra também para a nossa defesa, que ganhou com o comprometimento, concentração e atitude de Neto. O que demonstra que nem sempre é preciso ter uns pés de ouro, nomeadamente quando o coração é grande e a cabeça está no lugar certo (com a equipa). 


E assim terminou a première do Dragão, um ensaio geral para o que iremos encontrar no Porto. Onde também não haverá Paulinho- o drama, a tragédia, o horror... - , mas talvez ainda haja Matheus Nunes, uma espécie de milagre da multiplicação dos peixes (custou 1 e pode sair por 60 milhões), ou não tivesse passado toda a sua adolescência na vila piscatória da Ericeira.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Pote

alvaladechalana.jpg

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