Há Dias assim: Nuno Dias consegue fabricar equipas que são um orgulho para os sportinguistas. Ganhando ou perdendo, caímos sempre de pé, com honra, dando tudo, como aliás o treinador Joel Rocha, num assomo de "fair-play", teve a dignidade de reconhecer ("um grandíssimo Sporting").
Antes do jogo, Nuno Dias pedia solidariedade e Joel Rocha apelava à inspiração dos jogadores. Nenhum falou de sorte, mas um verdadeiro "chouriço" (é aproveitarem a dica e pedirem um patrocínio à Nobre) acabaria por se revelar decisivo na atribuição do título de campeão.
O jogo iniciou-se diante de um cachecol benfiquista, estratégicamente colocado na projecção do centro do ringue, onde se podia ler "o braço armado das modalidades". Que o Estádio da Luz seja de betão armado é lá com eles, mas um grupo de adeptos armados em parvos já é coisa que mexe com todos nós. Bem sei que IRA parece ser a característica comum a adeptos radicais de vários clubes, porém não se compreende como estas coisas não são banidas dos recintos desportivos. (Este tipo de mensagens bélicas que se podem observar em estádios e pavilhões ainda nos vão custar caro a todos.)
O Benfica começou melhor e rapidamente ganhou uma vantagem de dois golos, ambos marcados por Raul Campos. O Sporting reduziu por Cardinal, mas a sequência do lance merece um asterisco: as imagens mostraram única e exclusivamente Roncaglio, o guarda-redes benfiquista, a espetar o seu punho nas costelas do pivô leonino. Um dos comentadores da RTP traduziu tudo para os contribuintes com um "Roncaglio mostra as marcas". Os árbitros resolveram a coisa com um cartão amarelo para cada um...
Com o golo, o Sporting cresceu. O jogo ficou mais dividido e Roncaglio (remate de Cavinato) e Guitta (Campos) brilharam. Até que na conversão de um livre marcado após falta sobre Cardinal (até aí o melhor jogador do Sporting), Leo rematou com muita força e empatou a contenda. O factor sorte entrou então em jogo: primeiro, uma defesa de Guitta a remate de Bruno Coelho foi parar outra vez aos pés do jogador do Benfica sem que o guardião, já desenquadrado com a baliza, pudesse fazer algo para evitar o golo; depois, momento surreal do jogo, um pontapé de Erick encontrou o corpo de Campos pelo caminho e a bola caprichosamente anichou-se nas nossas redes. De novo a perder por dois golos de diferença, o Sporting parecia desorientado, mas uma pausa técnica curiosamente pedida por Joel Rocha permitiu à equipa leonina recuperar o sangue frio. Ainda antes do intervalo, e na sequência novamente de uma falta sobre Cardinal e de um livre executado por Leo, Rocha reduziu com um belo golo à Rabah Madjer.
A etapa complementar iniciou-se com dois lances polémicos. No primeiro, Robinho após um alívio estendeu o seu pé mais do que o movimento natural e acertou em Cardinal; de seguida, Pany Varela isolou-se para a baliza, mas os árbitros pararam o lance por, recorro novamente aos comentadores da RTP, "Cardinal estar em perigo". Benefício da dúvida neste lance (Cardinal esteve a pôr gelo no pescoço), que não no primeiro. Leo, sozinho, esteve muito perto do empate, mas rematou por cima. Na sequência, Robinho quase marcava. Com Merlim desinspirado, Rocha era agora o elemento mais desequilibrador do Sporting. No Benfica, Chaguinha criva perigo pelos corredores. A precisar de dar a volta ao marcador, a 4 minutos do final, Nuno Dias arrisca no 5 para 4, com Merlim como guarda-redes avançado. Privilegiando a segurança na posse de bola, os lances eram mastigados o suficiente para dar tempo à organização defensiva benfiquista de se reposicionar. Já em desespero, Rocha ganha dois livres, o último dos quais a meia dúzia de segundos do fim. Jogada estudada, toque de Merlim para Cavinato e a bola só parou no ferro da baliza do Benfica. Não havia tempo para muito mais, até porque a bola saiu do ringue e a reposição pertencia ao Benfica, pelo que se pode dizer que o sonho do tetracampeonato ficou ali, a 4 segundos do fim, naquele poste do Pavilhão da Luz.
O pior que pode acontecer nestas coisas é, a quente, questionar tudo. Perdemos o campeonato nacional, mas ganhámos, pela primeira vez na nossa história, a Champions. Se é certo que um detalhe nos impediu de chegar a um inédito tetra, não é menos verdadeiro dizer que esta equipa de futsal do Sporting, e o seu treinador, merecem todos os encómios. Não se pode ganhar sempre, mas pode perder-se com honra como hoje aconteceu. Como adeptos, não podemos exigir mais do que isso. Resumindo o que se passou na quadra, no fim do jogo o capitão benfiquista Bruno Coelho disse tudo: "caiu para nós". Parabéns ao Benfica! Há dias assim, mas não há muitos Dias assim. Dias como o Nuno, há poucos. Voltaremos!