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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

Castigo Máximo

27
Jan23

Será que entendi bem?


Pedro Azevedo

Este senhor Miguel Pinho, que a Sábado diz ter colaborado num alegado esquema com Luis Filipe Vieira que terá desviado 15M€ da formação sita no Seixal, acusado por Edgar Costa (capitão do Marítimo) de tentativa de suborno para perder com o Benfica, é o empresário que representa(va) Bruno Fernandes? O mesmo que, pós a infâme invasão a Alcochete e posterior rescisão unilateral do jogador baseada em alegada justa causa, lhe terá apresentado uma proposta para ingresso no clube da Luz, conforme foi amplamente noticiado? E que, tendo o jogador optado por regressar ao Sporting, celebrando para o efeito um novo contrato (comunicação à CMVM de 10 de Julho de 2018) que publicamente defendeu ser idêntico na remuneração ao anterior, não deixou de cobrar um valor de 1.6M€ alegadamente devidos pelo nosso clube à sua empresa (o R&C de 2017/18, na página 131, menciona apenas uma dívida de 450 mil euros à Positionumber)? É, mesmo, só para ver se entendi bem... 

29
Nov22

Tudo ao molho e fé em Deus

The hair of God


Pedro Azevedo

Em 86, no México, Argentina e Inglaterra defrontavam-se nos quartos de final do Mundial. O palco era o Estádio Azteca e cerca de 115 000 almas dispunham-se nas bancadas sob um sol inclemente. Para apimentar ainda mais o ambiente, o jogo tinha um carácter extra-desportivo motivado pelas cicatrizes ainda abertas da Guerra das Malvinas, que havia oposto os 2 países uns anos antes. No fim, no campo, ganhou a Argentina, naquilo que poderia ser considerado a "revancha del Tango". Para isso muito contribuiu Diego Armando Maradona, o génio da lâmpada, que marcou um golo épico e outro ignóbil, cada um inesquecível à sua maneira, ambos porém produto da improvisação, expressividade, ginga, truque e carga dramática que caracterizam o tango. No fim, quando questionado pela imprensa inglesa sobre a legalidade do seu primeiro golo, El Pibe apelidou-o de "The hand of God", a mão de Deus. Quanto ao segundo, o "Golo do Século", Lineker afirmou ter sido a única vez na vida em que se sentiu compelido a aplaudir num relvado um golo do adversário.  

 

Pensei na "mão de Deus" ontem enquanto aplaudia o primeiro golo de Portugal contra o Uruguai. Não que tivesse havido algo de ignóbil no lance, aliás perfeitamente limpo, mas porque envolveu um outro deus do futebol mundial, o nosso Cristiano Ronaldo, que foi absolutamente decisivo no êxito da iniciativa conduzida por Bruno Fernandes. Logo se levantou a questão de Ronaldo ter ou não tocado na bola e as imagens televisivas pareceram concluir que não. Mas tendo o salto de Ronaldo sido fundamental para a inacção do guarda-redes uruguaio, que ficou na dúvida entre seguir a trajectória da bola ou precaver-se face a um hipotético desvio do avançado português, bem que o golo poderia ficar na história como "The hair of God", como se um fio de cabelo divino tivesse acrescido à cabeleira de Ronaldo e assim impelido a bola para as redes. ("Se no è vero, è ben trovato".)

 

O jogo para nós foi de uma forma geral sofrido, ou não fosse Portugal a equipa e Fernando Santos o seu treinador. Algumas debilidades em termos de intensidade defensiva do nosso meio-campo ficaram expressas num arranque de Bentancur no primeiro tempo ou na reacção uruguaia ao golo inaugural luso. Também ficou evidente que o nosso seleccionador atrasou demasiadamente as últimas substituições, especialmente as entradas de Palhinha e de Matheus Nunes (que classe!), submetendo a equipa desnecessariamente a uma forte pressão dos sul-americanos que o poste, a malha lateral e Diogo Costa impediram que se materializasse em golos. Antes assim, mas que não havia necessidade de sofrer tanto, lá isso também é verdade. Até porque um dia, nada se alterando, a história poderá acabar mal, que os deuses do futebol não estarão sempre connosco, como aliás já se provou em competições que sucederam à vitória no Euro-2016. (A maior vítima do caos organizado que caracteriza o nosso jogo desposicional, bem como da macieza dos médios, é o Bernardo Silva, que é obrigado a transpirar tanto que depois lhe falta oxigénio para inspirar... a equipa.) 

 

Com apenas 2 jogos disputados, Portugal já está nos oitavos de final do Mundial. E com grande possibilidade de terminar em primeiro lugar no seu grupo, evitando assim o Brasil, que com igual probabilidade deve finalizar no topo da sua poule. Para quem tem na Texas Instruments ou na Casio uns parceiros de uma vida, não deixa de ser reconfortante...

 

Viva Portugal!!! (A revolta do Fado.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes. Menção honrosa para Diogo Costa. Ronaldo esteve no golo e deu apoios no ataque, Pepe regressou a bom nível, Nuno Mendes foi o único a acelerar o jogo no primeiro tempo, Cancelo preocupou-se essencialmente em defender bem e teve um corte providencial e Bernardo lutou em todo o campo pela equipa.

 

PS: O Ruben Neves passou o jogo todo com mialgias a nível do rabo de cavalo...

 

PS2: A minha equipa para a Coreia: Diogo Costa (Rui Patrício); Dalot, Pepe, Rúben Dias e Cancelo; Palhinha, Matheus Nunes e Vitinha; João Mário, Ronaldo (André Silva) e Rafael Leão. Descansam o Bruno, o Bernardo e o Guerreiro (não temos outro). Os outros que jogaram com o Uruguai também, mas não são os melhores. 

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11
Set21

Theatre of Dreams (só para alguns)


Pedro Azevedo

Com Ronaldo a bisar e Bruno Fernandes a marcar o golo da tarde, o Manchester United despachou (4-1) o Newcastle no agora ainda mais justificado "Theatre of Dreams" (Old Trafford). 


(À atenção de Fernando Santos e dos apologistas da teoria de que com Ronaldo na Selecção o Bruno Fernandes rende obrigatoriamente menos. Pelos vistos há quem veja nessa parceria um sonho, havendo outros em Portugal que insistem em querer ver um pesadelo, uma discussão que sempre me pareceu despropositada e digna de quem complica ao ver problemas nas soluções.)

 

26
Ago20

Pedro Gonçalves nomeado para Jogador do Ano


Pedro Azevedo

Confirmando a análise aqui feita aquando do anúncio da sua contratação, Pedro Gonçaves ("Pote") é um dos nomeados pelos capitães e treinadores da Primeira Liga para Jogador do Ano. Oxalá possa confirmar no Sporting os bons indicadores deixados na equipa famalicence. A qualidade individual está lá, faltará talvez o enquadramento ideal em termos de qualidade-extra no plantel (o que é diferente de experiência) que não coloque demasiada pressão num jogador ainda tão jovem. 

 

Por curiosidade, os outros nomeados são: Ricardo Horta e Paulinho (Braga), Fábio Martins (Famalicão), Edwards (Vitória SC), Taremi (Rio Ave), Pizzi (Benfica), Corona, Alex Telles (Porto) e Bruno Fernandes (Sporting).

 

Destaque especial para o nosso ex-atleta Bruno Fernandes, que confirmou no Manchester United tudo aquilo que Castigo Máximo sempre escreveu sobre ele e que fez dele não só um dos melhores jogadores da Primeira Liga mas também um dos melhores jogadores europeus do ano, com um título de melhor marcador da pretérita Liga Europa (inclui golos pelo Sporting) à mistura.

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23
Fev20

Isto não é o Sporting!


Pedro Azevedo

Vencido um jogo europeu, Silas rapidamente entrou no modo-desculpa tão comum ao povo português. Quando já julgávamos ter ouvido tudo, eis que segundo o treinador leonino Janeiro correu mal porque o Bruno Fernandes não estava com a cabeça aqui. Como se já não bastasse ver Varandas desculpar o mau planeamento da época com a continuidade de Bruno, agora é Silas que se sente no direito de também sacudir a água do capote despejando-a nos ombros do antigo capitão dos leões, ele que foi sempre o Atlas do Sporting que vai a campo. Tudo isto não só é inaceitável como é elucidativo de uma Cultura Sporting que não respeita aqueles que se transcendem e dão tudo de cada vez que envergam a nossa camisola. No caso concreto, quando os jornais davam como iminente a sua saída para Inglaterra, Bruno ainda resolveu um jogo em Setúbal contra um misto de doentes e convalescentes em que os seus dois golos foram decisivos para a vitória, totalizando 15 golos, 14 assistências e participação importante em 2 outros golos em meia-época, números que juntou a 48 golos, 36 assistências e 36 participações importantes nas duas épocas anteriores. Esmagador!

 

Neste estranho mundo actual do Sporting estamos permanentemente a ouvir coisas contra-natura como o "zero ídolos", que nos querem fazer crer que a relação com o clube não se confunde com os grandes atletas que o representaram. É imperioso remar contra isto, sob pena de um dia acordarmos para a realidade e percebermos que não temos referências, sem as quais enfrentaremos definitivamente o vazio. Nesse sentido, as palavras de Silas não são respeitadoras para com quem em inúmeras circunstâncias levou a equipa ao colo, resgatando-a das profundezas do Inferno e dando-lhe o Céu, como atesta o seu contributo decisivo para a conquista da Taça de Portugal do ano transacto, troféu que juntou a uma Taça da Liga onde também teve um comportamento meritório. Esse é o Bruno Fernandes que merece ser recordado por todos, aquele deus dos estádios que soube adquirir uma forma humana para se adequar à equipa que tinha. Pelo menos enquanto teve equipa e alguém à sua volta que compreendesse a sua música: como o menor número de participações importantes em golos nesta temporada comprova, a perda sucessiva de jogadores como Nani, Raphinha ou Dost acabou por fazer muitos passes de ruptura seus, no início da construção de jogadas, perderem-se ingloriamente. Além disso, se Bruno desceu de rendimento assim tão visivelmente, conviria perguntar a Silas porque não o tirou da equipa. Mas isso já não interessaria à narrativa desculpabilizante.

 

Um dia, Silas será uma nota de rodapé na história do enorme Sporting Clube de Portugal. Já Bruno Fernandes, por muito que alguns não lhe perdoem a rescisão, constará dela a letras de ouro por aquilo que nos deu no campo de jogo. Além disso, a cada sua entrevista descobrimos um homem inteligente, capaz de ver para além da linha do horizonte, muitas vezes apontando auspiciosos caminhos que esta Direcção e seu quinteto de treinadores nunca ousaram percorrer. Por isso, Bruno, obrigado por tudo e desculpa estas infelizes declarações do teu outrora treinador. Isto não é o Sporting!

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30
Jan20

Bruno, a revolta do Fado


Pedro Azevedo

Foi assim... (Texto de 30/6/19.)

 

Quando observo Bruno Fernandes, eu vejo um menino a fugir ao seu destino. Os seus olhos tristes são reminiscências de um passado sem tempo para sorrir, por cedo ter trocado o ócio pelo ofício, convertendo o brinquedo-bola na arte da sua labuta diária; a sua impaciência, ou permanente insatisfação, ilustrativa de quem não quer chegar atrasado ao encontro com o futuro, pretende ganhar tempo ao tempo e assim vencer para sempre o fatalismo tão português.

 

Se Maradona foi "la revancha del tango", Bruno é a revolta do fado. Ao contrário de d10s, não chegou a Itália como um ídolo de multidões. Não foi ensinar nada aos italianos, mas sim aprender. A distância do pé para a bola, a alavanca da perna, o aproveitamento do peso do corpo, lições úteis da arte de bem rematar que estudou com os mestres transalpinos. Aí também entendeu melhor o jogo, as nuances tácticas, a ocupação do espaço, a intensidade na recuperação de bola. De Novara a Udine, até chegar a Génova, cidade de Colombo e ponto de partida para uma gesta gloriosa com uma primeira escala no porto de abrigo de Alvalade. 

 

Nestes dois anos de leão ao peito tenho-o visto muitas vezes carregar a equipa às costas, marcar 2 golos decisivos como na jornada dupla da Taça de Portugal com o Benfica: o primeiro para alimentar o sonho, o segundo para o tornar realidade, momentos paradigmáticos do jogador em quem as bancadas depositam a esperança em novos dias de glória. Focado como é, aquele ar zangado que permanentemente exibe não esconde a noção de que transporta o peso do mundo sportinguista aos seus ombros, as nossas ambições, os nossos anseios. Dele esperamos sempre o inesperado, o paradoxo do intangível, a fé que não se explica. Ao longo dos anos tivemos grandes jogadores, mas nenhum foi tanto uma equipa como Bruno Fernandes. Ele ataca, ele defende, ele adverte, ele comanda, ele nunca se rende. Marca livres, cantos, penalidades, é o dono da bola. À sua volta todos melhoram, todos ficam mais confiantes, inspirados por este operário-artista, tão capaz de tocar o bongo como de produzir música celestial.

 

Com ele em campo não há derrotas antecipadas, Adamastor e suas tormentas. Ele é a Boa Esperança, o trevo-de-quatro-folhas encontrado para lutar contra a impossibilidade, a desconfiança e a descrença. 

 

E agora, como será? Começa a lenda... Boa sorte, Bruno! Obrigado! Sporting sempre!

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17
Jan20

Triple Player


Pedro Azevedo

Silas diz que para o substituir serão necessários 3 jogadores e de facto assistir a um jogo de Bruno Fernandes é como ter acesso ao Triple Play, na medida em que ele tem voz (de comando), dados (estatísticos) e é um multi-médio (defende e ataca). Curiosamente, numa equipa (Sporting) que tem a NOS como seu patrocinador. Isto anda tudo ligado...

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12
Jan20

Tudo ao molho e fé em Deus - Epidemias


Pedro Azevedo

Bruno Fernandes, Acuña e Mathieu são a equipa do Sporting, havendo ainda o Coates e o Vietto que funcionam como um placebo que nos faz sentir mais confortáveis. O Bruno, então, é meia-equipa. Saber que meia-equipa está a ser leiloada em Inglaterra é uma angústia que tira o sono até a um adepto com narcolepsia. Bem sei, os leiloeiros não são uma qualquer Christie's ou Sotheby's desta vida, mas sim uma Estrutura que nos dá boa-esperança com o seu trabalho invisível no futebol. Ainda assim a preocupação é legítima. O raciocínio é simples: se com a equipa completa estamos atrás de um clube recém-promovido à Primeira Liga, teme-se que sem meia-equipa o Famalicão se torne um gigante Adamastor. Neste transe, não tendo alternativa em termos de calendário e legitimamente defendendo os nossos interesses, enquanto não nos aventuramos na tentativa de dobrar esse cabo das tormentas, fomos treinar ali para os lados do Cabo Espichel.  

 

O treino foi uma boa mostra daquilo que nos espera no futuro próximo. Já sabíamos que tínhamos de fugir ao contágio da epidemia de gripe, mas nada nos preparara antecipadamente para gatos pretos agoirentos a passearem no relvado, adeptos desavindos nas bancadas ou apanha-bolas de máscara na pista, para não falar de presidentes desentendidos nos camarotes. No meio disto tudo, o jogo durante muitos minutos pareceu ser uma coisa acessória. Tão acessória que se não fosse o frio que se fez sentir no Bonfim este Vosso humilde escriba até teria entrado em REM, com pesadelos vividos de ver Bruno Fernandes a marcar os seus últimos golos pelo Sporting. Ainda assim, sonhando acordado, lá vi o Bruno a resolver um jogo que pareceu ganho mesmo antes de ser jogado e que esteve à beira de acabar empatado. É que se os de Setúbal, mesmo apenas com 4 titulares, tiveram de recorrer ao Brufen e Benuron, os nossos devem ter esgotado ao intervalo as doses de ansiolíticos. De tal modo que no segundo tempo não se percebeu se era o Sporting que estava em campo ou o Neuchatel "Xanax", o que se traduziu em algo como levarmos o nosso masoquismo ao sado. À conta disso sofremos um golo, estivemos à beira de levar outro e o Coates ainda teve de fazer uma falta que o impossibilita de jogar contra o Benfica e abre a torturante possibilidade de o Ilori o fazer. Como se não bastasse, o Vietto saiu a coxear. E assim, enquanto aguardamos a todo o momento notícias do Grande Prémio de Inglaterra em BF8 que sucede ao Grande Prémio do Mónaco da mesma modalidade disputado no Verão passado, excruciantemente esperamos pela próxima sexta-feira. Mas ainda há esperança: pode ser que o Benfica se compadeça com esta epidemia que desde o início da época grassa em Alvalade e aceite adiar o jogo... 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes

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28
Dez19

Bruno Fernandes e a Formação


Pedro Azevedo

Da entrevista de Bruno Fernandes ao Record retiro duas notas que reforçam aquilo que neste espaço venho perorando:

  1. Bruno Fernandes diz que gosta muito de Matheus Nunes, não só pela qualidade técnica mas também pela intensidade do seu jogo, adiantando ainda que lhe parece ser o sub-23 que a nível físico está mais próximo dos patamares requeridos na equipa principal;
  2. Bruno Fernandes fala de um central esquerdino dos juniores de quem também gosta muito. Refere-se a Gonçalo Inácio, e dele diz algo lapidar: se vier a treinar com o plantel principal, pode vir a aprender muito com Mathieu, pois apesar das dimensões diferentes têm um estilo de jogo muito idêntico. 

 

Mostrando estar atento à nossa Formação - não será por acaso que é frequente vê-lo em Alcochete a acompanhar os jogos das nossas camadas jovens - , Bruno Fernandes evidencia assim um pensamento estruturado sobre o que é necessário fazer transversalmente ao nosso futebol. Ele mostra-nos que as qualidades de passe, recepção e progressão com bola (cabeça sempre levantada) de Matheus Nunes, aliadas à sua envergadura física, não passam despercebidas aos mais velhos e já justificam uma oportunidade dado que os seus níveis de intensidade estão próximos dos do plantel principal (pergunto: valia a pena ter ido ao mercado reforçar a posição "8"?), ao mesmo tempo que esboça uma ideia que devia complementarmente estar presente aquando da contratação de um veterano como Mathieu: o poder, com a sua experiência, ajudar ao desenvolvimento de jogadores jovens, como se fosse um artesão da última estação de produção de uma fábrica. Algo que não foi aproveitado na moldagem de Demiral ou Domingos Duarte, mas que urge ser feito com Gonçalo Inácio (jogador que iniciou a época com óptimo rendimento nos sub-23 e depois, inexplicavelmente para quem está de fora, desceu aos juniores) ou Quaresma. O Benfica utilizou Luisão dessa forma nos últimos anos da sua carreira, e daí surgiram jovens como Lindelof ou Ruben Dias que muito beneficiaram com a experiência do central brasileiro. 

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11
Dez19

Ranking GAP(3)


Pedro Azevedo

Nesta temporada de 2019/2020, o Sporting disputou até agora 22 jogos - 13 para o Campeonato Nacional, 1 para a Supertaça, 2 para a Taça da Liga, 1 para a Taça de Portugal e 5 para a Liga Europa -, obtendo 12 vitórias (54,5%), 2 empates (9,1%) e 8 derrotas (36,4%), com 34 golos marcados (média de 1,56 golos/jogo) e 28 golos sofridos (1,27 golos/jogo).

 

A nível individual, eis os resultados (estatísticas ofensivas):

 

1) Ranking GAP: Bruno Fernandes (12,10,1), Luiz Phellype (6,2,0), Vietto (4,3,3);

Vencedor - 2018/19: Bruno Fernandes (32,18,17); 

2) MVP: Bruno Fernandes (57 pontos), Luiz Phellype (22), Vietto (21);

Vencedor - 2018/19: Bruno Fernandes (149); 

3) Influência: Bruno Fernandes (23 contribuições), Vietto (10), Luiz Phellype (8);

Vencedor - 2018/19: Bruno Fernandes (67); 

4) Goleador: Bruno Fernandes (12 golos), Luiz Phellype (6), Vietto (4);

Vencedor - 2018/19: Bruno Fernandes (32);

5) Assistências: Bruno Fernandes (10), Vietto (3), Luiz Phellype (2);

Vencedor - 2018/19: Bruno Fernandes (18).

 

Algumas notas complementares:

  • Nesta época, Bruno Fernandes foi até agora influente em 67,6% dos golos do Sporting;
  • Influência de Bruno Fernandes no total dos golos do Sporting - 2018/19: 59,3%; 2017/18: 49,1%;
  • À semelhança de 2018/19, Bruno Fernandes lidera todos os parâmetros de análise (GAP, MVP, Influência, Goleador, Assistências);
  • Atacantes como Jovane Cabral, Rafael Camacho, Gonzalo Plata ou Fernando (não utilizado) ainda não contribuíram para qualquer golo. Jesé tem apenas 1 golo e nenhuma assistência;
  • 14 jogadores contribuíram para os 34 golos obtidos esta época, sendo que 5 deles são defesas. De destacar Coates, com 3 golos marcados, o 4º melhor goleador da equipa (também 4º classificado na lista de MVP). Acuña (defesa) está em 5º lugar como MVP das estatísticas ofensivas.

 

Ranking GAP (Golos, Assistências, Participação decisiva em golo):

 

  G A P Pontos
Bruno Fernandes 12 10 1 57
Luíz Phellype 6 2 0 22
Vietto 4 3 3 21
Coates 3 0 0 9
Raphinha 2 0 1 7
Wendel 2 0 0 6
Acuña 1 1 3 8
Bolasie 1 1 3 8
Mathieu 1 1 0 5
Pedro Mendes 1 0 0 3
Jesé 1 0 0 3
Doumbia 0 1 0 2
Neto 0 1 0 2
Thierry 0 0 1 1

 

05
Dez19

Tudo ao molho e fé em Deus - Auto da fé


Pedro Azevedo

O Sporting voltou a Barcelos para jogar com as reservas(!) do Gil Vicente e novamente encenou o clássico auto da barca do inferno, apenas interrompido por "un grand finale" de auto da fé protagonizado pelo habitual génio da lâmpada (Philips, o PSV que o diga), Bruno Fernandes, o anjo que conduziu a barca, os seus tripulantes, Silas, a Estrutura e todos os passageiros adeptos Sportinguistas até porto seguro, mostrando conhecer bem o significado do símbolo que leva ao peito. Diz-se que Deus se move de uma forma misteriosa, e isso talvez explique a razão pela qual um anjo cuja permanência entre nós alegadamente estragou elaboradíssimos planos da pólvora (seca?) para a época acabe por sistematicamente a todos resgatar das trevas...  

 

O jogo não diferiu muito do anterior, espaçado que foi de apenas 3 dias. A nuance foi que Silas preferiu apostar num onze muito semelhante, submetendo os seus jogadores a um esforço maior e não rodando a equipa - tirando Bruno, Acuña, Mathieu e, vá lá, Coates será que faz assim tanta diferença quem jogue? - , e Vitor Oliveira mudou praticamente tudo. O défice de condição de alguns futebolistas ficou bem patente quando Wendel pareceu guiar um Mini perante um gilista que circulava de Ferrari sobre a direita do ataque da equipa de Barcelos. O Sporting voltou a mudar de táctica, partindo de um duplo pivot mas com uma definição tão confusa mais à frente que até fez a aprendizagem do mandarim parecer fácil comparativamente. Silas concedeu mais uma boa oportunidade a Miguel Luís e voltou a dar minutos a Rafael Camacho, em ambos os casos com os (não) resultados do costume. Em contrapartida, Matheus Nunes (não jogou nos sub23) voltou a não ser utilizado e logo na competição desenhada para que os jovens possam ser testados, algo pouco compreensível. O mesmo em relação a Rodrigo Fernandes, um miúdo atirado às feras num jogo de campeonato e substituído ao intervalo para não mais voltar à equipa. E no fim Silas ainda se queixa de ter muitos jogos (para que serve um plantel vasto e com um custo muito superior ao que a nossa realidade poderia acolher?)... Por outro lado, vejo o Fernando, uma contratação (empréstimo) literalmente curúrgica, a provocar um "traumatismo ucraniano" ao Bruno Tavares, que vê a sua progressão nos sub23 estagnar para que o brasileiro possa ganhar ritmo. Haverá certamente uma racionalidade nisto tudo, mas deverá ser de tal forma inteligente que eu não a compreendo. 

 

Qual é a política desportiva do futebol do Sporting? Recuperar jogadores para o PSG e o Shakhtar Donetsk? Vender qualidade e comprar banalidade? Renunciar à sua matriz formadora e não lançar os jovens perante os conhecidos constrangimentos financeiros e de tesouraria? Até quando teremos jogadores de qualidade cuja venda seja capaz de sustentar o défice brutal de exploração da SAD? E quando tivermos vendido a última pérola, o que fazer, qual o nosso desígnio? Apostar definitivamente na Formação e baixar significativamente os custos com pessoal ou ser uma barriga de aluguer para clientes de luxo? Tudo isto carece de explicação, se é que há alguma. Até lá há que ter fé. Mas do tipo de auto da fé de Gil Vicente interpretado por Bruno Fernandes, não do tipo de auto de fé onde quem critica sustentado em factos que compõem uma realidade (e não uma percepção) possa ser tratado como um herege no mundo do leão e misturado por entre vários epítetos com outras realidades bem diversas. É que para lendas e narrativas basta-me o Herculano, esse pelo menos era um mestre da palavra com quem se podia aprender alguma coisa.  

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes. Destaques, pela positiva para Coates (o Ministro da Defesa esta noite), Neto e Vietto (duplamente bem no segundo golo) e pela negativa para Acuña, um jogador que volta a mostrar sinais de nervosismo extremo na vizinhança da abertura de nova janela de transferências (será coincidência?). 

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28
Nov19

Tudo ao molho e fé em Deus - Trio Maravilha


Pedro Azevedo

A Silly Season já terminou e quando muito estamos na Silas Season, mas ainda assim o Vidigal disse na televisão que o Bruma - assobiado de cada vez que tocava na bola - sempre respeitou o Sporting. Quem verdadeiramente continua a respeitar o nosso clube é o Bruno Fernandes, grande capitão, hoje com mais 2 golos e outras tantas assistências (103 acções directas decisivas desde que chegou ao clube). Sobre isso, não há revisionismo histórico que valha...

 

O Sporting, disposto num 4-2-3-1, apresentou-se com uma maior ligação entre os sectores do que vinha sendo hábito, provando que o trabalho de Silas começa a dar frutos. Wendel é melhor jogador do que Eduardo e, desde que capaz fisicamente, assegura uma melhor parceria com Bruno Fernandes, Acuña dá uma amplitude à lateral esquerda que Borja nem em sonhos e Mathieu é o farol que impede a defesa de naufragar. O gaulês, o argentino e Bruno foram os melhores esta noite em Alvalade.

 

O Sporting marcou cedo, quando Bruno solicitou o desvio de cabeça do Felipe das Consoantes na pequena área. Pouco tempo depois Unnerstall (guarda-redes dos de Eindhoven) não conseguiu parar "unabomber" e os leões aumentaram a diferença no marcador. Eis então chegado o momento Formação, aquele em que Super Max, esta noite em estreia europeia, retirou a justa causa dos pés de Bruma e evitou que os holandeses reduzissem. Essa oportunidade ocorreu numa janela de 10/15 minutos em que os leões perderam o controlo do jogo, o seu pior período. Ultrapassada essa fase, o Sporting ampliaria o marcador ainda antes do intervalo: após umas entretidas carambolas protagonizadas por Doumbia terminadas da forma que seria de esperar de um bilharista marfinense, Bruno ligou o GPS e providenciou a munição ao míssil instalado no pé esquerdo de Mathieu; a bola só parou no fundo das redes do PSV.

 

A etapa complementar iniciou-se com mais uma boa defesa de Max. O Ilori entrou de pitons à bola e a seguir acertou num adversário. O árbitro marcou falta e o Vidigal voltou à carga. Agora invocando a "dinâmica do carrinho". Tal como a (electricidade) estática do televisor tudo se terá devido ao alumínio...  

Consistente e equilibrado, o Sporting ia fazendo a gestão do jogo. Só que o indisciplinado Acuña amotinou-se e decidiu expôr a Borja o algoritmo do caminho mais curto. Vai daí irrompeu numa correria, ultrapassando holandeses atrás de holandeses, fintando todos os que não lhe saíam da frente até ser derrubado já dentro da área. Na conversão, o clássico: guarda-redes para um lado e Bruno Fernandes e a bola a rirem-se do outro. E com esta prosopopeia termina a narrativa de um jogo que abriu o caminho para a qualificação para a fase a eliminar da Liga Europa. Que prossiga a epopeia!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes

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27
Nov19

Captain of our soul(*)


Pedro Azevedo

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"Do fundo da noite que nos envolve

negra como o fosso entre nós

eu agradeço a um "oito" que resolve

e à nossa indomável alma em uníssono dá voz

 

Retidos numa destrutiva condição

contigo escondemos a fraqueza 

e se a golpes do destino não mostramos servidão

é porque por ti sonhamos com a grandeza

 

Além deste Alvalade de ira, ódio e injúria

somente as trevas se enxergam

porém, se ao desencanto não sucede lamúria

é porque em campo ainda não te vergam

 

Não interessa quão estreito o caminho

ou quanto valerá ousar tocar a palma

contigo nunca haverá desalinho

tu és o capitão da nossa alma

 

Tu és o capitão da nossa alma

e nas batalhas nunca mostras piedade

só a tua presença a ansiedade acalma

juntos formamos uma sociedade"

 

(*) Dedicado a Bruno Fernandes, um jogador de classe e verdadeiro fautor da união em quem personifico a esperança em dias de glória que possam suceder a noites de trevas assentes num misto de maniqueísmo, niilismo e conformismo - onde não há inocentes - que ameaça destruir o Sporting (adaptação livre de um poema de William Henley)

20
Nov19

Magic one?


Pedro Azevedo

José Mourinho foi apresentado no Tottenham Hotspur, clube londrino vulgarmente conhecido como os "Spurs". Antes de mais, o despedimento de Mauricio Pochettino é uma daquelas coisas incompreensíveis das quais o futebol é fértil. O argentino chegou a Londres em 2014 proveniente dos sulistas do Southampton e teve um impacto imediato. Nos 5 anos anteriores à sua chegada os Spurs tinham obtido dois quartos lugares com Harry Redknapp aos comandos, dois quintos lugares (André Villas-Boas e Redknapp) e um sexto (época dividida entre Villas-Boas e Tim Sherwood) na Premier League, com Pochettino a pior classificação aconteceu no primeiro ano (5º lugar em 2014/15). Seguiram-se dois terceiros lugares (15/16 e 17/18) e um segundo lugar (16/17), este último só superado pela gesta gloriosa de Cliff Jones, Danny Blanchflower, Dave MacKay ou Bobby Smith (treinador Bill Nicholson) em 1960/61, época que marca a última vitória dos Spurs no campeonato inglês. Na temporada passada terminaram apenas em 4º lugar na Premier League, mas conseguiram o feito histórico de atingir a final da Champions. Este ano as coisas não começaram bem e o Tottenham encontra-se actualmente no 14º posto. Ainda assim a apenas 3 pontos do 5º colocado, o surpreendente Sheffield United, facto que não serviu de atenuante para o presidente Daniel Levy accionar a chamada "chicotada psicológica".

 

Este arrazoado que aqui deixei no 1º parágrafo em nada põe em causa a capacidade de José Mourinho, destina-se apenas a mostrar o quão ingrato o futebol pode ser para os seus profissionais. Não há por isso créditos, o futebol é essencialmente o momento e só isso explica que tenha acontecido a Pochettino exactamente aquilo que há 1 ano atrás sucedeu com Mourinho, treinador que havia conquistado previamente um segundo lugar na Premiership, uma Liga Europa, uma Taça da Liga e uma Supertaça aos comandos do Manchester United. 

 

Mou, o único treinador que simultaneamente bisou em conquistas de Champions e Liga Europa, tem pela frente um tipo de desafio que só viveu em Portugal: pela primeira vez desde que emigrou como treinador principal entra num clube com a época a decorrer, algo que só tinha vivido quando trocou o lugar de adjunto de Van Gaal no Barcelona pelo de treinador do Benfica ou, mais tarde, quando acabou a época no Porto proveniente da União de Leiria. Habituado a ter um impacto imediato nas equipas que dirige - Benfica, União de Leiria, Porto, Chelsea (por duas vezes), Inter, Real Madrid e Manchester United - o seu sucesso esta época encontra-se limitado no que diz respeito às aspirações de conquista da Premier League. A 20 pontos do líder Liverpool, 12 do Chelsea e do surpreendente (de novo!) Leicester e 11 do Manchester City, até a qualificação para a Champions parece neste momento muito remota por muito que outros dois habituais concorrentes (Arsenal e Manchester United) também estejam a ter inícios de campeonato desapontantes. Eliminado da Taça da Liga inglesa, resta-lhe tentar ganhar a Taça de Inglaterra (ainda não iniciou a participação) e dar asas ao sonho de vencer de novo a Champions, facto que seria único na história dos Spurs e marcaria claramente pela positiva esta sua primeira temporada no clube dos judeus londrinos.

 

Mais do que nunca, Mourinho vai precisar de fazer jus ao seu epíteto de "Special One" e dar uso à sua varinha outrora considerada mágica. Só espero é que esse passe de magia não obedeça à contratação do nosso único "Special One", o Bruno Fernandes. É que se a operação vier a decorrer em Janeiro, época de saldos e de refugo, não vejo como com o dinheiro proveniente da sua hipotética venda possamos minimamente no imediato colmatar a sua ausência e começar a esboçar com passos seguros o plantel para 2020/21, época - é bom não esquecer - onde o terceiro lugar final garantirá um lugar nas pré-eliminatórias (play-off?) da Champions (assim Portugal termine este ano à frente da Rússia no ranking da UEFA). 

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18
Nov19

Trio de ataque


Pedro Azevedo

Portugal tem hoje não apenas um, mas 2 jokers. Para além de Cristiano Ronaldo, agora há Bernardo Silva. Ambos são insubstituíveis, constatação que até os paralelepípedos da minha rua sabem ser verdadeira. Na fase de grupos da Liga das Nações, quando não houve Ronaldo, emergiu Bernardo. Com ele ultrapassámos Itália e Polónia e apurámo-nos para as meias finais. Depois, Ronaldo regressou e deixou a sua marca (um "hat-trick") nos helvéticos, classificando-nos para a final. A qualificação para o Euro também foi marcada pelos dois. Foram as assistências de Bernardo e os golos de Ronaldo que nos catapultaram para a fase final. 

 

Esta apreciação não visa desvalorizar o trabalho de ninguém. Todos deram tudo, simplesmente Bernardo está hoje para Ronaldo como Garrincha estava para Pelé no escrete do início dos anos 60. Valha a verdade que Bernardo demorou a impor-se. Durante algum tempo as coisas simplesmente não lhe saíam no espaço da selecção. Sem ele ganhámos o último Euro e com ele deixámos o Mundial nos oitavos de final. Por ironia, esse jogo com o Uruguai foi o grito de Ipiranga de Bernardo, o seu primeiro jogo de categoria por Portugal. 

 

Nós, Sportinguistas, aguardamos algo do género com Bruno Fernandes: a um começo tímido também deve suceder a súbita explosão. A imensa classe que presidiu à extraordinária execução técnica aquando do primeiro golo ao Luxemburgo é um sinal de que esse processo estará em curso. E aí, meus amigos e fieis Leitores, se Bruno fizer saír o génio da lâmpada e o juntar à estirpe de Bernardo e Ronaldo seremos imbatíveis no próximo Europeu. Assim o melhor Bruno de quinas ao peito chegue a tempo ao desafio com a (sua/nossa) história.  

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17
Nov19

Tudo ao molho e fé em Deus - Benilux semeou e Bruno colheu


Pedro Azevedo

Naquilo que se pode designar como "A lógica da batata" (N.A.: título alternativo), Portugal teve de depender de um batatal no Luxemburgo para entrar no Euro. Enfim, anda um país uma vida inteira a cultivar batatas e depois, devido ao impacto de uma Política Agrícola Comum (PAC) que seduziu a UEFA - o organismo máximo do futebol europeu parece confundir cultura (desportiva) com agricultura - , tem de as ir colher à Benelux... E ainda dizem que o futebol não se mistura com a política...

 

Milhares de emigrantes portugueses receberam a selecção nacional, mas a melhor recepção foi a de Bruno Fernandes: o jogador do SPORTING colou no pé um passe de Bernardo "Beni" Silva que foi um lux(o) e rematou de pronto para abrir o marcador. O golo disfarçou uma safra fraquinha durante a primeira parte da jornada, período em que os luxemburgueses se mostraram mais perigosos essencialmente porque a sementeira portuguesa se concentrava no meio e desprezava a largura do terreno. 

 

No segundo tempo Portugal melhorou. Ainda assim o espectro de um golo do Luxemburgo não deixou de nos atormentar. Até que, já nos minutos finais, Bernardo voltou a aparecer, desta vez a encontrar Jota sozinho na pequena área. O remate do jogador do Wolves saiu embrulhado, mas de um tipo de embrulho com que se acondicionam os presentes. O destinatário foi Ronaldo, que não resistiu a cantar o 99 Red Balloons (hoje Portugal jogou excepcionalmente de branco) da Nena, certamente por influência da proximidade alemã ao local do jogo.  

 

Com esta vitória, Portugal mantém o pleno de qualificações para europeus e mundiais neste milénio (agora 11 em 11).

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12
Nov19

Optimizar o "Duetto"


Pedro Azevedo

Esta noite, no Canal 11, num programa que efectivamente fala sobre futebol (parabéns á nóvel estação), discutia-se qual a melhor posição para Vietto. Fiquei contente porque a globalidade dos comentadores defendeu o mesmo que eu venho aqui dizendo há muito tempo: a posição ideal de Vietto é como segundo avançado, por detrás do ponta de lança. Como tal, favorece-o o 4-4-2 (ou 4-2-4 consoante as dinâmicas) clássico. Nunca poderia ser o "10" de um 4-3-3 (ou o vértice mais ofensivo de um losango do 4-4-2), pois isso requereria pegar na bola em zonas mais recuadas e não lhe permitiria chegar à área com fulgor (é um jogador franzino e sem grande potência muscular), nem um ala no mesmo sistema ou, pior, no 4-4-2, na medida em que teria tendência para vir sempre para o centro e assim desequilibraria mais a sua equipa do que o adversário. O argentino ganha outra preponderância quando tem uma referência fixa na área, explorando a segunda bola, a sobra (ou, alternativamente, procurando combinar frontalmente com o ponta de lança). Para isso acontecer, é necessário que os alas procurem a profundidade e centrem para a área, o que justifica o sistema que preconizo para Vietto. Para ilustrar o que digo, recordo que foi de 2 cruzamentos junto à linha, de Bolasie, que resultaram duas bolas perdidas na área e os golos de Vietto contra a Belenenses SAD. Assim, Vietto poderia ser para este Sporting aquilo que Saviola representou para o Benfica de Jesus.

 

Resolvido o problema de Vietto, surge uma outra questão: onde colocar Bruno Fernandes? Bom, Bruno é o melhor jogador do Sporting e tem de jogar sempre. Aqui não estou tanto de acordo com o painel do programa "Futebol Total" do Canal 11, na medida em que estes preconizaram que Bruno seria mais um 2º avançado do que um "10". Ora, o período menos fulgurante de Bruno foi precisamente quando jogou muito distante dos restantes dois médios, durante o consulado de José Peseiro. E isso aconteceu porque o jogo passava-lhe um pouco ao lado, na medida em que jogava mais de costas para a baliza do que de frente para a mesma. Ao contrário de Vietto, o melhor sistema para o médio maiato é o 4-3-3, com 3 médios de perfil a definirem 3 linhas no meio campo, sendo ele o médio atacante. Para o conjugar no 4-4-2 ideal para Vietto, Bruno teria de ser o segundo médio. É possível, visto que o maiato não só sabe colocar-se no espaço do adversário e assim recuperar bolas como ao mesmo tempo possui a estamina de um queniano que lhe permite um constante vai-vem. No entanto, as estatísticas dizem-nos que é a "10" que marca mais golos e se torna mais influente. Não um "10" puramente organizador, de marcar tempos de jogo, como Aimar ou Rui Costa, mas um "10" dinamitador, explosivo, do tipo Isaías, mas ao mesmo tempo com capacidade de colocar a bola à distância com destreza ou fazer passes de ruptura frontais (como Deco). Assim sendo, parecendo certo que não é possível ambos os jogadores actuarem em simultâneo nas posições mais indicadas para si, a solução poderá passar por minorar os estragos, ponderar o que se ganha em equilíbrio próprio face ao que se perde em desequilíbrio do adversário, e, dado que face à escassez de jogadores de qualidade é importante jogarem os dois (não saindo Vietto, já que Bruno para mim é indiscutível), Bruno ser colocado como "8". Fica ainda assim a sensação de que o nosso capitão não terá tantas oportunidades de marcar os golos de que o Sporting precisa, na medida em que estará à partida mais longe da área, ele que tem bem mais golo que o argentino. Por outro lado, pensando no restante plantel, a inclusão de Bruno como "8" significaria no imediato a desvalorização de Wendel e a não imposição imediata de um jogador em quem vejo enorme potencial (Matheus Nunes) e que já justifica uma oportunidade.

 

É claro que poderia haver uma solução ideal. Essa, na minha opinião, passaria por um 3-5-2 (acabaria o pesadelo dos alas invertidos), mas para isso necessitaríamos de dois laterais capazes de se metamorfosearem em alas. E aqui temos outro problema: é que se as características de Acuña ajustam-se na perfeição à esquerda, Rosier (por questões físicas) e Ristovski (por questões técnicas) terão mais dificuldade de o fazer à direita. O ideal seria haver um atleta como César Prates, capaz de fazer todo o corredor. Camacho já disse não querer ser lateral, mas neste sistema poderia potenciar as suas qualidades (por algum motivo Klopp viu nele uma alternativa ao potente Alexander Arnold). É que, mesmo sendo ágil e rápido, não parece ser um jogador com uma gama de truques que o tornem decisivo no 1x1, mas embalado de trás e aprimorando os cruzamentos poderia ser muito útil. Nesse sentido, o melhor Sporting para mim teria Renan; Coates, Mathieu (sim, no meio) e Neto (se há posição onde Borja pode jogar é nesta, tenho pena que Gonçalo Inácio, central esquerdino que actuava no início da época com brilho nos sub23, apareça hoje em dia mais nos juniores, Quaresma será melhor central pela direita); Camacho, Battaglia (Doumbia enquanto "Batta" não regressar), Matheus Nunes (Wendel), Bruno e Acuña; Vietto e Pedro Mendes (Luíz Phellype). Silas tem aqui uma boa dor de cabeça, mas ao mesmo tempo um desafio à altura de um treinador ambicioso e com vontade de fazer uma boa carreira. É que o papel de um técnico é optimizar os recursos que tem à sua disposição e quando estes são escassos há que puxar pela cabeça e tentar reunir os melhores jogadores no "onze". 

 

Deixo ainda uma última nota referente aos jogos mais exigentes da época. Admito perfeitamente, quando jogarmos na Luz ou no Dragão, que se adopte o 4-3-3, com Bruno Fernandes como médio de ataque e Vietto como falso ponta de lança. 

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05
Out19

Ranking GAP (2)


Pedro Azevedo

Nesta temporada de 2019/2020, o Sporting disputou até agora 11 jogos - 7 para o Campeonato Nacional, 1 para a Supertaça, 1 para a Taça da Liga e 2 para a Liga Europa -, obtendo 4 vitórias (36,4%), 2 empates (18,2%) e 5 derrotas (45,4%), com 16 golos marcados (média de 1,45 golos/jogo) e 20 golos sofridos (1,82 golos/jogo).

 

A nível individual, eis os resultados (estatísticas ofensivas):

 

1) Ranking GAP: Bruno Fernandes (7,5,0), Luiz Phellype (3,2,0), Raphinha (2,0,1);

Vencedor - 2018/19: Bruno Fernandes (32,18,17); 

2) MVP: Bruno Fernandes (31 pontos), Luiz Phellype (13), Raphinha (7);

Vencedor - 2018/19: Bruno Fernandes (149); 

3) Influência: Bruno Fernandes (12 contribuições), Luiz Phellype (5), Bolasie e Vietto (4);

Vencedor - 2018/19: Bruno Fernandes (67); 

4) Goleador: Bruno Fernandes (7 golos), Luiz Phellype (3), Raphinha (2);

Vencedor - 2018/19: Bruno Fernandes (32);

5) Assistências: Bruno Fernandes (5), Luiz Phellype (2), Bolasie (1);

Vencedor - 2018/19: Bruno Fernandes (18).

 

Algumas notas complementares:

  • Nesta época, Bruno Fernandes foi até agora influente em 75% dos golos do Sporting;
  • Influência de Bruno Fernandes no total dos golos do Sporting - 2018/19: 59,3%; 2017/18: 49,1%;
  • À semelhança de 2018/19, Bruno Fernandes lidera todos os parâmetros de análise (GAP, MVP, Influência, Goleador, Assistências);
  • Raphinha, que saiu em 2 de Setembro, ainda está no pódio em 3 parâmetros de análise;
  • Atacantes como Jesé, Jovane Cabral, Rafael Camacho, Gonzalo Plata e Fernando (não utilizado) ainda não contribuíram para qualquer golo;
  • Apenas 10 jogadores contribuíram para os 16 golos obtidos esta época, sendo que 2 deles (Thierry e Raphinha) já não fazem parte do actual plantel e 1 apenas pode ser utilizado na Taça de Portugal e Liga Europa até Janeiro.

 

Ranking GAP (Golos, Assistências, Participação decisiva em golo):

 

  G A P Pontos
Bruno Fernandes 7 5 0 31
Luíz Phellype 3 2 0 13
Raphinha 2 0 1 7
Vietto 1 0 3 6
Pedro Mendes 1 0 0 3
Coates 1 0 0 3
Wendel 1 0 0 3
Bolasie 0 1 3 5
Acuña 0 0 2 2
Thierry 0 0 1 1



02
Out19

Atlas e Sísifo


Pedro Azevedo

Na mitologia leonina, coexistem Atlas e Sísifo. O primeiro é um indivíduo de carne e osso, o segundo é uma ideia colectiva, um placebo servido com o intuíto de despertar reacções psicológicas positivas em comuns mortais. Ambos foram condenados por deuses que deviam estar loucos a trabalhos sem sentido. Ao Atlas maiato, os deuses impuseram que carregasse sozinho o céu leonino nos seus ombros, rodeando-o de uma série de almas penadas incapazes de interferir e que aguardam no purgatório pelo resultado da sua resiliência. Ao Sísifo Formação, os deuses encomendaram descobrir e fazer subir montanha acima um conjunto de jovens para que, chegados ao topo, fossem mandados por aí abaixo, não podendo assim substituir as almas penadas na ajuda ao nosso Atlas. É assim, nesse despropósito, que vive o futebol do Sporting.

Atlas 004.png

sisifo.jpg

19
Set19

Tudo ao molho e fé em Deus - O cisne negro


Pedro Azevedo

Há uns tempos atrás, em entrevista à SportingTV, o presidente chamou "cientistas da bola" a um grupo indeterminado de adeptos. Na medida em que um cientista é uma pessoa que sistematicamente procura o conhecimento, enquanto adepto acabei por tomar o "mimo" como um elogio. De seguida, imaginei um empírico. Um empírico só valoriza a experiência e como tal sofre do problema da indução. A indução consiste na generalização sobre as propriedades de uma classe com base em algumas observações. Se, por exemplo, um empírico só viu cisnes brancos na vida, imediatamente conclui que todos os cisnes são brancos. O problema é que existem cisnes negros (citando o Dr Pôncio, também se pode ter dado o caso de o empírico ter olhado para o cisne negro e não o ter visto). Um dos cisnes negros do futebol da Formação chama-se Pedro Mendes, um jogador que vem contrariar a tese (decreto?) de que os jovens da nossa Formação com idades compreendidas (actualmente) entre os 18 e os 24 anos não têm qualidade. Quando Leonel Pontes foi apresentado como treinador principal, o prazo para as inscrições na Liga já estava ultrapassado, o que implica que o jovem não possa jogar no campeonato e Taça da Liga. Enquanto o treinador não tem um prazo e sim uma tarefa, Pedro Mendes tinha um prazo que alguém que tinha a tarefa de o inscrever deixou caducar. Ainda assim, Leonel não permitiu que se esgotasse também o prazo na Liga Europa e sugeriu que fosse inscrito a tempo na competição. Hoje, em Eindhoven, Pontes deu a Pedro Mendes um prazo de 10 minutos e a tarefa de marcar golos. Ao fim de 1 minuto, o jovem já tinha cumprido a tarefa. Fossem todos assim no Sporting... 

 

Na antevisão do jogo tínhamos alertado para as motas do ataque holandês e a necesidade de não deixar espaço livre nas costas da nossa defesa. Conclusão: em duas situações em que o permitimos, durante a primeira parte, o PSV marcou. Mais uma vez Coates ficou mal na fotografia, estando desposicionado no primeiro golo e infeliz no segundo. Ainda assim melhorou face ao jogo com o Rio Ave, de bicicleta e não de triciclo. 

 

O Sporting entrou com um meio campo em losango, forma geométrica essa que já se sabe está fora de moda desde os loucos anos 80 (as camisolas de "Les Diables Rouges"). Doumbia jogava no vértice recuado, Bruno no vértice ofensivo e Wendel e Miguel Luís entre eles. Nada rotinada no sistema e com um novo jogador no miolo, a equipa não revelava eficácia nem ofensiva nem defensivamente, apanhando-se a perder por dois golos de diferença em duas rápidas transições ofensivas holandesas. Do meio campo para a frente as coisas também não estavam melhores, com Vietto como "capacete azul" da ONU, privilegiadamente observando o jogo de perto sem ter de pagar o bilhete. Perante este quadro de miséria, restavam os de sempre: Acuña, Bolasie e Bruno Fernandes (Mathieu, o mais rápido dos nossos defesas, desta vez não foi convocado). Da sua acção, aliás, resultaria o nosso único golo do primeiro tempo: o argentino serviu com precisão o congolês e este ganhou a penalidade que Bruno converteu sem paradinha. 

 

A etapa complementar iniciou-se com um golo sofrido pela formação de infantis do Sporting. Um canto rasteiro, inadmissível a este nível. Sem ponta de lança, com Vietto e Miguel Luís em sub-rendimento, Leonel Pontes pecou por demorar a agir a partir do banco. Assim, a equipa viveu essencialmente dos rasgos de Bruno Fernandes, o qual semeou o pânico no último reduto holandês por três vezes, enviando uma bola ao poste e disparando dois remates dificilmente defendidos por Zoet, estes dois últimos com Jovane já em campo (saiu Vietto). Até que Pedro Mendes entrou e marcou instantaneamente, provando que merecia a oportunidade de ser titular no próximo jogo contra o líder da Primeira Liga. Só que não está inscrito. Bruno está inscrito, mas não irá a jogo depois de ter sido expulso no Bessa, cortesia do critério disciplinar de Jorge Sousa. Até dá vontade de dar um pontapé numa porta, não é? Futebol? Fácil, fácil... 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes. Para além de Bruno, gostei de Acuña, Bolasie, Pedro Mendes (grande golo), Renan e Jovane Cabral. Os outros estiveram em plano negativo. 

 

P.S. Uma palavra de mérito a Leonel Pontes por ter compreendido que não poderia desperdiçar o momento de forma de Pedro Mendes e por ter tido a coragem de o lançar. São estes detalhes que evitam a desmotivação de toda uma geração de jovens, dão sentido ao futebol de Formação do Sporting e encaminham o clube na direcção da sustentabilidade. Ainda assim, gostaria de ter visto a equipa desde o início com um ponta de lança. 

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