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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

Castigo Máximo

02
Fev23

Tudo ao molho e fé em Deus

O Tsubasa, o Copperfield e o Button foram à bola


Pedro Azevedo

Os amantes do futebol associativo passaram uma semana de grande ansiedade após terem visto o seu ícone, Paulinho, desassociar-se do resto da equipa, deixá-la em campo em inferioridade numérica e ser suspenso. Foi como se lhes tirassem um dos seus últimos argumentos, uma das suas derradeiras linhas de defesa contra a falta de proficuidade goleadora do nosso avançado centro. Na verdade, o associativismo do Paulinho estava para o ponta de lança como o charme está para os homens - "Ah, e tal, não é bonito mas é um homem muito charmoso" - , uma característica que lhe dava patine, o tornava interessante e fazia esquecer tudo o resto. Mas, o drama, o horror, a tragédia, o Paulinho estava de fora do jogo com o Braga e os últimos resistentes da intrépida devoção ao "Citizen Kane" português - "Como saberes o que é suficiente, se não souberes o que é demais?" Há excessos assim que nos abrem os olhos para delirantes percepções da realidade... - rezavam secretamente para que Amorim lançasse o trio dinâmico na frente, com Trincão e sem ponta de lança. (Se não se puder provar que um seu eventual substituto é melhor, então é mais fácil de conceder que o Paulinho, ainda que não goleador e divergentemente associativo, tem de jogar.)

 

Acontece que o Amorim decidiu operar uma pequena revolução. E, qual Salgueiro Maia, avançar para o quartel que já foi do Carmo (agora no Porto) com o chaimite, ou Chermiti, ou lá o que é esse menino que deslumbra tanto a cada toque na bola como a cada movimentação sem ela, ora servindo apoios frontais, ora arrastando marcações, com a vantagem adicional de não se inibir no jogo aéreo e disputar com quantos adversários for preciso qualquer bola nas alturas. Não é fácil para um menino de 18 anos saber quando deve soltar a bola rapidamente e desmarcar-se ou simplesmente a reter e esperar pelo avanço dos colegas, mas nesse aspecto o Cherniti pareceu um veterano, um Benjamim Button desfilando de chuteiras. E quanto aos arrastamentos dos centrais, bom, basta dizer que os segundo e terceiro golos do Sporting resultaram dessas movimentações, com a cereja em cima do bolo de o segundo ainda ter tido uma assistência à Madjer do nosso puto a engalaná-lo. Além disso, o nosso novo ponta de lança mostrou bom jogo de cabeça, ora antecipando-se a todos ao primeiro poste, ora vencendo a oposição de 2 adversários numa bola dividida. É claro, porém, que o Chermiti não jogou sozinho. Houve muito Edwards na condução e transporte de bola, naquele seu estilo de prestidigitador, que habilmente mostra a bola ao defesa para o iludir e logo a esconde com um rápido movimento de pés. E tivemos também, e principalmente, um grande Morita, o nosso Tsubasa, gregário no meio do campo e letal na chegada à área. Um espectáculo este japonês que a todos encanta pela sua generosidade, humildade, simpatia e, é bom não esquecer, qualidade técnica ímpar. Depois destes, destaco ainda Pote, St Juste e Esgaio (e o grande golo de Matheus Reis e a iniciativa de Fatawu que deu um penálti). O primeiro de volta aos golos e sempre em movimento, o segundo ímpar nas acelerações e com passes sempre precisos e o terceiro rejuvenescido, como que liberto de uma sombra opressora tutelar que o esmagava e confrontava com a sua própria realidade. 

Uma vitória muito importante do Sporting, que culminou uma semana em que o Braga foi servindo de exemplo de gestão para nós. Dez-a-zero depois (pouparam a visita ao museu), com um mês de intervalo, eu diria que o Braga deve mesmo servir de exemplo. Para o Rio Ave, o Porto e os restantes desafios que temos pela frente. Porque o único salvador de que precisamos está dentro da nossa casa. E quando faz as coisas certas, é certo que estamos mais perto de ser felizes. Jogo a jogo, Amorim. 

PS: O único senão foi a voluntária exclusão de Coates para o jogo de Vila do Conde. Os melhores disponíveis devem sempre jogar o próximo jogo (de acordo com a narrativa de "jogo a jogo"), e a ausência do uruguaio vai obrigar-nos a reformular toda a defesa (Inácio para o meio, Reis à esquerda). Aprender com os erros faz parte da evolução humana, e a ausência de Pote (a que se seguiu a opção por não colocar Nuno Santos de início) já nos custou 3 pontos na Madeira à conta de poupanças para o jogo com o Benfica (que não ganhámos). 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Hidemasa "TSUBASA" Morita

morita braga.jpg

20
Dez22

Tudo ao molho e fé em Deus

AvisoPROCIV


Pedro Azevedo

AvisoPROCIV: previsão de chuva torrencial de golos esta noite em Alvalade. 


A Protecção Civil havia avisado e a Tempestade Messi, proveniente do médio-oriente, não tardou a chegar a Lisboa. Incidindo fortemente em Alvalade, logo foi rebaptizada com o nome de Edwards. Agora, segue-se a naturalização!?

 

Com Edwards, mas também Paulinho, Porro, Santos e Trincão, a soprar a grande velocidade, tornou-se impossível para os minhotos abrigarem-se da tempestade. Foi registada uma mão cheia de danos materiais, e mais teriam acontecido se não fosse a intervenção dos Bombeiros Sapadores de Braga. Cumpridores da sua divisa de socorro a náufragos, apoio às populações em perigo e transporte de acidentados, estes evitaram males maiores, segundo a informação veiculada a Castigo Máximo pelo Chefe Artur Jorge. 

 

No final, o repórter de ocasião pretendeu entrevistar o Edwards. O confronto saldou-se por um resultado de 0-0 entre o parco (jogador, em palavras) e o parvo (jornalista, nas perguntas): "Considera o resultado (Nota do Autor: 5-0) justo?" ou "Está contente com o seu desempenho (NA: Edwards tinha acabado de ser eleito O Homem do Jogo)?" foram algumas das questões que não fizeram funcionar o marcador. Nos penáltis venceu o inglês, sempre eficaz no jogo com os pés. (Graças a Deus que na Taça da liga não há prolongamento.)

 

Desde a paragem do campeonato para a realização da Copa do Mundo, o Sporting venceu 4 jogos, obteve um goal-average de 18-0 e viu o Paulinho marcar meia-dúzia de golos (Taça da Liga). Eu não sou de intrigas, mas talvez não fosse má ideia o Sporting, sempre na vanguarda da inovação no futebol mundial (Academias, VAR, etc), sugerir que o campeonato do mundo passasse a ser disputado de 4 em 4 meses...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Marcus Edwards. Paulinho seria uma bela alternativa.

 

Notas musicais [de Dó Menor(1) a Dó Maior(8)], porque somos o clube dos "5 Violinos":

 

Adán - Sol

Inácio - Lá

Coates - Lá

Matheus Reis - Sol

Porro - Lá

Ugarte - Lá

Pote - Sol

Nuno Santos - Lá

Edwards - Si

Paulinho - Si

Trincão - Lá

Jovane - Fá

Essugo - Fá

Arthur - Fá

Esgaio - Fá

"Buscapoulos" - sem nota (lesionou-se devido a uma carga dura pouco após ter entrado)

SportingBraga1.jpg

07
Ago22

Tudo ao molho e fé em Deus

Da Pedreira sem amor


Pedro Azevedo

A ida a Braga é uma forma de nos lembrarmos que o futebol português é uma Pedreira habitada por homens das cavernas que querem fazer-nos crer que acreditam na equidade e transparência das competições quando na verdade estão prisioneiros de um sistema antigo que confundem com a realidade. É como se numa dimensão paralela a Alegoria da Caverna encontrasse o Fred Flinstone e o seu amigo Barney, e o cenário fosse o de BedRock, um local onde se esboçam versões primitivas para inglês ver de conveniências modernas como - "Yabba-Dabba-Doo!" - a centralização dos direitos televisivos, e a brilhantina é feita de baba de dinossauro.  

 

Bom, mas isso é uma coisa. Outra coisa, bem mais assustadora, foi o Esgaio fresco ter mostrado a velocidade de uma tartaruga cansada. Ou o Paulinho não ter falhado nenhum golo pelo simples facto de nem uma vez ter chutado à baliza. Nada porém que amanhã os desportivos não componham entre elogios à versatilidade de um e qualidade sem bola do outro, atributos que assentariam indubitavelmente bem a... uma ginasta rítmica. Também não gostei de ver o nosso Oliver Tsubasa (Morita) ser rendido pelo Ugarte (de que até gosto) e disso se ressentiu a fluidez da nossa saída de bola. É o que dá uma "manga" (anime nipónico) curta, metáfora que se poderia estender a uma equipa que pareceu sempre menos solidária que em qualquer momento dos dois últimos anos do consulado de Rúben Amorim.

 

Perante tudo isto, valeu-nos um grande Matheus Nunes. O homem foi um Colosso! Primeiro desmarcando o Porro no primeiro golo com um passe milimétrico de 30 metros, depois levando o mundo às suas costas pela direita para depois cruzar para o único homem que havia ficado à esquerda finalizar. Para não enfatizar demais que logo no arranque da partida queimou 40 metros em sprint com a bola dominada até ser travado em falta à entrada da área braguista, ou que durante o resto do jogo deu sempre critérios às suas acções através, nomeadamente, de passes a variar o centro do jogo. 

 

Matheus foi muito bom, mas não chegou para todas as encomendas. Porque nenhuma equipa resiste a uma desatenção numa bola parada seguida de um défice de velocidade na lateral direita que faz pensar se o Gonçalo Esteves não teria sido mais rápido mesmo partindo da Amoreira. Também não é fácil jogar com um ponta de lança dito associativo, quiçá até distributivo, mas que continua a não ser cumulativo em termos de golos, podendo até considerar-se um elemento neutro na adição e absorvente na multiplicação (o zero), propriedades que os prémios nobel da matemática que se podem encontrar nos jornais portugueses certamente não deixarão uma vez mais de destacar.  

 

Ainda assim o Pote assinou o ponto e o Nuno Santos marcou um golo à Jordão no Euro-84. Ah, e como o futebol não é mímica, senão jogava sempre o Marcel Marceau, o introvertido do Edwards deixou-nos mais alegres do que o extrovertido do Trincão. Para o que também contribuiu o Rochinha, um rapaz com habilidade para encontrar espaço até numa cabine telefónica. 

 

Tenor "Tudo ao molho": Matheus Nunes 

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23
Jan22

Tudo ao molho e fé em Deus

O Pinheiro do Paulo Sérgio


Pedro Azevedo

Nos jogos do Sporting há regras específicas para a marcação de grandes penalidades. Pegando no adágio popular que diz que um é pouco, dois é bom e três é demais, se um jogador der duas cambalhotas após um ligeiro encosto então os senhores do apito marcarão o castigo máximo. Foi o que aconteceu ontem com Galeno. Todavia, se um futebolista ousar triplicar o número de reboladelas no chão, como aliás o Paulinho amiúde faz, então o árbitro será tentado a deixar seguir. Quer dizer, a vontade de dissimular é igual, em ambos os casos os jogadores teatralizando a morte iminente na esperança de que o padre de serviço avance com a extrema unção, mas o resultado final marcará toda a diferença. Nem que para tal tudo tenha de ser ungido com a benção e alto magistério do VAR de plantão, claro, ou não tivesse já há muitos anos o Paulo Sérgio diagnosticado correctamente o nosso problema: falta-nos um Pinheiro, é o que é, ontem como hoje. Especialmente um daqueles que não seja manso, como tal originário de um certo velho mundo, de casca grossa e raízes profundas e tentaculares. Tudo o resto, não sendo de todo negligenciável, é uma treta. Como a questão dos erros individuais ou a do... ponta de lança. (Pensando bem, ganhar assim seria, isso sim, uma grandíssima treta.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Matheus Nunes 

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15
Ago21

Tudo ao molho e fé em Deus

O melhor e o pior na Casa de Matheus


Pedro Azevedo

Caro Leitor, Rúben Amorim aproveitou a Pedreira para esculpir o Colosso de Rodas. Ainda não o conhecem? O homem desliza velozmente no campo, roda para qualquer um dos lados como se não tivesse anca e protege a bola em condução como se desse arrebatamento dependesse a sua própria vida - é uma das 11 maravilhas do mundo leonino que Amorim construiu sobre a rocha, uma garantia de que as nossas investidas chegarão a bom porto. Querem uma pista? (Cuidado que ele acelera por aí fora.) Falo-vos do Menino do Rio. Não, não é um daqueles cariocas bons de bola e habituados a gramado alto, baixa intensidade, bola no pé e chopinho no fim do jogo que quando aterram em Portugal logo se queixam do frio e da mania dos treinadores que lhes pedem para correr atrás dos adversários. Não, este menino está cá desde os 13 anos. E comeu, e cozeu, o pão que o diabo amassou (numa padaria e pastelaria na Ericeira). Até que o Alexandre Santos veio do Estoril para o Sporting B e trouxe-o com ele. Cá chegado, esteve quase a entrar na nossa equipa principal. E ainda estaria quase, povavelmente até à idade de pôr os papéis para a reforma, se Amorim não tivesse dado conta dele (antes já o Bruno, o Fernandes, o tinha realçado, mas esse destaque esbarrara na ilusão daqueles que acham sempre que um jogador não está pronto ainda que na bancada seja difícil para qualquer um mostrar qualquer grau de prontidão). Já adivinharam quem é? Sim, é o Matheus Nunes, o homem que ontem encheu o campo na Pedreira, não perdendo uma bola (recepções imaculadas), saindo da teia que Musrati e Fransérgio lhe entretanto haviam urdido com inusitada facilidade e ainda descobrindo tempo e espaço para patentear talento em passes de trivela como o que deixou Nuno Santos na cara do golo. 

 

Não foi nada fácil o jogo de ontem na Pedreira. A primeira parte foi mesmo muito dividida, valendo a inspiração de Jovane Cabral, o patinho feio que, dizem alguns, deveria sempre partir do banco. Proponho então que se imponha ao cabo-verdiano o ritual de passar pelo banco de cada vez que sair do balneário. Se o banco estiver em resolução pode ser mesmo um novo banco, o fundamental é todos estarmos de acordo quanto à melhor utilização de Jovane. Na Pedreira, o Jovane esticou-se até ao limite que a sua massa muscular lhe permitiu e, chegando à bola, ainda conseguiu direccioná-la com precisão fora do alcance do Matheus, o do Braga, um rapaz cujo nome provavelmente deriva da premonição que os seus pais tiveram de que perante o verde-e-branco passaria provações de proporções bíblicas. Como não há dois sem três, outro Matheus viria ainda a passar pelo relvado. Mas foi breve, tipo visita de médico, acabando expulso da contenda após diagnóstico errado produzido a um tornozelo. A coisa teria dado para o torto se entretanto o Sporting não houvesse conseguido dilatar a vantagem. Numa jogada linda de morrer, começada em Matheus Nunes que amassou e fez farinha com os médios do Braga, continuada na variação do centro do jogo que descompensou a defesa braguista e na consequente recepção extraordinária de Jovane, e finalizada no proverbial passe à baliza que já é uma imagem de marca de Pedro Gonçalves. Esse golo acabaria por se revelar fundamental, como essencial foram as 4 magníficas defesas que Adán realizou durante o jogo: primeiro salvando com o pé, com o corpo todo balançado na direcção oposta; depois, correspondendo a um remate de letra de Fábio Martins com uma parada de nota A; ainda, indo aos pés de Ruíz; finalmente, voando a um remate venenoso de Iuri. Foi tão bom que aquela saída de olhos fechados a um cruzamento em que socou a atmosfera assim como quem sente o ambiente, pressão e temperatura, não aquece nem arrefece o seu desempenho. 

 

Quinto jogo consecutivo contra o Braga, quinta vitória do Sporting. Pode haver quem acredite no acaso, mas eu creio que não há coincidências. E nem se pode culpar o grande Mestre Carvalhal, sempre disposto a criar algo de novo capaz de colocar areia na engrenagem do motor que Rúben Amorim construiu em Alvalade. Simplesmente, este Sporting vende saúde, tem jogadores que fazem a diferença e mostra uma solidariedade em campo difícil de superar. Venha o próximo!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Matheus Nunes

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01
Ago21

Tudo ao molho e fé em Deus

O leão voltou a rugir


Pedro Azevedo

O Carvalhal já não pode ver o Sporting pela frente. Vai daí, é natural que comece a procurar outras opções que não o Braga para a sua carreira. Ontem, por exemplo, estreou uma indumentária que o candidata a próximo treinador português da selecção de futebol da Venezuela, a célebre Vinotinto. Estou aliás convencido de que nesta altura da sua carreira até pode ser palhete, o Carlos já só quer é que o tirem dali e lhe acabem com o sofrimento. (Cada vez que defronta o Amorim é como se o Comissário Dreyfus avistasse o Inspector Clouseau.)

 

Na verdade, o homem pouco mais pode fazer na Pedreira: estuda bem o adversário, condiciona-o uma boa parte do tempo, joga com critério, mas no final o resultado é sempre o mesmo. É coisa para deixar qualquer um sem norte... Em Aveiro, durante 20/25 minutos o Braga não deixou o Sporting sair do seu meio-campo. O segredo esteve na pressão que Al Musrati e Fransergio exerceram sobre Palhinha e Matheus Nunes, não os deixando receber a bola e virarem-se para o jogo. Só que o Sporting tem outros recursos e um passe de meia distância de Nuno Mendes a corresponder à desmarcação de Jovane acabou por matar os braguistas e a estratégia do seu treinador. Como se não bastasse, pouco depois o Pote marcou um golo do outro mundo. Um golo que poderia ter sido marcado à Bélgica, se o Engenheiro não o tivesse condenado a umas férias ainda assim bem remuneradas no centro da Europa. É o que dá ter uma lâmpada mágica ali bem ao pé, no banco, e nunca passar-lhe a mão para deixar sair o génio...

 

O segundo tempo teria sido um deleite para a nossa vista caso não existisse no futebol o objectivo de meter a bola dentro de uma baliza. Tivemos por isso nota artística, mas faltou a nota técnica de remate para uma exibição muito conseguida. O Pote, o Nuno Mendes e o Matheus Nunes estiveram muito bem e durante 35 minutos o Braga nem cheirou a bola. Só nos últimos 10 minutos é que os braguistas puseram a cabeça de fora, mais por consequência da troca do trio da frente Sportinguista do que por outra coisa. Substituindo quem segurava a bola por jogadores com características de exploração do espaço para transição, Rúben Amorim deixou de ter bola no meio campo do Braga e expôs-se de alguma forma a uma última investida dos minhotos. Mas o nosso meio-campo, mesmo amarelado, e a nossa defesa estiveram impecáveis, e tudo não passaria de umas tímidas tentativas de criação de perigo através da bolas paradas sacadas por competentes mergulhadores braguistas. Uma nota para o labor e inteligência do duo central do nosso meio-campo, muito cedo condicionado com admoestação por João Pinheiro, o mesmo árbitro que olimpicamente ignorou uma biqueirada por trás de Paulo Oliveira nos gémeos de um atacante Sportinguista que se procurava isolar. Mas esqueçamos o Pinheiro e olhemos, sim, para a floresta: este Sporting deixa água na boca. Ontem, duas ou três combinações colectivas de altíssimo nível fizeram-nos sonhar. Assim haja eficácia! 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Pote 

supertaça 2022.jpg

26
Abr21

Tudo ao molho e fé em Deus

A normalidade de ter Coates


Pedro Azevedo

Antes do jogo, o senhor Pinto da Costa declarou que em condições normais o FC Porto será campeão. De normalidade percebe o senhor Pinto da Costa. Por exemplo, a distribuição normal dos eventos narrados no Apito Dourado tinha um desvio-padrão muito pequeno. Em consonância, a maioria das observações estava muito próxima da média do que era alegadamente comum acontecer na relação entre o FC Porto e diferentes agentes desportivos, o que convenhamos oferecia muita segurança a quem tinha de fazer "previsões". Tal fez-me lembrar um livro. Em "Repeated games with incomplete information", Aumann e Maschler abordam a teoria dos jogos. Quando as pessoas interagem, elas habitualmente já o fizeram no passado e esperam continuar a fazê-lo no futuro. É este elemento de continuidade que é estudado na teoria dos jogos repetidos, a qual prevê, por exemplo, cooperação, secretismo, castigo ou vingança. E depois há o aspecto da informação, que revela que sinais vitais podem ser implicitamente revelados pela acção de um jogador, sinais esses que o jogador pode pretender mascarar a fim de induzir o oponente ao engano. Foi o caso de Lord Rothschild, que, tendo tido antecipado conhecimento do resultado da Batalha de Waterloo, enviou um seu agente para a Bolsa de Londres com instruções para vender discretamente títulos accionistas. Simultaneamente, contratou diversos indivíduos que geralmente não trabalhavam para si com o objectivo de comprarem títulos o mais que pudessem. Como Rothschild havia antecipado, o seu habitual agente foi reconhecido. Vendo-o a vender, os restantes operadores associaram-se, julgando a sua acção traduzir que a batalha havia sido perdida pelos ingleses. Acabaram por facilitar a vida a Rothschild, que nesse dia conseguiu comprar acções no mercado a preços muito baixos que mais tarde, quando foi do conhecimento geral o sucesso de Wellington, se convertiriam em importantes mais-valias. Tudo isto para dizer que talvez não fizesse mal a Pinto da Costa esconder o jogo, ou, pelo menos, o seu entendimento da "normalidade" do mesmo.

 

Nos modelos de risco, os analistas estimam a máxima perda com níveis de significância que alternam entre 95% ou 99%, considerando-se os 5% ou 1% como eventos com grau de probabilidade muito reduzida e assim desprezíveis, o que leva a acontecimentos como o 11 de Setembro ou a crise de subprime tenderem a ser subestimados, acabando as previsões desses analistas por falhar. Ora, o futebol é um jogo. Como tal, tem uma componente de aleatoriedade. Os adeptos Sportinguistas que acompanharam o desenrolar do nosso jogo em Braga já rezavam por um empate, mas no fim o Sporting ganhou. Costuma dizer-se que é futebol. Num mundo ideal isso nunca seria considerado uma anormalidade, apenas um jogo. Anormal seria por exemplo a corrupção, promiscuidade, tráfico de influências ou falta de ética, ou até mesmo o condicionamento sobre as equipas de arbitragem (supunhamos umas invasões à Maia, ou assim...) eventualmente influenciarem as ocorrências de um jogo ou de um campeonato ou até marcarem golos, mas sobre isso o Nostradamus da Cedofeita não faz previsões, embora prevenido já tivesse ido até à baliza, perdão, Galiza.  

 

Começado o jogo, o Braga cedo descobriu a localização do cofre. Com Galeno, Gaitan e Sequeira permanentemente em superioridade numérica sobre Porro e Inácio, não surpreendeu que o central leonino se visse em apuros. Duas faltas, dois cartões, o Sporting via-se rapidamente a jogar só com 10. Mas uma coisa é ver o cofre, outra é descobrir a sua combinação. Até ao intervalo o Coates e o Adán certificaram-se que tal não aconteceria. Durante o descanso, o Rúben Amorim compreendeu que teria de pôr alguém mais naquele flanco. Com menos 1, convinha ser um jogador versátil, enérgico e também com chegada à área adversária. Vai daí, pensou no Matheus Nunes. Em boa hora o fez, pois numa jogada semelhante à que deu a nossa vitória na final da Taça da Liga, o brasileiro marcaria o golo da vitória. O restante segundo tempo foi uma história de sacrifício e de superação, um épico que certamente faria furor se representado no mundo da Sétima Arte. Como grande protagonista o Coates. O nosso Ministro da Defesa devolveu tudo, foi um muro intransponível. Coadjuvando-o, o Secretário de Estado Adán. Também ajudou ao sucesso o facto de em campo ter estado o Galeno, um artista com o traço impressionista de um Manet e a definição final de um maneta (no caso, perneta).  No fim, o Amorim disse que foi normal. E teve razão. Oscar Wilde teve um grande sucesso com a peça "A importância de se chamar Ernesto", também designada por "A importância de ser honesto", uma sátira sobre a moral vitoriana. Homem reconhecidamente culto, Pinto da Costa certamente conhecerá a obra de Wilde. E saberá também que a normalidade no Sporting está associada à importância de (o capitão) se chamar Coates. Sim, Coates, o que nunca alimentou dúvidas ou angústias pós-Alcochete aos adeptos e sempre alinhou os seus interesses pessoais com o Sporting, aquele que mais do que ninguém merece o título de campeão nacional.

 

Ganhámos um jogo que facilmente poderia ter caído para o outro lado. Mas é importante também compreender que houve jogos que empatámos e deveríamos ter ganho. É o futebol e os seus sortilégios, tudo normal. O que não vinha infelizmente sendo normal no Sporting era a solidariedade e resiliência dos jogadores em campo. E essa será a melhor contribuição de Rúben Amorim para o Sporting versão 2020/21. Podem contestar-se as substituições - ontem só gostei de Matheus e de Neto - , as alterações no modelo de jogo, a parca utilização de Jovane, dispensa de Pedro Marques, etc, mas a verdade é esta: em 47 anos que levo de ver futebol nunca vi uma equipa tão unida em campo. Se é normal, não sei. Mas espero que doravante seja o novo-normal. Força, Sporting!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Sebastián Coates

coates e adan.jpg

10
Mar21

A aritmética do campeonato


Pedro Azevedo

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Cenário Limite 1: Sporting ganha os jogos com Braga e Benfica

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Cenário Limite 2: Braga vence Sporting e Benfica

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Cenário Limite 3: Porto vence Benfica

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Cenário Limite 4: Benfica vence Braga, Porto e Sporting

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Worst Case Scenario para o Sporting: perde com Braga e Benfica

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Não esquecer que entre Braga, Porto e Benfica só 1 no melhor cenário possível poderá amealhar o máximo de pontos possível definido na tabela. Para ser campeão com toda a certeza o Sporting precisará de fazer 86 pontos, o que significa que tem uma pequena margem de 1 empate nos restantes jogos do campeonato (admitindo o worst-case-scenario conjugado de perder com Braga e Benfica e o Braga vencer todos os seus jogos até ao fim).

 

Faltam disputar 4 jogos entre os 4 primeiros classificados. A saber (por ordem cronológica): Braga-Benfica, Braga-Sporting, Benfica-Porto e Benfica-Sporting. Havendo 4 jogos, cada um com 3 resultados possíveis, existem 81 combinações possíveis de resultados entre eles, o que seria exaustivo elencar aqui. Assim, optei por apenas considerar cenários limite. 

24
Jan21

Tudo ao molho e fé em Deus

Campeões de Inverno


Pedro Azevedo

Bem sei, estamos em tempo de pandemia. Ainda assim, estes dois jogos em Leiria fizeram-me lembrar um outro tempo, aquele em que uma visita do Sporting à Cidade do Liz servia também para ir com os amigos "matar o bicho" ao Tromba Rija, o que por si só pressupunha que esse bicho, embora não contagioso, ocupasse para aí umas quatro assoalhadas do intestino delgado de cada um de nós. Por vezes a coisa até acabava em azia, sem que tal se devesse propriamente ao epicurismo treinado à mesa. Como naquela ocasião (2000) em que no último minuto o Schmeichel pôs banha a mais nas luvas, a bola escorregou-lhe e saímos do antigo Municipal a lamentar a (má) sorte e a pensar (erradamente) que ainda não seria dessa vez que o Sporting interromperia o seu hiato de títulos no campeonato nacional.

Nada disto viria a acontecer ontem. 

 

Gostei muito do jogo e do comportamento das duas equipas. Num campo com um lago no meio, Sporting e Braga bateram-se galhardamente. Havendo um lago, armei-me em Julius Reisinger, e qual coreógrafo da bola pensei logo em cisnes e no Jovane a bailar sobre os defesas como chave para desbloquear o jogo. O Tiago Martins é que não me pareceu sincronizado com a melodia do Tchaikovsky, nomeadamente quando a meio do primeira parte achou por bem mostrar um amarelo ao Jovane depois de este ter sofrido um toque por trás do Castro e um pisão do Horta, coisa que uns senhores da SportTV validaram enquanto faziam de conta que todo o seu auditório tinha fechado os olhos nesse preciso instante. Pondo-nos a duvidar do que os nossos próprios olhos viam, não fosse vir-nos à memória o velho adágio de que pior cego é quem não quer ver. [Tanto assim é que no fim do jogo ainda tiveram o topete de sugerir demoradamente que o Jovane deveria ter sido admoestado com o segundo(!) amarelo quando à meia-hora se tentou interpor entre o Matheus, um defesa braguista e a bola e tocou ligeiramente no guarda-redes.]

 

Na sequência deste último lance, o Carvalhal e o Amorim foram expulsos, um daqueles insólitos à portuguesa que ocorrem quando o árbitro quer tomar o protagonismo a jogadores e treinadores e, qual pavão, abre o leque (dos disparates). Não me impressionei por aí além, afinal desde pequeno que lido com coisas destas no Jardim da Estrela enquanto alternativa a dar milho aos pombos. Logo de seguida, uma nova rábula: Tiago Tomás disputava a bola ombro-a-ombro com Fransérgio quando levou uma cotovelada que o atingiu na face e o deixou a sangrar nessa zona, obrigando-o a ser assistido fora do campo. Perante o cenário que se lhe deparava, com aquela altivez típica dos ignorantes, Tiago Martins apitou falta contra o Sporting, involuntariamente fazendo de TT o trouxa que enfiou a touca (literal e metaforicamente). Azar do nosso jovem jogador, que por essa altura já tinha desenvolvido guelras, tantas foram as vezes que Sequeira, à margem das leis, o fez mergulhar no lago. Tudo sem que o árbitro visse razão plausível para amarelo, claro, que o miúdo ainda respirava e por isso mantinha boa cor. Estávamos nós nisto, faltas e faltinhas para aqui, habitual não observância da lei da vantagem para ali, critério disciplinar com as arbitrariedades do costume do futebol jogado em Portugal, quando o Elmusrati quis molhar a sopa por um(a) Palhinha, num dois-em-um ainda no nosso meio-campo em que primeiro tocou na bola e depois em quem lhe apareceu pela frente. Foi o tempo dos putos darem o Grito de Ipiranga: o Inácio bateu o livre para as costas do Galeno, o TT fez que ia mas não foi (e assim atraiu o Sequeira, que ficou nas covas) e o Porro teve uma auto-estrada com via verde para o golo. Ainda antes do intervalo, o Pote foi por ali fora qual Moisés abrindo o mar vermelho e quase aumentava o marcador. Uma jogada de grande inspiração (e transpiração) individual. 

 

No reatamento, o Amorim, que já tem uns anitos disto, anteviu o que todos estávamos a prever. Vai daí, antes evitar um xeque-mate que um (ballet de) Tchaikovsky, substituiu o Jovane pelo Nuno Santos. A ideia foi meritória, porém acabou por resultar numa troca entre a quase certeza de virmos a ter menos 1 homem em campo e a realidade de termos ficado em inferioridade numérica mesmo com os mesmos jogadores que o adversário, na medida em que o ex-vilacondense nunca se conseguiu adaptar às condições do terreno(?) de jogo. Ainda assim, até meio do segundo tempo as melhores oportunidades foram nossas, com Pote a testar o Matheus do Braga. Mais à frente, o recém entrado Matheus Nunes protogonizou a melhor oportunidade da etapa complementar, oferecendo a Sporar, outro substituto, um golo cantado. A bola perder-se-ia ingloriamente nas mãos do guarda-redes bracarense. Todavia, essa ocasião surgiu já em contra-ciclo face ao melhor período do Braga. Com a entrada do nosso velho conhecido Iuri Medeiros, os pupilos de Carvalhal carregaram então em cima de nós, mas uma actuação estóica de todo o sector recuado superiormente liderado pelo Ministro da Defesa (Sebastián Coates) e coadjuvado pelos secretários de estado Feddal e Inácio com o apoio dos assessores Porro e Mendes evitou o pior. O que já ninguém conseguiu evitar foi que Pote fosse expulso após dois bizarros amarelos em apenas dois minutos. Foi a forma encontrada por Tiago Martins de encerrar de forma invernal, perdão, infernal, uma actuação que o devia remeter imediatamente para a jarra. Com a água disponível em Leiria, podia ser que aí arrebitasse para se mostrar viçoso em futuras ocasiões. 

 

Já havíamos por duas vezes nos últimos 3 anos sido campeões de Inverno em sequeiro. Ontem fomo-lo também em regadio (o que pode ter parecido precipitação, afinal foi aspersão). Aliás, comme il faut! E se o Inverno voltou a ser o Inverno (do nosso contentamento), por que não o Sporting voltar a ser campeão? Por acaso, campeão até rima com Verão... (Foi absolutamente exemplar a entrevista que Rúben Amorim concedeu à SportTV pouco tempo após o fim do jogo.)

 

Parabéns a todos os Sportinguistas!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Coates

 

P.S. Dedico esta modesta crónica assente numa belíssima vitória à leoa Joana Cruz, excepcional radialista e mulher dotada de uma ironia fina que muito me agrada, nela exortando todas as senhoras que se deparam com o cancro da mama, não deixando também de me associar ao alerta para a necessidade de diagnóstico precoce que a motivou corajosamente a expôr a sua situação. Certíssimo de que a Joana, que não conheço pessoalmente, com o espírito, força e determinação que emanam do que lhe vou ouvindo, lendo e vendo, não dará quaisquer hipóteses à doença, daqui lhe envio os meus votos de rápido restabelecimento. 

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23
Jan21

Final da Taça da Liga


Pedro Azevedo

Hoje, frente-a-frente, vão estar dois treinadores que já venceram a Taça da Liga - Carvalhal, pelo Vitória de Setúbal, na primeira edição da prova; Amorim, pelo Sporting de Braga, na última edição - e os dois mais recentes Campeões de Inverno (Braga em 2020, Sporting em 2019 e 2018). Estarão também em compita dois campeões em título: o Braga enquanto equipa, Amorim como treinador. Em termos mais latos, de um lado teremos o histórico Sporting, do outro o eterno pretendente Braga. Tudo isto serão ingredientes mais do que suficientes para dar sal e apimentar a final de logo à noite, que espero ver concluir-se com uma vitória do nosso Sporting. Força leões!!!

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02
Jan21

Tudo ao molho e fé em Deus

Predestinação


Pedro Azevedo

Se não há campeões sem estrelinha, o Sporting precisou da Ursa Maior para bater o Braga esta noite em Alvalade. O facto nem é novo e parece dar razão a quem acredita que o título nacional desta época está predestinado, teoria que começa a reunir simpatia entre místicos e deterministas Sportinguistas. Um dos maiores místicos que alguma vez escreveu sobre futebol foi o famoso cronista Nelson Rodrigues. Fanático do Fluminense, criou o personagem do Sobrenatural de Almeida para explicar fenómenos aparentemente incompreensíveis que assolavam negativamente o tricolar carioca. Porém, quando o Flu finalmente voltou a vencer um campeonato, Nelson jurou ver o fantasma do Gravatinha, o protector do Fluminense, popular adepto que segundo o cronista havia falecido em 1958 em consequência da gripe espanhola. Assim, para os místicos, o Sporting também terá o seu Gravatinha, o que até fará algum sentido na medida em que 1958 marcou a última vitória leonina no campeonato com o que ainda restava (Vasques e Travassos) dos majestosos 5 Violinos, entrando então o clube num ciclo menos virtuoso. Nesse transe, para fechar o ciclo e começar um novo virtuoso, o nosso Gravatinha terá regressado agora como fantasma em tempo de pandemia de Covid-19 com o propósito de nos oferecer o tão desejado título. Já para os deterministas, tudo se deve ao controlo das causas e seu prévio conhecimento. Da mesma forma que o atrito de pau e pedra explica o fogo, um bom treinador e a sua concomitante escolha do plantel adequado estarão na origem do desempenho que nos conduzirá à glória. Não sei se o António Salvador acredita no destino, ele que deixou sair o Rúben Amorim sem que o Sporting batesse a cláusula de rescisão, mas o mais certo é começar a ser acometido de superstições a cada nova visita a Alvalade. É que nunca se sabe o que poderá encontrar à noite no Museu... 

 

O Braga criou e o Sporting marcou, eis o sumário do que foi o jogo. Os arsenalistas tiveram 5 oportunidades claras de golo, os leões responderam com 100% de aproveitamento das ocasiões geradas. Outras situações não foram tão claras, como das duas vezes que Nuno Santos foi desarmado na "hora h", ou quando os pézinhos mágicos de Coates e Feddal impossibilitaram o que parecia inevitável por via dos remates de Iuri e Galeno, respectivamente. Todavia, se a maior ou menor eficácia faz parte do sortilégio do jogo, há que dar mérito às substituições operadas por Rúben Amorim que conseguiram estancar a supremacia que durante meia-hora os arsenalistas tiveram no miolo do terreno, zona nevrálgica onde por muito tempo Palhinha foi impotente para travar a superioridade numérica dos pupilos de Carvalhal. Valeu nesse período Adán, o poste e a desinspiração de Ricardo Horta. E se Adán deve melhorar com os pés, Raúl Silva teve dificuldade em ficar de pé, o que indica que os próximos tempos em Braga deverão ser de intensa terapia: como se já não bastasse o complexo de inferioridade do Salvador, ainda ter-se-ão de avir com o Síndrome de Ménière...  

 

Apesar de ser católico, acredito que Deus terá coisas muito mais importantes com que se entreter em detrimento do futebol, o que em parte ajuda a explicar o livre arbítrio que se vê por aí. Ainda assim, creio que há destinos que são factos inquestionáveis. Por exemplo, a viagem de metropolitano para o Campo Grande é um destino que está antecipadamente programado. Porém, isso não quer dizer que infalivelmente lá chegará, podendo por exemplo descarrilar por motivo de imprudência ou negligência do maquinista. Assim também é no futebol, onde o maquinista que transporta a mais apetecida taça anda geralmente de apito na boca. (E contra isso não há misticismos ou determinismos que nos valham.)

 

P.S. Se eu tivesse antecipadamente escrito o guião deste jogo, dificilmente escolheria um desenlace melhor. Ou não tivessem sido os meus dois jogadores preferidos - Pote (coitadinho, está tão mal que só leva 11 míseros golos no campeonato) e Matheus - os autores dos nossos dois golos. Mas, atenção, que não haja confusões: eu ainda sou de carne e osso e ao fim de semana não uso gravatinha. Outra nota: não conheço a lei do jogo que manda admoestar com amarelo chicuelinas como aquela aplicada pelo Matheus Nunes a um defensor do Braga. É que, em vez de cortar a jogada ao brasileiro, quanto muito o árbitro deveria ter-lhe pedido para cortar as unhas, a única parte do seu corpo que eventualmente terá tocado no bracarense (um pedido de autógrafo também não lhe ficaria mal, o soberbo drible assim o mereceria).

 

Tenor "Tudo ao molho...": Pedro Porro (um leão de raça a dar o "Rugido" de Ipiranga) 

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03
Fev20

Tudo ao molho e fé em Deus - O sentido da vida leonina


Pedro Azevedo

A gente já sabe do que a casa gasta, que o presidente é o que é, o treinador idém (mais "marxismo-leoninismo" com a equipa sub-virada para a esquerda e a abrir crateras à direita) e os jogadores idém aspas aspas, mas também não é necessário enviarem-nos um médico legista com vontade de apressar o óbito, não é assim? Num dos filmes dos Monty Python, "O Sentido da Vida", um dador recebe a visita de uns médicos que lhe pretendem extrair os orgãos para transplante. Ele bem alega que a doação só estava programada para acontecer após a sua morte, ao que os médicos lhe garantem que estão lá exactamente para garantir isso, que ele morre, começando a remover-lhe as vísceras a sangue-frio. Acaba assim por produzir-se uma subversão: ele morre em consequência de ser dador, não deixando porém de ser dador em consequência da sua morte.  

 

O filme dos génios de comédia britânicos é uma alegoria do que é o contexto do futebol português. Nesta fita do ludopédio tuga, Frederico Varandas, que por coincidência também é médico, desempenha o papel do incauto que julga estar a produzir um "statement" quando diz que há 3 formas de lidar com a derrota - com dignidade, histerismo ou cobardia - , não entendendo que está a dar luz verde(!) para que todo o tipo de diatribes ocorra sem que se possa pronunciar, refém que ficou das suas palavras anteriores.

 

Ontem, na Pedreira, o futebol português regressou à Idade da Pedra. Convenhamos que não haveria melhor local para tal acontecer, sendo certo que em Portugal a realidade supera muitas vezes a própria ficção. Nesse transe, foi possível ver um árbitro apitar uma falta de jeito a si próprio imediatamente após o avançado esloveno recém-contratado pelo Sporting se libertar de um adversário e se isolar para a baliza. O pobre do Sporar percebeu instantaneamente onde se veio meter, ele que abandonou a liga eslovaca para integrar uma liga eslovaca-louca onde há um boi à solta no Estádio Nacional que ninguém sabe bem quem é, e é impossível alguém que venha por bem ficar de pé perante a doença que se propaga à volta. A confirmá-lo, numa primeira fase os nossos começaram a ficar amarelados até que acabaram por sucumbir. 

 

No fim do jogo, o Neto, aparentando falar para fora, falou para cima. O presidente, aparentando falar para fora, falou para dentro, para os sócios. Se por um lado é fácil compreender que sem orgãos que deem poder ao corpo isto não vai lá, também não podemos nós ser incautos ao ponto de não entender que a estratégia de Varandas falhou por completo. E em todas as frentes, desde as "contratações cirúrgicas" aos 5 treinadores em pouco mais do que 1 ano, não esquecendo o "unir os sócios" e o aumento da remuneração dos administradores da SAD aprovado contra o voto unânime de todos os outros accionistas da sociedade após Dost ter sido dispensado com o argumento de alívio salarial (situação que aliás nos deixou com um único ponta de lança inscrito para atacar a primeira parte da época). Deste modo, só nos restam duas alternativas: ou agimos, ou ficamos em casa à espera do dia em que nos venham remover o cartão de sócio. "Time to say goodbye"? 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Max

22
Jan20

Tudo ao molho e fé em Deus - "Marxismo-Leoninismo"


Pedro Azevedo

Um homem pensa já ter visto tudo na vida até ao momento em que chega o dia em que se depara com a insólita situação de ter de observar a equipa por quem dispara o seu coração entrar em campo coxa e toda inclinada para a esquerda, qual Titanic à beira de afundar. De facto, do meio-campo para a frente só com uma ala, o Sporting pareceu um carro sem direcção(!), em sub-viramento constante para a esquerda. Dada a tendência, após o "keynesianismo-keizerismo" que marcou um consulado anterior, é caso para dizer que Silas instaurou o "marxismo-leoninismo". A coisa se não fosse trágica até daria vontade de rir. Afinal, o que nos resta fazer quando o nosso lado direito se transforma no prolongamento da A1 com a A3 e, após o rectificarmos ao intervalo com a entrada de Bolasie, o congolês se faz expulsar infantilmente ao fim de 15 minutos? 

 

Dizem-me alguns com olhos doces (olá Régio!) que o Sporting precisa de tempo, enquanto também eles procuram ganhar tempo. Mas não basta ganhar tempo, é preciso saber-se o que fazer com ele. Nesse sentido, o Sporting destes dias faz-me lembrar uma camisola que em tempos descobri na cidade brasileira de Natal e que tinha inscrita a seguinte mensagem: "comecei uma dieta e em duas semanas perdi... 15 dias".

 

Estamos fora das taças nacionais e no campeonato distamos 19 pontos do primeiro classificado. Olhando para a época passada, eu diria que o tempo não nos está a fazer nada bem. É que se me dissessem no Verão que ao fim da primeira volta estaríamos equidistantes em pontos de Benfica e Aves, eu julgaria que os avenses haviam sido comprados por um excêntrico multimilionário árabe estranhamente apaixonado pelos jesuítas do Concelho. Porém, a realidade é bem diversa e hoje ficou bem patente em Braga, onde durante todo o jogo o grande pareceu ser o Sporting local e não o (enorme) Sporting de Portugal. Porque se na etapa complementar ainda pode haver a desculpa da expulsão de Bolasie, no primeiro tempo o nosso lado direito foi um bar aberto que só não deu mais prejuízo devido aos brandos costumes da cidade dos arcebispos. (Já se sabe que bar aberto dá sempre confusão no fim e por 1 minuto já não fomos a tempo dos 'shots ' de penaltis.)

 

O Sporting é um clube cujo futebol se crê assentar sobre brasas. A Formação então deve estar assente num bico de bunsen. Por isso, não quisemos queimar o Demiral, o Domingos Duarte ou os Matheus, da mesma maneira que, com todo o enlevo, hoje também não queremos queimar o Quaresma. E, para não queimar os jovens da nossa Academia, vamos esturricando as sinapses dos dedicados Sportinguistas e depauperando as nossas frágeis finanças ao ritmo das "contratações cirúrgicas". No entretanto, não temos Quaresma mas já temos a Via Crúcis, o que não deixa de ser invulgar mesmo tendo em conta que se trata do nosso clube. As estações são catorze e nós já atingimos a trágica décima segunda. Resta esperar agora pela ressurreição (do clube, porque de Frederico Varandas apenas espero que com toda a dignidade retire as devidas consequências políticas). Haja fé! Sporting sempre!

 

P.S.1: 21 (de Janeiro) e uma capicua: 12 derrotas...

P.S.2: Até o santo do Mathieu, grande profissional e um senhor, já perde a cabeça...

P.S.3: No final do jogo, Mathieu deslocou-se ao balneário do Braga para pedir desculpa ao nosso ex-atleta Ricardo Esgaio. O gaulês, que no dia em que sair me vai deixar muitas saudades, apesar da inicial atitude irreflectida, mais uma vez demonstrou ser alguém portador dos verdadeiros valores do Sporting (se é que ainda alguém se lembra do que isso é).  

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes

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19
Ago19

Tudo ao molho e fé em Deus - Re(i)nan R(e)ibeiro


Pedro Azevedo

Durante a fase fulgurante de Marcel Keizer, Frederico Varandas atribuiu o mérito ao peso da sua Estrutura para o futebol profissional. E não há como não lhe dar razão. É verdade! Atentem neste fim de semana: enquanto o Porto, acossado pelo "fair-play" financeiro, teve de ir ao mercado buscar uns Luíses quaisquer para remendar a equipa, o Sporting, munido de um super scouting, apresentou-se esta noite com 4 reforços (no banco). Outro mérito indiscutível da Estrutura foi termos alinhado com 1 jogador formado em Alcochete (Thierry Correia), o "quinto metatarso" de uma folia de um pé direito enorme de laterais de raíz ou improvisados de que também fazem parte Ristovski, Bruno Gaspar, Ilori e Rosier, confirmando-se assim a prometida aposta na Formação. Se calhar já são loas a mais à nossa Direcção, mas como esquecer a venda de Dost (e o seu valor) - Keizer diz que leu umas notícias no início da semana e foi perguntar ao presidente(!?) - e as justificações que logo surgiram na CS? Estou totalmente de acordo, pois cada um dos 93 golos do holandês ficava muito caro. Assim, podemos sempre contratar um novo Castaignos ou um novo Barcos, na certeza de que os seus golos ficarão muito mais baratos. Ah, o quê? Não marcaram? Infinitamente caros, como tudo (>0) o que divida por zero o é? Bolas, este elegia estava a correr tão bem... 

 

Esta noite, em Alvalade, o Sporting recebeu o Braga. Após uns bons 15/20 minutos iniciais em que aproveitou para se adiantar no marcador de forma totalmente merecida, o Sporting entregou o controlo do jogo aos bracarenses. Nas bancadas, os adeptos assistiam. No banco, Keizer também. Enquanto nós e Keizer assistíamos, Renan resistia. Uma, duas, três vezes, com defesas assombrosas, lá foi impedindo o empate. Até que Bruno Fernandes tirou o génio da lâmpada e deu a Pablo (Neruda?) material para um poema em forma de golo. Um golo caro!? (Medo!)

 

Na etapa complementar, a toada manteve-se, sendo notórias as falhas de posicionamento de diversos jogadores do meio campo leonino aquando da nossa posse de bola, com Wendel (autor de um golo de classe na primeira parte) à cabeça. Muitas vezes apanhados longe do centro nevrálgico do campo, após a perda de bola os nossos jogadores permitiam ao Braga jogar entrelinhas nas imediações da nossa área, apesar do denodo de Doumbia (bons cortes e agilidade na saída de bola em construção) em dissuadi-lo. Acresce que Raphinha e Diaby, os alas leoninos, não fechavam, permitindo inúmeras situações de 2x1 nos flancos, obrigando Thierry e Acuña (em postura ofensiva, os melhores cruzamentos provenientes das alas) a atenção redobrada, Coates e Mathieu a darem o peito às balas e Renan a muita atenção. Quando já nada havia a fazer, os avançados bracarenses encarregavam-se sozinhos de falhar a baliza. Sem qualquer vigilância na sua zona de acção, André Horta ia organizando todo o jogo bracarense. Nas bancadas, os adeptos desesperavam, tentando marcar o mais novo dos irmãos Horta com os olhos. No banco, Keizer ia olhando os lírios do campo (mas o Veríssimo não estava lá, era o Godinho). Até que o Braga finalmente reduziu a desvantagem. Autor: Wilson Eduardo, ex-jogador da nossa Formação e já habitual carrasco do Sporting, um ala que se tivesse ADN do Mali (ou de qualquer outro recanto do mundo que não Alcochete) seria titular de caras dos leões esta noite.

 

Eis então que Keizer finalmente mexe, alterando o sistema para 3 centrais, mas com a nuance (positiva) de Mathieu desta vez ficar posicionado no eixo da defesa (Neto, recém-entrado, derivou para a esquerda), o que dá sempre jeito quando se pretende recuperação defensiva. (Eu não disse que Keizer nunca repete o mesmo erro?)

Ricardo Horta ainda podia ter empatado, mas a equipa pareceu ter ficado mais consistente, algo reforçado posteriormente com a entrada de Vietto (sacou duas faltas que fizeram "acelerar" o cronómetro) para o lugar de um inoperante Felipe das Consoantes, o qual se havia deixado antecipar frequentemente na área (não dá para pôr uns pedacinhos de picanha à entrada da pequena área, a ver se o homem lá vai como gato ao bofe?). Aliás, tanto Luíz Phellype como Raphinha foram dois jogadores com um PH claramente neutro, nada tendo feito de produtivo. Com Diaby formaram o terceto mais apagado dos leões.  

 

Quem andasse pelas imediações do Alvaláxia no final do jogo, e não soubesse o que se tinha passado, olhando para os rostos dos adeptos leoninos julgaria que estes estariam a sair de um dos filmes do Poltergeist, ou de uma qualquer saga do John Carpenter. É que se o golo é caro, a saúde ainda o é mais. E esta noite todos os que fomos a Alvalade perdemos uns anitos de vida. Os jogadores do Sporting também, pelo menos a avaliar pela forma como mal o jogo terminou se prostraram no relvado. Oxalá estes 3 preciosos pontinhos se venham a revelar de alto rendimento (decisivos), e assim façam valer a pena tanto sacrifício. 

 

Tenor "Tudo ao molho": Renan Ribeiro

 

P.S. No decorrer do jogo não pude deixar de pensar que Francisco Geraldes, actuando numa posição semelhante à que JJ reservou para João Mário, teria dado um jeitaço. É que nas alas houve correria a mais e discernimento a menos. Partindo da direita, ou da esquerda, Xico poderia ter pautado de outra forma os ritmos de jogo, adicionando inteligência ao processo. 

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29
Abr19

O cúmulo do descaramento


Pedro Azevedo

Passagem do Comunicado do Sporting Clube de Braga, emitido ontem: "Nos momentos de decisão, o SC Braga foi sempre impedido de disputar o 3.º lugar, sendo também flagrante a forma como o nosso competidor direto foi constantemente favorecido, jornada após jornada, para que o topo da tabela refletisse a hierarquia crónica".

 

Conclui-se da leitura do referido Comunicado que o Braga foi alegadamente prejudicado no jogo contra o Benfica para que... o Sporting saísse beneficiado. Digno da maior atenção da Academia Real de Ciências da Suécia, a fim de que junte aos Nobel da economia, física e química, aos Crafoord de astronomia, matemática, geociências e biologia, aos Aminoff de cristalografia e aos Schock de lógica e filosofia, a atribuição do prémio Salvador à "ciência" do descaramento. 

 

Por falar em Schock, quem choca é a galinha, mas o Ovo de Colombo não é para todos... 

 

 

18
Fev19

Tudo ao molho e fé em Deus - O abre-latas


Pedro Azevedo

Sporting há só um, o de Portugal e mais nenhum, e hoje Salvador nem precisou de ir ao nosso museu para o constatar, bastou-lhe olhar para o relvado. Se o presidente bracarense assistiu da Tribuna, Abel observou tudo do banco. E deve ter-lhe custado muito, pois só assim se compreende que lhe tenham passado pelos olhos 25 anos em apenas 90 minutos, um pequeno remoque que não lhe ficou bem. A um treinador jovem e com qualidade recomenda-se outro poder de encaixe. A este propósito, imagine-se o que após uma derrota tão concludente como esta se diria na imprensa inglesa, caso Abel treinasse na "velha Albion". Logo eclodiriam os trocadilhos com "able" ou "a bell", do tipo he was not Abel to cope with the situation, ou did anyone ring Abel? A rever...

 

Com jogadores frescos, Keizer introduziu uma nuance táctica que consistiu na aproximação de Borja aos 2 centrais - desta vez trocados, com Ilori na direita - , formando-se uma linha de 3 defesas (sistema táctico de 3-5-2), aquando da posse de bola, ou de 5 defesas (um 5-3-2 com Ristovski e Acuña nas laterais), quando o adversário atacava. Adicionalmente, Diaby e Bruno Fernandes foram-se alternando numa posição mais central por detrás de Dost - quando Diaby procurava a ala, Bruno subia e quando Diaby rondava as costas de Dost, Bruno descia para junto dos outros médios - , algo que também ajudou a baralhar os bracarenses. Só a meio da segunda parte se produziu nos espectadores a sensação de que Abel percebeu o que se estava a passar, nomeadamente quando colocou um segundo homem a penetrar na banda esquerda do seu ataque e com isso criou a dúvida em Ristovski, visto Diaby parecer ter instruções para se manter no meio (o que obrigou Gudelj a desposicionar-se umas duas ou três vezes), uma situação entretanto colmatada pelo treinador holandês ao reposicionar o maliano e, mais tarde, ao fazer entrar Raphinha para a ala direita. Em resumo, pode dizer-se que Keizer deu um banho táctico a Abel, o que teve uma influência importante no desenrolar da partida.

 

O Sporting entrou bem no jogo, com Wendel muito activo desde o apito inicial, a arrastar a equipa para a frente com o seu futebol misto de samba e jazz de improvisação, e o maestro Bruno, de batuta na mão, a jogar e a fazer jogar à sua volta. Assim, não demoraria a primeira grande oportunidade (ao quarto-de-hora), quando Bruno encontrou Ristovski desmarcado nas costas da defesa bracarense e o macedónio serviu de imediato o isolado Dost que perderia o duelo individual com Tiago Sá. Depois de um passe de ruptura, logo de seguida Bruno rematou de fora da área com perigo. Tiago Sá voltou a defender, revelando atenção. Até que após uma das inúmeras faltas cometidas por Raul Silva, Jorge Sousa mandou marcar um livre directo a meia dúzia de metros da entrada da grande área do Braga e descaído para a direita. Acuña ajeitou a bola, mas Bruno ligou de novo o GPS e desta vez Tiago Sá nada podia fazer, com a bola a cair subitamente (folha seca) mal avistou a linha de golo. Até ao intervalo, destaque para uma remate fraco de Diaby que saiu ao lado, quando havia superioridade numérica sportinguista na área bracarense e diversas soluções de passe.

 

O segundo tempo praticamente iniciou-se com um novo golo leonino: Diaby pegou na bola sobre a meia direita e a uns bons 50 metros da baliza bracarense e daí traçou o azimute para a baliza de Tiago Sá, que o levou a galgar metros sobre metros e a ultrapassar 3 adversários numa diagonal até ser derrubado, já dentro da grande área, por Claudemir. Jorge Sousa mandou marcar penálti e, na sua conversão, Dost marcou como de costume (Tiago Sá para um lado, a bola para o outro). À hora de jogo, Bruno quase marcou um golo do outro mundo, com um remate fortíssimo de fora da área que errou o alvo por pouco (o guarda-redes estava batido), após um bom movimento de Wendel que criou o espaço para o nosso capitão aplicar o gesto técnico. Mas não tardaria muito o terceiro dos leões, após um momento de habilidade de Bruno Fernandes que lhe permitiu junto à linha de fundo arrranjar espaço para um centro rasteiro que Dost desviou para a baliza. O jogo praticamente terminaria aí e Keizer teve oportunidade então de poupar sucessivamente Dost, Diaby e Wendel, fazendo entrar Phellype, Raphinha e Doumbia, este último com tempo ainda para mostrar 2 pormenores de elevado requinte técnico e facilidade em progredir com a bola. 

 

O árbitro Jorge Sousa teve uma actuação correcta no capítulo técnico, mas disciplinarmente com critério desigual. Ilustrando isso, a dado momento os jogadores do Sporting chegaram a ter 5 cartões amarelos, enquanto os do Braga só tinham aquele mostrado aquando da grande penalidade. Nesse sentido, foi até particularmente risível a segunda admoestação a um bracarense, claramente provocada por um coro de assobios proveniente da bancada. De registar também a negligência com que deixou passar uma clara agressão de Raul Silva a Marcos Acuña, lance em que o VAR também não actuou.

 

No Sporting, destaques principais para Bruno Fernandes e Wendel. Diaby e Dost também estiveram muito bem, tal como de resto toda a equipa. Nesse sentido, devo dizer que Borja (posição no campo diferente), talvez beneficiando da cobertura dada por Acuña, hoje agradou-me sobremaneira.   

 

Tenor "Tudo ao molho...": Bruno Fernandes: Abel chamou-o de "abre-latas" (ele que até é mais um canivete suiço), mas o maiato foi pura poesia em campo. E, como dizia Bukowski, esta estremece a alma, abre os olhos e...cala a boca. Não é assim, Abel?

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(Imagem: Record)

24
Jan19

Tudo ao molho e fé em Deus - Brexit/Braxit


Pedro Azevedo

"You like potato, I like potahto

you like tomato, I like tomahto

potato, potahto, tomato, tomahto.

Let`s call the whole thing off" - Louis Armstrong

 

A decisão foi adiada o mais possível, mas finalmente terminou o impasse: Brexit ou Braxit, o Braga está fora da Taça da Liga. Aos bracarenses de nada lhes valeu um bíblico Abel, ou mesmo um Salvador, pois na hora da verdade quem passou à história foi Renan (um herói). 

 

Tive sentimentos mistos ao ler a constituição de equipa do Sporting. Por um lado, fiquei contente por ver que tínhamos reforçado o nosso PH (Raphinha e Luíz Phellype), por outro triste pelas ausências de Geraldes (banco) e de Jovane (bancada). Quem estudou química sabe que um maior PH aumenta a basicidade, de alguma forma aquilo que nos atraiu no jogo posicional ("keep it simple") de Keizer. Por relação simétrica, também diminui a acidez (nossa), mas não impede a de quem connosco interage, podendo até dar azia, algo que foi particularmente visível na "flash-interview" de Abel Ferreira, sempre useiro e vezeiro (e agora, não Peseiro) a destilar a sua bilis quando defronta o Sporting. É que por muito que se peça lucidez, no laboratório do futebol português nada se passa a temperatura e pressão constantes e, como veem, está tudo ligado...

 

Não desprezando que jogava em sua casa, na Pedreira - no final, o Abel e o Salvador fartaram-se de "partir pedra" -, a verdade é que durante os 90 minutos o Braga foi mais equipa. Logo a abrir, demasiado espaço entre as linhas defensiva e média leoninas permitiu à equipa liderada por Abel encontrar um homem solto de marcação (João Novais) à entrada da área e com tempo para mostrar a sua qualidade de passe. Do cruzamento resultaria o golo de Dyego Sousa. Ainda mal refeitos, os leões estiveram quase a sofrer outro golo de seguida. Valeu a mancha de Renan perante Wilson Eduardo. O Braga era mais intenso e os seus jogadores chegavam naturalmente primeiro à bola. Quando isso não acontecia, Manuel de Oliveira marcava falta contra o Sporting, como numa entrada de Bruno Viana a fazer lembrar aquela música do Psycho Killer, dos Talking Heads. Passou mais de um quarto de hora até finalmente os comandados de Keizer levantaram a cabeça. O protagonista foi Raphinha. O brasileiro tomou-lhe o gosto e voltou a ter uma soberana oportunidade após soberba assistência de Nani, mas falhou o chapéu a Marafona. Adivinhava-se o golo do Sporting, mas antes ainda tivemos o primeiro momento de excesso de zelo do jogo, quando o árbitro deixou seguir isolado para a baliza um jogador bracarense que já se encontrava em Guimarães no momento em que lhe passaram a bola. Bem sei que as regras mandam prosseguir os lances até posterior visionamento do VAR, mas um pouco de bom senso não fica mal a ninguém. Finalmente, os leões lograram empatar a partida. E de bola parada, após excelente cabeceamento de Coates, que correspondeu a um canto muito bem marcado por Acuña. Logo de seguida, o argentino falhou o segundo, naquela que foi a melhor jogada colectiva do Sporting no jogo e que envolveu a participação anterior de Bruno Fernandes e Nani.   

 

O segundo tempo começou como o primeiro, com um golo do Braga. Não se compreende bem como é possível anular um golo destes, pois o toque de Dyego Sousa em Acuña pareceu um lance natural no futebol. A verdade é que conseguimos sair vivos e, posteriormente, poderíamos ter matado o jogo, mas aí o árbitro, após visionar as imagens, não conseguiu ver um "penalty" claro para todos (menos para o comentador da SportTV, que disse que " se fosse em Inglaterra...") cometido sobre Coates. Enfim, a fita do costume da arbitragem portuguesa e a certeza de que Manuel Oliveira não terá certamente a longevidade na carreira do seu homónimo realizador cinematográfico, embora se queira fazer parecer que a culpa de tudo é do VARíssimo. Só falta mesmo este meter uma licença por tempo indeterminado... Quanto ao "se fosse em inglaterra...", aguardo com ansiedade o comentário deste senhor a um dos próximos jogos da Premier League, nomeadamente quando um guarda-redes saltar com um avançado adversário e o árbitro nada sancionar...

Para não variar, o Sporting continuou a ser um motor a diesel que foi melhorando com o tempo. Durante bastante tempo voltámos a ser antecipados nas disputas de bola e faltou energia nos duelos individuais. Ainda assim, de realçar uma cavalgada impressionante, costa-a-costa, de Wendel. Mas o Braga poderia ter marcado quando Raul Silva acertou no travessão. De seguida, um momento polémico: Goiano (já tinha um amarelo) estorvou faltosamente Bas Dost quando este iniciava um contra-ataque. Novo amarelo (e concomitante expulsão) por mostrar? Até ao final do jogo conseguimos ficar ligeiramente por cima, embora não o suficiente para fazermos a diferença. 

 

E lá fomos para penáltis. Já sabíamos que Marafona era um especialista e conseguiu defender as penalidades apontadas por Dost (o que se passa?) e Nani (que nunca foi grande marcador). O que desconhecíamos era que Renan ainda era melhor. O brasileiro defendeu por três vezes, negando o golo a Ricardo Horta, Murilo e Ricardo Ryller. Pelo meio, Paulinho e Coates haviam atirado à trave e ao poste, respectivamente. (Ambos os guarda-redes pareciam os únicos elementos sóbrios numa despedida de solteiro que tinha descambado numa bravata de penáltis.) Após a derradeira parada de Renan, pensou-se que o jogo tinha terminado, mas afinal estava a começar: Abel e Salvador logo tomaram conta dos microfones, mostrando a habitual indignação de quando perdem contra o Sporting. Curiosamente, tal nunca ocorre quando o contendor é o nosso vizinho da Segunda Circular, e até andam há mais de 10 anos para lhes bater o pé... O "sindicalista" Abel foi o primeiro a falar, num longo discurso sobre a precariedade laboral dos treinadores e jogadores de futebol face ao seguro emprego dos homens do apito. Depois, falou Salvador, que viu penáltis quase minuto-a-minuto e terminou com uma expressão deliciosa para justificar com indignação a razão pela qual Gudelj deveria ter sido expulso: "1 mais 1 deu 1, e não 2...". Pois, Salvador, eu sei, é chato e, ao mesmo tempo, é a sensação que todos nós, sportinguistas, temos quando o Braga defronta o Benfica. É que, certamente, para muito pesar e infelicidade do Braga, a coisa acaba quase sempre num "E Pluribus Unum"...

 

Nota final: Afinal, o senhor do "em Inglaterra" é um oráculo. É que ele já estava a ver o Brexit (ou Braxit) a desenrolar-se à volta dele...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Renan Ribeiro

renanribeiro.jpg

abel e salvador.jpg

23
Jan19

Oportunidade aos mais jovens


Pedro Azevedo

Hoje, na Pedreira, gostaria que se testassem outras soluções. Por isso, recomendaria que jogassem de início os jovens Francisco Geraldes (ou Miguel Luís), Jovane Cabral e Raphinha (para além de Phellype e de Salin, este último face à rotatividade nas taças). A minha equipa seria: Salin; Ristovski, Coates, Mathieu e Acuña; Gudelj (Idrissa Doumbia, Petrovic), Bruno Fernandes e Xico Geraldes (Miguel Luís); Raphinha, Luíz Phellype e Jovane Cabral. Descansariam, tendo em conta futuras batalhas: Renan, Wendel (um jovem desgastado pelo excesso de jogos), Nani, Diaby e Bas Dost.

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