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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

Castigo Máximo

13
Mar23

Tudo ao molho e fé em Deus

Quando o futebol é arte


Pedro Azevedo

Uma letra vale mais do que mil palavras...

 

Nos últimos anos surgiu uma corrente de pensadores universitários, logo seguida por um movimento de treinadores, que pretendeu afirmar o futebol como uma ciência. Quem não se lembra, por exemplo, do Mestre da Táctica e das suas jactantes elucubrações baseadas no denodado trabalho de investigação do Professor Manuel Sérgio? Mas é indubitavelmente como arte que o futebol se reconcilia com o espectador e este com o jogo. Porque mesmo numa era em que ao marketing é requerido que envelope a assistência a um jogo como uma experiência, ninguém que se desloque a um estádio está à espera que essa experiência envolva pipetas, tubos de ensaio ou o azul de tornassol. [Exceptuando o Luis Filipe Vieira, que acusou azul no papel tornassol quando exposto a condições básicas (Alverca) e depois mudou para vermelho (Benfica) e ficou com uma certa acidez.] E até os incendiários, que também os há infelizmente nos campos de futebol, optam pelo very-light ou petardo antes de se comoverem com a chamazinha que emana do Bico de Bunsen. 

 

Se é o futebol-arte que nos anima a alma, ninguém que tenha visto a recepção do Sporting ao Boavista pode ter dado o seu tempo como mal-empregue. E a razão principal tem um nome: Nuno Santos. O destaque dado ao Nuno é curioso, porque aqui e noutros fora tanto lhe tem sido gabado o empenho e concentração competitiva como reclamada a falta de criatividade. Mas uma coisa é a técnica, que o Nuno tem de sobra, outra a habilidade específica no 1x1 (o drible), que não é a especialidade do nosso jogador. Embora a base de um bom jogador seja a recepção, o passe e o remate, por vezes a revienga, o engano, salta mais à vista. Mas são mais olhos que barriga. A verdade é que a técnica também pode ser criativa, e o Nuno ontem provou-o abundantemente. Candidato ao Prémio Puskas, o seu remate de letra foi arte pura, pelo que de uma certa forma o jogo terminou aí, as suas restantes ocorrências, do mesmo modo que a hora ou o local onde foi disputado, apenas servindo para enquadrar esse glorioso momento que tanto prestigiou (justificou?) o futebol. E como a esmerada expressão artística é também uma sublime forma de inteligência, a execução do Nuno mostrou uma inteligência prática. Porque, se o futebol é tempo e espaço, o nosso ala esquerdo poupou o tempo que demoraria a puxar a bola para a sua canhota e aproveitou o pouco espaço disponível com aquele toque de magia. Depois de há uns tempos atrás já nos ter deliciado com uma assistência para golo executada com igual perícia. Inspirado, ainda lhe saiu uma trivela na direcção da baliza, mas os deuses devem ter achado que já era de mais - além do golo épico, adicione-se uma assistência para... autogolo - e fizeram subir ligeiramente a bola. 

 

Gostei bastante da atitude do Sporting durante todo o tempo. O resultado só não foi superior porque continuamos a falhar nos detalhes, especialmente na precisão dos cruzamentos e no timing de soltar a bola por parte dos médios, que por vezes engasgam desnecessariamente o jogo. Apesar de algumas limitações técnicas, estou convencido de que temos um grande ponta de lança em construção em Alvalade. O Chermiti dá apoios frontais, como no lance do primeiro golo, procura a profundidade, desloca-se lateralmente, pressiona alto, nunca está parado. E arrasa uma defesa com as suas movimentações, abrindo espaços para os colegas. O nosso jogo torna-se muito mais fluido, alegre e produtivo. Só lhe faltam mais golos para ser o "Cherminator". Ah, e o Paulinho marcou. Pelo terceiro jogo consecutivo, provando-se que a concorrência é um bem em qualquer actividade. E quem o serviu, quem foi? O Esgaio. Terá sido a revolta dos "patinhos feios"? Ainda vamos a tempo de os ver como cisnes? Que continuem, que por mim está bem assim!

 

Tal como o Herman, parodiando o Baptista Bastos a propósito do 25 de Abril, no futuro muitos Sportinguistas entre si perguntar-se-ão onde estavam no dia em que o Nuno Santos fez "aquela" obra de arte. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Nuno Santos. Who else? Edwards e Ugarte continuam em grande nível. Coates está a subir de forma. Diomande impressiona no passe e condução de bola. Israel revelou atenção entre os postes e bom jogo de pés. 

 

P.S. No dia da obra prima do Mestre, a prima do mestre-de-obras que é a "apitagem" portuguesa voltou a pintar... a manta. De negro. Penálti claro por marcar sobre Trincão. 

nuno santos boavista.jpg

18
Set22

Tudo ao molho e fé em Deus

De volta à Liga... Europa


Pedro Azevedo

Cada vez que no miolo do meio-campo jogamos em inferioridade numérica de dois contra três é uma aflição e mais se nota a ausência de um jogador (Matheus Nunes) potente e capaz de quebrar linhas em progressão. Acrescente-se uma manta curta e a cheirar a mofo, a má onda do canhão da Nazaré, o pé direito cego de Trincão e a sorte (ou a falta dela, porque é bom não esquecer que o futebol é um jogo) e fica explicado o xeque-mate ontem sofrido no tabuleiro axadrezado.  

 

Com 2 médios incapazes de acenderem a luz no meio-campo (o Buscapoulos grego ficou no banco), um conjunto de jogadores globalmente pouco frescos (não deixa de ser paradigmático da nossa falta de dimensão física que o mesmo Tottenham que na terça-feira foi surpreendido por nós tenha também ontem despachado o Leicester por 6-2), um Esgaio com muita vontade e nenhuma arte, um Trincão que por duas vezes optou por uns rodriguinhos em vez de colocar a bola num isolado Pote - alguém diga ao rapaz o quão previsível se torna quando insiste em só fintar para fora - e pouca fortuna nos vários ressaltos ocorridos em ambas as áreas, o Sporting pôs-se a jeito para perder com o Boavista. Ainda assim, houve sempre Edwards, a nossa grande esperança na vitória. E o inglês não desiludiu, marcando até impensavelmente de cabeça após um cruzamento com letras maiúsculas saído da imaginação de Nuno Santos, um jogador que não gosta de perder nem a feijões e que por isso tanto custou ver poupado ao penoso final de jogo da nossa parte. Mas não chegou. O sortilégio de um pontapé indefensável de Bruno Lourenço e uma precipitação inaceitável de Esgaio sentenciaram o jogo. 

 

A culpa desta derrota é incerta. Há quem a associe tanto ao Petit como ao Big Bang e à instantânea criação de supostas estrelas. Ao Bosão ou ao Gozão do Higgs. E até ao Pinheiro manso ou ao bravo (assim como assim, vamos acabar o campeonato a jogar a pinhões). O que é certo é que à sétima jornada corremos o risco de ficar a 11 pontos da liderança e a 9 pontos da vice-liderança, para lá de estar confimado que o FC Porto leva-nos já meia-dúzia de avanço. Assim sendo, o melhor é pensar já em vender outro Matheus Nunes (suspeito que será uma metade do Edwards, uma versão ainda com mais baixo centro de gravidade). E assim sucessivamente, ano após ano, a fim do Balanço ficar positivo e compensarmos a ausência na Champions, completando-se assim um ciclo "virtuoso" em que vendemos indo à Champions para depois vendermos a dobrar ou a triplicar por não irmos à Champions. Dizem que é o negócio. (O negócio deveria libertar verbas para o futebol, não o futebol libertar verbas para o... negócio.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Edwards

Edwardsbessa.jpg

30
Abr22

Tudo ao molho e fé em Deus

Xeque-mate


Pedro Azevedo

Eu ainda sou do tempo em que ir ao Bessa era mais ou menos como tentar atravessar o Cabo das Tormentas. Como consequência, invariavelmente acabávamos naufragados, excepto naquele ano em que o Sousa Cintra apresentou o "novo Eusébio", o Careca, o jogador com os apodos mais enganadores de que tenho memória, por não ser nenhum Pantera Negra nem sofrer de alopécia. Nessa temporada triunfámos por 3-0, exactamente o mesmo resultado com que os brindámos aqui há uns dias atrás. E com toda a naturalidade do mundo, diga-se, que por defeitos que queiram meter no Ruben Amorim - quem não os tem, eu também os aponto -, a grande verdade é que com ele passou a ser natural o Sporting vencer em qualquer relvado do território nacional. É verdade, e por isso é importante que ninguém se esqueça de tomar o Memofante. A não ser que se queira mudar tudo outra vez, correndo-se o risco de se ficar com umas trombas do tamanho de um elefante. Não, tal não seria prudente, diria até que seria suicidário, pelo que longos anos mantenham o Ruben Amorim, o da Boa Esperança, entre nós. Quem provavelmente não teremos no futuro é o Matheus Nunes, o eleito do Guardiola. Eu tenho pena, e lamento o que vejo escrito por aí. É que o Matheus não é um jogador qualquer, e no Bessa até desbloqueou o marcador. Com classe, tal como contra a Turquia. Infelizmente, o Matheus é um mal amado para uma certa estirpe de adeptos. Mas é um craque. E abriu o activo no Bessa, com classe. Sem ponta de lança, caçámos com o que havia mais à mão. Mobilidade e tal, estão a ver... Não houve Paulinho a servir de pivô nem. tão pouco Slimani à procura da profundidade, mas sem ponta de lança goleámos o Boavista. Um xeque-mate no reduto do xadrez, é bom de ver. Com rei (Amorim) e rock, está claro. 

Tenor " Tudo ao molho...": Edwards 

12
Mai21

Tudo ao molho e fé em Deus

Ser grande e estar campeão


Pedro Azevedo

Por vezes a vida não nos faz justiça, aquilo que estamos não se enquadra com o que somos. Porém, é exactamente nesses momentos que vemos quem está ao nosso lado, não nos deixa cair ou nos ajuda a levantar, nos ama incondicionalmente. Então, descobrimos e redescobrimos forças onde outros julgavam ver fraquezas, mostramos a nossa raça, ultrapassamos os obstáculos, superamo-nos. Esta foi a história do Sporting (e dos Sportinguistas) dos últimos 19 anos, uma lenda de resistência, de resiliência de uma tribo leonina que de tanto amar o clube por vezes quase o sufocou, mas nunca o abandonou.

 

Martin Luther King disse um dia que a verdadeira medida do Homem não se vê na forma como se comporta em momentos de conforto, mas sim em como se mantém em tempos desafiantes. Se isto é válido para o Homem, também o é para as instituições. E o Sporting, ao longos destes anos, soube no essencial manter a sua matriz de integridade e mostrar uma cultura desportiva assente em valores de respeito pelas competições e concorrentes, tudo alicerçado no esforço, dedicação e devoção que constituem o seu lema. Atingindo agora a tão ansiada glória, o que finalmente lhe fez justiça. Voltando a mostrar, a quem é de modas e não respeita o passado - o que também é uma forma de não se respeitar a si próprio, ou não ter identidade - , que é um grande clube. 

 

Em "Alice's Adventures in Wonderland" há uma frase que me ficou na cabeça em gaiato: "a única forma de chegar ao impossível é acreditar que é possível". Foi isso que Rúben Amorim trouxe para o Sporting, pegando no slogan "impossible is nothing" da Adidas e fraccionando a gigantesca tarefa que tinha pela frente em pequenos segmentos, jogo a jogo. Emocionalmente muitíssimo inteligente, Amorim percebeu que a melhor maneira de lidar com um problema grande é dividi-lo por partes, partindo um pedregulho em um conjunto de pedras de menor dimensão que pudessem ser trabalhadas. Tal só foi porém possível pela sua correcta perspectiva das coisas: se eu tiver um pedregulho à minha frente, provavelmente não conseguirei ver mais nada. Todavia, se recuar dez passos, já irei ver qualquer coisa à volta. E se me afastar mais, então esse pedregulho será apenas uma pedrinha e eu obterei uma visão perfeita sobre tudo o que está em seu redor. Foi aliás essa visão que permitiu abrir as portas a Alcochete na equipa principal do Sporting, vendo soluções onde treinadores mais reconhecidos outrora viram mais problemas e transformando ameaças em oportunidades. 

 

Tal como um golo de bico de Jovane havia sido decisivo na conquista da Taça da Liga, a canela da perna direita de Paulinho põs um ponto final na discussão do título de campeão nacional: dois momentos paradigmáticos de um Sporting de processos práticos e mais focado nos conteúdos que levava para o campo do que na forma. Privilegiando muitas vezes o ataque rápido e a transição, reagrupando-se sempre celeramente aquando da perda de bola. Uma equipa solidária, mais de transpiração do que de inspiração, mas muitíssimo difícil de bater devido à extrema solidariedade entre todos os seus jogadores e ao sistema táctico engendrado e trabalhado por Amorim. Mais do que jogar bonito, o Sporting procurou jogar bem, estar equilibrado no campo, não se desunir. A verdade é que, consciente ou inconscientemente, tal alegoricamente acabou por passar para os adeptos. Também estes se foram unindo por detrás das vitórias, reduzindo-se assim quase a pó o maniqueísmo que ameaçava o clube, como se um compromisso à volta da possibilidade de conquista de algo grandioso se tivesse sobreposto às diferenças. Assim sempre deveria ser. 

 

Sobre o jogo pouco haverá a dizer: domínio total do Sporting com sucessivas oportunidades de golo desperdiçadas. Nesse particular destacar-se-ia Paulinho, que tanto tentou de pé esquerdo, direito e com a cabeça e acabou por encontrar na canela o condimento ideal para deixar a sua marca na partida. Os nossos corações reagiram em consonância, a cada novo falhanço acelerando até ao limite dos limites, o chamado ataque rápido. Em resumo, as coisas poderiam ter sido mais fáceis, mas não saberiam igual. Nem pareceria bem, no jogo do título, estar agora a facilitar a vida aos adeptos e poupá-los às taquicardias que marcaram a nossa epopeia. 

 

A festa foi bonita e correu mundo mesmo em tempo de pandemia. Agora é preciso evitar que este título venha a ser um caso isolado. Existe uma base, é preciso mantê-la no sentido de se criar uma nova era. É que o Sporting está de volta, mas queremos que tenha vindo definitivamente para ficar. Para nunca mais estar diferente daquilo que é: enorme.

 

P.S. Parabéns a Rúben Amorim, jogadores e, naturalmente, a Frederico Varandas e Hugo Viana. Varandas fez uma jogada muito arriscada, mas ganhou. Merece por isso crédito. E finalmente estamos a ver a Formação integrada no plantel principal, o que é uma forma de também ganhar o nosso futuro, a nossa sustentabilidade, sendo esse provavelmente o triunfo maior. 

 

"Tudo ao molho...": Nuno Santos

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27
Jan21

Tudo ao molho e fé em Deus

O Gozão de Higgs


Pedro Azevedo

Ontem, no Bessa, confirmou-se que este Sporting é muito forte na transição. Tão, tão forte que, tendo entrado no campeonato como "underdog", chegou ao tabuleiro axadrezado com indícios de cão-peão, uma importante evolução na cadeia alimentar. Ainda assim, não suficiente para se ver livre do bispo, que mexe-se de forma enviesada. E, se o cão late, o bispo ladra, o peão, que anda a direito, acaba sempre por ser comido. 

 

O que sofre um Sportinguista não vem descrito na Bíblia. E depois ainda há o Sporar, suspeito de causar taquicardias a um monge tibetano. Por isso a melhor estratégia é fazermos como o Professor Cavaco e nunca assumirmos nada: ah e tal, vamos só ali à Figueira fazer a rodagem, e quando derem por nós estamos a sair de lá entronizados. Tal nunca foi possível com Jesus, que é sabido ter amaldiçoado a figueira (Mateus 21: 18-22), mas pode ser que aconteça com o Rúben. Até aposto que ele anda a ler a biografia de Aníbal e tudo. Se eu estiver certo, a sua rodagem será o "jogo a jogo". E, se no fim vencer, será menino para deixar de "trombas" o Conceição. Seria do car(t)ago! Quanto a JJ, ficaria com o triplo da azia.

 

Para tentar contrariar o 3-4-2-1 do Sporting, o Boavista dispôs-se num 5-3-2. A ideia de Jesualdo Ferreira era povoar o mais possível a defesa, precavendo a entrada desde trás dos interiores leoninos, não deixando porém de ter vantagem numérica no miolo do terreno. Só que Matheus e João Mário foram variando inteligentemente o centro do jogo e a postura defensiva dos do Bessa convidou Nuno Mendes e Porro a montarem um acampamento à entrada da área do Boavista. Não surpreendeu assim que, após um curto período de estudo mútuo, o Sporting desatasse a criar oportunidades de golo. E até marcou à primeira (Nuno Santos), embora depois tenha tido oportunidades de primeira que esbanjou por Sporar, Jovane e João Mário. Atrás a coisa esteve tranquila, tendo o lance mais perigoso criado pelos boavisteiros pertencido a Neto, jogador que continua a mostrar que faz bom balneário tanto fora como dentro do campo, desta vez altruisticamente permitindo a um enregelado Adán brilhar.  

 

O segundo tempo começou na mesma tónica. O Matheus roubou uma bola e com uma chicuelina tirou dois do caminho. De seguida, tocou no Nuno Mendes, que deu mais à frente no Nuno Santos. Bola para um lado, jogador a fugir pelo outro, num jeito nada católico para um axadrezado, o Santos apareceu solto na grande área. E deu de bandeja ao Sporar. O que a aconteceu a seguir é difícil de explicar, pese embora tenha vindo a ser objecto de estudo pormenorizado do "Tudo ao molho...", recorrendo-se à ciência - Princípio da Impenetrabilidade da Matéria - , ou até ao sobenatural - holograma de um ponta de lança morto como goleador - para o tentar compreender, continuando a ser um mistério a forma como a bola insiste em perpassar o esloveno como se do vazio se tratasse. Quer dizer, de vazio somos nós cientificamente quase 100% feitos, mas depois há um campo magnético que liberta uma partícula (dita "de Deus") que faz com que o nosso corpo se adere como uma tela esponjosa e ganhe uma massa. Ora, aparentemente, se o nosso corpo sim, o do Sporar não. O que faz com que o Sporar tenha sido a melhor contratação de sempre do Sporting, na medida do que o seu descobrimento significou para a ciência: é que o esloveno desafia a Teoria do Bosão de Higgs. Mais, diria até que Sporar é o Gozão de Higgs...

 

O jogo ia para o fim e esta coisa da vantagem mínima cria sempre alguma tremideira. Noutras épocas, esta esmerada arte de perdoar pagar-se-ia com língua de palmo, mas este Sporting de Rúben Amorim a tudo parece resistir. Vai daí, o Rúben quis dar mais solidez à equipa. Primeiro entrou o Bragança, depois o Palhinha e o TT. Com isto, o João Mário e o Matheus passaram de médios centro para interiores, procurando resguardar mais a equipa. Até que o Porro apanhou uma ressaca (de bola), tomou consciência da sua recepção e orientou-a para o nosso bem comum, transferindo assim as dores de cabeça que já se faziam sentir na sua e nas nossas cabeças. Ficava sentenciado aí o jogo. Depois, a coisa até deu para o Matheus dar dois ou três metros de avanço a um trio de boavisteiros e ainda ir apanhar a bola à frente mesmo que um deles estivesse fresquinho por acabado de entrar, que o xeque-mate no tabuleiro axadrezado já estava consumado.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Hesitei muito na hora de atribuição desta menção. Na verdade, à hora que escrevo ainda estou hesitante, mas se calhar são nervos. Não será assim uma escolha totalmente convicta. Pela primeira parte a menção assentaria bem a Nuno Mendes (de referir que, na segunda parte, salvou um golo certo com um subtil desvio de cabeça). Nuno Santos não esteve assim tanto em jogo, mas fez um golo e quase uma assistência, também poderia ser uma opção. O Porro marcou um golo do outro mundo e fez a minha pulsação voltar a um semi-normal, poderia perfeitamente ser o escolhido. Contudo, acabei por optar pelo Matheus Nunes, que fez um jogo enorme em que alardeou técnica, leitura táctica e disponibilidade física. Assim, até porque tem habitualmente menos visibilidade que os restantes, escolhi-o para Melhor em Campo. 

 

P.S.1: Inacreditável o cartão amarelo a Palhinha que em princípio o retira do derby. Até a hipótese de falta seria difícil de promover, quanto mais a acção disciplinar.

P.S.2: Os meus sentimentos às famílias e amigos de Jozef Venglos (ex-treinador do Sporting) e de John Mortimore (ex-treinador do Benfica), antigos treinadores que faleceram ontem. O mínimo que se pode dizer é que nunca fizeram mal ao futebol. Venglos foi muito conceituado no futebol europeu e devidamente apreciado pela FIFA, Mortimore ganhou títulos em Portugal. RIP!

P.S.3: Após uma nota triste, uma nota alegre: Rúben Amorim completa hoje 36 anos. Parabéns, Mister! 

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23
Fev20

Tudo ao molho e fé em Deus - Leão de Plata


Pedro Azevedo

Caros Sportinguistas, este foi o jogo de Plata. Mas, antes disso, talvez seja bom reflectirmos sobre  o quanto o futebol do Sporting melhorou a partir do momento em que Silas começou a jogar com dois alas puros. Não com uma estrela do raggaeton e um segundo avançado travestido de extremo, mas com dois alas a sério. Já tinha acontecido com o Basaksehir, voltou a suceder hoje contra o Boavista. Desta vez com uma nuance: o jovem Plata no lugar do maduro Bolasie. Se há dias de glória para os treinadores de bancada, este foi um deles. É certo que o requerimento de jogar com alas revestia-se de uma ululante forma de óbvio, mas é sempre reconfortante quando uma teoria se traduz na prática em algo que faz a nossa equipa ganhar mais vezes. Mais ainda quando a tal se adiciona a aposta na Formação e a nossa vitória no campo vem acompanhada da derrota do caminho que nos afasta da sustentabilidade.  

 

Em crónicas como a do jogo de Vila do Conde tinha ficado subjacente a solidão dos leões. Nunca uma equipa do Sporting ficara tão só como a nossa sem Bruno Fernandes com o Rio Ave, sentimento de orfandade extensível a sócios e adeptos. Um clube que nasceu para ser grande, que enorme tem sido durante toda a sua história, ameaçava deixar de o ser. William Blake dizia que o caminho do excesso leva-nos ao palácio da sabedoria, e a verdade é que uma prossecução de erros em excesso encaminhou-nos para o único caminho possível, o da luz: com as duas alas dos namorados, flanqueadores puros e jovens da nossa Academia, seremos mais felizes e sustentáveis. 

 

E agora o Plata. Contra os turcos não houve Bruno, mas houve Jovane. E Vietto. Hoje voltou a não haver Bruno. Mas houve Plata. E Vietto. Mas eu quero falar do Plata. O Plata fez xeque-mate no tabuleiro axadrezado após, uma a uma, ter deitado todas as peças boavisteiras, a última das quais, experiente de outras guerras, não caiu sem antes ter mostrado os pitons bem em riste. Por isso, em Domingo Gordo, o equatoriano foi o Rei Momo do Carnaval Sportinguista. A serpentear e assim abanar o lado esquerdo da defesa nortenha, a servir Sporar para o primeiro da tarde solarenga, a mostrar sentido de oportunidade no golo anulado e no golo confirmado, ou a assistir Jovane. Também a falhar com estilo, como quando abusou da força num passe que se afigurava fácil para Sporar, ou quando foi macio de mais na recepção de um serviço açucarado de Jovane. Imaginam o Plata quando encontrar as doses q.b. de força e macieza? É este apuramento, este trabalho de ourives que o Sporting não pode deixar de fazer. O talento, em bruto, está lá. Falta encontrar o artesão certo na próxima época. 

 

Está a terminar o tempo do profano. Quarta feira de cinzas inicia-se a Quaresma. É o tempo do sagrado. O nosso deus dos estádios já não mora aqui, anda agora por Manchester a mostrar o seu dom entre os comuns mortais. Não havendo deus Bruno, temos de nos agarrar aos que formamos, algo que devia ser "sagrado" para nós. O Dala bisou pelo Rio Ave, o Gauld também pelo Farense. O Mama marcou pelo Dijon. O Palhinha está em grande no Braga, o Domingos é um dos melhores da La Liga e o Matheus Pereira brilha em Inglaterra. Há que resistir à tentação de tentar justificar no campo o injustificável racional de certas contratações e/ou opções de mercado. Em tempo de Quaresma, os sócios já não vão em carnavais. É, sim, hora de pensar em mudar de vida e apostar convictamente nos miúdos. Se é para perdermos os anéis, ao menos salvemos os dedos. 

 

P.S.1 A luta pela Liga Europa continua renhida, mas nada há a temer. Já temos rulote, pés descalços, a barraquinha dos tirinhos (no mercado) e uma montanha russa de emoções à solta, agora só falta a UEFA restaurar a Taça das Cidades com Feiras...

 

P.S.2 Hoje tivemos em campo 5 miúdos que passaram pela Academia e outro, mais velho, que por lá passou e regressou. Ganhámos! (O presente e o futuro.)

 

P.S.3 A nossa equipa sénior feminina de futebol jogou (e ganhou) com o Benfica. A partida, disputada em Alcochete, sobrepôs-se à da equipa sénior masculina de futebol, o que certamente não contribuiu em nada para a divulgação do futebol feminino. Longe de Alvalade, numa semi-clandestinidade (tal como a equipa de rugby), as nossas leoas continuam a ser encaradas como o parente pobre. Mais estranho ainda quando em campanha Varandas tanto falou em igualdade e até apresentou uma senhora, Helena Ferro de Gouveia, jornalista, a pensar na inclusão da mulher no desporto. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Gonzalo Plata 

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16
Set19

Tudo ao molho e fé em Deus - Pontes de lança pouco afiada


Pedro Azevedo

Existem dois LP no Sporting. Um dos LP (Leonel Pontes) é aparentemente provisório, o que significa que um destes dias pode vir a ser considerado obsoleto como a cassete e ver-se substituído por algum moderno CD, ou mesmo por um PC. O outro LP (Luíz Phellype) engana muito, pois é na verdade um Single, peça única em Alvalade. Acontece que no Bessa nem o Single estava disponível, pelo que o LP tocou várias faixas mas a agulha encravava sempre que se aproximava da faixa central. Ainda assim, Leonel tentou construir pontes de ataque através das alas, improvisando um ataque dinâmico, como que substituindo pontas de lança por Pontes de lança, mas a verdade é que a primeira parte foi confrangedora. (Com um plantel desequilibrado, jogadores lesionados, sem um ponta de lança e com pouquíssimo tempo de trabalho de conjunto dada a paragem para as selecções não é justo atribuir-lhe grandes responsabilidades no que se viu.)

 

A equipa que jogou esta noite no Bessa foi a que teve o maior cunho pessoal de Frederico Varandas desde que este assumiu a presidência do clube. Assim, de início alinharam 6 jogadores contratados já este ano, no decorrer do jogo chegaram a estar 7 simultaneamente em campo, tendo no total sido utilizados 9 novos jogadores (Rosier, Neto, Borja, Doumbia, Plata, Bolasie, Jesé, Eduardo e Camacho). Um verdadeiro Team Varandas! Houve também 4 estreias absolutas, com Rosier e Bolasie a alinharem de início e Jesé e Camacho a entrarem mais tarde. A defesa foi praticamente toda nova, apenas se mantendo Mathieu do último jogo. Desta vez alinhámos com a extravagância de dois jogadores portugueses. Outra novidade foi haver alguém da Formação (com boa vontade), o equatoriano Gonzalo Plata. O que não houve foi um ponta de lança, após nos termos "aliviado" de Bas Dost (mas não aliviado de aumentos salariais de administradores da SAD, ao que parece), emprestado Gelson Dala e não inscrito Pedro Mendes. Em contrapartida, supostamente abundam os "avançados-centro", essa figura da mitologia dos anos 60 e 70 que certamente muito será do agrado do presidente Varandas. Enfim, ao fim da quinta jornada do campeonato voltámos à pré-época. E com desequilíbrios por demais evidentes no plantel...

 

Segundo o presidente, o Fernando, que dizem os registos apenas efectuou um jogo no Brasileirão, foi considerado a revelação do campeonato. Vindo de quem diz apostar na Formação e em contratações cirúrgicas, obviamente não tive como duvidar. Por isso fiquei a sonhar com o jogaço que o Fernando teria feito e a projectar a sua futura estreia pelo Sporting. Acontece que o brasileiro veio ou está lesionado, algo que parece ser comum aos jogadores contratados este Verão, vidé Camacho e Rosier, este último aquele francês (bons pormenores hoje) que custou 5,3 milhões de euros mais os direitos económicos do Mama Baldé e do qual só ganharemos 80% de uma futura venda. Assim sendo, transferi as minhas expectativas para o Jesé, à espera daquilo que o espanhol poderia fazer num só jogo. E não é que o rapaz não me deixou ficar mal? É que se o Fernando num só jogo foi merecedor do título de revelação do Brasileirão, o Jesé após o Bessa também se tornou merecedor do título de revelação do... RAP. É verdade, andamos a ouvir música há já algum tempo e no caso do espanhol o que pudemos observar foi um jogador pesado e longe dos seus melhores tempos, embora tenha mostrado um ou outro pormenor do antigamente. Em todo o caso, antes RAP que R.I.P., pois estranho seria este lento definhar Sportinguista deixar alguém dormir descansado ou, pior, o clube dormir o sono dos justos.  

 

O jogo? Sem ponta de lança, Leonel Pontes pretendeu imitar a organização do caos de Fernando Santos, na esperança de desorientar os pupilos do Lito Vidigal. Só que Leonel, apesar de Pontes, não é engenheiro nem conta hoje em dia com Cristiano Ronaldo. Para além disso, contou com Borja, o mesmo que começar com 10 - a condição física de Jesé e a necesidade de ter alguma arma-secreta no banco terão aconselhado essa "solução" - , hoje também especialmente mal a defender. A quem pediu para ir à linha centrar enquanto o ala do mesmo lado metia para dentro, o que é o mesmo que sugerir a um gato para se atirar para uma banheira cheia de água, ou seja, uma missão antecipadamente condenada ao fracasso. Ao mesmo tempo, para criar ainda mais entropia no sistema, Neto, aparentemente nervoso, só fazia asneiras, Plata mostrava-se inconsequente e Wendel, eventualmente cansado de jogos e viagens a meio da semana, também não acertava uma. De um erro do brasileiro resultaria mesmo o livre com que o Boavista inauguraria o marcador através de Marlon, um antigo jogador do Fluminense com o mesmo nome de um outro com história nos clubes hoje em confronto. Por tudo isto, e pese embora os esforços isolados de Bruno Fernandes e do congolês Bolasie, não surpreendeu ninguém que os leões tivessem chegado ao intervalo em desvantagem. 

 

Para o segundo tempo, Leonel Pontes decidiu jogar com 11. (É que mesmo muito abaixo do seu melhor, Jesé é infinitamente mais jogador de bola que Borja.)

Aproveitando o cansaço do pobre do Ackah, coitado, acometido de cãibras nas pernas após ter percorrido quilómetros com o propósito quase exclusivo de acertar uns pontapés em Bruno Fernandes, os leões foram apertando o Boavista até ao seu último reduto. Apesar disso, as oportunidades escasseavam. Como excepção que confirmou a regra apenas um lance concluído por Bolasie com um remate que ainda tocou ao de leve na barra da baliza de Bracali. Acercando-se cada vez mais das imediações da grande área axadrezada e trocando a bola com algum critério e movimentações constantes, os leões começaram a ganhar faltas em zonas de perigo. Assim, após uma infração cometida sobre Bolasie, Bruno Fernandes empatou a partida, beneficiando ainda de um desvio num jogador boavisteiro que estava na barreira aquando da marcação do livre. 

 

O Sporting empolgava-se, mas Jorge Sousa entrou em acção. Já antes havia mostrado cartões amarelos polémicos a Luís Neto e a Yannick Bolasie, agora admoestava pela segunda vez Bruno Fernandes, dando-lhe assim ordem de expulsão. Por uma falta que não foi mais grave do que qualquer uma cometida por Ackah, o tal ganês com ganas de morder as canelas ao capitão leonino que escapou sem ver sequer a cartolina icterícia. Depois das três penalidades contra nós em casa, da expulsão de um vimaranense no Dragão quando ainda nem estava decorrido 1 minuto de jogo - havia um outro defesa no lance - e do penálti a favor do Porto em Portimão que desbloqueou o marcador num jogo que só terminou aos 98 minutos com o golo da vitória portista. Assim vai o futebol português... 

 

Uma palavra final para Leonel Pontes, um homem sem prazo e com uma tarefa. Para nosso azar e sua má fortuna essa tarefa assemelha-se cada vez mais a uma daquelas incumbidas a Hércules. Quer dizer, para matar o maior leão do mundo não precisam dele e espero que não lhe exijam que faça o mesmo à serpente com corpo de dragão, tão protegida ela está pelos apitos. Mas, mesmo excluindo essas duas, a tarefa não se afigura de auspiciosa resolução, pese embora a cassete do clube sugira que nos reforçámos melhor do que a concorrência - é bom haver exigência, mas ela devia começar no esboço de um plantel - , coisa amiga e que não deve aumentar em nada a pressão sobre o Leonel. Resta-lhe, por isso, tentar fazer o melhor com um plantel com apenas 1 ponta de lança, alguns "avançados-centro" e uma Ala dos Namorados de fazer inveja a El Rei Dom João I. É certo que ainda há Bruno Fernandes, mas nem mesmo este conseguiu evitar que Marcel Keizer passasse a ser um santo contestável. Segue-se um jogo para a Liga Europa em Eindhoven - by the way, foi a Philips, cujos funcionários fundaram o PSV, que inventou a cassete, pelo que isto está tudo ligado - e uma recepção ao Famalicão onde não poderá contar com o capitão, aquele que, conjuntamente com o francês Mathieu e o argentino Acuña, forma o trio de imprescindíveis (já sei que não gostam do termo "insubstituíveis"). Entretanto, os jogadores novos ir-se-ão entrosando, um novo ponta de lança se irá improvisando, pelo que lá para o fim do campeonato poderemos fazer umas flores... Já não serão é túlipas, mas quem sabe não emergirá uma Goodyera da Madeira? Boa sorte, Leonel! 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Yannick Bolasie

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10
Mar19

Tudo ao molho e fé em Deus - VARdade?


Pedro Azevedo

O Sporting apresentou-se no Bessa com 5 bebés lançados por Keizer. Ah, não? Desculpem, últimamente ando a ler muita ficção científica. O Record, conhecem? Também não se pode levar a mal o jornal, afinal só se enganaram no "careca". Tal como nós. É que se um treinador do Sporting tivesse lançado esses jovens anteriormente no Ajax, então chamar-se-ia Peter Bosz e provavelmente os leões hoje não teriam jogado (substitutos incluidos) sem um único jogador proveniente da sua Formação

 

No xadrez boavisteiro, o Sporting apresentou-se sem uma das suas Torres (Bas Dost). Uma Torre do Tombo, dado o seu desempenho em 2019, mas que de alguma forma encerra em si os pergaminhos de anteriores equipas do Sporting Clube de Portugal, algo que não se viu naquele peão contratado no Inverno que hoje foi a jogo, incapaz de segurar uma bola na zona de ataque, o que conjugado com a desinspiração de Wendel e a falta de apoio de Gudelj fez com que Bruno Fernandes tivesse ficado isolado no miolo, pelo que as nossas jogadas se desenvolveram exclusivamente pelas alas, não havendo penetrações centrais.

 

O jogo começou praticamente com o golo do Boavista. Aos 3 minutos, o Felipe das Consoantes foi até à área leonina mostrar o seu bom jogo de cabeça e daí resultou o golo axadrezado. Levantaram-se dúvidas sobre a posição de Neris - sozinho na pequena área, porque Ristovski deslocou-se para um espaço onde já estava Coates - , mas o VAR manteve a decisão da equipa de arbitragem liderada por João Pinheiro. Durante algum tempo a equipa leonina pareceu de cabeça perdida, com Gudelj literalmente a mostrá-lo após choque com Gustavo Sauer, uma estreia nos do Bessa que deixou muito boas indicações. De seguida, Borja foi tentar compensar a sua defesa, mas acabou ultrapassado por Sauer em lance que terminou com uma defesa de Renan para canto. Um canto que se desdobrou em vários e que terminou com uma involuntária assistência de Coates que miraculosamente não apanhou um boavisteiro no caminho para a baliza. Eis então que Raphinha vai formoso pela direita, ganha a linha de fundo, centra e Edu Machado tenta interpor-se entre Acuña e a sua baliza, acabando por desviar a bola na direcção errada, com o argentino ainda a tocar ao de leve na bola antes de esta passar a linha de golo. O Sporting reequilibrava os pratos da balança, numa altura em que o nosso jogo era monocórdico e consistia em centros razoáveis de Borja para a molhada. Até que um livre marcado por Bruno Fernandes, e desviado por Raphinha, encontrou Luíz Phellype ao segundo poste, sozinho. Cabeceamento do brasileiro e gol...ahhhh...ao poste. Incrível! Phellype, a 2 ou 3 metros da baliza, não fez golo. Logo de seguida, Raphinha marcou de cabeça, mas o árbitro auxiliar, primeiro, e o VAR, depois, anularam o golo, em lance com algumas semelhanças com o golo validado ao Boavista. As notícias não eram boas, mas até ao intervalo a esperança renasceria, nomeadamente quando Gudelj viu um amarelo e ficou impedido de participar no próximo jogo. Soa a Divina Providência, não é? Tempo ainda para Coates fazer de ponta-de-lança (não há um nos Sub-23?) e cabecear a rasar o poste de Bracali, após livre marcado na direita por Acuña. 

 

O segundo tempo iniciou-se com um elaborado gesto "técnico" de Gudelj, uma "pentavela" - trivela com dedo (a mais) de sérvio - em que a bola foi aceleradamente "de vela" directamente pela linha lateral, deixando os adeptos com muitos nós na cabeça. Coates voltou a ir à frente mostrar como se faz, mas a bola teve o mesmo destino da primeira vez. Eis então que, num momento desconcertante, Ristovski tirou um centro de sonho que embalou Phellype para um sono profundo, perdendo-se outra grande oportunidade. Logo de seguida, bicicleta de Bruno e grande defesa de Bracali. Keizer mexeu, entrando Diaby e Doumbia e saindo Borja (recuou Acuña) e Wendel. O marfinense mostrou instantaneamente a sua categoria, saindo da zona de pressão com destreza assente em velocidade e poder de finta, embora jogando mais adiantado do que o costume, mas o maliano foi mais ou menos igual a si próprio, ou seja, uma nulidade. Até que, quando tudo indicava que teríamos a "reprise" do acontecido na Madeira, já em tempo de compensação João Pinheiro viu uma pseudo-agressão a Raphinha na área axadrezada. Penálti, conversão como habitual de Bruno e três pontos sacados no Bessa, uma compensação que promete vir a ser ruidosa para uma silenciosa disparidade de critério disciplinar nos jogos que envolvem o Sporting.

 

A missão do Sporting assemelha-se cada vez mais ao Algoritmo do Caminho Crítico. Neste, há um tempo para cumprimento de um conjunto de tarefas. Para este ser cumprido, é necessário que as várias tarefas intermédias não se atrasem. Ora, esta equipa leonina continua a não evoluir por laborar num conjunto de erros que atrasa a sua progressão. Geraldes vai assistindo do banco, não podendo assim contribuir para a necessária rotatividade do plantel, Miguel Luís anda desterrado nos Sub-23, situação incompreensível e que até terá custado a titularidade do promissor Matheus Nunes nos últimos dois jogos do escalão, e Doumbia continua à espera de Godot, que é como quem diz desesperando, pois o nosso Keizer está a corporizar muito bem o espírito que norteou a obra de Samuel Beckett. Eu cá gosto mais do Elia Kazan e confesso que o amarelo que Gudelj viu hoje soube-me a "um eléctrico chamado desejo". Uma boa semana para todos!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Raphinha. Boas prestações também de Mathieu, Coates, Acuña e Bruno Fernandes.

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