Sugestão do dia
Brasil em campo
Pedro Azevedo
De Nelson Rodrigues se dizia ser feio como um sapo, ter uma lingua viperina e trazer azar a todos os que com ele conviviam. Mas Nelson Rodrigues era muito mais do que isso. Irmão de Mário Filho, também jornalista e homem que ficou imortalizado por dar o nome ao estádio vulgarmente popularizado como de Maracanã, Nelson foi um genial cronista, mestre da criação de neologismos que aplicava a personagens de ficção ou para simplesmente reforçar pontos de vista. Fluminense ferrenho, para explicar a má sorte do Tricolor que então encetava uma longa travessia no deserto criou o "Sobrenatural de Almeida". Feroz defensor do "Brasil que vai a jogo", forma como apelidava o Escrete Canarinho , mimoseou os destractores deste como "cretinos fundamentais". Sem esquecer o "óbvio ululante", expressão com que desafiava os lugares comuns.
Idolatrado ou odiado, controverso, Nelson tanto foi apoiante da ditadura militar que governou o Brasil como mais tarde se tornou defensor acérrimo das suas vítimas. Na crónica desportiva destacou-se por fazer de cada golo um acontecimento literário, de cada momento de um jogo de futebol uma parábola da existência, reflectindo em tudo o que escrevia a verdadeira complexidade humana.