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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

07
Jan23

RIP Gianluca, ciao Vialli


Pedro Azevedo

Morreu o Gianluca, um conquistador de corações. Ao contrário da maioria dos seus colegas de profissão, nasceu rico, filho de um abastado self-made man italiano. Tanto assim foi que viveu a infância e adolescência não num bairro de lata, mas sim num opulento castelo em Beligioioso, em Pavia, perto de Milão. Aos 16 anos deu a conhecer ao mundo o seu alter-ego, de seu nome Vialli. Foi em Cremona, ao serviço da Cremonese, uma sociedade que à época militava no terceiro escalão do futebol da pátria de Garibaldi, e por lá jogou 4 anos até rumar a Génova, à Sampdoria. Aí estabeleceu-se, contracenando com craques de dimensão mundial como Graeme Souness ou Toninho Cerezo e vendo chegar aquele com que viria a formar uma parceria lendária - "I Gemelli del Gol", assim foram apelidados - , o esteta Roberto Mancini. E quando a arte de Mancini se misturou com a raça de Vialli, o clube das camisolas bonitas saiu da obscuridade e tornou-se protagonista do futebol italiano. Ao ponto de ter ganho o Scudetto. Contra a Vecchia Signora (Juve), o Milão dos holandeses, o Inter dos alemães e o Nápoles do deus Maradona, título a que juntaria uma Taça dos Vencedores das Taças, três Copas de Itália e uma Supertaça doméstica. No seu último ano em Génova chegou mesmo à final da Taça dos Campeões Europeus, que perdeu no prolongamento contra o Barcelona. Do banco, já após ter sido substituído, assistiria, impotente, ao golo tardio, de livre directo, de Ronald Koeman. Essa edição da prova foi a derradeira no antigo formato,  e derradeira foi também a temporada de Vialli na Sampdoria, seguindo-se Turim e a Juventus no seu percurso. No gigante italiano viria a finalmente ganhar a prova máxima do futebol europeu de clubes, então já denominada como Champions. Ao seu lado, Paulo Sousa, craque português que viria a repetir o triunfo no ano seguinte por um outro clube (Dortmund), curiosamente numa final contra as Zebras de Turim. Vialli já migrara para Chelsea, onde começou por ser treinado por Ruud Gullit, foi treinador-jogador e finalmente apenas treinador. À Taça de Inglaterra que ganhou ainda apenas como jogador, juntaria a Taça da Liga inglesa e a Taça das Taças (jogador-treinador) e, mais tarde, a Supertaça europeia, outra Taça de Inglaterra e a Supertaça inglesa (treinador). Treinou ainda o Watford e depois desapareceu de circulação. Consta que passou pelos gabinetes da federação italiana, discretamente. A discrição seria aliás a característica de Gianluca ao longo da sua vida. Sentia-se bem longe dos holofotes, embora fosse uma pessoa expansiva e bem-disposta, que a todos marcou pela sua humildade e bonomia. Em 2017 foi-lhe diagnosticado cancro. Do pior, no pâncreas. Não lutou contra ele, por tal ser impossível contra adversário tão poderoso, segundo as suas próprias palavras. Preferiu acomodá-lo na sua viagem, como se de um passageiro indesejável se tratasse, na esperança de que se aborrecesse e morresse antes de ter tempo de o matar a ele. Em 2018, os médicos deram-no como curado. Mas, logo depois, surgiu uma recidiva. Gianluca continuou o seu percurso e em 2020 voltou a receber boas notícias da comunidade médica. Mesmo a tempo de poder apoiar o seu amigo e treinador da Azurra, Mancini. Foi um excelente e inspirador chefe de delegação dos italianos, respeitado por todos os jogadores, e viu a sua Itália ganhar o Campeonato da Europa no dia do seu aniversário. O sentido abraço que partilhou com Mancini logo após o jogo foi uma das imagens desse Europeu. Mas a maldita doença voltou e nos últimos tempos concentrou-se nas suas duas filhas, procurando ser para elas um bom exemplo. Sobre o assunto, comentou publicamente que lhes recomendara que ouvissem mais e falassem menos, e não pusessem ares de superioridade. Em seu tributo, Souness afirmou que Gianluca foi um ser-humano fantástico, uma alma grandiosa com um coração quente. Acredito que sim, lamentando não ter metido conversa com ele naquele dia em que o vi no Albero y Grana, na Sloane, a metro e meio de distância. Não conheci o homem, mas o jogador ficar-me-á na memória como um dos melhores dianteiros da história do futebol mundial, numa época em que o golo em Itália era muito caro, tão impregnado estava o catenaccio na mentalidade dos transalpinos. As cerimónias fúnebres de Gianluca ocorrerão em Londres, mas Vialli eu sempre associarei a Génova, à Samp, com Pagliuca, Vierchwood (o Czar), Cerezo, Lombardo, Dossena e, claro, Mancini. RIP Gianluca, ciao Vialli!

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