Quem resiste à mudança acaba a ter de resistir à extinção
Pedro Azevedo
Há um princípio elementar na economia que consiste em que os recursos são escassos. Por outro lado, o Sporting tem pouco dinheiro para investir. Tudo isto concorreria para haver muito critério e o máximo zelo na contratação de jogadores. Ora, o que verificamos é que, 40 milhões de euros investidos desde Janeiro depois, a qualidade média do plantel de futebol do Sporting é agora bem pior do que aquela que Varandas herdou de Sousa Cintra e da Comissão de Gestão após os devastadores acontecimentos de Alcochete. É obra! Em qualquer Organização alguém teria de ser responsabilizado por isto. No Sporting, não.
Sejamos sinceros, este plantel é uma ratoeira para qualquer treinador que lhe pegue. Senão vejamos: possui jogadores com estatuto e elevado vencimento que há pelo menos 3 anos não fazem nada de significativo e já mostraram o seu desagrado quando foram substituídos no decorrer de jogos. Jogadores caros e longe do pico da sua carreira, que mudam de clube todos os anos, exactamente aquilo que Varandas, durante a campanha eleitoral, afirmou ser de evitar. Atletas redundantes e que ajudam a inviabilizar a aposta na Formação. No entanto, não se pense que o problema se circunscreve a eles. Não, houve um conjunto de situações no mínimo aberrantes que desafiam qualquer explicação lógica. Como o caso da contratação de Valentin Rosier, um atleta que chegou lesionado e no qual o Sporting investiu 5,3 milhões de euros (80% do passe) mais os direitos económicos de Mama Baldé, um ala que também poderia fazer a posição de lateral e que na temporada anterior, ao serviço do Aves, marcara 10 golos no campeonato. Ou a contratação de Camacho (5,6 milhões de euros mais a possibilidade de 2 milhões de euros em variáveis), um jovem de 18 anos que mal chegou garantiu não estar disponível para jogar numa determinada posição, ou o empréstimo de Fernando, uma revelação de um só jogo no Brasileirão que chegou lesionado e ainda não se estreou. Simultaneamente, jovens promissores da Academia, como Domingos Duarte, Matheus Pereira ou Daniel Bragança, nunca encontraram a oportunidade de se afirmarem. Bas Dost, emérito goleador, foi vendido ao desbarato, surpreendendo até o Director Desportivo do Eintracht Frankfurt, clube que o contratou. Perante este cenário é difícil perceber se Silas pode ser uma solução ou se é também parte do problema, sendo certo que terá os seus dias contados - à semelhança de Keizer e de Pontes - se não se libertar de constrangimentos diversos e insistir em colocar em campo hologramas de quem em tempos idos teve relevo, ou "contratações cirúrgicas" que ficam aquém do melhor que temos em Alcochete.
Perante o ror de críticas que se seguiu aos maus resultados desportivos, Frederico Varandas reagiu com insultos aos sócios do clube. Mostrando não compreender, ou não querer compreender, a legitimidade de tais criticas. Chegou, numa 2ª ocasião, até a considerar que tudo se deveu a não ter conseguido vender Bruno Fernandes (imagine-se!), o nosso melhor jogador - ele que anteriormente havia dito que optou por o manter - , evidenciando nada ter aprendido com os erros. O que remete para a próxima janela de transferências e receios associados. Assim sendo, é tempo de os sócios do Sporting deixarem proselitismos de diversa ordem de lado e porem o Sporting em primeiro lugar. É também o tempo de o actual presidente demonstrar o seu amor ao clube e colocar o seu lugar à disposição. Urge mudar de vida. Caso contrário, a vida mudar-nos-á para sempre.
P.S. Faz sentido mudar constantemente de presidentes antes do final dos mandatos? Não. Da mesma forma que não faz qualquer sentido o insuficiente escrutínio dos Sportinguistas na escolha dos mesmos presidentes. Por isso, das duas uma: ou somos responsáveis nas escolhas que fazemos, ou então será o clube que interromperá o seu "mandato" antes daquilo que seria expectável.