Os Predadores
Pedro Azevedo
O Universo move-se de ordem e estrutura para desordem e desestrutura, tal como é enunciado pela 2ª Lei da Termodinâmica (Lei da Entropia). Apesar disso, em especiais condições, o Universo consegue criar complexidade. À medida que o sistema vai ficando mais complexo, aumenta o risco de vulnerabilidade e fragilidade. Há momentos em que o equilíbrio se torna de tal forma instável que o mundo passa a ser diferente daquele que conhecemos até aí. Assim aconteceu há 65 milhões de anos atrás, quando a queda de um asteróide na Província de Yucatán criou uma espécie de fenómeno nuclear que matou os maiores predadores existentes no planeta Terra, os dinossauros. Tal acabou por ser uma oportunidade para a evolução do que são hoje os seres humanos, o Homo Sapiens.
Se isto é uma realidade para o Universo, também o é para as empresas e, em particular, para os clubes. Em específico, o futebol ao longo dos anos foi adquirindo uma progressiva complexidade, nomeadamente a partir do momento em que deixou de ser visto como um espectáculo para passar a ser um negócio de transferências milionárias. Nessa metamorfose surgiram uma série de espécies diferentes de temíveis predadores que subjugaram os clubes, hoje em dia reféns de uma vasta teia de interesses que se estabeleceram à sua volta e que em quase nada os beneficia. Acontece que essa subserviência ameaça claramente a sustentabilidade do próprio futebol e, nesse equilíbrio instável, bastaram 3 meses de uma pandemia para o mostrar à evidência. Entretanto, o adepto no estádio, que já estava em decadência, foi substituído pelo adepto no sofá. E o futebol finalmente lembrou-se que precisa dos adeptos para sobreviver. Ainda que persistindo em não actuar sobre as suas próprias vulnerabilidades e fragilidades, permitindo que o adepto continue a ser "engolido" por aquilo que lhe é oferecido. Talvez a solução esteja na erradicação dos predadores, isso sim seria uma oportunidade para nova evolução do ser humano (desportivo). E, concomitantemente, do futebol.