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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

05
Jan21

O Sporting de Rúben Amorim


Pedro Azevedo

O futebol é um desporto que combina os aspectos técnicos, tácticos, físicos e mentais, sendo a maior ou menor capacidade de integrar harmoniosamente todos eles um factor crítico de sucesso (considerando apenas o que acontece dentro das quatro linhas e não relevando alegados jogos subterrâneos em que o futebol português frequentemente se vê envolvido). Assim sendo, pensei em deixar aqui a minha avaliação à actual equipa de futebol do Sporting, subordinando-a ao desempenho em cada um dos aspectos acima mencionados. Então, aqui vai:

 

- Técnica: a contratação de Pedro Gonçalves, regresso por empréstimo de João Mário e promoção de Matheus Nunes vieram dar a este equipa do Sporting um toque distintivo de classe. Pote é um jogador que partilha com Bruno Fernandes a capacidade de enquadrar o remate com a baliza. Ilustrativo disso é o facto de deter o melhor registo de eficácia de remate da Primeira Liga,registo esse traduzido no facto de 42,3% dos seus remates terminarem em golo. Raramente o vemos a chutar à toa na hora da finalização, pelo contrário os seus remates mais parecem um passe à baliza onde a colocação da bola é a prioridade. Além disso, é um jogador fino e inteligente, dotado de apurada visão de jogo, que bastas vezes recua da posição de interior para a de médio centro para ajudar na organização de jogo da sua equipa e provocar uma nuance táctica capaz de desequilibrar o opositor. O "Pantufas" é um jogador diferente. Muito hábil, parece bailar com a bola. Não é mais o jogador desequilibrador que vimos em 15/16, mas tem reservado o papel de controlo da qualidade da posse no miolo do terreno. Destaca-se pelo passe preciso nessa zona nevrálgica do terreno, raramente perdendo a bola e ajudando a equipa a sair em segurança desde trás. O "Menino do Rio" é um jogador de técnica finíssima. Por motivos que têm a ver com o rendimento da equipa, essa qualidade foi durante muito tempo desvalorizada por renomados experts do futebol. Talvez por jogar fora da sua posição natural aquando da ausência de Palhinha, Matheus viu-se obrigado a esconder o seu jogo. Mas há pormenores que não escapam a um olhar cuidado sobre o jogador. Desde logo, a forma como recebe de frente para a sua baliza e como roda com facilidade para qualquer um dos lados, independentemente de estar a ser pressionado, e fica a ver o jogo de frente. Depois, a passada larga com bola que lhe permite rapidamente galgar 20 ou 30 metros e criar desequilíbrio. Por fim, a exclusividade do seu "Turn", um tipo de finta que faz lembrar a especialidade desenvolvida por Johan Cruijff e que só está ao alcance de alguns eleitos. Sequeira pôde testemunhá-lo, ao vivo e a cores, no Sábado passado. Além dos supracitados, Bragança tem jogado menos mas tem um toque de bola distintivo e uma capacidade de passe de ruptura frontal que impressiona.

Atendendo às opções tácticas de Amorim, o Sporting tem neste momento 2 jogadores no seu onze titular com imensa categoria e um 12º jogador que não lhes fica atrás. Qualidade de nível mundial, porém não de forma abundante se pensarmos em categoria-extra que faz ganhar jogos individualmente. Nota (0 a 10): 6 

 

- Táctica: o 3-4-2-1 de Rúben Amorim tem potenciado as melhores qualidades dos nossos jogadores e escondido as suas maiores fraquezas. Nesse sentido, é um modelo vencedor, na medida em que a equipa tem sido claramente melhor do que o somatório dos seus valores individuais. Obviamente, há ainda muito a desenvolver. Na minha opinião, ofensivamente, a interligação do meio campo com os interiores está ainda longe de ser bem conseguida. Apesar da qualidade de passe curto de João Mário, há pouca progressão e o jogo empastela muito no meio campo. Nesse sentido, o jogo posicional do Sporting não é muito eficiente, acabando a equipa por tirar mais partido do ataque rápido ou da transição. Jogando João Mário mais longe de Palhinha do que no passado Matheus Nunes, o risco é de o internacional português acabar por roubar espaços que Pote tanto gosta de ocupar quando recua no terreno. Creio que esse aspecto carece de uma melhor articulação e tem estado na origem de um maior apagamento recente do ex-famalicense. Por outro lado, defensivamente, acontece muitas vezes vermos João Mário envolvido com os interiores e o ponta de lança na pressão alta sobre a saída de bola adversária. O risco é o de, passada essa zona de pressão, o adversário surgir em superioridade numérica no miolo do terreno, sendo Palhinha escasso para tanto fogo à sua volta. O B SAD soube explorá-lo, o Braga também com a nuance de Paulinho descer para ajudar a criar superioridade numérica nesse sector. Todavia, este sistema tem funcionado muito satisfatoriamente, permitindo um bom balanceamento ofensivo dos nossos laterais/alas e concomitantes desequilíbrios que permitem aos interiores jogar por dentro e aproveitar os espaços que aparecem por via da dissuasão provocada nas bandas do campo. Adicionalmente, os centrais recolhem conforto com este sistema, escondendo até o défice de velocidade que os caracteriza. A equipa jogo relativamente junta e raramente se desequilibra de uma forma flagrante, os jogadores vão para o campo com o guião certo e sabem exactamente o que fazer. Nota: 8

 

- Físico: os laterais/alas e o ponta de lança são os jogadores sujeitos a um maior desgaste, logo seguidos pelos interiores e médio defensivo. Os restantes quase que jogam de cadeirinha. Neste Sporting, os jogadores não correm por correr, sabem exactamente o que fazer, o que limita as perdas de rendimento do ponto de vista físico. Tiago Tomás (ou Sporar) será o jogador sujeito a maiores gastos de energia, com a equipa muitas vezes recorrendo aos seus apoios frontais à falta de melhor solução. Isso prende-se com a menor capacidade de saída de bola dos centrais e com o condicionamento adversário a Palhinha, o que, mais do que deveria, obriga a chutar a bola directamente para a frente. Os laterais também têm uma função desgastante, sempre acima e abaixo, sendo de destacar a forma física de Porro face a um Nuno Mendes que tem vindo a ser arreliado por algumas lesões. Do ponto de vista físico, a resposta global da equipa tem sido muito positiva, para o qual também contribui a rotação que Amorim sabiamente tem vindo a operar, limitando o desgaste. O não envolvimento nas competições europeus, sendo sempre negativo para um cube que tem como lema "tão grande como os maiores da Europa", tem sido um daqueles males que vêm por bem, permitindo à equipa treinar e não estar permanentemente a ter de jogar. Ainda assim, a sensação que o adepto recolhe é que a equipa vende saúde, tem disponibilidade física e uma "alma até almeida". Nota: 8

 

- Mental: quando vemos um jogador a mimetizar os voleibolistas e a lutar por cada lançamento lateral como se de um ponto se tratasse, então não há como não ficar agradado com o que se observa. Esse jogador, Porro, é claramente diferenciado do ponto de vista mental e parece ser feito daquela massa que consolida os campeões. Não é porém caso único: quando um suplente muito pouco utilizado como Pedro Marques é visto a ir ao fundo das redes adversárias após cada golo que marca, ficamos com a sensação que há muita competitividade e sede de ganhar nesta equipa. Nuno Santos é outro jogador particularmente raçudo, assim como Feddal, qualidade que lhe permite esconder algumas fragilidades. Coates e Neto também são vistos frequentemente a "dar o peito às balas", atirando-se para cima da bola e evitando golos certos, sinal de atitude. E quando à disponibilidade física se une a disponibilidade mental, então temos uma equipa. Nesse sentido, não é dispiciendo observar que 19 jogadores já contribuíram para os nossos golos, o que ilustra também a motivação dos que saem do banco para resolver. A sensação é que não há titulares absolutos, e isso constitui um factor de motivação para todo o plantel. A forma como Sporar entrou contra o Braga denota isso mesmo. Individualmente, há jogadores que podem ser mais fortes no aspecto mental. Por exemplo, a meu ver Matheus Nunes reune todas as condições físicas e técnicas para ser um jogador de topo. Melhorou também muito tacticamente com Rúben Amorim, pelo que o único limite que lhe encontro é o mental. Tem condições para exponenciar a meia-dúzia de intervenções que me fascinam em noventa minutos e traduzi-lo quantitativamente na produção de jogo. Raramente aproveita o remate forte e colocado que já lhe vimos nos sub-23 e ainda se mostra algo tímido em alguns momentos do jogo, parecendo não ter plena consciência das suas inúmeras capacidades. Todavia, não nos podemos esquecer de que há dois anos estava no Ericeirense, pelo que a sua progressão tem vindo a ser astronómica para um jogador que não teve escola e até há pouco tempo atrás conciliava o futebol com a actividade de pasteleiro.

Em traços gerais, gosto muito da atitude mental da equipa. Nota: 9

 

Nota final combinada: (6+8+8+9)/4= 7,75

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