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Castigo Máximo

De forma colocada, de paradinha, ou até mesmo à Panenka ou Cruijff, marcaremos aqui a actualidade leonina. Analiticamente ou com recurso ao humor, dentro ou fora da caixa, seremos SPORTING sempre.

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Castigo Máximo

09
Jul19

O Sporting com que eu sonho


Pedro Azevedo

Sonhar é bom. Provavelmente, será a única coisa que nos permitirá contrariar a velha máxima de Ortega Y Gasset e não nos adaptarmos a circunstâncias que belisquem com a ética, a preocupação com o nosso semelhante e o sentido colectivo da humanidade. A ética é estarmos à altura daquilo que nos acontece. Abro então aqui um parêntesis para falar daquilo que nos aconteceu: Bruno de Carvalho teve um primeiro mandato bom. Devolveu a esperança aos sportinguistas, de uma penada só foi capaz de cortar mais de 20 milhões de euros em custos com pessoal, recuperou percentagens importantes de direitos económicos de jogadores, fez crescer as assistências em Alvalade, aumentou exponencialmente o número de sócios. Como não há bela sem senão, o excesso de adjectivação do seu discurso - o presente indica que infelizmente fez escola em diferentes franjas de sportinguistas - e a contratação de Jesus, a qual no meu entendimento precipitou indirectamente o seu canto do cisne. Tendo o seu segundo mandato, para o qual foi eleito com cerca de 90% dos votos (sinal inequívoco do reconhecimento dos sportinguistas)  começado de forma auspiciosa com a inauguração do Pavilhão João Rocha, a pressão inerente à conquista do título nacional de futebol e alguns tiques da sua personalidade deitaram tudo a perder. O discurso guerreiro para o exterior passou a ser canalizado para dentro, numa espécie de caça às bruxas que a dado momento ganhou uma forma de descontrolo total. Sendo certo que lhe são imputadas diversas violações dos Estatutos do clube - os Tribunais sentenciaram contra si, mas é preciso não esquecer que o CD tinha um parecer favorável de um professor como Menezes Cordeiro - , foi essencialmente a falta de bom senso mostrada numa frente aberta com os jogadores (e não só), Alcochete e as rescisões de contrato de vários profissionais que viraram os sportinguistas contra si. Nesse sentido, eu próprio senti que ele já não era uma solução, mas sim um problema, e decidi em conformidade em matéria de destituição. Até aí Bruno de Carvalho só poderia queixar-se de si próprio, inclusivé do facto de ter sido destituído. O que se viria a passar a seguir foi mau de mais. Em parte, também devido a ele, à radicalização do discurso que trouxe para dentro do clube, que permitiu que a troca de opiniões entre sportinguistas se tenha extremado. Mas não foi só, tudo o que aconteceu posteriormente significou para mim a perda de ilusão de que somos diferentes. Essa foi, no essencial, a razão pela qual não alinhei no espectáculo grotesco que alguns sportinguistas têm vindo a dar ao país. Ataques ad-hominem, revanchismo, de um lado, ressabiamento e perturbação da ordem, de outro, não são só formas erradas de viver o sportinguismo, são formas desumanas de viver em sociedade. E o pior de tudo é a forma como isso tem sido industriado por putativos fazedores de opinião sportinguistas, os quais certamente lavam posteriormente as mãos como Pilatos, sem rebate de consciência e indiferentes às consequências das suas palavras. Na vida não vale tudo. Nomeadamente, não vale assassinar socialmente alguém, por muito que por todos os actos do próprio se possa melhor falar em suicídio assistido. Fechado o parêntisis BdC, interessa agora pensar como evoluiremos daqui.

 

É preciso estarmos à altura daquilo que nos acontece. Um líder não deve conduzir os destinos dos seus permitindo ques estes estejam envoltos na raiva ou ira. Se o fizer, estará a escudar-se a si próprio, salvaguardando-se, e não a cumprir o objectivo da sua liderança, o qual deve ser colectivo. Essa posição (reactiva) não pode nem deve ser permanente, se é que sequer tem cabimento nalgum momento. Já passou demasiado tempo. É preciso manobrar para ganhar liberdade de acção, reduzir vulnerabilidades, ser activo. Lideranças que se aproveitem da divisão nunca são duradouras, e dividir para reinar nada tem a ver com a união. Numa familia sempre haverá opiniões dissonantes, isso é bom, sinónimo de vitalidade. O que não deve existir é divisão, nem nos devemos permitir que pequenos grupos opostos de extremistas, que se alimentam entre si, tomem o papel central num clube onde a maioria dos sócios, adeptos e simpatizantes são moderados e não se revêm em radicalismos e linguagem e gestos primários. O que fazer então? É importante que se canalize as gentes, todas as gentes, para um sonho comum. Mobilizando-as, inspirando-as, envolvendo-as, resgatando-as uma a uma, sempre pela positiva e vendo as suas ideias como uma força e não como uma ameaça. Ideias geram conectividade, a sua ausência, mera separação. Não evoluiremos enquanto houver um sentimento anti no Sporting. As causas importantes provêm do coração, do amor, não do ódio. Traumatizados, cansados, exauridos digamos não ao maniqueísmo, não ao preto e branco, abramos uma janela de esperança. É importante que se comunique o porquê de sermos Sporting, o que nos traz aqui, aquilo em que acreditamos e a razão de nos levantarmos de manhã. Esforço, dedicação e devoção são o tijolo, mas é preciso o cimento que lhe dê consistência colectiva. Não podemos cair no vale do desespero, sem esperança e a viver as dificuldades de ontem, hoje e amanhã. Temos de nos reerguer e construir um clube onde não existam estigmas e apenas orgulho do carácter de cada membro. Um clube integrador, interclassista, que valorize a contribuição de cada um, a sua voz, para além do aspecto monetário. É que nem tudo o que conta pode ser contado: qual o valor da paixão, do amor? Ao contrário do que se tentou propagar, não resolveremos isto numa Assembleia, num dia, em cem dias. Mas que isso não seja a razão para que não começamos a colar as peças. Como um dia Kennedy proferiu nas Portas de Brandenburg, não perguntem o que o Sporting pode fazer por Vós, mas sim o que cada um pode fazer pelo clube, de forma a que se cumpra o desígnio do nosso fundador. 

 

Eu sonho com um clube renascentista, onde se estimule a criação e floresça a capacidade de realização. Um clube disruptivo, que desafie o actual status-quo do futebol português com inteligência. Um clube inovador, criativo, imaginativo, inclusivo, onde os sócios, adeptos e simpatizantes não sejam catalogados em sub-espécies. Portanto, adaptando os Lusíadas, que cesse tudo o que musas antigas cantam, que valor mais alto se alevanta. A partir de agora só há uma missão, um objectivo, um desígnio: todos poderem dizer em uníssono "Eu sou um Sportinguista". Tem a palavra a Direcção. 

 

PS: João Rocha cumpre hoje 89 anos. Ele vive (dentro de nós). 

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