O momento do Sporting
Pedro Azevedo
A equipa profissional de futebol do Sporting registou a sua décima primeira derrota na actual época desportiva. Num momento destes o normal é disparar-se em todas as direcções: presidente, treinador, jogadores e adeptos. Mas os adeptos não jogam, os jogadores fazem o que podem (e, se não podem mais, é porque não sabem e isso não é culpa deles), o treinador até já foi campeão e o presidente não acrescenta mas calado pelo menos tem marcado poucos auto-golos. Por isso, sendo certo que para cada problema deverá haver uma solução, o diagnóstico do problema não é assim tão claro que perspective encontrar-se facilmente o caminho que nos liberte das trevas, ou não há um grande e incontornável problema que esteja à vista de todos. Porque, desde logo, o que me parece é existirem vários pequenos problemas que, todos juntos, vêm contribuindo para colocar areia na engrenagem e estão na origem do resultado desapontante desta temporada. Desde logo, a falta de golos, o que pode ser atribuído à insistência do treinador com Paulinho. Mas também a profusão de golos encaixados, o que terá a ver com as características dos nossos jogadores de meio campo, menos intensos que os seus predecessores, e com a opção (da Direcção) de vender Matheus já depois de também ter alienado o passe de Palhinha. A venda de Matheus, e o timing em que ocorreu, conduziu Amorim no caminho da experimentação. As contratações menos conseguidas, também. Ora, dificilmente experimentação se coaduna com a alta competição, e isso tem um custo. É certo que o mês de Dezembro e a Taça da Liga chegaram a parecer o tempo ideal para se encontrarem as soluções alternativas mais correctas. Mas, em vez de convicções mais profundas, no novo ano multiplicaram-se as dúvidas, num constante entra e sai de jogadores que dificilmente contribui para a estabilidade de uma equipa. O que me leva a perguntar a mim próprio se algo de positivo se pode tirar de uma época assaz negativa. Na minha opinião, há. Desde logo é preciso que quem tenha mais responsabilidades reflicta sobre o processo. A falta de humildade (Amorim a não querer ver o óbvio) e a soberba (o presidente a chamar patetas a todos os que correlacionaram a saída de Matheus com o desenlace da época) conduziram-nos aqui, pelo que ou muda a atitude de quem dirige ou entraremos num caminho sem saída. Dentro disto, os jogadores serão os que terão menos responsabilidades, eles que até têm procurado adaptar-se às por vezes excêntricas opções do treinador: Inácio tem feito épocas quase inteiras a jogar de pé trocado na defesa, o lateral Matheus Reis fez-se central, Nuno Santos destacou-se a percorrer todo o corredor, Morita encontrou uma chegada à área até aí desconhecida no seu percurso, Arthur tanto joga a interior como a ala, Pote sobe e desce no terreno consoante as necessidades e humores do seu treinador. Como estar a pôr a culpa nos adeptos seria no mínimo tolo e qualquer estratégia de os usar para desviar as atenções seria quase criminosa (sim, há arruaceiros semi-profissionais, com os quais não há diálogo possível, mas não tomemos a nuvem por Juno), é a estas pistas que nos deveremos agarrar, reflectindo para o futuro. E é preciso a massa adepta sentir que essa reflexão está em curso, a começar no seu presidente, que deve interromper o seu silêncio e aparecer num momento destes para mostrar que tem consciência do momento que se vive e do resultado das opções tomadas. Falando para aqueles que serve, porque no dia em que não tiver ninguém a quem servir a sua função deixará de ter expressão. É esse aliás o grande perigo que emerge desta época: a desagregação. E o caminho de apontar baterias para sócios e adeptos, tantas vezes falaciosamente percorrido, não pode ser um caminho a seguir, a não ser que se pretenda deparar com o abismo. Claro que a resiliência de sócios e adeptos é importante numa hora difícil, mas então que isso seja pedido conjuntamente com uma reflexão consciente sobre o que nos trouxe aqui e sinais claros de mudança. Porque um Homem sem sonho não é nada, e um clube sem emoção à sua volta nada é.